segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Santo Agostinho



Filósofo e teólogo cristão, considerado o principal representante da patrística. Nasceu em Tagaste, localizada na África, filho de pai pagão e mãe cristã, Santa Mônica. Apesar de sua mãe lhe haver apresentado à religião cristã desde muito cedo, seus primeiros estudos voltaram-se para a retórica, a gramática e os clássicos latinos. Lecionando em Cartago, travou contato com a doutrina maniqueísta (ver maniqueísmo), da qual foi adepto durante nove anos, por ver nela uma resposta consistente ao problema da existência do mal.

De uma ligação amorosa duradoura, teve um filho, Adeodato, falecido ainda adolescente. Mudando-se para Milão, após breve estadia em Roma, foi influenciado pelos ensinamentos da escola neoplatônica (ver Neoplatonismo). Esta filosofia teria apressado seu processo de conversão ao cristianismo, pois ele era compreendido, nesta época, como a formulação racional mais próxima da verdade apreendida pela revelação.

Ainda em Milão, os sermões de Santo Ambrósio e a leitura de São Paulo teriam completado seu processo de conversão, consumada oficialmente, através de seu batismo, em 387. No ano seguinte, mudou-se para Cartago, onde permaneceu por três anos, organizando uma comunidade monástica. Em 391, foi ordenado sacerdote em Hipona, assumindo a função de bispo em 396. Manteve, desde a sua ordenação, várias polêmicas, contra os maniqueus, pagãos, judeus, judeus, priscilanistas, donatistas, pelagianos, arianos e apolinaristas. Faleceu em Hipona, durante a invasão dos vândalos a esta cidade.

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domingo, 29 de novembro de 2009

Racionalismo e Empirismo


O rigor da argumentação kantiana fez da filosofia uma metadisciplina a qual todo acadêmico deveria saber, caso quisesse tratar de epistemologia. Desde Kant, a ciência só poderia avançar dentro dos limites impostos pela filosofia. Somente depois que matemáticos e lógicos, como George Boole, Gottlob Frege, Giuseppe Peano (1858-1932) e Georg Cantor (1845-1918), entre outros, propuseram uma nova compreensão dos processos formais de entendimento, foi possível alguma transformação no projeto kantiano.

A lógica simbólica nascente, que esses autores ajudaram a criar, estudava a relação direta entre as regras da lógica e os axiomas e teoremas da matemática. Ao lado da física, também questionavam a condição transcendental do tempo e do espaço, bem como a impossibilidade de uma psicologia empírica. Ao tentarem derivar todos enunciados da matemática das leis da lógica, aqueles matemáticos atacavam a noção kantiana de juízo sintético a priori que vinculava o conhecimento matemático à experiência.

Na monumental obra, Principia Mathematica (1910-13), os lógicos-matemáticos Alfred N. Whitehead e Bertrad Russell estabeleceram outra forma de relacionar as ciências empíricas com a lógica e a matemática. Enquanto Kant defendia uma teoria compacta de todo conhecimento fundada na filosofia, Whitehead e Russell argumentavam que as disciplinas deveriam enfrentar os problemas isoladamente, um de cada vez, num método mais próximo das ciências. Pelo método científico e não filosófico, reduções sucessivas levariam finalmente ao encontro da verdade. Cada passo da investigação aperfeiçoaria o anterior, ao invés de rejeitá-lo totalmente. O objetivo era eliminar a distância entre o conhecimento imediato e o obtido por intermédio de inferências lógicas. Uma construção lógica tornaria possível a explicação do mundo exterior, a partir de dados sensoriais.

O programa lógico-empírico -também conhecido por positivismo lógico- de abordagem da experiência sensorial humana substituiu, então, a filosofia kantiana e passou a influenciar grande parte do século XX, incluindo muitos cientistas cognitivos. Em 1922, Ludwig Wittgenstein (1889-1951), aluno de Russell, apresentou seu Tractatus Logico-Phylosophicus (Tratado Lógico-Filosófico), onde tentava mostrar a estrutura lógica da linguagem, que, para ele, retratava o estado de coisas no mundo. A suposição era de que houvesse uma correspondência formal entre a configuração dos objetos no mundo, pensamentos na mente e palavras na linguagem.

Depois de Wittgenstein, a filosofia assumiu a tarefa de esclarecer as proposições sobre o mundo. Ao centrar-se apenas nas proposições de uma ciência natural, questões sobre ética, metafísica, ontológica e estética passavam a ser consideradas sem significado, por não representarem nada no mundo. Essas idéias serviram de inspiração ao Círculo de Viena, formado por Moritz Schlick (1882-1936) e outros empiristas lógicos, no período entre as duas Grandes Guerras. Em poucas palavras, esse grupo ambicionou separar as questões filosóficas que poderiam ou não ser formalizadas logicamente. Os enunciados matemáticos, por exemplo, eram analisáveis e passíveis de verificação, enquanto os problemas metafísicos mantinham-se inacessíveis, devendo, portanto, ser descartados.

O verificacionismo dominante, então, sustentava que as afirmações empíricas adquiriam um significado verdadeiro ou falso se pudessem ser verificadas em condições ideais de investigação. Segundo Rudolf Carnap (1891-1970), um dos membros do círculo vienense, as circunstâncias em que as pessoas usam uma proposição determinam seu valor de verdade e o método de verificação fornece seu significado.

Ao lado do verificacionismo, o fisicalismo era outra característica marcante do positivismo lógico. Para os fisicalistas, as proposições relacionadas aos estudos mentais possuíam equivalentes lógicos nas referências do comportamento externo e nas leis da física. Cada sentença da psicologia deveria ter uma reformulação em termos do comportamento físico, tanto em seres humanos, como em animais. Por causa desses princípios, o Círculo de Viena rejeitava um papel especial para a filosofia, uma vez que a ciência empírica era capaz de abranger a filosofia, que seria responsável apenas pelo estudo da linguagem científica.

Carnap, seguindo à risca esse programa, começou a traduzir todas as sentenças sobre o mundo em dados sensoriais. Examinando a relação entre estas sentenças, a natureza de uma entidade era determinada pelas inferências entre cada uma das proposições. A análise sintática lógica apontaria os possíveis erros de construção lógica, apontando a resolução ou não de um problema filosófico correspondente.

A importância do Círculo de Viena para a ciência cognitiva está nessa concepção de sintaxe como um conjunto de símbolos e regras que traduzem as operações mentais. Graças a isso, Noam Chomsky pôde postular uma sintaxe básica para a gramática, enquanto Newell e Simon simulavam com símbolos lógicos o raciocínio humano em computador e Bruner e George Armitage Miller (1920) buscavam as regras de classificação, de acordo com uma lógica mental. Jerry Fodor (1935), mais tarde, herdaria esse tipo de postura ao afirmar a existência de uma linguagem do pensamento, nos moldes carnapianos.

Apesar do modelo carnapiano não ter obtido êxito científico notável, sua influência pode ainda ser observada em algumas áreas da ciência cognitiva. Historicamente, a postura do Círculo de Viena mostrou-se artificial e conveniente ao behaviorismo e positivismo, porém mesmo aqueles que o criticaram não ficaram livres de seu contágio1.

Revisão Filosófica

Com o passar do tempo, várias dúvidas foram levantadas quanto aos princípios defendidos pelo empirismo lógico. A possibilidade de dados sensoriais puros foi questionada por uma concepção nova de conhecimento atrelada ao uso da linguagem e não meramente em informações brutas do sentidos. Em meados dos anos 50, Willard von Orman Quine (1908) abalou a tradicional distinção entre verdades analíticas e sintéticas, aceitas desde Kant. Além disso, mostrou ser insustentável atribuir verdade tomando apenas o significado ou definição dos enunciados. Os componentes empíricos e lógicos de uma teoria científica não poderiam ser totalmente separados por critérios de verdade diferenciados. Para Quine, haveria tantos modos de relacionar a linguagem ao mundo, quanto as línguas existentes, e assim sintaxes lógicas pertinentes deveriam ser elaboradas para cada sistema lingüístico.

Mais tarde, Hilary Putnam contestou a conexão de todas as teses positivas do empirismo lógico e sua fé na transformação da filosofia em ciência rigorosa capaz de estabelecer o valor de verdade com bases em teorias lingüísticas. Mesmo reconhecendo-se que a lógica simbólica e a teoria da linguagem modernas, além de parte da ciência cognitiva serem frutos do empirismo lógico, o Círculo de Viena não deixou de ser duramente atacado pela posteridade2.

Por outro lado, em The Concept of Mind (O Conceito de Mente, 1949), Gilbert Ryle (1900-1976) atacou a idéia cartesiana de um "fantasma na máquina", negando que houvesse qualquer conexão causal entre o que acontece numa mente isolada com o que se passa em outra. Para Ryle, falar da mente era um erro categorial, já que não existiria um lugar com tal designação, assim como "universidade" não está para além da estrutura de seus campi. O erro em categorizar a mente estava em atribuir-lhe uma substância paralela ao corpo, mas que o controla mesmo estando separada dele.

Para evitar tais erros, Ryle assumiu uma interpretação do tipo behaviorista, apoiada na descrição de comportamentos motivados por certas circunstâncias. Ele duvidou que houvesse um acesso privilegiado de cada um a sua própria mente. Tudo o que alguém poderia saber sobre si mesmo seria descoberto em outra pessoa apenas observando e questionando seu modo de agir. A análise filosófica só poderia compreender as circunstâncias nas quais alguém obtivesse algum tipo de conhecimento relatado. Os supostos mecanismos internos nada acrescentariam de relevante à compreensão do agente. Ryle considerava problemático adotar o nível representacional ou qualquer fundamentação em entidades internas3.

Wittgenstein, que esteve no início das atividades do Círculo de Viena, também fez-se presente no seu réquiem. Em torno do tema da linguagem, Wittgenstein girou cerca de 180 graus. Na sua obra inicial, a linguagem era tratada como um meio privilegiado de compreensão da estrutura do mundo. Mas em seus textos posteriores, essa concepção passou a ser geradora de problemas, cuja solução estaria no correto entendimento do uso da linguagem.

Por ser de domínio público e ensinadas a pessoas imersas numa comunidade lingüística, as circunstâncias e modos como uma determinada palavra é usada estabeleceriam, agora, a relação entre esta e o acontecimento. Cada uso da palavra dependeria dos diversos modos (jogos) em que a linguagem é empregada, seguindo um conjunto de regras específico a cada um desses jogos lingüísticos. As palavras já não possuíam, portanto um único significado, como antes se pensava, mas uma família de definições. Os problemas filosóficos, assim, poderiam ser dissolvidos, mostrando-se a maneira enganosa que a linguagem foi usa, segundo uma gramática própria.

Os psicólogos seriam exemplos de tentativas equivocadas de solucionar o problema psicológico, pois ao tratarem-no de modo científico, eles não perceberiam que todo erro estava inserido num uso da linguagem inadequado. Os operadores mentais não teriam um funcionamento a ser descoberto, mas relações lingüísticas com a experiência cotidiana e o comportamento de um grupo. Todo defeito da psicologia estava em sua confusão conceitual, o que tornava o seu método experimental incapaz de resolver os problemas que passariam longe uns dos outros, quando bastaria apenas descrever o fenômeno, ao contrário de tentar explicá-lo4.

Tal como Wittgenstein, John Langshaw Austin (1911-1960) pensava que sentenças não deveriam apenas ser entendidas no seu sentido elocucional -da formação do enunciado proferido-, mas segundo o sentido ilocucionário dado pelo falante a suas elocuções, relacionando as sentenças com o uso dado por quem as profere. Qualquer afirmação poderia resultar em efeitos diferentes, de acordo com o contexto. Assim, a teoria dos atos de fala -inaugurada por Austin em How to do Things with Word (Como Fazer Algo com as Palavras, 1962), um livro póstumo- dava maior atenção aos atos ilocucionários, ou seja, os objetivos para os quais uma elocução foi proferida.

O apelo ao uso da linguagem tirava da filosofia o poder de decidir por si só qual o conhecimento e verdade das ciências. As gramáticas de cada jogo de linguagem dominavam o pensamento humano, no entender de autores como Ryle, Wittgenstein e Austin. À filosofia caberia chamar atenção disso e descrever os métodos empregados na discussão. Todavia, Quine ainda achava possível a epistemologia encontrar abrigo em parte da psicologia, na forma de uma ciência natural, estudando a constituição física humana e sua reação a estímulos controlados5.

O Fim da Epistemologia

Posição mais radical contra a filosofia foi tomada por Richard Rorty (1931) em Filosofia e o Espelho da Natureza (1979). Rorty compreende a filosofia como uma teoria geral da representação que visa conhecer os processos mentais constituintes do entendimento. Contudo, o conceito de mente é tão obscuro quanto o conceito de Deus. A manutenção do interesse sobre ele dar-se-ia apenas por uma função cultural e uma vaga noção de ciência.

A crença em torno dessas questões resultaria de um longo processo histórico cheio de desvios quanto à natureza da atividade cognitiva. A única atitude sensata, segundo Rorty, para eliminar esse espectro seria rever sua trajetória histórica, revivendo seus disparates como numa terapia de regressão. Nessa retrospectiva, examinar-se-ia a série de fracassos do pensamento filosófico ocidental.

Na época helênica, tais crenças eram delineadas diretamente, com representações precisas de idéias formais não observáveis, tal como exemplifica o Mênon de Platão. Descartes, muito tempo depois, apresentaria essa faculdade mental como um espelho da natureza, observado pelo olho interno. Locke teria confundido o modo como a informação atinge a consciência com o porque da sua existência. Kant, ao propor representações indubitáveis forneceria aos filósofos o privilégio de limitar e regular a investigação científica.

Os ataques sucessivos a essa situação, vindo de vários campos da filosofia -epistemologia, pragmatismo, fenomenologia etc-, e o fracasso grandiloqüente do empirismo lógico serviram para abalar a validade das crenças na relação entre idéias e objetos. Tudo isso não passaria de um processo social que pretende reforçar as crenças na verdade filosófica. Nada na psicologia revelaria uma competência superior a da fracassada epistemologia, no trato dessas questões. As idéias da mente não possuiriam plausibilidade maior que a dos neurônios do cérebro para compreensão de significados e dados sensoriais. O fim da psicologia liberaria a humanidade do "espelho da natureza".

O desenvolvimento da filosofia ocidental, segundo Rorty, não passaria de uma contingência histórica e nada teria de necessário. Sem os personagens filosóficos, a história da filosofia teria sido diferente. Por ter chegado ao fim de um ciclo, a epistemologia deveria ser retirada do rol das ciências humanas. No lugar dos grandes construtores de sistemas -como Kant e Russell- seriam eleitos os "edificadores" -como Wittgenstein e o pedagogo pragmatista John Dewey (1859-1952)-, que se contentavam em interagir e descrever o que viam. Afinal, o filósofo não seria uma pessoa com conhecimento especial ou método bem estabelecido. Debates estéreis como os travados por racionalistas e empiristas deveriam ser encerrados. A física, por sua vez, bem poderia delimitar a estrutura do mundo exterior, enquanto a neurologia explicaria os processos intelectuais e afetivos, ao passo que a sociologia e a história descreveriam a forma de constituição das crenças dominantes. Sem orientar suas pesquisas para essas questões humanísticas, a ciência cognitiva não produziria nenhuma alternativa interessante6.
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Referência Bibliográfica
GARDNER, H. A Nova Ciência da Mente; trad. Cláudia M. Caon. - São Paulo: Edusp, 1995.
Notas
1.Veja GARDNER, H. A Nova Ciência da Mente, II, 1, pp. 73-78.
2.Veja GARDNER, H. Op. Cit, idem, pp. 78-80.
3.Veja GARDNER, H. Idem, ibdem, pp. 80-81.
4.Veja GARDNER, H. Ibdem, ibdem, pp. 81-83.
5.Veja GARDNER, H. Ibdem, ibdem, pp. 83-84.
6. Veja GARDNER, H. Ibdem, ibdem, pp. 84-89.

Original em:

http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/racionalismo-e-empirismo.html

sábado, 28 de novembro de 2009

Racionalismo



Doutrina que afirma que tudo que existe tem uma causa inteligível, mesmo que não possa ser demonstrada de fato, como a origem do Universo. Privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao conhecimento. Considera a dedução como o método superior de investigação filosófica.

René Descartes (1596-1650), Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716) introduzem o racionalismo na filosofia moderna. Friedrich Hegel (1770-1831), por sua vez, identifica o racional ao real, supondo a total inteligibilidade deste último.

O racionalismo é baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão.

Na passagem do século XVIII para o XIX, Immanuel Kant (1724-1804) revê essa tendência de associar o pensamento à análise pura e simples e inaugura o neo-racionalismo.

A nova doutrina aceita as formas a priori da razão, afirmando, entretanto, que elas necessariamente devem ser conjugadas aos dados da experiência para que possa haver conhecimento.

O racionalismo dos séculos XVII e XVIII influencia a religião e a ética até hoje.

Está presente nas várias seitas do protestantismo, que dispensam a autoridade e a revelação religiosa em favor dos postulados lógicos e racionais sobre a existência de Deus. Influencia, também, a conduta moral que atribui à razão e aos princípios inatos de bondade, entre outros, a capacidade humana de se bem conduzir.

Original em:
http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/racionalismo.html

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Positivismo



Corrente de pensamento formulada na França por Auguste Comte (1798-1857).

O termo identifica a filosofia que busca seus fundamentos na ciência e na organização técnica e industrial da sociedade moderna.

O método científico é o único válido para se chegar ao conhecimento.

Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados pelo método científico, como os postulados da metafísica, não levam ao conhecimento e não têm valor.

Entre suas formulações principais, está a que considera que as sociedades humanas passam por três estágios de evolução histórica.

O primeiro é o teológico, no qual os fenômenos são apresentados como sendo produzidos pela ação de seres sobrenaturais que interferem arbitrariamente no mundo.

O segundo é o metafísico, no qual os fenômenos são engendrados por forças abstratas.

O último estágio é o positivo, em que o ser humano desiste de procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da observação e do método científico, estabelecer as leis gerais que os regem.

O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade do espírito humano que não é mais enganado por explicações vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o preciso.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O que é uma idéia ou um conceito


O algarismo é um conceito que representa uma idéia, qual seja a do número quatro (tudo é número, diz Pitágoras), que pode ser representado por inúmeras formas = IV, IIII, etc. Deduzimos que conceito "são mecanismos mentais que permitem ao homem empreender, externamente, a luta com os desafios específicos da natureza externa e da realidade social"¹. Os conceitos são utilizados como ferramentas mentais que tornam possível o conhecimento por parte do intelecto, bem como a operacionalização da ciência em tela . O Direito é um campo do saber repleto de conceitos: constituição, legítima defesa, crime, bom pai de família, etc.

Todo conceito tem atrás de si, animando-o, uma ou várias idéias. O perigo é não diferenciarmos as idéias e os conceitos, visto que os dois são semelhantes, mas totalmente diversos "quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais, tantas canções parecidas mas tão desiguais, são como as coisas da vida, coisas tão parecidas, mas tão desiguais..."².

Idéias e conceitos divergem na sua serventia e no modo através do qual eles se dão a conhecer. Conceito já vimos para que serve, idéias "movem o homem em direção ao confronto de suas duas naturezas devido ao seu poder de sustentar a ação do autoquestionamento total." Idéias são, portanto, ferramentas do autoquestionamento, veículos de crescimento pessoal e espiritual. Conceitos são apreendidos, podem ser guardados na nossa memória e os acessamos quando necessário. Já idéias são objeto de uma integral aprendizagem[³] requerem não um relacionamento professor/aluno, mas uma comunhão de saberes entre mestre/discípulo. Pitágoras na sua comunidade, Platão na Academia, Aristóteles no Liceu, Goffredo Telles Jr. no Largo de São Francisco, etc. A lista, felizmente, foi só exemplificativa...

A aridez existencial de nossos tempos tecnoburocráticos em grande parte é devida a conceitualização das idéias. Sufocam-se as buscas internas, hiperestimulam-se as atividades esotéricas.

Para concluir e a Internet, caros navegantes, queridas internautas o que é? Para mim, idéia de um novo espaço cósmico...

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1. NEEDELEMAN, Jacob. O Coração da Filosofia. 2 ed. São Paulo: Palas Athena, 1991, p.51
2. Inclinações Musicais. Música de Geraldo Azevedo.
3. Em Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres. Clarice Lispector nos fornece pistas de como vivenciar a idéia de amor.

Original em:
http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/o-que-e-uma-ideia-ou-um-conceito.html

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Metafísica


Parte mais central da filosofia que busca o princípio e as causas fundamentais de tudo, tratando de questões que, em geral, não podem ser confirmadas pela experiência direta. Constitui a filosofia primeira, o ponto de partida do sistema filosófico. O termo surge por volta de 50 a.C., quando Andronico de Rodes (século I a.C.), ao organizar a coleção da obra de Aristóteles, dá o nome de ta metà ta physiká ao conjunto de textos que se seguiam aos da física ("metà" quer dizer além).

Historicamente, a palavra passa a significar tudo o que transcende à física, porque nesses estudos Aristóteles examina a natureza do ser em geral e não de suas formas particulares, postulando a idéia de Deus como substância fundamental.

As bases do pensamento de Aristóteles podem ser encontradas no platonismo. Para Platão, a filosofia é a única ciência capaz de atingir o verdadeiro conhecimento. Por meio da dialética, o filósofo aproxima-se das idéias puras, como a verdade, a beleza, o bem e a justiça. Na Idade Média, a metafísica confunde-se com a teologia.

O italiano santo Tomás de Aquino afirma que a metafísica estuda a causa primeira, e, como a causa primeira é Deus, ele é o objeto da metafísica. Na Idade Moderna a experiência passa a ser extremamente valorizada e a metafísica deixa de ser considerada a base do conhecimento filosófico. O escocês David Hume diz que o homem está completamente submetido aos sentidos, portanto não pode criar idéias, e não é possível formular nenhuma teoria geral da realidade. Para ele, ciência alguma é capaz de atingir a verdade, seus conhecimentos são sempre probabilidade.

No século XVIII, o alemão Immanuel Kant afirma que o domínio da razão e o rigor científico podem recriar a metafísica como conjunto dos conhecimentos dados apenas pela razão, sem utilizar os dados da experiência. Nesse sentido, a metafísica para Kant reduz-se ao estudo das condições e limites do conhecimento. No século XIX, o positivismo de Auguste Comte coloca a metafísica como uma ciência superada.

Segundo ele, a história da humanidade (e, por analogia, o conhecimento humano) passa por três períodos: o teológico, o metafísico e o positivo, ou científico, sendo que este último é superior aos anteriores. No século XX, o filósofo alemão Martin Heidegger faz uma revisão da história da metafísica e sustenta que ela confunde o estudo do ser, o verdadeiro objeto da filosofia, com outros temas, como a idéia, a natureza e a razão.

Original em:
http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/metafisica.html

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Materialismo



Doutrina filosófica que admite como realidade apenas a matéria. Nega a existência da alma e do mundo espiritual ou divino. Formulada pela primeira vez no século VI a.C., na Grécia, ganha impulso no século XVI, quando assume diferentes formas. Para os gregos, os fenômenos devem ser explicados não por mitos religiosos mas pela observação da realidade. A matéria é a substância de todas as coisas. A geração e a degeneração do que existe obedecem a leis físicas. A matéria encontra-se em permanente metamorfose. A alma faz parte da natureza e obedece às suas leis. Essas teses são a base de todo o materialismo posterior.

No século XVIII, o francês Julien de la Mettrie (1709-1751), os pensadores da Enciclopédia e o barão de Holbach (1723-1789) lançam o materialismo filosófico, doutrina que considera o homem uma máquina e nega a existência da alma, em oposição ao espiritualismo.

No século XIX surge na Alemanha o materialismo científico, que substitui Deus pela razão ou pelo homem, prega que toda explicação científica resulta de um processo psicoquímico e que o pensamento é apenas um produto do cérebro. Seus principais formuladores são Karl Vogt (1817-1895), Ludwig Büchner (1824-1899) e Ludwig Feuerbach (1804-1872).

O marxismo, por sua vez, baseia-se numa concepção materialista da história - denominada materialismo histórico por Friedrich Engels (1820-1895) -, pela qual a história do homem é a da luta entre as diferentes classes sociais, determinada pelas relações econômicas da época.

O materialismo dialético é constituído como doutrina por Lênin e recebe esse nome porque sua teoria é materialista e seu método, a dialética. No início do século XX, as idéias de pensadores como Richard Avenarius (1843-1896), Ernst Mach (1838-1916) e Wilhelm Ostwald (1853-1932) dão origem ao materialismo energetista, teoria mais filosófica que científica, pela qual espírito e matéria são apenas formas da energia que constituem a realidade.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Marxismo



Doutrina filosófica, econômica, política e social formulada pelos filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels (1820-1895) entre 1848 e 1867.

Tem como fontes principais o idealismo de Friedrich Hegel (1770-1831), o materialismo filosófico francês do século XVIII e a economia política inglesa do começo do século XIX. Segundo o marxismo, a característica central de qualquer sociedade está no modo de produção (escravista, feudal ou capitalista), que varia com a história e determina as relações sociais.

Com o processo produtivo, os homens criam as próprias condições de sua existência. A história seria, então, o resultado das lutas entre os interesses das diferentes classes sociais. Esse conflito só desapareceria com a instalação da sociedade comunista, concebida como igualitária e justa. Nela, o Estado é abolido, não há divisão social nem exploração do trabalho humano, e cada indivíduo contribui de acordo com sua capacidade e recebe segundo sua necessidade.

Para o marxismo, o capitalismo é um sistema no qual a burguesia concentra o capital e os meios de produção (instalação, máquina e matéria-prima) e explora o trabalho do proletariado, mantendo-o numa situação de pobreza e alienação. Por estar baseado nessa característica contraditória, a de explorar seu próprio alicerce - a classe trabalhadora -, o sistema prepara o caminho para sua própria destruição. O capitalismo levaria a luta de classes a um ponto crítico, em que o proletariado, privado de sua liberdade por meio da contínua exploração, acabaria por se unir. A derrota da burguesia coincidiria com a instalação do comunismo

Original em:
http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/marxismo.html

domingo, 22 de novembro de 2009

Lógica

Entendida popularmente como o estudo do raciocínio correto, a lógica surge no Ocidente com o filósofo grego Aristóteles. Para mostrar que os sofistas (mestres da retórica e da oratória) podem enganar os cidadãos utilizando argumentos incorretos, Aristóteles estuda a estrutura lógica da argumentação. Revela, assim, que alguns argumentos podem ser convincentes, embora não sejam corretos. A lógica, segundo Aristóteles, é um instrumento para atingir o conhecimento científico.

Só se pode chamar de ciência aquilo que é metódico e sistemático, ou seja, lógico. Na obra Organon, Aristóteles define a lógica como um método do discurso demonstrativo, que utiliza três operações da inteligência: o conceito, o juízo e o raciocínio. O conceito é a representação mental dos objetos. O juízo é a afirmação ou negação da relação entre o sujeito (neste caso, o próprio objeto) e seu predicado. E o raciocínio é o que leva à conclusão sobre os vários juízos contidos no discurso.

Os raciocínios podem ser analisados como silogismos, nos quais uma conclusão decorre de duas premissas. "Todo homem é mortal. Sócrates é homem, logo, Sócrates é mortal", diz ele, para exemplificar. "Sócrates", "homem" e "mortal" são conceitos. "Sócrates é mortal" e "Sócrates é homem" são juízos. O raciocínio é a progressão do pensamento que se dá entre as premissas "Todo homem é mortal", "Sócrates é homem" e, a conclusão, "Sócrates é mortal".

O matemático e filósofo alemão G.W. Leibniz (1646-1716) critica a lógica aristotélica por demonstrar verdades conhecidas, mas não revelar novas verdades. Além disso, a lógica tradicional sistematiza apenas juízos do tipo sujeito e predicado, como "Sócrates é mortal". Já os modernos sentem necessidade de um método capaz de estudar também relações entre objetos, como "A Terra é maior do que a Lua".

No final do século XIX, o alemão Gottlob Frege (1848-1925) cria uma lógica baseada em símbolos matemáticos e na análise formal do discurso, lançando as bases da lógica moderna, que formaliza os raciocínios, organizando-os numa espécie de gramática, que pode ser empregada em diversas linguagens, como a proposicional, que estuda a relação dos juízos entre si, e a de predicados, que analisa a estrutura interna das sentenças. Como a matemática, ambas se utilizam de símbolos lógicos (de negação, conjunção e implicação, por exemplo) e não-lógicos (que representam proposições, funções, relações etc.) para criar cálculos ou sistemas de dedução.

A validade de um argumento depende exclusivamente de sua fórmula lógica e não do conteúdo das afirmações. Então, se no exemplo aristotélico o conceito "mortal" for substituído pelo conceito "verde" ("Todo homem é verde. Sócrates é homem, logo, Sócrates é verde."), o argumento permanece válido, ou correto, embora não existam homens verdes. Válido, porém, não quer dizer verdadeiro. Para que a conclusão de um argumento válido seja verdadeira, as premissas têm de ser verdadeiras. Ao estudar a estrutura e a natureza do raciocínio humano e reproduzi-las em fórmulas matemáticas, torna-se possível, por exemplo, a criação de uma linguagem binária, que é a base de funcionamento dos softwares para computadores.

Original em:
http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/logica.html

sábado, 21 de novembro de 2009

Idealismo



Tendência filosófica que reduz toda a existência ao pensamento. Opõe-se ao realismo, que afirma a existência dos objetos independentemente do pensamento. No idealismo absoluto, o ser é reduzido à consciência. Ao longo da história da filosofia, ele aparece sob formas menos radicais -não nega categoricamente a existência dos objetos no mundo, mas reduz o problema à questão do conhecimento

O idealismo toma como ponto de partida para a reflexão o sujeito, não o mundo exterior.

O idealismo metódico de Descartes é uma doutrina racionalista que, colocando em dúvida todo o conhecimento estabelecido, parte da certeza do pensar para deduzir, por meio da idéia da existência de Deus, a existência do mundo material. O idealismo dogmático surge com George Berkeley (1685-1753), que considera a realidade do mundo exterior justificada somente pela sua existência anterior na mente divina ou na mente humana. Para ele, "ser é ser percebido".

Immanuel Kant formula o idealismo transcendental, no qual o objeto é algo que só existe em uma relação de conhecimento. Ele distingue, portanto, o conhecimento que temos dos objetos, sempre submetidos a modos especificamente humanos de conhecer, como as idéias de espaço e tempo, dos objetos em si, que jamais serão conhecidos. Na literatura, o romantismo adota boa parte dessas idéias.

Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) e Friedrich von Schelling (1775-1854) desenvolvem esse conceito e se tornam expoentes do idealismo alemão pós-kantiano. Eles conferem às idéias de Kant um sentido mais subjetivo e menos crítico: desconsideram a noção da coisa-em-si e tomam o real como produto da consciência humana. Friedrich Hegel (1770-1831) emprega o termo idealismo absoluto para caracterizar sua metafísica. Ao considerar a realidade como um processo, ele discute o desenvolvimento da idéia pura (tese), que cria um objeto oposto a si - a natureza (antítese) -, e a superação dessa contradição no espírito (síntese). Esse movimento se dá na história até que o espírito se torne espírito absoluto, ou seja, supere todas as contradições, por meio da dialética, e veja o mundo como uma criação sua.

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Gnosticismo



Movimento de caráter filosófico-religioso, iniciado em meados do primeiro século de nossa era. Seu nome deriva do termo grego gnôsis, que significa saber, conhecimento. Podemos compreender o gnosticismo como um conjunto de doutrinas que pretende alcançar a redenção através de um conhecimento de Deus, do universo e da finalidade da vida humana. Tal conhecimento, contudo, passa eminentemente pela via da revelação mística e extática, antes de possuir caráter especulativo.

Outro fator fundamental para determinar o caráter próprio ao movimento gnóstico é o sincretismo, presente em todas as suas manifestações. Suas teses são formadas a partir de elementos retirados de uma enorme gama de seitas e religiões, sendo suas principais fontes as religiões cristã, judaica, helênica e orientais. Possuiu uma enorme variedade de formas, bem como grande número de adeptos. Entre os séculos I e III, período em que alcançou seu apogeu, chega-se a distinguir cerca de sessenta seitas, entre propriamente gnósticas e afins.

Os maiores representantes do gnosticismo são Simão Mago, Menandro, Saturnilo, Marcião, Valentim, Basílides, Carpócrates e Bandesanes. Suas mais expressivas seitas são: ofitas ou naasenos, que possuem como símbolo a serpente (em grego óphis, em hebraico Nachasch) e barbelognósticos, que afirmam uma trindade formada pelo Pai, o Filho e a Mãe ou Primeira Mulher, compreendida como a Sabedoria (entre eles denominada Barbelo), vencedora da luta travada com os demônios, partidários do Mal (personificado pelo nome de Jaldabaoz).

No século III, surge o maniqueísmo, que representa uma radicalização do dualismo professado pelos gnósticos. Esta religião difunde-se por toda a Idade Média, no Ocidente e Oriente, alcançando enorme popularidade e tornando-se o principal alvo das refutações cristãs.

Dentre a variedade de suas manifestações, contudo, podemos encontrar algumas características comuns às diversas seitas gnósticas.

Em primeiro lugar, o princípio dualista da realidade, personificado pelas divindades representantes de Bem e Mal. O Bem diz respeito à alma e ao plano do inteligível, enquanto o Mal relaciona-se ao mundo, ao corpo e à matéria. Da compreensão da luta travada por estes dois princípios, advém a revelação do sentido intrínseco aos movimentos da Natureza, bem como à finalidade da própria vida humana. Contudo, não podemos afirmar o gnosticismo como um dualismo em sentido estrito, uma vez que, para esta doutrina, o Mal sempre acaba submetido ao princípio do Bem, seu poder permanecendo inferior e, em última instância, subordinado à realidade suprema.

Seu dualismo deve ser, desta forma, compreendido desde o monoteísmo que lhe serve de base. Em segundo lugar, o gnosticismo aponta necessariamente uma norma de conduta, baseada no cultivo da via espiritual em detrimento de tudo que se relaciona ao corpo e à matéria. Contudo, pode-se derivar duas linhas de ação no tocante à relação com o corpo.

A maioria das seitas gnósticas prega uma moral de caráter ascético, repudiando o corpo a fim de purificar a alma das impurezas próprias ao contato com a matéria. Porém, uma outra vertente desta seita aceitava uma moral de liberalidade, por compreender que, se o corpo se encontra radicalmente separado da alma, nada que aquele fizer poderá afetá-la.

O gnosticismo se afirma como um movimento contraposto à doutrina cristã, não podendo ser separado desta.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Fenomenologia


Tomada em sentido etimológico, o termo fenomenologia provém de duas palavras gregas, phainomenon e logos. Assim, seu sentido primeiro é ciência ou estudo dos fenômenos. A amplitude deste sentido permite identificar a fenomenologia com a própria investigação filosófica, uma vez que esta deve, necessariamente, partir disso que se apresenta, dos fenômenos, de modo a conferir-lhes uma unidade de sentido.

O termo fenomenologia foi empregado em várias acepções, por vários pensadores, ao longo da história da filosofia. Assim, no século XVIII, Lambert denomina fenomenologia a investigação que visa distinguir entre verdade e aparência, de modo a destruir as ilusões que com freqüência se apresentam ao pensamento. Esta investigação é afirmada como o fundamento de todo saber empírico.

Para Kant, fenomenologia é o nome da ciência que estuda a matéria enquanto objeto possível da experiência. Este filósofo postula, ainda, a necessidade de uma phenomenologia generalis, que trace a distinção entre os âmbitos sensível e inteligível. Hegel denomina fenomenologia do espírito a ciência do movimento da consciência, que parte da consciência sensível e alcança, após vários estágios, a consciência de si, esta caracterizada como um saber absoluto.

Para Peirce, a fenomenologia constitui uma das partes constituintes da filosofia, e compreende o estudo disso que se apresenta de qualquer modo à mente, independente de qualquer correspondência à realidade. Contudo, a fenomenologia ganhou um novo e rigoroso direcionamento no pensamento de Edmund Husserl, de maneira tal que o sentido atualmente vigente deste termo liga-se, por princípio, ao significado que lhe outorgou este autor.

A fenomenologia husserliana é um método que visa encontrar as leis puras da consciência intencional. A intencionalidade é o modo próprio de ser da consciência, uma vez que não há consciência que não esteja em ato, dirigida para um determinado objeto. Por sua vez, todo objeto somente existe enquanto apropriado por uma consciência. "Sujeito" e "objeto" constituem, para esta concepção, dois pólos de uma mesma realidade.

Contudo, é preciso encontrar um procedimento que faça ver a estrutura integral da consciência. A fenomenologia consiste, pois, em apresentar as coisas nelas mesmas; ela deve alijar todos os pressupostos de conhecimento, a fim de apreender a consciência em seu puro caráter fenomenal. Para realizá-lo, ela parte do processo de redução (em grego, epoché); este consiste em pôr o mundo entre parêntesis, liberando, assim, o puro fenômeno. Este se manifesta, assim, de maneira dupla: como redução eidética, que faz aparecer a apreensão, pela consciência, de essências puras, unidades ideais formadoras de sentido. Assim, o que é visado pela consciência se manifesta em seu âmbito essencial, como sentido.

O segundo momento deste processo é o da redução transcendental, em que a própria existência da consciência é posta entre parêntesis. Voltando sobre si própria, a consciência se apreende como eu puro ou transcendental, que confere sentido a toda experiência de egoidade.

Vários autores posteriores a Husserl voltaram a tratar da fenomenologia. Entre eles, podemos citar: Max Scheler, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty. Contudo, por maiores que sejam as diferenças entre estas concepções, seu fundamento continua sendo o pensamento husserliano.

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Fenomenismo



Corrente filosófica que afirma a realidade e o conhecimento apenas através de sua forma fenomênica. Para esta doutrina, não é dada a possibilidade de relação com uma realidade ou com as coisas tomadas em si mesmas, mas somente com aquilo que, a cada vez, se manifesta. Seu nome deriva do termo grego phainómenon, tudo que brilha e, deste modo, aparece, manifesta-se.

É preciso proceder a uma divisão entre fenomenismo metafísico e fenomenismo gnoseológico. O primeiro nega a existência de uma realidade fora de sua dimensão de fenômeno; a segunda nega a possibilidade de conhecimento de todo em si. Muitas vezes, estas posições encontram-se associadas, cohabitando, por vezes, o mesmo pensamento.

A postura fenomenista se encontra presente na história da filosofia desde seus primórdios. É possível apontar a sofística, a filosofia cirenaica e a doutrina cética como exemplos de fenomenismo na Antiguidade.

Na Era Moderna, esta corrente encontrou adeptos no empirismo inglês, especialmente em Hume, Berkeley e Hobbes. Pode-se ainda apontar Condillac como um representante desta doutrina. Deve-se, ainda, a Kant, a distinção entre coisa em si e fenômeno, juntamente com a afirmação da impossibilidade de apreensão da primeira. Contudo, é discutível atribuir ao todo da filosofia kantiana a designação de fenomenista, uma vez que a coisa em si é apontada em seu pensamento, por vezes, como condição de possibilidade do conhecimento fenomênico.

Outro representante da postura fenomenista é John Stuart Mill. Este professa uma vertente radical desta doutrina, ao afirmar o dado como fenômeno, compreendendo-o como o perceptível, o que é passível de vir a nós através das sensações. Segundo este autor, tal posição encontra-se aquém de uma posição metafísica ou gnoseológica, sendo o fenomenismo anterior a toda e qualquer tomada de posição. Considera-se, ainda, o positivismo comtiano como adepto do fenomenismo.

Atualmente, esta doutrina se encontra aplicada a considerações de caráter lingüístico. Seus adeptos afirmam ser possível reduzir todo enunciado acerca de objetos materiais a enunciados que dizem respeito à esfera relativa aos dados dos sentidos.

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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Existencialismo



Termo usado para designar a filosofia de pensadores que se preocupam com a existência finita do homem no mundo, descartando questões metafísicas como a imortalidade e a transcendência. Como é aplicado a filósofos muito diferentes, há quem negue sua existência como escola de pensamento. Os nomes mais identificados com o existencialismo são os dos franceses Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). É um movimento do século XX, mas tem fortes raízes na obra de filósofos do século XIX, como Sören Kierkegaard (1813-1855) e Nietzsche.

Os existencialistas rejeitam o princípio do cartesianismo de que o homem existe porque pensa. Para eles, o ser humano pensa porque existe. A consciência, para os existencialistas, não antecede a experiência. Ela é parte da existência, que, por sua vez, é construída com a vivência, o contato com outras pessoas e objetos. O próprio homem cria essa existência em função de seus sentimentos, desejos e, principalmente, de suas ações. Ele se forma a partir de suas escolhas.

Por isso, os existencialistas prezam a liberdade e a responsabilidade e rejeitam o conformismo. Para eles, essa posição estende-se à política. Depois da II Guerra Mundial, o movimento influencia a literatura.

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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ética



Em filosofia, é a área que estuda os valores morais. Reflete sobre o bem e o mal, o que é certo ou errado e procura responder, por exemplo, se os fins justificam os meios ou os meios justificam os fins. A partir de Sócrates (470 a.C-399 a.C.), a filosofia passa a se ocupar de problemas relativos ao valor da vida, ou seja, das virtudes. O primeiro a organizar essas questões é Aristóteles. Em sua obra destacam-se os estudos da relação entre a ética individual e a social e entre a vida teórica e a prática. Ele também classifica as virtudes. A justiça, a amizade e os valores morais derivam dos costumes e servem para promover a ordem política. A sabedoria e a prudência estão vinculadas à inteligência ou à razão. Ética cristã Na Idade Média predomina a ética cristã, impregnada de valores religiosos e baseada no amor ao próximo, que incorpora as noções gregas de que a felicidade é um objetivo do homem e a prática do bem, um meio de atingi-la. Para os filósofos cristãos, a natureza humana tem destino predeterminado e Deus é o princípio da felicidade e da virtude. Os critérios de bem e mal estão vinculados à fé e à esperança de vida após a morte.

Ética iluminista Entre a Idade Média e a Moderna, o italiano Nicolau Maquiavel rompe com a moral cristã, que impõe os valores espirituais como superiores aos políticos. Defende a adoção de uma moral própria em relação ao Estado. O que importa são os resultados, e não a ação política em si. Por isso, considera legítimo o uso da violência contra os que se opõem aos interesses estatais. Maquiavel influencia o inglês Thomas Hobbes (1588-1679) e o holandês Benedito Spinoza (1632-1677), pensadores modernos extremamente realistas no que se refere à ética.

Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean-Jacques Rousseau e os alemães Immanuel Kant e Friedrich Hegel (1770-1831) são os principais filósofos a discutir a ética. Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer aprimoramento quase ilimitado. Para Kant, ética é a obrigação de agir segundo regras universais, comuns a todos os seres humanos por ser derivadas da razão. O fundamento da moral é dado pela própria razão humana: a noção de dever. O reconhecimento dos outros homens, como fim em si e não como meio para alcançar algo, é o principal motivador da conduta individual. Hegel divide a ética em subjetiva ou pessoal e objetiva ou social. A primeira é uma consciência de dever; a segunda, formada por costumes, leis e normas de uma sociedade. O Estado reúne esses dois aspectos em uma "totalidade ética".

Nietzsche critica a moral tradicional, derivada da religião judaico-cristã, pelo fato de subjugar os instintos e as paixões à razão. Essa é a "moral dos escravos", que nega os valores vitais e promove a passividade e o conformismo, resultando no ressentimento. Em oposição a ela, propõe a "transvaloração de todos os valores", que funda a "moral dos senhores", preconizando a capacidade de criação, de invenção, de potência. O ser humano que assim consegue superar-se é o super-homem, o que transpõe os limites do humano.

Ética contemporânea A valorização da autonomia do sujeito moral leva à busca de valores subjetivos e ao reconhecimento do valor das paixões, o que acarreta o individualismo exacerbado e a anarquia dos valores. Resulta ainda na descoberta de várias situações particulares com suas respectivas morais: dos jovens, de grupos religiosos, de movimentos ecológicos, de homossexuais, de feministas, e assim por diante.

Essa divisão leva ao relativismo moral, que, sem fundamentos mais profundos e universais, baseia a ação sobre o interesse imediato. É dentro dessa perspectiva que o filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970) afirma que a ética é subjetiva, não contendo afirmações verdadeiras ou falsas. Defende, porém, que o ser humano deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou o equilíbrio. Como reação a essas posições, o novo iluminismo, representado por Jürgen Habermas (1929-), desenvolve a Teoria da Ação Comunicativa, dentro da qual fundamenta a ética discursiva, baseada em diálogo, por sujeitos capazes de se posicionar criticamente diante de normas. É pelo uso de argumentos racionais que um grupo pode chegar ao consenso, à solidariedade e à cooperação.

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domingo, 15 de novembro de 2009

Estética



Identificando os fenômenos da verdade, do bem e do belo como questões fundamentais do pensamento, o estudo da filosofia, desde os seus primórdios na Grécia, concentrou-se em três áreas que serão posteriormente chamadas de metafísica (ou teoria do conhecimento), ética e estética, respectivamente. A estética é o pensamento filosófico que estuda a arte e o belo.

Derivada do Grego aísteses (percepção), a palavra estética remete à compreensão proveniente da apreensão sensível, a intuição da beleza.

No posfácio de seu livro A origem da obra de arte, o filósofo alemão Martin Heidegger afirma que: "Desde o tempo em que despontou uma reflexão expressa sobre a arte e os artistas, tal reflexão se chamou estética". Todavia, como área da filosofia, a estética deve ser diferenciada do estudo da história da arte. Enquanto este procura descrever as diversas manifestações artísticas, em seus elementos específicos e gerais, a estética, como todo pensamento filosófico, busca pensar a condição de possibilidade, a origem, de toda manifestação artística.

Podemos remontar o primeiro passo deste pensamento ao momento em que Sócrates pergunta ao pintor Parrásio "O que é pintura?". A pergunta pelo o que é propõe operar uma transposição da compreensão prática de quem faz, para o entendimento teórico de quem pensa, buscando determinar não as particularidades singulares dos fenômenos, mas a sua essência universal.

Platão interpreta a arte de modo ambivalente. Por um lado ele condena a pintura e a escultura como artes ilusórias, pois elas falsificam a imagem das verdadeiras formas da natureza; por outro, elogia a música e a dança como exercícios de educação para a compreensão do bem e da verdade. Para Platão, há um nexo fundamental entre o belo, o bem e a verdade, sendo a experiência de um a condução para o conhecimento do outro. Todavia não podemos caracterizar a constituição de uma estética no pensamento e nem na obra de Platão, pois a questão da arte e do belo só é colocada numa referência ao bem e a verdade, tendo como propósito não uma investigação do fenômeno artístico, mas uma determinação do conhecimento filosófico.

Aristóteles é o primeiro pensador a escrever uma obra acerca da questão da arte. A Poética tem como tema a origem da poesia e de seus diferentes gêneros, principalmente a epopéia e a tragédia. Sua tese fundamental, de que a arte imita a natureza, tornou-se um paradigma para todo o pensamento estético ocidental. Platão e Aristóteles foram interpretados por Tomás de Aquino em sua Suma Teológica, que afirma que o belo é um dos aspectos fundamentais do ser, juntamente com o bem e a verdade; o que efetiva a tripartição do estudo do ser em estética, ética e metafísica.

Todavia, somente no século XVIII, Baumgarten vai inaugurar oficialmente a disciplina filosófica "estética", com a publicação de seu livro Estética ou teoria das artes liberais, conceituando-a como "ciência do belo e da arte".

Kant consolida esta tripartição da investigação ontológica, o que cria a estética como uma área determinada do estudo da filosofia, elaborando o seu sistema crítico através de três obras, de acordo com os três domínios da questão do ser: a Crítica da Razão pura, que trata da verdade, a Crítica da Razão prática, cuja questão é o bem, e a Crítica da faculdade do juízo, que investiga a experiência estética do belo como atitude contemplativa, desinteressada e não conceitual, das faculdades humanas.

Para o idealismo alemão de Schelling e Hegel, a arte é instância em que o espírito, tornando-se consciente de seus próprios interesses, desperta para a sua vontade de absoluto. A arte constitui a primeira etapa da dialética que, juntamente com a religião e a filosofia, compõe os três momentos da auto-superação do espírito em busca do absoluto. Friedrich Nietzsche pensa a arte como estimulante vital, tônico contra o pessimismo da decadência platônico-cristã: "Temos a arte para não perecermos da verdade".

Em O nascimento da tragédia, Nietzsche compreende a arte como uma composição de dois instintos da natureza, o apolínio e o dionisíaco, sendo a tragédia uma arte que nasce no equilíbrio da tensão harmônica entre estes dois instintos fundamentais. Apesar de em Nietzsche não encontrarmos mais uma divisão de seu pensamento nas três áreas da investigação filosófica, é Heidegger que rompe definitivamente com a tripartição da questão ontológica, determinando a arte, em sua obra Origem da obra de arte, como o "Pôr-se em obra da verdade" e, assim, conduzindo o problema da arte para a questão da verdade, e não para a do belo, conforme os tradicionais estudos da estética.

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sábado, 14 de novembro de 2009

Escolática


Conjunto de doutrinas filosóficas e teológicas desenvolvidas em escolas eclesiásticas e universidades da Europa entre o século XI e o Renascimento. Caracteriza-se pela tentativa de conciliar a fé cristã com a razão, representada pelos princípios da filosofia clássica grega, em especial os ensinamentos de Platão e Aristóteles.

Desenvolve-se a partir da filosofia patrística (elaborada pelos padres da Igreja Católica), que faz a primeira aproximação entre o cristianismo e uma forma racional de organizar a fé e seus princípios, baseada no platonismo. Com a escolástica, a filosofia medieval continua ligada à religião, uma vez que são as questões teológicas que suscitam a discussão filosófica.

Um dos principais pensadores escolásticos é São Tomás de Aquino (1224/25?-1274). A fase inicial é profundamente influenciada pelo pensamento de Santo Agostinho (354-430), o mais importante nome da filosofia patrística. Retomando os princípios do platonismo, entre eles o de que há uma verdade absoluta acima das verdades particulares, Santo Agostinho vê na revelação divina o meio pelo qual a verdade é introduzida no espírito humano.

O período mais importante da escolástica corresponde ao do desenvolvimento do tomismo, doutrina cristã criada no século XIII por São Tomás de Aquino com base na filosofia aristotélica. Para ele e para seus seguidores, há duas ordens de conhecimento: o sensível e o intelectual, sendo que o intelectual pressupõe o sensível. A impressão que um objeto deixa na alma é chamada de conhecimento sensível. O conhecimento intelectual considera apenas as características comuns entre os objetos e elabora o conceito.

Sobre as relações entre filosofia e teologia, São Tomás afirma que a filosofia é conhecimento e demonstração racionais, que parte de princípios evidentes e chega a conclusões inteligíveis. Já a teologia é fundada sobre a revelação divina, da qual não se pode duvidar.

A revelação, porém, prevalece quando há contradição entre a verdade intelectual e a verdade revelada. A escolástica entra em crise no final da Idade Média, por volta do século XIV, período marcado pelo surgimento do humanismo renascentista, pelas novas descobertas científicas e pela Reforma Protestante. Entretanto, sobrevive na era moderna como um pensamento cristão tradicional.

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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Epicurismo



Escola de pensamento formada a partir do pensamento de Epicuro, que seguiu e complementou os ensinamentos de seu mestre. Mais do que uma instituição de investigação filosófica, a comunidade fundada por Epicuro consistia em um grupo devotado à vida em comum, no cultivo da amizade e da virtude.

Os principais discípulos de Epicuro, que compartilharam com este a vida no Jardim, foram: Hermarco de Mitilene, seu sucessor direto, Metrodoro e Timócrates de Lâmpsaco. A filosofia era encarada nesta escola desde uma perspectiva dogmática, seu cultivo consistindo, principalmente, no aprendizado do corpo doutrinário de seu mestre. Outras características da escola nesta época eram a tentativa de aliar o conhecimento empírico à apreensão racional, e de ter na Ética o centro de suas atividades de pensamento. A Hermarco sucedeu Polístrato, cuja obra, Sobre o desprezo, constituía um ataque às escolas cínica (ver cínicos) e estóica (ver Estóicos).

Desde então a produção dos filósofos epicuristas foi marcada por acirradas polêmicas, cujos principais alvos eram as citadas escolas, bem como a doutrina propagada pelos peripatéticos (ver Liceu). O epicurismo floresceu em Atenas, especialmente através de Zenão de Sidon e Demétrio de Lacônia. No mundo romano, propagou-se especialmente devido a Filodemo de Gadara, que fundou uma escola empírica epicúrea, desenvolvida posteriormente por Síron, mestre de Virgílio, e continuada por Asclepíades de Prusa.

Através deste último, a filosofia epicurista influenciou significativamente a medicina romana, no séc I a.C. Nesta época, segundo diversos historiadores da filosofia, os epicuristas recrudesceram as polêmicas contra os estóicos. Isto se deu devido à preponderância do empirismo presente na filosofia epicurista deste período. Contudo, o principal pensador epicurista do mundo romano foi Lucrécio ; através de sua obra principal, Da natureza das coisas (De rerum natura), chegou até nós uma clara exposição das principais teses presentes no pensamento epicurista.

Após séculos sem informações consistentes a seu respeito, esta doutrina ressurgiu na Europa, nos séculos XVII e XVIII. Este neoepicurismo tem como seus principais representantes Bérigard, Maignan e Gassendi.

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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Empirismo



Nome genérico das doutrinas filosóficas em que o conhecimento é visto como resultado da experiência sensível. Limita o conhecimento à vivência, só aceitando verdades que possam ser comprovadas pelos sentidos. Rejeita os enunciados metafísicos, baseados em conceitos que extrapolam o mundo físico, devido à impossibilidade de teste ou controle. A noção de gravidade, por exemplo, faz parte do mundo sensível; já o conceito de bem é do mundo metafísico.

O empirismo provoca revolução na ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá-la, buscando resultados práticos. O inglês John Locke (1632-1704) funda a escola empirista, uma das mais importantes da filosofia moderna. Apesar de partir do cartesianismo, Locke discorda de Descartes sobre a existência de idéias inatas produzidas pela capacidade de pensar da razão.

Para Locke, as idéias vêm da experiência externa, pela sensação, ou da interna, via reflexão. São também simples ou compostas. A idéia de comprimento, por exemplo, é simples: vem da visão. A de doença, fruto da associação de idéias, é composta. No século XVIII, o escocês David Hume (1711-1776) leva mais longe o empirismo ao negar a validade universal do princípio de causalidade, uma vez que não pode ser observado.

O que se observa é a seqüência temporal de eventos, e não sua conexão causal. Só por uma questão de hábito pensamos que o fato atual se comportará como outros que já observamos no passado. Para o empirismo contemporâneo, também chamado de positivismo lógico, representado pelo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951), a filosofia deve limitar-se à análise da linguagem científica, expressão do conhecimento baseado na experiência

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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ecletismo



Nome dado à tendência de selecionar (em grego eklégein) dentre as opiniões de várias escolas filosóficas, aquelas que se considera verdadeiras, de modo a incorporá-las a um corpo doutrinário próprio. O primeiro a empregar este termo foi Diógenes Laércio (ver), referindo-se a Potamão de Alexandria, afirmando que este, ao selecionar o melhor de cada filosofia com as quais tivera contato, iniciou uma escola eclética (eklektiké áiresis).

Tomando este termo em sentido amplo, podemos encontrar algumas noções comuns a todos os pensadores denominados ecléticos. Em primeiro lugar, a oposição deste pensamento às noções de caráter dogmático (ver Dogmáticos), na busca de possibilidades consensuais e conciliatórias. Em segundo lugar, a busca efetuada por estes pensadores, no sentido de encontrar um critério de verdade que permita justificar as próprias posições, bem como eleger, entre as várias correntes de pensamento, as noções que se apresentem em conformidade com este critério. Neste sentido, o ecletismo pode ser diferenciado do sincretismo (ver), este entendido como mera fusão de elementos discordantes, uma vez que aquele pretende possuir um princípio desde o qual pode harmonizar teorias aparentemente diversas.

Podemos constatar a presença do ecletismo em vários períodos da história da filosofia. Esta tendência manifestou-se com freqüência durante o período chamado helenístico-romano, que abrange os séculos IV a.C. a III d.C. A escola peripatética (ver Liceu), após a morte de Aristóteles, sentiu a necessidade de procurar algumas teses consensuais, especialmente após a ferrenha crítica exercida pelos céticos a seu pensamento. Da mesma maneira o estoicismo médio (ver Estóicos), nos séculos II-I a.C., substitui algumas das teses de Zenão de Cítio por noções platônicas ou aristotélicas. Também a Academia, no século I a.C., principalmente com Fílon e Antíoco, passa do ceticismo ao ecletismo. Estes dois filósofos foram mestres daquele que é considerado o maior representante de uma filosofia eclética, o pensador romano Cícero.

Juntamente com Cícero, considera-se os neoplatônicos (ver Platonismo) importantes pensadores para a consolidação desta escola (Plotino, Porfírio, Proclo, Damascio, Jâmblico), juntamente com o novo estoicismo de Sêneca. Os primórdios do pensamento cristão foram também marcados por forte assimilação do pensamento grego. Neste sentido, podemos citar São Clemente e Santo Agostinho como filósofos de tendência eclética. A filosofia renascentista igualmente pode ser considerada eclética, especialmente nos autores que, de alguma forma, intentaram conciliar as principais escolas de pensamento antigas, como as de Platão, Aristóteles e dos estóicos. No século XIX, a filosofia de Victor Cousin, se autodenomina espiritualismo eclético, emprestando a esta tendência características de conciliação e moderação próprias de uma vertente do pensamento neste século.

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Dualismo


Modalidade de pensamento que apresenta como princípio da realidade duas noções antitéticas e irredutíveis entre si. Este termo foi empregado pela primeira vez por Thomas Hyde, em 1700, em uma obra intitulada Historia religionis veterum Persarum. Este escrito, acerca da religião persa, denomina a esta dualista, uma vez que suas figuras centrais são as divindades Ormuz e Arimã, personificações de Luz e Trevas, ou de Bem e Mal. A doutrina maniqueísta, inspirada nesta religião, é encarada na história da filosofia como um exemplo clássico de dualismo, uma vez que faz o universo derivar de uma mistura entre os princípios Bem e Mal.

O dualismo é empregado sempre em contraposição ao monismo. Este termo caracteriza uma dupla tendência: por um lado, podem ser considerados monistas aqueles que afirmam como princípio uma única substância, excluindo sua contrapartida, apresentada pelo dualismo. Por outro, pertence igualmente ao monismo a tendência em encontrar, a partir da antinomia, um princípio unitário que as abarcaria, esta passando a constituir, para esses filósofos, o verdadeiro princípio da realidade.

Compreendendo o dualismo em seu sentido mais geral, como a contraposição de duas tendências irredutíveis entre si, pode-se apreender suas manifestações ao longo da história da filosofia sob uma enorme variedade de formas. Bem e mal, matéria e espírito, alma e corpo, limitado e ilimitado, uno e múltiplo, liberdade e determinação, sujeito e objeto são algumas das maneiras como ele se pode apresentar.

No entanto, é preciso fazer uma ressalva. Dualismo e monismo são caracterizações insuficientes para abarcar a filosofia em seus diversos desdobramentos. Pode-se encontrar aspectos dualistas no pensamento de Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho, Descartes, bem como em vários outros filósofos. No entanto, a radicalidade d e sua investigação ultrapassará sempre e necessariamente qualquer tentativa de apropriação esquemática. Esta permanece forçosamente fora da dimensão própria à filosofia.

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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dogmatismo

Termo usado pela filosofia e pela religião, dogmatismo (do grego dogmatikós, que se funda em princípios) é toda doutrina ou atitude que afirma a capacidade do homem de atingir a verdade absoluta é indiscutível.

Na religião corresponde ao conjunto de dogmas - crenças que não admitem contestação - considerado a palavra de Deus. Na filosofia é o pensamento contrário à corrente do ceticismo, que contesta a possibilidade de conhecimento da verdade.

O dogmatismo filosófico pode ser entendido de três formas: a possibilidade de conhecer a verdade, a confiança nesse conhecimento e a submissão a essa verdade sem questionamento.

Desde a Antiguidade existem filósofos dogmáticos, como Parmênides (515 a.C.-445 a.C.), Platão e Aristóteles, e céticos, que se recusam a crer nas verdades estabelecidas.

No século XVIII o dogmatismo racionalista prega a total confiança na razão como meio de chegar a verdades seguras. Com Immanuel Kant o termo adquire novo sentido. Em Crítica da Razão Pura o filósofo faz uma oposição entre o criticismo - doutrina que estuda as condições de validade e os limites do uso da razão -, o dogmatismo e o empirismo, que se diferencia daqueles por reduzir o conhecimento à experiência. Para Kant, o dogmatismo é "toda atitude de conhecimento que consiste em acreditar na posse da certeza ou da verdade antes de fazer a crítica da faculdade de conhecer".

O antagonismo entre dogmatismo e ceticismo aparece também na obra de Auguste Comte (1798-1857), que considera que a vida humana existe em estado dogmático ou estado cético. Este último, segundo ele, não é mais do que uma passagem de um dogmatismo anterior a um novo dogmatismo.

Para os filósofos de tradição marxista o termo dogmático é usado para a tendência de se manter uma teoria com fórmulas estereotipadas, tirando-a da prática e da análise concreta. Segundo Friedrich Engels (1820-1895), "o marxismo não é um dogma, mas um guia para a ação".

Original em:
http://www.algosobre.com.br/sociofilosofia/dogmatismo.html

domingo, 8 de novembro de 2009

Dialética



Originalmente, é a arte do diálogo, da contraposição de idéias que leva a outras idéias. O conceito de dialética, porém, é utilizado por diferentes doutrinas filosóficas e, de acordo com cada uma, assume um significado distinto.

Para Platão, a dialética é sinônimo de filosofia, o método mais eficaz de aproximação entre as idéias particulares e as idéias universais ou puras. É a técnica de perguntar, responder e refutar que ele teria aprendido com Sócrates (470 a.C.-399 a.C.). Platão considera que apenas através do diálogo o filósofo deve procurar atingir o verdadeiro conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das idéias. Pela decomposição e investigação racional de um conceito, chega-se a uma síntese, que também deve ser examinada, num processo infinito que busca a verdade.

Aristóteles define a dialética como a lógica do provável, do processo racional que não pode ser demonstrado. "Provável é o que parece aceitável a todos, ou à maioria, ou aos mais conhecidos e ilustres", diz o filósofo.

O alemão Immanuel Kant retoma a noção aristotélica quando define a dialética como a "lógica da aparência". Para ele, a dialética é uma ilusão, pois baseia-se em princípios que, na verdade, são subjetivos.

Dialética e história

No início do século XIX Georg Wilhelm Hegel (1770-1831), desejando solucionar o problema das transformações às quais a realidade está submetida, apresenta a dialética como um movimento racional que permite transpor uma contradição. Uma tese inicial contradiz-se e é ultrapassada por sua antítese. Essa antítese, que conserva elementos da tese, é superada pela síntese, que combina elementos das duas primeiras, num progressivo enriquecimento. A dialética hegeliana não é um método, mas um movimento conjunto do pensamento e da realidade.

Segundo Hegel, a história da humanidade cumpre uma trajetória dialética marcada por três momentos: tese, antítese e síntese. O primeiro vai das civilizações orientais antigas até o surgimento da filosofia na Grécia. Hegel o classifica como objetivo, porque considera que o espírito está imerso na natureza. O segundo é influenciado pelos gregos, mas começa efetivamente com o cristianismo e termina com Descartes. É um momento subjetivo, no qual o espírito toma consciência de sua existência e surge o desejo de liberdade. O terceiro, ou a síntese absoluta, acontece a partir da Revolução Francesa, quando o espírito consciente controla a natureza e o desejo de liberdade concretiza-se na concepção do Estado moderno.

Dialética marxista

Karl Marx e Friedrich Engels (1820-1895) reformam o conceito hegeliano de dialética: utilizam a mesma forma, mas introduzem um novo conteúdo. Chamam essa nova dialética de materialista, porque o movimento histórico, para eles, é derivado das condições materiais da vida.

A dialética materialista analisa a história do ponto de vista dos processos econômicos e sociais e a divide em quatro momentos: Antiguidade, feudalismo, capitalismo e socialismo. Cada um dos três primeiros é superado por uma contradição interna, chamada "germe da destruição". A contradição da Antiguidade é a escravidão; do feudalismo, os servos; e do capitalismo, o proletariado. O socialismo seria a síntese final, em que a história cumpre seu desenvolvimento dialético.

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