Há muitos
anos já vivo fascinado por uma lista de valores que Krishna ensina para Arjuna
naquele diálogo essencial sobre Yoga que é aBhagavadgītā. Essa parte da
instrução sobre como aplicar o Yoga na vida através das atitudes ocupa as
estrofes sete a 11 do capítulo XIII desse importante texto. Cultivar valores no
cotidiano é essencial para se ter uma vida tranquila e feliz.
Quando
ouvimos a palavra valor, vêm a nossa mente algo relevante ou fundamental.
Segundo o Dicionário de Filosofia de Gérard Legrand, um valor
é uma “noção que traduz a passagem do desejo para o conjunto doutrinário e
prático que constitui uma moral: toda moral está fundada (explicitamente ou
não) num conjunto de valores que são também abstrações representando o que se
em por desejável. Todo homem é portador de uma “escala de valores”, a maioria
das vezes inconsciente, que comanda intuitivamente a sua ação na medida em que
esta se prolonga para além da necessidade. Também é de notar que o
desaparecimento de um valor (por exemplo, quando se descobre que está
ultrapassado ou é prejudicial, como o patriotismo perante os riscos de um
conflito mundial) supõe a procura (e geralmente a descoberta) de “valores
novos”.”
Porém, para
além da escala de valores subjetivos que cada um de nós possa ter, e para além
daqueles que nascem e morrem, há uma série de valores que não muda nunca, que
são atemporais. Aqueles valores pessoais, que vão mudando de acordo com o tempo
ou a circunstância, podem ser chamados de moral. Os que não mudam, chamaremos
aqui de ética. Em sânscrito,dharma.
Os valores
que Kṛṣṇa ensina
para o príncipe guerreiro à beira do campo de batalha, que aliás, serve de
pano de fundo para o ensinamento daBhagavadgītā, são desse último tipo:
perenes, no sentido que não envelhecem nem passam de moda (o não deveriam
passar), e universais, no sentido de que valem para todas as pessoas e em todas
as circunstâncias.
A palavra
valor se diz jñana em sânscrito. O amigo leitor certamente já
conhece a outra acepção desta palavra: jñana também significa
conhecimento. Swāmi Dayānanda escreveu um livro notável, chamado O
Valor dos Valores, que explica detalhadamente, estes vinte valores
fundamentais cultivados pelo sábio. Deixo aqui um breve resumo desses valores,
desde já pedindo desculpas pela brevidade das explanações, já que o assunto é
profundo e extenso. Fica aqui a descrição dos primeiros dez valores.
1. Amanitvam,
ausência de vaidade, ausência de arrogância ou de necessidade de elogio.
Amanitvam significa
ausência de vaidade ou ausência da necessidade de ser elogiado. Muitas
vezes, amanitvam é traduzido como humildade, mas é muito mais
do que cultivar essa virtude. Poderíamos definir amanitvamcomo
ausência de necessidade de reconhecimento por parte dos demais. Muitas vezes,
identificados com os frutos das ações que fizemos, exigimos um grau de respeito
e reconhecimento que nem sempre coincide com o tratamento que recebemos por
parte dos demais. Quem conhece o valor e o mérito das suas próprias
capacidades, não tem necessidade de ser elogiado pelos demais.
2. Adambhitvam,
ausência de pretensão.
Adambhitvam é um
estado de equilíbro emocional e mental no qual a pessoa se aceita como ela é e
não busca mostrar algo que não é. Enquantomanitvam é uma
expectativa baseada em conquistas ou habilidades reais,dambhitvam se
apoia em méritos falsos ou imaginários. Quando faço de conta que sei coisas que
ignoro, quando alego ter tido experiências que não tive, incho meu currículo
com mentiras ou tento mostrar capacidades que não são minhas, faço isso pois
acho que assim, irei impressionar os demais. O problema é que isso cria uma
tensão insuportável dentro de mim. Deixar de posar ou fingir é uma virtude, no
sentido que me livro dessa tensão e fico naturalmente mais tranquilo.
3. Ahimsa,
não-violência.
A paz é o
antídoto contra a violência e uma condição essencial para a vida feliz. Lutamos
continuamente para conquistar objetivos mas esquecemos que se não tivermos paz
para desfrutarmos daquilo que realizamos, não haverá felicidade possível. A
violência é um dos mecanismos que nos mantêm afastados de nossa natureza, que é
plenitude e felicidade. Ahimsaconsiste em cultivar a não-violência
em palavras, pensamentos e atitudes. Esta prática é uma condição fundamental
para que o de fato possamos viver a vida de Yoga. Sem uma prática sólida de
não-violência não há crescimento emocional. Existem duas dimensões na prática
da não-violência: a pessoal e a social. A primeira tem a ver com a maneira em
que cada um se relaciona consigo próprio. A segunda tem a ver com a maneira em
que vivemos a vida em sociedade, com nossa familia, nossos amigos, vizinhos ou
colegas de trabalho. Essa segunda dimensão depende diretamente da primeira.
4. Kshanti,
pacífica adaptabilidade.
A
palavra kshanti designa uma atitude positiva que fica bem
distante da resignação sófrega. Uma boa maneira de traduzir este termo seria
“capacidade de se adaptar”. A esse respeito, diz Swāmi Dāyananda: “A atitude
de kshanti significa que eu, alegremente, calmamente, aceito
aquele comportamento e aquelas situações que não posso mudar. Desisto da
expectativa ou exigência pela mudança de outra pessoa ou situação, de forma a
se moldar ao que penso ser agradável para mim. Eu me acomodo às situações e às
outras pessoas alegremente”.
5. Arjavam,
retidão.
A
palavra arjavam deriva da raíz rju, que significa
flecha. Rjubhava é o sentimento de retidão, no qual existe
alinhamento entre o pensamento e a palavra, ou entre a palavra e a ação.
Retidão é uma das formas de satya, a veracidade. Consiste em fazer
coincidir intenções, palavras e ações, bem como em ser fiel aos próprios
valores. Quando essa retidão está ausente, penso uma coisa, digo outra e acabo
fazendo outra diferente. Assim, a minha vida fica fragmentada, sem rumo nem
prumo. Evitar este tipo de desconexão me torna uma pessoa tranquila e digna da
confiança dos demais.
6. Acharyopasanam,
dedicação ao professor.
No contexto
cultural em que estes valores são transmitidos, o professor representa o
próprio autoconhecimento. Na antiga cultura védica, o professor é chamado acharya ou guru. Acharyopasanam significa
literalmente “meditação sobre o professor”. Através dessa prática
contemplativa, que se estende a uma atitude reflexiva e atenta às coisas do
mundo, o estudante se identifica com as virtudes daquele que lhe ensina.
Enquanto professor de autoconhecimento, o acharya transcende
os limites da sua individualidade, no sentido que, enquanto ensina, ele
representa a própria tradição. Assim, servir o acharya se
colocar a serviço do próprio conhecimento.
7. Shauchan,
purificação.
Para a
purificação também existem dois aspectos: o externo e o interno. O primeiro
consiste em cultivar hábitos de higiene que vão bastante além da ideia de mente
sã em corpo são daquele ditado latino. No Yoga, cultivamos a
purificação do corpo físico observando não apenas os aspectos exteriores da
higiene, mas igualmente a limpeza do interior do corpo, que é feita através
do shatkarma. O shatkarma é parte integrante do
Hatha Yoga e inclui lavagens periódicas dos tratos digestivo e intestinal, bem
como a massagem das gengivas, a purificacao da garganta e as vias
respiratórias, e outros. Esse processo se denomina bahyashauchan,
ou limpeza exterior. No aspecto interno, referente ao psiquismo, shauchan consiste
em cultivar, da mesma maneira, atitudes e pensamentos elevados, evitando que a
mente derive para o derrotismo o que se centre excessivamente em pensamentos
negativos. Isso é chamado antarashauchan, limpeza interior.
8. Sthairyam,
firmeza de propósito.
Shairyam é um
termo que significa estabilidade, firmeza. Se refere a ser capaz de manter o
foco no momento presente e no estado de tranquilidade. A calma firmeza no
objetivo que me proponho a realizar chama-sesthairyam. No contexto em
que este valor é passado para Arjuna, Krishna usa este termo para se referir à
capacidade de manter o foco no objetivo do Yoga, que é mokṣa, a
liberdade e no processo que nos conduz a ela, o autoconhecimento. Dessa
maneira, evitamos a dispersão e nossa vida ganha em significado e
tranquilidade.
9. Ātma-vinigraha,
comando sobre o pensamento.
A palavra Ātma se
refere à autorreferência, ao lugar onde colocamos o foco. Neste contexto, ela
indica a mente. Vinigraha, por sua vez, significa comando.
Concretamente, atmavinigraha designa a possibilidade de manter
um comando sobre o pensamento, de maneira a evitar que a mente vagueie, se
distraia e tire o foco daquilo que estamos fazendo. É mais uma capacidade de se
manter concentrado a cada momento, do que uma atitude repressiva ou uma
obsessão em controlar aquilo que se pensa. Dessa maneira, ao adquirirmos a capacidade
de escolher conscientemente aquilo que pensamos, nosso agir torna-se
naturalmente consciente.
10. Indriyartheśu
vairāgyam, desapego em relação aos objetos dos sentidos.
A
palavra indriyartheshu se refere àquilo que está
vinculado aos órgãos sensoriais, (indriyas). Vairagya significa
desapego. A atitude do desapego consiste em olhar para objetos, pessoas e
relacionamentos, reconhecendo objetivamente os seus valores e evitando projetar
neles algo que não lhes seja intrínseco. Desapegar-se não é fugir de pessoas ou
objetos mas relacionar corretamente com eles, reconhecendo a mim mesmo como
plenitude e deixando de olhar para eles como a solução para minhas carências.Indriyartheśu
vairāgyam também é ser livre do sofrimento associado às vontades,
caprichos ou aversões do ego.
11. Anahaṅkāra, ausência
de identificação com as coisas do ego.
Ahaṅkāra significa “eu-fazedor” em
sânscrito, e é a palavra usada no Yoga para se referir ao ego. O ego é uma
espécie de interface que nos ajuda a viver estabelecendo referências entre as
coisas exteriores e a nossa individualidade. Basicamente, ele é uma lista de
gostos e aversões através da qual nos relacionamos com os demais e com o mundo
que nos rodeia. Anahaṅkāra é a
capacidade de perceber o ego como ele é, sem achar que começamos e/ou
terminamos nele. Noutras palavras, poderíamos definir anahaṅkāra como “não-egoísmo”. Cultivar
esse valor nos permite viver tranquilamente, já que passamos a olhar para nós
mesmos, não como uma lista de desejos que precisam ser preenchidos ou coisas
que devem ser evitadas, mas como a paz que observa esses desejos e aversões.
12. Janma-mṛtyu-jara-vyādhi-duḥkha-dośa-anudarśanam, reflexão
sobre as limitações do nascimento, a morte, a velhice, a doença e a dor.
Esta
longuíssima palavra é um composto que denota uma atitude absolutamente objetiva
em relação à vida. O primeiro termo deste composto é janma,
nascimento. O segundo, mṛtyu, morte. As outras palavras intermediárias definem tudo aquilo com
que nos deparamos entre o nascimento e a morte: velhice, doença, sofrimento e
limitação (respectivamente, jara, vyādhi, duḥkha e dośa).
A última parte do composto,anudarśanam, significa “ver repetidas vezes”.
Portanto, o termo se refere ao fato de que, se não fizermos algo para sair
desse circuito, ficaremos ad eternum indo de nascimento a
morte, de morte a nascimento, de nascimento a morte... Se o que há no meio
fosse somente prazeroso, poderíamos até achar que não precisariamos fazer nada
para mudar. Porém, sabemos o que nos espera entre o início e o fim de cada
vida: doença, sofrimento (físico, emocional e/ou mental), limitação e velhice
que, por sua vez, nos levam para mais uma morte. O objetivo de cultivar esse
valor não é negativo. Pelo contrário, ele existe para nos ajudar a ver e
aceitar a vida como ela é, com a maior equanimidade. Se fizermos isso,
evitaremos a armadilha de achar que a vida é injusta ou cruel conosco, e as
indesejáveis companheiras de viagem que vem junto com essa atitude: a lamúria e
a autovitimização. Por sua vez, evitar este tipo de arapuca emocional nos
permite aproveitar melhor e mais calmamente o tempo de vida que nos é dado.
13. Aśakti, ausência de apego à ideia de posse.
Śakti significa
poder, energia, mas igualmente quer dizer “segurar firmemente”. Aśakti é
o contrário de segurar: é abrir mão, relaxar. Se o décimo valor, indriyarteśu
vairāgyam, estava centrado no desapego aos objetos dos sentidos, este
presente valor, aśakti, tem como objetivo cultivar uma “suavização”
do senso de posse ou propriedade que possamos ter em relação a algum desses
objetos sensoriais. E, quando dizemos objetos sensoriais nos referimos não
apenas a coisas materiais, mas igualmente a pessoas e relacionamentos. Aśakti,
então, é nos tornar cientes de que não somos donos de nada nem de ninguém. A
própria ideia da possessão não resiste a uma análise objetiva: é bom lembrar
que a terra e tudo o que ela sustenta já estava aí antes do nosso nascimento e
que, como diz o ditado espanhol, “a mortalha não tem bolsos”. Ou seja, nada
levaremos daqui na hora da morte. Portanto, aśakti.
14. Anabiśvaṅgaḥ
putra-dara-gṛha-adiśu, equanimidade
afetiva.
Abiśvasaṅgaḥ aponta para uma relação de
intensa emotividade e apego, como o que podemos nutrir pelos nossos filhos,
nosso cônjuge, nossa casa ou as coisas e pessoas muito queridas
(respectivamente, em sânscrito: putra,dara, gṛha e adi). Resumindo, um afeição
viscosa e excessiva. A forma negativa dessa expressão é anabiśvasaṅgaḥ. Isto, evidentemente, não significa
que não devemos cuidar daqueles que amamos, mas evitar projetar nessas pessoas
(ou no lar), nossas carências e inseguranças. Anabiśvasaṅgaḥassim, aponta para uma atitude de
extremo cuidado e compaixão em relação às pessoas e coisas, mas que é ao mesmo
tempo desapegada e objetiva.
15. Nityam samachittatvam iśtaniṣṭopapattiṣu,
equanimidade constante.
Samachittatvam quer
dizer receber com a mesma equanimidade tanto o quanto o que não se
aprecia. Sama significa equilíbrio, chittatvam designa
os estados de espírito. Iśtaniṣṭopapattiṣu é um termo que se usa para
designar o conjunto das coisas desejáveis e indesejáveis. Nityam quer
dizer sempre. O estado constante de estabilidade mental e emocional é o segredo
do Karma Yoga. Noutra passagem da Bhagavadgītā, Kṛṣṇa vai definir o estado de Yoga como chittatvam, equanimidade. Aqui, Nityam
samachittatvam iśtaniṣṭopapattiṣu é
apresentado como um valor que nos ajuda a compreender e manter nesse estado de
equilíbrio, quaisquer que sejam as circunstâncias exteriores.
16. Mayi cha ananya-yogena bhaktih avyabicharini,
devoção inabalável.
Mayi cha
ananya-yogena bhaktih avyabicharini. Temos aqui uma frase longa
para uma ideia simples e breve: ela aponta para a confiança e a devoção
inquebrantáveis. Essa confiança e devoção são dirigidas a Īśvara, que é o Ser
manifestado ao mesmo tempo com criador e criação, como todas as formas e nomes
existentes. Essa não-separação, ananya-yoga, pode ser interpretada
de duas maneiras: primeiramente, compreendo que o Todo, Īśvara, não está
separado de mim, indivíduo, e que eu nunca estive nem estou longe de Īśvara. Em
segundo lugar, podemos olhar para Īśvara como um refúgio: Īśvara é a minha
segurança, minha inspiração, meu abrigo. Dessa confiança nasce a mente
preparada para perceber a não-dualidade.
17. Vivikta-deśa sevitvam, apreço por um lugar
tranquilo.
Vivikta designa
um lugar solitário. Desde sempre, os yogis buscaram lugares
tranquilos para viver. Até mesmo quando moramos em grandes cidades, sentimos a
necessidade de sair oportunamente para passar um período em algum lugar
isolado. Quando fazemos isso, voltamos depois para o meio urbano totalmente
renovados. O valor pelo lugar tranquilo não é um fim em si mesmo, já que
podemos perfeitamente ter um ataque de nervos numa ilha paradisíaca ou no lugar
mais lindo do planeta. O apreço pelo lugar solitário vale pelo tipo de moldura
mental que ele produz: o pensamento tende a ficar mais harmonioso, as emoções
mais calmas e a mente mais predisposta para refletir e compreender a verdade
sobre si mesmo.
18. Aratiḥ janasamsadi, apreço pela solitude.
Solitude não
é solidão. Solidão é uma palavra que muitas vezes aparece associada ao
sofrimento que surge quando alguém busca ardentemente uma companhia, sem
encontrá-la. Portanto, a um isolamento imposto pelas circunstâncias ou à
incapacidade de estar bem consigo próprio. A solitude, por outro lado, é um
estado de recolhimento voluntário, no qual a pessoa percebe ser boa companhia
para si mesma, pois está em paz. Assim, embora não fuja da companhia de outrem,
o yogi tampouco busca compulsivamente se relacionar, pois não
precisa preencher carências e nenhum tipo. Aratiḥ janasamsadi,
literalmente, significa “ausência de grande desejo por companhia”. Por outro
lado, essa disposição para a solitude não aponta para algum tipo de desprezo ou
ódio pela companhia dos demais. O yogi convive pacificamente
com seus pares, mas não busca nesse convívio a razão da sua existência, e muito
menos, a própria felicidade.
19. Tattva-jñāna-artha-darśanam, foco e clareza
na verdade.
Talvez este
e o próximo sejam os dois valores mais importantes do código que Kṛṣṇa ensina para Arjuna. Tattva quer dizer verdade, e designa
a Realidade que dá origem às coisas: Brahman, o Ser. Jñāna, é
conhecimento.Artha é um propósito ou meta. Darśanam, a
visão. Este composto, portanto, pode ser definido como o propósito de manter o
foco sobre o conhecimento da verdade. Tattva-jñāna, o conhecimento
dessa Realidade, implica reconhecer que não somos diferentes nem estamos
separados dela. Esse reconhecimento é mokṣa, a libertação. Noutras palavras, tattva-jñāna-artha-darśanam é
não perder de vista o autoconhecimento como meta prioritária, de maneira que os
outros objetivos menores que possamos ter ao longo da caminhada não nos desviem
da prioridade essencial.
20. Adhyātma-jñāna nityatvaṁ, disposição contínua para o
autoconhecimento.
Infelizmente,
a iluminação não chega sozinha se decidirmos sentar embaixo de uma árvore para
esperar que ela aconteça. Se assim fosse, seria simples e fácil. Meditar pode
ajudar a pessoa a refletir sobre as misérias do mundo ou sobre seus próprios
problemas, no melhor dos casos. Acontece que a iluminação não surge do nada.
Para termos iluminação, é necessário um meio de conhecimento adequado. Esse
meio de conhecimento é chamado Brahmavidyā, ou autoconhecimento. Adhyātma-jñāna nityatvaṁ é o valor que nos ajuda a
lidar adequadamente com esse meio de conhecimento peculiar que é
Brahmavidyā. Adhyātma indica aquilo que é centrado em Ātma, no
Ser. Jñāna é conhecimento. Nityatvaṁ indica um
estado de espírito constante, que não oscila. Assim, adhyātma-jñāna nityatvaṁsignifica nos manter constantemente
atentos e conscientes ao Ser que somos.
Os valores como preparação para a iluminação.
O meio de
conhecimento mencionado acima inclui um processo de três etapas: śravaṇam-mananam-nididhyāsanam. Śravaṇam e
ouvir o ensinamento fundamental: você já é a plenitude que está buscando.Mananam é
questionar, dirimir as dúvidas que naturalmente surgem da dissonância entre
esta notícia e a imagem distorcida que geralmente temos de nós mesmos. Nididhyāsanam quer
dizer refletir sobre aquilo que se aprendeu nas etapas anteriores e é util para
nos ajudar a ficar firmemente estabelecidos no autoconhecimento.
Os valores
do Yoga não trazem, por si sós, o autoconhecimento, mas nos ajudam a cultivar
uma emocionalidade e uma mente receptivas e adequadas para compreender e fruir
adequadamente desse processo. Porém, cabe também lembrar que os valores não
podem ser impostos desde fora. Eles precisam ser bem compreendidos, para ser
integrados e internalizados de maneira natural. Do contrário, eles poderão
produzir conflito e tensão interna.
O valor dos
valores.
Uma vez
reconhecido “o valor dos valores”, como diz Swāmi Dayānanda, eles se tornam
espontâneos e passam a fazer parte da pessoa. Através dessa preparação,
poderemos então compreender a Realidade Única, a natureza do Ser que somos,
ilimitada, plena e pacífica.
Swāmi
Dayānanda explica a importância destes valores da seguinte maneira: “A
expressão da minha vida é apenas a expressão de uma estrutura de valores que
foi bem assimilada por mim. Isso é apenas uma expressão daquilo que é valioso
para mim. Para que eu possa desfrutar dos confortos, devo estar presente.
Quando estou dividido pela culpa, raramente estou em outro lugar que não seja a
minha ansiedade, meus remorsos e preocupações.
“Quando vejo
claramente este fato, poderei enxergar o valor da aplicar padrões éticos
universais a mim mesmo. Portanto, um valor, seja universal ou situacional, é um
valor para mim, apenas quando vejo o valor desse valor como algo valioso para
mim”. Boas práticas! Namaste!