quinta-feira, 5 de março de 2009

Física Quântica - II


Por Paulo Henrique Dionísio

Os posicionamentos filosóficos diante do formalismo da Física Quântica não se limitam à controvérsia entre o pragmatismo da Escola de Copenhague e o realismo de Einstein. Há lugar para todas as tendências, do solipsismo ao positivismo, passando por uma esdrúxula sugestão sobre a possibilidade de o universo subdividir-se continuamente em universos paralelos, idênticos em tudo, exceto por alguma característica particular (por exemplo, o gato de Schrödinger estar vivo em um deles e morto no outro...). Não obstante, a Física Quântica é um sucesso como teoria científica, na medida em que descreve adequadamente o mundo microscópico e nossas relações com ele, a ponto de permitir ao homem um domínio fantástico sobre os fenômenos físicos nessa escala diminuta. O imenso impacto tecnológico, sofrido pela civilização nas últimas décadas, é conseqüência direta desse domínio.
Ressaltemos, à guisa de conclusão, alguns aspectos:
1. As teorias da Física só atingem a maturidade, quando expressas em linguagem matemática. Conforme expusemos na seção 14 e nota de rodapé número 8, a fase madura da Física Quântica iniciou quando Schrödinger e Heisenberg desenvolveram suas teorias formais. Mas a Matemática é, para a Física, muito mais do que mera linguagem: é mediante o uso de procedimentos da álgebra e do cálculo avançado que se vão relacionando os conceitos, princípios e leis, de modo a extrair conclusões. Ao desenvolver uma teoria, o físico não argumenta, calcula!
2. A Física Quântica é a teoria que descreve os processos físicos no mundo microscópico (e submicroscópico). A constante de Planck h está presente em todas as equações da Física Quântica, sem exceção; o seu valor extremamente pequeno estabelece que os efeitos quânticos somente são significativos naquele mundo de escala também extremamente pequena (ver seção 7). Se usarmos a Física Quântica na descrição de um fenômeno em escala macroscópica, os aspectos quânticos serão ofuscados pela magnitude dos aspectos não-quânticos, e a descrição obtida será idêntica à dada pela Física Clássica (princípio da correspondência).
3. A busca de efeitos genuinamente quânticos em escala macroscópica constitui-se em tema de pesquisa atual. Como tema de pesquisa, é válido. Nenhum resultado positivo, no entanto, foi até hoje relatado.
4. Vemos, com freqüência, conceitos, princípios e procedimentos da Física Quântica aplicados a processos não-físicos (economia, direito, psicologia, relações interpessoais, saúde...), a sistemas macroscópicos (de escala incompatível com o valor da constante de Planck), sem a precisão de linguagem e sem o rigorismo lógico-formal da Matemática. Podemos admitir que pessoas façam uma extensão livre da Física Quântica, assim como alguém faz uma releitura livre de um texto ou uma interpreta ção livre de uma obra de arte. Mas o que elas estão fazendo já não é mais Física Quântica. Algumas, no entanto, com ou sem formação em Física, insistem, mesmo quando advertidas, em qualificar sua ação como tal. Seria ótimo se tais pessoas estudassem mais Física Quântica, ou revisassem o seu enfoque, ou, até mesmo, reavaliassem suas intenções.

Um comentário:

  1. Gostei desse seu blog. É muito interessante os assuntos postados aqui. Parabens tmb pelos links!

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