sexta-feira, 31 de julho de 2009

A gripe porcina

Que interesses econômicos se movem por detrás da gripe porcina???
No mundo, a cada ano morrem milhões de pessoas vitimas da Malária que se podia prevenir com um simples mosquiteiro.
Os noticiários, disto nada falam!
No mundo, por ano morrem 2 milhões de crianças com diarreia que se poderia evitar com um simples soro que custa 25 centavos.
Os noticiários disto nada falam!
Sarampo, pneumonia e enfermidades curáveis com vacinas baratas, provocam a morte de 10 milhões de pessoas a cada ano.
Os noticiários disto nada falam!
Mas há cerca de 10 anos, quando apareceu a famosa gripe das aves……os noticiários mundiais inundaram-se de notícias…Uma epidemia, a mais perigosa de todas…Uma Pandemia! Só se falava da terrível enfermidade das aves.
Não obstante, a gripe das aves apenas causou a morte de 250 pessoas, em 10 anos…25 mortos por ano.
A gripe comum, mata por ano meio milhão de pessoas no mundo. Meio milhão contra 25.
Um momento, um momento. Então, porque se armou tanto escândalo com a gripe das aves?
Porque atrás desses frangos havia um “galo”, um galo de crista grande.
A farmacêutica transnacional Roche com o seu famoso Tamiflú vendeu milhões de doses aos países asiáticos.
Ainda que o Tamiflú seja de duvidosa eficácia, o governo britânico comprou 14 milhões de doses para prevenir a sua população.
Com a gripe das aves, a Roche e a Relenza, as duas maiores empresas farmacêuticas que vendem os antivirais, obtiveram milhões de dólares de lucro.
-Antes com os frangos e agora com os porcos.
-Sim, agora começou a psicose da gripe porcina. E todos os noticiários do mundo só falam disso…
-Já não se fala da crise econômica nem dos torturados em Guantânamo… -Só a gripe porcina, a gripe dos porcos…
-E eu pergunto-me: se atrás dos frangos havia um “galo”… ¿ atrás dos porcos… não haverá um “grande porco”?
A empresa norte-americana Gilead Sciences tem a patente do Tamiflú. O principal acionista desta empresa é nada menos que um personagem sinistro, Donald Rumsfeld, secretario da defesa de George Bush, artífice da guerra contra Iraque…
Os acionistas das farmacêuticas Roche e Relenza estão esfregando as mãos, estão felizes pelas suas vendas novamente milionárias com o duvidoso Tamiflú.
A verdadeira pandemia é de lucro, os enormes lucros destes mercenários da saúde.
Não nego as necessárias medidas de precaução que estão a ser tomadas pelos países.
Mas se a gripe porcina é uma pandemia tão terrível como anunciam os meios de comunicação. Se a Organização Mundial de Saúde se preocupa tanto com esta enfermidade, porque não a declara como um problema de saúde pública mundial e autoriza o fabrico de medicamentos genéricos para combatê-la?
Prescindir das patentes da Roche e Relenza e distribuir medicamentos genéricos gratuitos a todos os países, especialmente os pobres. Essa seria a melhor solução.
(Recebi por e-mail, tal qual, sem a autoria)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A arte de conviver com pessoas insuportáveis no trabalho


Não importa qual o ramo de atividade que exercemos, mais cedo ou mais tarde temos que conviver com pessoas com um temperamento difícil. O que fazer? Entrevistamos Bruna Gasgon, consultora em comunicação e recursos humanos, que criou apelidos para os tipinhos insólitos que aparecem nos escritórios e ensinar de uma maneira divertida como neutralizar as más influências.
Os insuportáveis podem ser de dois tipos. O primeiro deles é a pessoa é insuportável e pode até precisar de terapia porque não sabe que é assim. No segundo, a pessoa está insuportável porque teve uma semana ruim, está se sentindo mal. “Pelo menos um dia na vida a gente é insuportável”, disse Bruna.
“A primeira providência é perceber que você também é uma pessoa insuportável. Eu mesma sou a insuportável número um!”, brincou a consultora. Ela frisa que todo o exercício de lidar com pessoas com quem você não se dá bem tem como primeiro momento o autoconhecimento. “Pode ter certeza, em algum momento de sua vida você foi (ou é) insuportável para alguém. Então você tem que refletir sobre as suas atitudes para que o clima do escritório não piore”.
Num segundo momento, tente entender a chatice de seu colega descobrindo o que o leva a agir assim. “Se você sabe que alguém dormiu mal, está com uma mãe doente e essa pessoa te dá uma patada, você acaba relevando. É claro que isso não pode acontecer sempre, mas se você está ciente de que a irritação não é com você, a sua dor de cabeça ou sua raiva evaporam”, aconselha Bruna.
Finalmente, tente sinalizar que esse tipo de atitude incomoda e muito. “Quando você percebe que está sendo chato e por isso as pessoas se afastam de você, não há quem não tente melhorar”, disse a consultora.Conheça os principais tipinhos difíceis de escritório e aprenda a lidar com eles:
Brucutu
Perfil
É aquele que sente prazer especial em humilhar as pessoas, principalmente os subordinados. Ele grita, dá respostas grosseiras e parece que nem percebe o quanto magoa os que estão ao seu redor. Geralmente, ou você engole, ou vira brucutu também. Nenhuma das duas alternativas é interessante.
Por que ele é assim?
Um brucutu pode ter acordado com o pé esquerdo, estar de TPM, “a Tendência Para Matar”, disse Bruna. Geralmente tratam mal os subordinados porque acham que têm poder suficiente para escapar de protestos .
O que fazer?
Quando alguém estiver explodindo com você, deixe que a pessoa fale tudo o que quer. “Espere acabar a corda”, explica Bruna. Fique parado na mesma posição. “É estranho, mas em todas as pesquisas que fiz, quando alguém se move numa situação dessas, a pessoa que está explodindo fica ainda mais brava”.Finalmente, depois que o brucutu se calar, diga em um tom de voz calmo e baixo que você é um profissional, que merece ser respeitado e de gostaria muito que isso não acontecesse mais. “Pode acreditar, o brucutu se desmonta na hora porque ele percebe que reagiu de forma errada”.
Sabe-tudo
Perfil
Sabe aquele chato que sempre te corta no meio de uma reunião porque ele tem certeza de que sabe muito mais sobre o assunto? Também é aquele que fica o tempo todo contando vantagem, falando da viagem sensacional que fez, do melhor restaurante da cidade que só ele conhece, do carrão que comprou.
Por que ele é assim?
Pessoas que tentam mostrar o tempo todo o como são melhores têm um profundo complexo de inferioridade, são muito inseguras, diz Bruna.
O que fazer?
Vire o melhor ouvinte do mundo. Não tente dizer que o seu é melhor ou que você não acha a nova camisa dele tão fantástica assim. Quanto mais você der corda, mais ele vai querer se exibir.
Kid Tocaia
Perfil
O mais nocivo de todos. É aquele colega que faz de tudo para que você fique mal diante dos olhos do seu chefe e que comemora secretamente cada falha que ele vê em você. Fofoqueiro, costuma dar umas alfinetadas em você no meio de uma rodinha e depois solta um “eu tava brincando, amiga!”.
Por que ele é assim?
O Kid Tocaia quer alguma coisa que você tem. Pode ser seu cargo, seu cabelo, seu namorado. São patologicamente invejosos.
O que fazer?
É preciso estar atento para que as mentiras espalhadas pelo Kid Tocaia não acabem com a sua imagem na empresa. “O mais complicado é segurar a vontade de sair no braço com o invejoso, mas não adianta revidar. Se você estiver explodindo, vá ao banheiro mais próximo e dê uns gritos de caratê para aliviar a tensão”, aconselha Bruna.Não adianta ficar remoendo o ódio, afinal de contas você não é culpado pela inveja do Kid. “Dedique-se ao seu lazer. Pegue um dia para dar um passeio sozinho. Não adianta ficar acumulando a raiva porque isso faz mal à saúde e atrapalha ainda mais o seu trabalho”, disse a consultora.
Frente fria
Perfil
Uma nuvem preta paira apenas sobre a cabeça dele. Tudo está ruim e a pessoa se sente tão mal com tudo e todos que contamina o escritório.
Por que ele é assim?
Os frente fria são pessoas muito melancólicas, que optaram por olhar sempre para o lado negativo das coisas. Sabe aquela história de ver que o copo está meio vazio?
O que fazer?
Não tente argumentar ou brincar de “Jogo do Contente”. Eles vão inverter tudo que você disser e achar ainda mais “provas” de que o mundo vai acabar antes das seis da tarde. Principalmente, NUNCA mude seus planos por causa de uma opinião do frente fria.
Disque problema
Perfil
Primo do frente fria, é viciado em reclamar. Se trocam os computadores, reclama que não vai saber mexer nos programas novos. Se pintam as paredes, reclama que o ambiente ficou muito claro.
Por que ele é assim?
Para essas pessoas, reclamar é um vício. É impressionante como eles conseguem estragar a melhor das intenções.
O que fazer?
Chame a pessoa para conversar e fale francamente o que você acha das atitudes dela. Não tente atacar, a conversa tem que ser bastante amigável. Você pode até começar brincando, chamando a pessoa de reclamona. “Na hora o Disque Problema pode fugir da conversa, mas com certeza no dia seguinte ele vai falar com você e tentar reclamar menos”, disse Bruna.
Por Marcela Tavares

(Recebido por e-mail, tal qual. Se alguém souber algo mais, por fazer, não deixe de comunicar-me: crsabbi@gmail.com).

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A parte que nos cabe


Certa vez ouvimos uma fábula que nos fez refletir acerca dos ensinamentos que continha.
Tratava-se de um incêndio devastador que se abatera sobre a floresta. Enquanto as labaredas transformavam tudo em cinzas, os animais corriam na tentativa de salvar a própria pele.
Dentre os muitos animais, havia uma pequena andorinha que resolveu fazer algo para conter o fogo. Sobrevoou o local e descobriu, não muito longe, um grande lago. Sem demora, começou a empreitada para salvar a floresta. Agindo rápido, voou até o lago, mergulhou as penas na água e sobrevoou a floresta em chamas, sacudindo-se para que as gotas caíssem, repetindo o gesto inúmeras vezes.
Embora não tivesse tempo para conversa fiada, percebeu que uma hiena a olhava e debochava da sua atitude. Deteve-se um instante para descansar as asas, quando a hiena se aproximou e falou com cinismo: Você é muito tola mesmo, pequena ave! Acha que vai deter o fogo com essas minúsculas gotas de água que lança sobre as chamas? Isso não produzirá efeito algum, a não ser o seu esgotamento.
A andorinha, que realmente desejava fazer algo positivo, respondeu: Eu sei que não conseguirei apagar o fogo sozinha, mas estou fazendo tudo o que está ao meu alcance. E, se cada um de nós, moradores da floresta, fizesse uma pequena parte, em breve conseguiríamos apagar as labaredas que a consomem.
A hiena, no entanto, fingiu que não entendeu, afastou-se do fogo que já estava bem próximo, e continuou rindo da andorinha. Assim acontece com muitos de nós, quando se trata de modificar algo que nos parece de enormes proporções.
Às vezes, imitando a hiena, costumamos criticar aqueles que, como a andorinha, estão fazendo sua parte, ainda que pequena. É comum ouvirmos pessoas que reclamam da situação e continuam de braços cruzados. De certa forma, é cômodo reclamar das coisas sem envolver-se com a solução.
No entanto, para que haja mudanças de profundidade, é preciso que cada um faça a parte que lhe cabe para o bem geral.
Reclamamos da desorganização, da burocracia, da corrupção, da falta de educação, da injustiça, esquecendo-nos de que a situação exterior reflete a nossa situação interior.
Não há possibilidade de fazer uma sociedade organizada, honesta e justa se não houver homens organizados, honestos e justos.
Em resumo, para moralizar a sociedade, é preciso moralizar o indivíduo, que somos cada um de nós, componentes da sociedade.
Se fizermos a nossa parte, sem darmos ouvidos às hienas que tentarão desanimar a nossa disposição, em breve tempo teremos uma sociedade melhorada e mais feliz.
(Recebi por e-mail tal qual, infelizmente sem a citação da autoria. Se souber e quiser ajudar a fazer ética, comunique-me pelo e-mail crsabbi@gmail.com )

terça-feira, 28 de julho de 2009

Ética e Moral


Nos dias de hoje, muitos citam a palavra "ética", mas, quando perguntados, não conseguem explicá-la nem defini-la. Por isso, o objetivo deste tópico é colocar o conceito de Ética em crise com a intenção de torná-lo mais radical e profundo.
Num primeiro momento, ética lembra-nos norma e responsabilidade. Dessa forma, falar de ética significa falar de liberdade, pois não há sentido falar de norma ou de responsabilidade se não partirmos da suposição de que o ser humano é realmente livre, ou pode sê-lo.
A norma diz-nos como devemos agir. E, se devemos agir de tal modo, é porque também podemos não agir deste modo. Isto é, se devemos obedecer, é porque podemos desobedecer ou somos capazes de desobedecer à norma.
Também não haveria sentido falar de responsabilidade, palavra que deriva de resposta, se o condicionamento ou o determinismo fosse tão completo a ponto de considerar a resposta como mecânica ou automática.
Se afirmarmos que o determinismo é total, não há o que falar de Ética; pois a Ética refere-se às ações humanas, e, se elas são totalmente determinadas de fora para dentro, não há espaço para a liberdade, como autodeterminação e, conseqüentemente, não há espaço para a Ética.
O extremo oposto ao determinismo, representado por uma concepção que acredita na liberdade total e absolutamente incondicionada, nega igualmente a ética, porque se resumiria apenas à liberdade de pensamento, sem a possibilidade de se agir, na prática, de acordo com os pensamentos.
Seria, então, uma liberdade abstrata, deixando que a liberdade real se resumisse a algo meramente interior. Desta forma, vamos abordar a questão da ética de acordo com a concepção original da reflexão grega, que não é apenas teórica, mas que efetivamente se manifesta na conduta do ser humano livre. Para a maioria das pessoas, Ética e Moral têm o mesmo significado, mas, numa análise mais rigorosa, podemos constatar que são conceitos diferentes. São palavras que diferem na origem e só se aproximam no significado, porque as condutas morais acabam expressando um determinado tipo de postura ética.
O termo mos, do latim, dá origem à palavra “moral”, relacionada aos costumes e hábitos, enquanto o termo ethos, do grego, dá origem à palavra “ética”, relacionada ao modo de ser ou à maneira pela qual alguém se expressa. Portanto, servem para nomear duas disciplinas distintas, embora a primeira seja subordinada à segunda.
Os autores divergem, alguns afirmam que a Ética nada mais é do que a disciplina que estabelece regras de conduta para a sociedade por influência de fatores de ordem religiosa, política, econômica, enfim, ideológica. Dessa forma, o conceito tem sido usado em códigos de conduta profissional ou partidária, compostos de alguns elementos éticos que, na verdade, são conjuntos de normas que determinado grupo se dispõe a adotar.
Negam-lhe, assim, qualquer fundamento ontológico. Ao se tratar a Ética como Moral, e essa como Religião, perde, aos olhos incrédulos dos homens da nossa época, o seu verdadeiro valor. Políticos, governantes, líderes religiosos e mesmo professores empregam a palavra “ética”, nos seus discursos, para impressionar os ouvintes, tal o peso que ela contém. Usam-na indevidamente e deslocada do seu real significado.
A raiz da Ética é de natureza antropológica e tem como objeto o homem inserido concretamente na vida prática. Mas é, também, ontológica porque tem como objeto o posicionamento do ser humano, que exige reflexão, escolha e apreciação de valores.
A distinção entre Ética e Moral é mais nítida do que possa parecer à primeira vista, pois enquanto a Moral limita-se ao estudo dos costumes e da variante das relações humanas, a Ética, como disciplina filosófica, dedica-se à revelação de valores, que norteiam o dever-ser dos humanos.
Esses conceitos geralmente andam próximos e, por isso, têm sido empregados com significados diferentes, nos mais diversos contextos, mas interpretados pelo público no sentido comum.
Portanto, é fundamental insistir na distinção entre Ética e Moral, para que possamos organizar os nossos pensamentos.
Moral é o conjunto de regras que se impõem às pessoas por um impulso que move o grupo, numa ação coletiva que tende a agir de determinada maneira. É a consolidação de práticas e costumes, observadas no geral pelo receio de uma reprovação social (a pressão é externa). Partindo desse pressuposto, todo ser humano é moral ao cumprir ou deixar de cumprir as regras sociais, sem questionar.
Ética envolve reflexão, por isso não significa um conjunto qualquer de normas, mas sim, um conjunto de juízos valorativos, assumidos e manifestados na ação individual de cada um (a pressão é interna).
Os gregos referiam-se ao “ethos” como uma força de raiz ontológica, manifestada no indivíduo determinando sua conduta. Havia um significado profundo, relacionado a um modo de ser remetido ao princípio universal, pressupondo sempre que algo maior fala pelo humano, que é a expressão de algo anterior a ele.
Dessa forma, a Ética grega, que também significa uma maneira de ser em sociedade, é um campo de reflexão que envolve investigação e questionamento a respeito da conduta humana que se determina a partir de princípios imutáveis.
Essa incompreensão, predominante nos dias de hoje, é um fator de confusão e prejuízo para o próprio homem, porque este, desviado da visão nítida dos imperativos éticos, passou a compreender o dever-ser, face a si mesmo, ao seu semelhante e, também, à natureza, como apenas questões a serem reguladas por normas morais ou, com mais rigor, por normas legais, ambas estabelecidas por outros seres humanos, geralmente, de forma arbitrária.
Todos esses, que assim entendem, deixam de reconhecer que a verdadeira essência do homem continua sendo o dever-ser que se frustra diante da vontade. Assim, o que caracteriza a Ética é a postura assumida pelo dever-ser autodeterminado por convicção, estabelecendo seus próprios limites para a atuação no mundo.
(Texto recebido de um colaborador anônimo, sem a devida autoria. Se alguém puder ajudar a identicá-lo, por favor, não deixe de fazê-lo. Grato!)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Evolução histórica da tortura


Antigamente a tortura era um direito do senhor sobre seus escravos, estes, considerados coisas, ou aplicada como penas advindas das sentenças criminais. Era comum o apedrejamento, a decepação de órgãos, o chumbo derretido no corpo; impostas a infratores, ou meros suspeitos de terem infringido algum preceito legal. Essas práticas eram, apenas, para visar a obediência ao princípio de Talião, ou seja, "olho por olho, dente por dente". O Código de Hamurabi, no século XVIII a.C., para os criminosos era reservada a empalação, a fogueira, a quebra de ossos. O Antigo Testamento já admitia a tortura dos escravos, mesmo admitindo sua dignidade no caso de ser o único, deve ser tratado como irmão. No Novo Testamento o apóstolo Paulo chega a apelar a sua cidadania romana para se livrar da tortura. O Direito Romano também admitia a tortura, pois o processo era baseado na auto-acusação e confissão, não em provas e testemunhas.
No final do século II, os soldados, convertidos a fé cristã, são exortados a evitarem a prática da tortura. No século IV, Lactâncio diz que a tortura "por ser contra o direito humano e contra qualquer bem". Santo Agostinho repudia a aplicação da tortura por se tratar de pena imposta a quem não se sabe ainda ser culpado.
II - A TORTURA COMO FORMA DE INTERROGATÓRIO
A volta da tortura nos processos penais
No século XII, no Ocidente, é retomado, pelo Direito Penal, princípios do Direito Romano e reintroduz a tortura judiciária.Essa prática de adquirir confissões, nem sempre verdadeiras, assume características e métodos cada vez mais profissionais. Resultado disso foram os métodos utilizados pelo Regime Militar que perdurou de 1964 até 1985. Eram praticadas aulas de tortura em "presos-cobaias", como comprova o Relatório organizado pela Arquidiocese de São Paulo, "Brasil Nunca Mais":
"(); que, na PE (Polícia do Exército) da GB, verificaram o interrogado e seus companheiros que as torturas são uma instituição, vez que, o interrogado foi instrumento de demonstrações práticas desse sistema, em uma aula de que participaram mais de 100 (cem) sargentos e cujo professor era um Oficial da PE, chamado Tnt. Ayton que, nessa sala, ao tempo em que se projetavam "slides" sobre tortura, mostrava-se na prática para qual serviram o interrogado, MAURÍCIO PAIVA, AFONSO CELSO, MURILO PINTO, P. PAULO BRETAS, e, outros presos que estavam na PE-GB, de cobaias; ()
A prática da tortura, como descrito acima, mostra a Institucionalização dessa prática criminosa, ou seja, se tornou uma política de Estado. Um Estado autoritário que, em 1 de abril de 1964, derruba o Presidente legitimamente eleito, para implantar uma Ditadura Militar sem precedentes para a história brasileira. A prática da tortura se institucionaliza em 13 de dezembro de 1968, com a promulgação do "famigerado" AI - 5 (Ato Institucional N 5), pelo então Presidente Militar, Arthur da Costa e Silva, que suspendeu aquilo que restava de direitos civis e políticos.
Por que a tortura deu certo, segundo o ponto de vista dos torturadores, durante o período Militar? Deu certo porque o princípio daquele regime, como tratou Montesquieu em "Do Espírito das Leis", era o medo. Eram Governos Despóticos que tratavam o povo como nada.
Não são poucas as pessoas desaparecidas, principalmente, depois de serem presas e submetidas a tortura. Muitos perderam suas vidas, por não agüentarem tamanhas crueldades praticadas no interrogatório e, consequentemente, na prisão a quem foram submetidas. Um exemplo é do Frei Tito de Alencar Lima, preso 1969, por subversão. Frei Tito nunca mais se recuperou dos choques elétricos, afogamentos e muitos outros métodos utilizados para que o Religioso delatasse seus companheiros.
"() No quartel da rua Tutóia, um outro prisioneiro, Fernando Gabeira, testemunhou o calvário de Frei Tito: durante três dias, dependurado no pau-de-arara ou sentado na cadeira-do-dragão - feita de chapas metálicas e fios - recebeu choques elétricos na cabeça, nos tendões dos pés e nos ouvidos. Deram-lhe pauladas nas costas, no peito e nas pernas, incharam suas mãos com palmatória, revestiram-no de paramentos e o fizeram abrir a boca "para receber a hóstia sagrada" - descargas elétricas na boca. Queimaram pontas de cigarro em seu corpo e fizeram-no passar pelo "corredor polonês".
O capitão Beroni de Arruda Albernaz vaticinou: "Se não falar, será quebrado por dentro. Sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis. Se sobreviver, jamais esquecerão o preço de sua valentia". A ceder e viver, Tito preferiu morrer. "É preferível morrer do que perder a vida", escreveu ele em sua Bíblia. Com uma gilete, cortou a artéria do braço esquerdo. Socorrido a tempo, sobreviveu.
Foi libertado em dezembro de 1970, incluído entre os prisioneiros políticos trocados pelo embaixador suíço, seqüestrado pela VPR. Ao desembarcarem em Santiago do Chile, um companheiro comentou: "Tito, eis finalmente a liberdade!" O frade dominicano murmurou: "Não, não é esta a liberdade". () Tito busca exílio em Roma, mas encontra as portas fechadas sob o pretexto de não receberem terroristas. Foi acolhido por Frades Dominicanos em Paris, no Convento Saint-Jacques.
"() O capitão Albernaz tinha razão: sufocado por seus fantasmas interiores, Tito tornou-se ausente. Ouvia continuamente a voz rouca do delegado Fleury, que o prendera, e o vislumbrava em cafés e bulevares. Transferido para o convento de Arbresle, construído por Le Corbusier nas proximidades de Lyon, as visões aterradoras continuaram a minar sua estrutura psíquica. Escrevia poemas: "Em luzes e trevas derrama o sangue de minha existência / Quem me dirá como é o existir / Experiência do visível ou do invisível?"
Os médicos recomendaram-no suspender os estudos para dedicar-se a trabalhos manuais. Empregou-se como horticultor em Villefranche-sur-Saône e alugou um pequeno cômodo numa pensão de imigrantes, o Foyer Sonacotra, cujas despesas pagava com o próprio salário.
O patrão o percebeu indolente, ora alegre, ora triste, sugado por um tormento interior. Em seu caderno de poemas, Tito registrou: "São noites de silêncio / Vozes que clamam num espaço infinito / Um silêncio do homem e um silêncio de Deus."
No sábado, 10 de agosto de 1974, frei Roland Ducret foi visitá-lo. Bateu à porta de seu quarto na zona rural. Ninguém respondeu. Um estranho silêncio pairava sob o céu azul do verão francês e envolvia folhas, vento, flores e pássaros. Nada se movia. Sob a copa de um álamo, o corpo de Frei Tito, dependurado por uma corda, balançava entre o céu e a terra. Ele tinha 28 anos.()"
Segundo o depoimento de Frei Betto , o Frade Dominicano não conseguia ver as flores no jardim do Convento, pois se lembrava de seu maior torturador, Sérgio Paranhos Fleury, principalmente porque a pronuncia da palavra Flor, em francês, lembra o sobrenome do delegado.
Autor: Cleber A.

domingo, 26 de julho de 2009

Até quando?

Até quando os cidadãos brasileiros suportarão praticamente calados, sem reação as barbaridades que são promovidas neste país?
Até quando os poderes públicos - executivo, legislativo e judiciário - conseguirão fazer o que querem para atender interesses absolutamente contrários à população?
Até quando os valores monetários continuarão transformando pessoas em ratos, em detrimento dos verdadeiros valores da vida?


Um motorista do Senado ganha mais para dirigir um automóvel do que um oficial da Marinha para pilotar uma fragata!
Um ascensorista da Câmara Federal ganha mais para servir os elevadores da casa, do que um oficial da Força Aérea que pilota um Mirage.
Um diretor que é responsável pela garagem do Senado ganha mais que um oficial-general do Exército que comanda um regimento de blindados.
Um diretor sem diretoria do Senado, cujo título é só para justificar o salário, ganha o dobro de um professor universitário federal concursado , com mestrado, doutorado e prestígio internacional.
Um assessor de 3º nível de um deputado, que também tem esse título para justificar seus ganhos, mas que não passa de um "aspone" ou um mero estafeta de correspondências, ganha mais que um cientista-pesquisador da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, com muitos anos de formado, que dedica o seu tempo buscando curas e vacinas para salvar vidas.
Até quando?
Até quando?
Até quando?

sábado, 25 de julho de 2009

Notícia Velha/Nova

ABERTURA DA PÁGINA 10 DE ZH
Foi preciso que o Senado naufragasse na crise de credibilidade para a Mesa Diretora demitir o diretor-geral, Alexandre Gazineo, e o diretor de Recursos Humanos, Ralph Siqueira, e anular o ato secreto assinado em 2000 que concedia ao diretor-geral da Casa um plano de saúde vitalício, semelhante ao concedido aos parlamentares. Embora necessárias, as medidas são insuficientes para devolver ao Senado a respeitabilidade perdida. Caíram os subalternos, mas José Sarney não dá sinais de que pretenda se afastar da presidência.
Não são exclusividade da gestão de Sarney os atos secretos, mas eram pessoas da confiança dele que davam a ordem para não publicar determinados atos. Alguns banais, de indicações para participar de comissões ou de nomeação de funcionários, talvez para driblar falcatruas como o pagamento acima do teto salarial para servidores. O cardápio de maracutaias no Senado tinha requintes inimagináveis pelo cidadão que paga a conta. Driblou-se o teto, por exemplo, com o artifício de separar em diferentes contracheques o salário básico, as gratificações e as horas extras. Isoladamente, cada um ficava abaixo do limite. E o mais incrível: a falcatrua tinha aval de um parecer da Advocacia do Senado!
Não é de hoje que a família Sarney tem afinidade com os atos secretos. Uma reportagem publicada na revista Veja em maio de 1986 com o título “Debaixo do pano” e o subtítulo “Trem da alegria pega filha de Sarney” revelou que Roseana Sarney havia virado funcionária de carreira do Senado em 1980 sem prestar concurso. Contratada de forma temporária, Roseana foi efetivada como assessora técnica, numa leva que beneficiou outros filhos de políticos.
Vale reproduzir aqui uma frase da reportagem da Veja para mostrar que o tempo passa, o tempo voa, mas os métodos no Senado seguem iguais vinte e tantos anos depois: “O mais interessante da história é que o ato de nomeação desses funcionários, ao contrário do que determina a legislação, não foi divulgado na época em nenhuma publicação oficial do Senado”.








Original no Blog da Rosane de Oliveira do Jornal Zero Hora:

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A força do olhar


Colaboração de Denise Tellier Sartori
Os olhos são portais da alma! Neste mundo, onde as pessoas vivem representando personagens, muitas vezes bem diferentes do que realmente são o olhar jamais as deixa mentir...
Ultimamente, tenho pensado muito nisto e procurado observar mais atentamente o que os olhos que me fitam me dizem. Inúmeras vezes percebemos que refletem tanta tristeza, profundo pesar, enquanto os lábios forçam um riso fingido e as palavras tentam demonstrar alegria.
Os olhos não mentem jamais. É através deles que o amor verdadeiro se expressa, mesmo que o momento seja inconveniente. A mágoa transparece, apesar do perdão pronunciado. A tristeza inunda o ambiente de uma névoa pesada, mesmo que se esteja numa festa. Tudo isto porque a nossa essência nos rege apesar de nosso ego teimar em viver afastado dela, muitas vezes procurando copiar a vida de outros, a moda, tentando levar uma vida mais voltada para as coisas práticas e materiais.
Os nossos olhos falam. Uma linguagem mais verdadeira, dificilmente expressa por palavras. E nos contradizem completamente, quando não estamos sendo verdadeiros.Através do olhar, amores de outras encarnações se reconhecem, embriagando-se no aconchego carinhoso e inexplicável de um instante mágico e eterno.
Os olhos abençoam, amenizam a dor do outro, levam paz e alegria, mas também podem fazer muito mal, quando saturados de ódio, de raiva, de inveja.
É importante olhar... Quando alguém nos fala, quando alguém diz que nos ama, quando alguém nos conta algo, olhar cuidadosamente nos olhos nos transporta para algum lugar talvez muito diferente do que aquele para o qual as palavras estão tentando nos conduzir.Mentir, trapacear é até fácil. Há pessoas que são mestras nisto. Mas mascarar um olhar é impossível!
Os encontros eternos se iniciam com um olhar... Instala-se, então, um saber interior, que a razão jamais poderá explicar e que perdura independente das circunstâncias.
(Autoria Desconhecida)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A partir do próximo amanhecer

Colaboração de Denise Tellier Sartori
Hoje parei um pouco, alguns minutos do meu corrido dia, para pensar na vida. Decidi que a partir do próximo amanhecer mudarei alguns detalhes para ser, a cada novo dia, um pouquinho mais feliz.
Para começar, não olharei para trás. O que passou, passou; se errei, paciência. Foi o melhor que pude fazer à época. Remoer o passado não vale a pena. Melhor seguir em frente. Nem todas as pessoas que amo retribuem meu amor como eu gostaria. E daí? A partir do próximo amanhecer continuarei a amá-las, mas não tentarei mudá-las. Pode ser até que ficassem como eu gostaria que fossem e deixassem de ser as pessoas que amo. Isso eu não quero. Mudo eu!
Mudo meu modo de vê-las. Respeito o modo de ser delas. Mas não desistirei dos meus sonhos! Imagine! A partir do próximo amanhecer lutarei com mais garra para que eles aconteçam. Mas será diferente. Não mais responsabilizarei a mais ninguém por minha felicidade. Não mais pararei a minha vida porque o que desejo não acontece, porque uma mensagem não chega, porque não ouço o que gostaria de ouvir. Farei o meu momento. Serei feliz agora. Terei outros dias pela frente. Nunca mais darei tanta importância aos problemas que não tenho conseguido resolver.
A partir do próximo amanhecer, vou agradecer a Deus todos os dias por me dar forças para viver, apesar dos meus problemas. Chega de sofrer pelo que não consigo ter, pelo que não ouço, pelo que não recebo, pelo tempo que não tenho e até de sofrer por antecipação pensando apenas no pior. Chega!
A partir do próximo amanhecer só pensarei no que tenho de bom. Meus amigos não mais precisarão me dar o ombro para chorar. Aproveitarei a presença deles para sorrir, cantar dividir minha felicidade e alegria.
A partir do próximo amanhecer serei eu mesmo. Não mais tentarei ser um modelo de perfeição. Não mais sorrirei sem vontade, nem falarei palavras amorosas porque acho que sei o que os outros querem ouvir.
A partir do próximo amanhecer viverei minha vida, sem medo de ser feliz. Não, não esquecerei ninguém. Mas, a partir do próximo amanhecer, quando nos encontrarmos, certamente te darei aquele abraço bem apertado e com toda a sinceridade direi amo você. E tenho muito amor para te dar.
Antonio César Gargoni
Economista e Administrador Público
Publicado no Jornal O Sul em março de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Vai passar...


Sofremos muitas perdas importantes ao longo do caminho, mas podemos extrair aprendizado desses momentos e deixar que a dor, como tudo na vida, venha e vá.
Texto: Thays Prado - Ilustração: Adriana Alves
De vez em quando, a vida parece que saiu dos trilhos: um grande amor vai embora, uma pessoa querida morre, um amigo o trai, um filho se muda para outro país, o emprego de anos é perdido inesperadamente.
Nesses momentos, fica difícil perceber qualquer coisa além da raiva e da dor e, por mais que muita gente lhe diga que a situação é passageira, a sensação é de que, dessa vez, vai durar para sempre. Acredite: tudo passa e tudo sempre passará, como diz a música Uma Onda, inspirada composição da dupla Lulu Santos e Nelson Motta.
Mas atenção: infelizmente milagres não existem e para sair do buraco você também precisa dar uma força. Afinal, em momentos difíceis, o que mais se ouve é que só o tempo e a paciência são capazes de curar tudo.
Antes fosse! Engana- se quem espera que eles, sozinhos, façam alguma espécie de mágica e levem a dor para longe. Basta ver que, muitas vezes, os meses e os anos passam, mas o sofrimento não.
Como encarar a questão não é caminho dos mais fáceis. Algumas pessoas tendem a criar subterfúgios emocionais que dificultam o retorno da vida aos trilhos. Há aquelas tão racionais que só são capazes de entender os fatos por um prisma meramente intelectual e se tornam teóricas da própria dor.
Outras se mantêm em uma situação de sofrimento perene, reclamam de todos ao redor, da vida ou do universo e exigem cuidados e atenção constantes.
“Algumas pessoas permanecem apegadas a um luto patológico, à melancolia e jogam a responsabilidade sobre o outro”, explica a psicanalista Sylvia Loeb, do Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo. “Elas ficam no papel de vítima a vida inteira para não precisarem sair do lugar, para não assumirem sua responsabilidade na briga, na separação, na perda do emprego, ou seja, diante de sua própria vida.”
Seja como for que você reage à situação, uma coisa é certa: ficar parada na estação é que não pode. É preciso agir sem demora. Uma alternativa para elaborar tantas emoções é falar, simples assim. Nessas horas, terapia pode ajudar muito. Se ao partilhar o problema com um amigo já ficamos aliviadas, imagine com um profissional, capaz de decifrar as entrelinhas do que dizemos.
“Se o sentimento não for entendido, digerido e elaborado, pode sobrar tristeza, rancor e até doenças, que às vezes levam à depressão”, explica Sylvia. “Quando se vive um assunto de verdade e se processa aquilo, não é mais preciso falar, porque já passou.”
Foi justamente se expressando que a publicitária paulista Cristiana Guerra, que já fazia terapia havia cinco anos, encontrou forças para continuar a viver e a cuidar de seu bebê. Nesses grandes descarrilamentos da vida, ela ficou viúva no sétimo mês de gestação.
Envolvida em uma mistura de sentimentos, Cristiana enfrentou o que chamou de “o pior e o melhor ano”, e precisou lidar com o conflito interno de perder e ganhar ao mesmo tempo.
Algumas vezes, se sentiu injustiçada por querer morrer e não ter esse direito, já que ainda carregava seu filho na barriga. Para aliviar a pressão da dor, começou a escrever o blog Para Francisco, em que resolveu transformar todas as suas lembranças sobre o namorado em poemas que o tempo e a memória não poderiam apagar.
“Como escrevia para o meu filho, procurava mostrar o lado positivo da vida para que eu também acreditasse que havia um”, conta. Na mesma época, Cristiana percebeu o quanto era amada pelos amigos e aprendeu a dizer “preciso de você”.
“Se o sentimento não for entendido, digerido e elaborado, pode sobrar tristeza, rancor e até doenças, que às vezes levam à depressão.”
Sofremos muitas perdas importantes ao longo do caminho, mas podemos extrair aprendizado desses momentos e deixar que a dor, como tudo na vida, venha e vá.
Texto: Thays Prado - Ilustração: Adriana Alves

terça-feira, 21 de julho de 2009

Do grão ao bilhão



De grão em grão a galinha enche o papo. Você já ouviu esse dito popular, não é?
Convidei o deputado Índio da Costa, DEM-RJ, para escrever nas Iscas Intelectuais de meu site, pois admiro o trabalho que ele vem fazendo para profissionalizar o processo de tomada de decisão na administração municipal. Decisões baseadas em fatos, coisa rara na política de balcão de trocas de hoje. Em um dos textos do deputado tomei contato com o Relatório Paralelo da CPMI dos Cartões Corporativos, escrito por ele. Já na "Síntese dos fatos" que abre o relatório, tive uma idéia de como a estratégia da falta de transparência serve a interesses escusos. A Comissão lidou com a má vontade dos envolvidos, com atrasos, documentos misturados, faltantes, incompletos, todo tipo de dificuldade para atrapalhar a investigação. E então aparece o registro de como o Controlador Geral da União, Ministro Jorge Hage Sobrinho, se manifestou à CPMI sobre os gastos com o Cartão de Pagamento do Governo Federal:
"... O percentual do que representam hoje os suprimentos de fundos no total das despesas correntes, é muito pouco significativo, em termos quantitativos. Eles correspondem a 0,027% do total, por exemplo, no ano, em 2007, das despesas correntes. (...) Foram 177 milhões, num total de 625 bilhões. O que não significa que mereça uma atenção."
Pois é. O que o Ministro quer dizer é que uma goteira nada significa se a caixa d'água tiver 10 mil litros...
Imediatamente lembrei-me do Manual de Combate à Corrupção nas Prefeituras, elaborado com base na experiência de cidadãos independentes da cidade de Ribeirão Bonito, que conseguiram derrubar o prefeito corrupto. Quando o manual trata dos "valores redondos ou próximos de R$ 8mil", diz assim:
"A Prefeitura pode adquirir bens e serviços por meio do procedimento de carta-convite, quando se trata de gastos de até R$ 80 mil reais ao ano. A partir desse valor, é obrigatória a abertura de licitação em uma modalidade mais complexa e exigente, a tomada de preços. Porém, serviços e compras (...) com valor de até 10% do limite de R$ 80 mil, isto é, R$ 8 mil, estão desobrigados de licitação (...) e podem ser realizados de uma só vez. Há indícios de atos ilegais quando se verifica que há muitas notas fiscais próximas do limite de R$ 8 mil. Isso pode significar que, para maximizar a subtração de recursos, os autores procurem emitir notas com valores próximos do limite, ou estejam fracionando as compras para tentar burlar o limite de R$ 8.000,00 para compras individualizadas, o que é vedado pela Lei 8.666/93."
Hummm... Acho que o Ministro não leu o manual. Parece que ele não sabe que de grão em grão, não sei bem que bicho, vai enchendo o papo.
Ê Brasil, viu? Quando a autoridade desdenha do problema, abre-se espaço para que os 8 mil ou os 177 milhões sejam tratados como irrelevantes. E de grão em grão chegamos ao bilhão.
O relatório paralelo da CPMI dos Cartões Corporativos está disponível em http://tinyurl.com/nlxn52 como um arquivo PDF anexado a um comentário meu no fórum de debates.
O Manual de Combate à Corrupção nas Prefeituras está em http://tinyurl.com/mkkabn da mesma forma.
Vale a pena baixar e ler os dois documentos e sonhar com a possibilidade de que nem tudo possa estar perdido. Tem gente tentando controlar os grãos que o tal bicho come.
Luciano Pires
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

O diálogo


Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e o Dalai Lama.
Leonardo Boff explica: "No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:
- "Santidade, qual é a melhor religião?" (Your holiness, what`s the best religion?)
Esperava que ele dissesse: "É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo." O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou:
- "A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito". É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:
- "O que me faz melhor?"
Respondeu ele:
-"Aquilo que te faz mais compassivo" (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético...A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável...
Recebi por e-mail tal qual...

domingo, 19 de julho de 2009

Confissão


Feliz de mim quando tu vens
ao confessionário do meu coração
falar do amor que ainda me tens
onde perdestes tua própria alma
num labirinto de solidão...
Louvores ao amor que te absolve
e te devolve a paz e a luz e a calma
sempre que lhe dás a oportunidade
de reencontrar a tua alma...
Bem-aventuradas são as almas
que confessam seu amor perdido
do qual nunca se perderam...
É preciso viver para perder-se
o quanto é necessário perder-se
para se encontrar na solidão...
Bem-aventuradas as nossas almas
separadas... Eis porque juntas,
jamais se perderão...
(Afonso Estebanez)

sábado, 18 de julho de 2009

A armadilha do tempo

Adaptação de conto da década de 20 enfoca o inexorável: a impossibilidade de escapar da castração da finitude
por Erane Paladino
O Curioso Caso de Benjamin Button
- 166 minutos – Estados Unidos, 2008
- Direção: David Fincher- Com: Brad Pitt,
Cate Blanchett e Julia Ormond
Agosto de 2005. A alguns minutos da chegada do furacão Katrina, uma senhora no leito de morte, em Nova Orleans, Estados Unidos, abre seu diário e seu coração para a filha, num relato que recupera mais de oitenta anos de amor e segredos. Este é o fio condutor da trama apresentada em O curioso caso de Benjamin Button, adaptação do conto de F. Scott Fitzgerald (1896-1940), lançado na década de 20. Com direção de David Fincher, em 2008, o filme parte da Primeira Guerra Mundial, nos idos de 1918, e chega ao início do século XXI.
Em seu depoimento, Daisy (Cate Blanchett) confessa seu amor por alguém incomum: um homem que nasce velho e rejuvenesce ao longo do tempo. Este é Benjamin Button. Abandonado recém-nascido e, por ironia do destino, criado num asilo, conhece-a ainda menina. Embora distantes por algum tempo, comunicam-se por cartas; Benjamin torna-se navegador e Daisy, bailarina de sucesso. Apesar dos universos e destinos diferentes, o tempo permite o encontro e os dois vivem uma história de amor, no ambiente cheio de esperanças dos anos 60.
Sob este prisma, o filme parece tratar de mais uma história comum, com amor, sofrimento e descobertas. Mas é nas sutilezas que mostra singularidade e poesia. Nesta tonalidade, a primeira lembrança confessada diz respeito a um relojoeiro quase cego, recomendado para fazer uma instalação na estação de trens. O inesperado ocorre na inauguração,quando todos vêem o relógio correr ao contrário. Para seu criador, era uma tentativa de fazer o tempo voltar e recuperar seu filho morto na guerra.
Benjamin é encantado pelo mar e pela força de seu Capitão Mike (Jared Harris). Apaixona-se por Daisy, mas vive passivamente este sentimento, enquanto a jovem vive intensamente. Envolve-se com a esposa de um diplomata que sonha (e realiza na velhice) atravessar a nado o canal da Mancha. A atitude do personagem sugere o ditado da sabedoria oriental, de placidez e complacência diante dos limites e circunstâncias. Suas restrições físicas, decepções amorosas e desafios não o levam à revolta. Nas diferentes situações, parece contemplativo, embora o mundo à sua volta fervilhe. Neste trecho da história, determinada pelo pós-guerra, pela revolução sexual e pela explosão de jovens atuantes, Button rejuvenesce a cada dia, embora seu olhar lembre resignação.
O contraste talvez repouse numa questão importante: embora os limites do tempo sejam intransponíveis, a vida é movimento e surpresa. Freud, em Além do princípio do prazer (1920), fala da luta entre as forças pulsionais de vida e de morte, movimento gerador de uma tensão inerente à condição humana. Como interagem a cada momento de prazer e relaxamento, uma nova força propulsora surge, gerando nova excitação, fruto da impossibilidade de satisfação ou do repouso absoluto, que seriam a morte. Quando se está vivo não caberá o definitivo, no campo das experiências e da vida psíquica. O desejo, então, depende da falta e de um sentimento de incompletude que, para a psicanálise, promove laços, desencontros, embates, paixões, a arte e, enfim, a cultura. De forma bem articulada, o enredo apresenta os momentos em que esperanças e frustrações seriam inevitáveis.
Como se perdoasse os altos e baixos dessa condição, Button é, ao mesmo tempo, protagonista e espectador, cercado por este mundo vibrante. Se não nos é possível escapar dos limites do tempo e da finitude, resta saborear as oportunidades oferecidas e contar coma força vital. Essa configuração de vida, morte e transformação ganha sentido especial com a chegada do furacão Katrina, que invade com águas violentas a cidade – e a fábrica de relógios. Vale lembrar Mario Quintana “...porque o tempo é uma invenção da morte, não o conhece a vida verdadeira, em que basta um momento de poesia, para nos dar a eternidade inteira”.
Erane Paladino é psicóloga clínica, coordenadora e professora do Departamento de Psicodinâmica do Instituto Sedes Sapientiae, autora do livro O adolescente e o conflito de gerações na sociedade contemporânea (Casa do Psicólogo)
Original em:

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Células-tronco para restabelecer a visão

Transplante é usado na cura da degeneração macular
por Alison Snyder

EYE OF SCIENCE PHOTO RESEARCHERS, INC
Milhões de células fotorreceptoras que residem na retina humana captam luz e a transmitem sinais para o cérebro. Quando essas células coletoras de luz morrem, há perda de visão. Na esperança de reverter a cegueira, pesquisadores passaram a investigar as células-tronco, e experimentos recentes mostraram que elas poderiam substituir fotorreceptores perdidos na forma mais comum de cegueira, a degeneração macular. O problema afeta 10% dos americanos com mais de 65 anos. Ele danifica primeiramente a mucosa protetora chamada epitélio do pigmento da retina (EPR), que transporta nutrientes para as células fotorreceptoras e é vital para sua sobrevivência. Um transplante de tecido EPR novo pode salvar esses fotorreceptores moribundos.
A abordagem, porém, não costuma ser viável por causa da grande quantidade de tecido necessária para tratar milhões de pessoas que mostram os sinais de início da doença. Cientistas da empresa de biotecnologia Advanced Cell Technology, em Worcester, Massachusetts, conseguiram gerar uma fonte abundante de células EPR. Em 2004, criaram uma forma de persuadir células-tronco embrionárias a se transformar em tecido EPR transplantável. Num experimento seguinte, injetaram as células transformadas nos olhos de ratos com um defeito genético localizado no tecido EPR, que levava à destruição de suas células fotorreceptoras. Os pesquisadores relataram no periódico Cloning and Stem Cells de setembro de 2006 que várias semanas após o transplante, tempo suficiente para os efeitos da doença surgirem, os ratos que haviam recebido o tratamento ainda eram capazes de acompanhar listras num cilindro em rotação duas vezes melhor que os não tratados. Sua visão, entretanto, ainda estava bem abaixo do normal.

Em última análise, para tratar casos avançados de degeneração macular ou outros problemas nas células fotorreceptoras, será preciso reparar as próprias células afetadas. Recentemente, pesquisadores da University College de Londres e de outras instituições anunciaram que extraíram células de retinas de ratos em diferentes estágios de desenvolvimento e as transplantaram com sucesso em ratos cegos. Eles descobriram que células fotorreceptoras imaturas de ratos recém-nascidos saudáveis, e não células embrionárias ou de ratos adultos, têm a capacidade de migrar para a região correta da retina e continuar a se desenvolver como células fotorreceptoras maduras. As pupilas que receberam essas células também se tornaram muito mais sensíveis à luz que aquelas que não receberam o transplante. Tais descobertas sugerem qual é o melhor estágio do desenvolvimento realizar esse transplante – por exemplo, células fotorreceptoras precisam ser relativamente mais maduras que células-tronco, de acordo com Thomas Reh, da Universidade de Washington, que estuda o desenvolvimento da retina. O equivalente humano das células de ratos, no entanto, precisa ser isolado de retinas fetais, o que levanta o problema de encontrar uma fonte para as imaturas. Células-tronco da córnea ou adultas podem ser alternativas para a geração de fotorreceptoras imaturas.
Em seu laboratório, Reh transforma células-tronco embrionárias em células-tronco da retina, mas apenas 6% delas se tornam fotorreceptoras. Esse rendimento, apesar de baixo, não é desencorajador, de acordo com Evan Snyder, pesquisador de células-tronco do Instituto Burnham de Pesquisa Médica em La Jolla, na Califórnia. Ao estudarem o que impele esses 6% a se tornar células fotorreceptoras, os pesquisadores podem descobrir como gerar um número maior de células transplantáveis. Eles também podem criar uma forma de selecionar as células certas de uma população mista: Anand Swaroop, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, trabalha numa forma de identificar e selecionar células receptoras concentrando-se nas proteínas presentes na sua superfície. Depois de gerar uma fonte e superar as preocupações de segurança associadas com o transplante de células-tronco, os pesquisadores ainda encaram seu maior desafio: mostrar que os fotorreceptores transplantados se comunicam com outros neurônios que irão com o tempo se ligar ao nervo óptico. Cada fotorreceptor precisa fazer centenas de ligações críticas. “Ter o tipo de célula certa não significa ter encontrado a maneira certa de conectar o circuito”, diz Snyder. Os fotorreceptores imaturos transplantados de retinas de ratos mostram atividade, mas Swaroop adverte que testes comportamentais precisam determinar que as células fotorreceptoras estão sendo reparadas. Uma ligação parcial pode gerar a atividade vista nas pupilas dos ratos, mas a melhora real da visão depende da capacidade dos animais de reagir a cores e outros sinais visuais. Afinal, é preciso ver para crer.

Alison Snyder é jornalista.
Original em:

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A avareza na ficção

Balzac e Dostoievski, escritores consagrados do século XIX, viviam atolados em dívidas, não admira que ambos tenham criado personagens sovinas e egoístas
por Moacyr Scliar
THE NATIONAL MUSEUM OF THE
PERFORMING ARTS, LONDRES
Sir Herbert Beerbohm Tree no papel de Shylock, em
O mercador de Veneza, de Shakespeare, de 1914, por Charles Buchel
Embora muitos já tenham esquecido, o Brasil viveu períodos de grandes surtos inflacionários, nos quais o dinheiro perdia rapidamente o seu valor. Era muito comum ver moedas nas sarjetas das ruas; ali ficavam porque valiam tão pouco que ninguém se dava ao trabalho de abaixar-se para apanhá-las. Isso nos remete a um fato básico da economia e da vida social: a rigor, o dinheiro é uma ficção. Mas exatamente por causa desse ângulo, digamos, ficcional, ele assume também caráter altamente simbólico. E não muito agradável, segundo Freud. Observando que ao longo da história o dinheiro foi freqüentemente (e ainda é) associado à sujeira, o pai da psicanálise postulou que a proposital retenção de fezes, característica da chamada fase anal do desenvolvimento infantil, teria continuidade, no adulto, com a preocupação com o dinheiro. O avarento é um exemplo caricatural disso.
Aos escritores essas coisas não poderiam passar despercebidas, mesmo porque muitos deles tinham, e têm, problemas com dinheiro; Honoré de Balzac (1799-1850) e Fiódor Dostoievski (1821-1881) viviam atolados em dívidas, sobretudo o escritor russo, que era um jogador compulsivo. Não é de admirar que avarentos tenham dado grandes personagens da ficção. O primeiro exemplo é, naturalmente, o Shylock, de William Shakespeare (1564-1616) na comédia O mercador de Veneza, do fim do século XVI. Shylock era um agiota. Na Idade Média, o empréstimo a juros era proibido aos cristãos e reservado ao desprezado e marginal grupo dos judeus. Um arranjo perfeito: quando o senhor feudal não queria ou não podia pagar dívidas contraídas com os agiotas, desencadeava um massacre de judeus, um grupo desprezado e marginalizado, e resolvia o problema. Shylock sente-se desprezado e quando empresta dinheiro a Antonio, um mercador, pede em garantia uma libra da carne do devedor: ele quer que este se revele inadimplente e pague a dívida com a matéria de seu próprio corpo: um esforço desesperado e grotesco para ser respeitado.
Outro usurário que aparece na peça O avarento (1668), de Jean-Baptiste Molière (1622-1673) é Harpagon. Quanto mais rico fica, mais mesquinho se torna, e mais faz sofrer os filhos, o jovem Cléante, apaixonado por Mariane, moça pobre – Harpagon obviamente se opõe ao namoro – e a filha Élise, que ele quer casar com o velho Anselme. Além das brigas com os filhos, Harpagon tem outros motivos para se inquietar: enterrou em seu jardim uma caixa com dez mil escudos de ouro e é constantemente perseguido pela idéia de que sua fortuna será roubada. No fim, a avareza é castigada e Cléante e Élise podem se unir às pessoas que amam.
Avarentos também não faltam nos romances de Charles Dickens (1812-1870), um dos mais conhecidos é o personagem Ebenezer Scrooge de Um conto de Natal (1843), um homem velho, egoísta, insensível, que odeia tudo – até o Natal – uma festa que evoca bondade e generosidade. Scrooge maltrata seu empregado Bob Cratchit, que tem um filho deficiente físico, o Pequeno Tim, mas na noite de Natal é visitado por misteriosas entidades, os Espíritos do Natal, e muda por completo, tornando-se generoso, ajudando Cratchit e sua família. Em Silas Marner, novela de George Eliot (1819-1880) que usava o pseudônimo de Mary Ann Evans, o personagem, um misantropo que prefere o ouro às pessoas, aprenderá, assim como Scrooge, a sua lição. Ele é roubado, mas, ao tomar sob seus cuidados o menino Eppie, mudará, tornando-se um homem melhor. Em Eugénie Grandet (1900), de Balzac, somos apresentados a Félix Grandet, um rico e sovina mercador de vinhos, que se opõe à paixão da filha pelo sobrinho pobre.
Como se pode ver em todas essas obras, a obsessão pelo dinheiro resulta de uma personalidade repulsiva ou patética. Freud tinha razão: o poder simbólico do vil metal não é pequeno e tem atravessado os séculos incólume.
Original em:

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Silêncio


Pense em alguém que seja poderoso. Essa pessoa briga e grita como uma galinha, ou olha e silencia, como um lobo?
Lobos não gritam. Eles têm a aura de força e poder. Observam em silêncio.
Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio. Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.
Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos. Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis. Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota.
Olhe.
Sorria.
Silencie.
Vá em frente.
Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar. Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.
Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques.
Não é verdade! Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir. Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal.
Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça. Você pode escolher o silêncio. Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu Xenocrates, mais de trezentos anos antes de Cristo, ao afirmar:
“ME ARREPENDO DE COISAS QUE DISSE, MAS JAMAIS DO MEU SILÊNCIO".
Responda com o silêncio, quando for necessário.
Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais. Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos. Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas. E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.

(autor desconhecido)

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Adeus!


VIVENDO E NÃO APRENDENDO A SE DESPEDIR

O exercício do ofício de psicoterapeuta tem me mostrado que uma das maiores dificuldades do Ser Humano é dizer adeus. Na cultura ocidental o vínculo á altamente valorizado e não é por acaso que várias teorias psicológicas se preocuparam com essa questão. Em contra partida tenta-se esvaziar os sentimentos e sensações ligados à situações de despedidas e quebras de vínculos. Desde cedo ouve-se frases como: - Não chore... Vai passar... Bola pra frente... Tome outro... Levante a cabeça... etc o que ajuda a fazer um contato rápido e superficial com a dor de perder . No entanto, é impossível viver e não perder:
• Pessoas – por morte ou qualquer outro tipo de separação.
• Sonhos ou expectativa de futuro – por realização, adiamento ou desistência.
• Imagem ou função corporal – pelo envelhecimento ou doença.
• Casa ou referência geográfica - pelas mais variadas mudanças.
• Papéis ou ocupações profissionais - por aposentadoria, desemprego.
• A própria vida - pela morte.
Pela instabilidade ansiogênica criada por qualquer situação acima citada, o ser humano usa seus recursos defensivos para não vivê-las intensamente. O luto, enquanto experiência de transformação de vínculos, é pouco incentivado. A nossa cultura não ritualiza as despedidas e tenta reduzi-las a um único momento que pode ser esvaziado.Sendo Gestalt-terapeuta,trabalho esses eventos olhando-os como situações inacabadas; Yontef (1998.p.98) sugere definindo:”Gestalt incompleta é um assunto pendente que exige resolução. Normalmente, isso assume a forma de sentimentos não resolvidos expressos de maneira incompleta.” É dessa forma que eles se explicitam nas queixas dos clientes durante o processo psicoterápico.

Nessa maneira de ver, o Ser humano é um colecionador de despedidas mal feitas, de olhares mal dados para as vivências de perdas. O que foi vivido, em muitas situações, só é realmente fechado ao retornar na vivência de uma situação presente que facilite o aparecimento do real acontecimento, com sua intensidade perceptível e assumida, o que na Gestalt terapia é chamado de awareness e segundo Yontef (l998.p.30) “uma forma de experiência que pode ser definida aproximadamente como estar em contato com a própria existência com aquilo que é.“
A vida, tal qual se vive, é uma tentativa de viver de uma maneira mais “normal” possível, desconsiderando a importância do vivido no seu aspecto existencial.


“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás?
Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você se reconhece?”
(A LISTA – Oswaldo Montenegro)

Autora:
Magda Campos Dudenhoeffer
Psicóloga – Gestalt-terapeuta
Rua Visconde de Caravelas,91 - BotafogoRio de Janeiro - RJ – CEP 22271-030

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Adeus - II



ACOMPANHANDO PACIENTES COM CÂNCER


O atendimento a pacientes com câncer tem me feito observar o como a necessidade de fechamentos de fatos e situações vividas faz a despedida assumir papel relevante no dia a dia dessas pessoas, pressionados que se sentem pela finitude da vida. A despedida deixa de ser um ato isolado, feito num único momento e passa à condição de processo visto por Yontef (1998.p.203) como “mudança ou uma transformação sofrida em um objeto ou organismo, na qual uma qualidade consistente ou uma direção podem ser discernidas”

As pequenas perdas, que comumente passam despercebidas, emergem, se tornam figuras, assumem movimento próprio e apresentam uma articulação seqüencial de tempo e espaço. O olhar parece estar focado, aguçadamente, naquilo que não se tem mais. Há uma certa predisposição para se despedir, para fechar. Tudo necessita ser vivido intensamente e rápido. Não há mais tempo a ser perdido e os adiamentos deixam de fazer parte da rotina.

O papel do psicoterapeuta, no meu caso, usando o fundo teórico da Gestalt –terapia passa a ser o de acompanhante desse processo, respeitando o ritmo, a intensidade e o tempo de seu desenvolvimento, reconhecendo o que de mais humano se faz presente. Remen (1993.p.47) afirma que “na verdade, a natureza humana não é desconhecida a nenhum de nós; através de nossa experiência interior e observação dos outros, desenvolvemos a percepção de seu alcance e amplitude, daquilo que nós mesmos e os outros somos e podemos ser”. Vestido da sua humanidade, ao psicoterapeuta, vai se tornando claro que o possível é abrir espaços para que essas situações se apresentem. As intervenções vão, cada vez mais, sendo focadas naquilo que está sendo perdido na vivência de cada um. Há uma aceitação, por parte do terapeuta, que propicia o aparecimento dos mais diversos sentimentos até que seja possível prantear o impossível, o perdido, o que já não se tem mais, o que deixou de existir. Para que, em seguida, após o reconhecimento do limite estabelecido, se torne possível vislumbrar o além, o agora, a possibilidade de prosseguir com uma nova situação reconfigurada, colocando o que antes era falta na condição de possibilidade presente, coerente com o momento. Buscaglia (2000.p.123) aponta que “a única realidade que conhecemos é a do exato momento que estamos vivendo. Realidade não é o que já passou nem o que ainda vem. Aceitar essa idéia tão simples torna a vida mágica. ... Isso não quer dizer que se viva apenas para o presente, mas que se viva no presente, o que faz uma grande diferença”. O fascínio do viver é sempre o descobrir no agora, uma possibilidade, mesmo quando se imagina não haver mais nenhuma.

Autora:

Magda Campos Dudenhoeffer

Psicóloga – Gestalt-terapeuta

Rua Visconde de Caravelas,91 - Botafogo - Rio de Janeiro - RJ – CEP 22271-030

domingo, 12 de julho de 2009

O Adeus - III


COLHENDO MORANGOS
Atendendo uma mulher que apresentava metástase de coluna o que vinha comprometendo a sua capacidade locomotora, fui procurada pela família que me pediu para trabalhar com ela o uso da cadeira de rodas. Havia um sofrimento muito grande nessa família em assumir essa nova condição como a única possível para locomoção da paciente. Fui para o encontro com essa mulher preparada para enfrentar uma sessão difícil. Tudo se deu diferente. Ela me falou do como já havia sido ruim, anteriormente, ter assumido as muletas como pernas acessórias e que, agora, seria, outra vez, perder mais um pouco.Para ela era extremamente sofrido se ver sentada, olhar o mundo de uma altura diferente da que estava acostumada, mas que conseguindo admitir esta possibilidade, ela podia vislumbrar o novo ângulo de admirar as coisas ao seu redor e que a cadeira de rodas seria a possibilidade que ela teria de não deixar de admirar o céu, de passear, de sentir o frescor da floresta e admirar a lagoa, coisas que ela considerava fundamentais para mantê-la viva, presente na vida. Abrir mão das suas pernas era doído, mas muito pior seria o confinamento. Ainda com lágrimas nos olhos pude vê-la se despedir de uma condição anterior que já não era para ela a ideal e assumir uma nova possibilidade que fosse capaz de não fazê-la abrir mão do que lhe era prioritário e que faziam-na se sentir participante da vida. Nessa sessão observei que a escala de prioridades de cada um é capaz de facilitar escolhas clarificando o que, na verdade, não se quer abrir mão e que a presteza da necessidade de uma decisão pode ser facilitadora para se enxergar uma saída e entrar em contato com algum benefício. Isso me fez lembrar de um Koan budista que conta: Um monge, certa vez, fugindo de um urso faminto, chega á beira de um penhasco e tem de decidir entre saltar e ser devorado. Resolve pular, mas no meio da queda, consegue se agarrar a uma raiz que escapava das pedras. Para piorar, quando o pobre monge olha para baixo, vê um tigre andando em círculos esperando que ele caia para atacá-lo. Exatamente nesse momento, dois esquilos em busca de comida começam a roer a raiz onde se agarrava. Com o urso em cima, o tigre embaixo e os esquilos ao lado, o monge avista, ao alcance de sua mão, uma moita de morangos silvestres com uma fruta bem grande vermelha, madura e suculenta. Ele come o morango e saboreia dizendo: - ”Que delícia!”
As situações de perda quando vividas em sua plenitude facilitam o contato com a possibilidade que alivia. A proximidade da dor parece propiciar o enxergar de um ajustamento criativo. Segundo Cavanellas (1998. p.14) “ qualquer organismo vivo, tem de crescer e atualizar-se, ajustando-se criativamente ao meio com o qual se relaciona. Esta é sua tendência natural, na qual ele se vê implicado com o mundo, mas na qual muitas vezes também se vê interrompido. Restabelecer esse fluxo vital encontra-se no cerne da Gestalt-terapia, que resolveu chamá-lo de awareness , termo que não se faz traduzir bem por nenhum outro em nossa língua, mas que diz respeito a uma espécie de consciência organísmica.”
O momento presente como vivicação de possibilidade parece aplanar a sensação de desequilíbrio, instaurando um processo de auto-regulação capaz de aliviar tensão e tornar possível as escolhas. Como gestalt-terapeuta presencio esse acontecer confiando que é o outro que sabe o que de melhor tem a fazer. Cavanellas (1998.p.15) diz que: ”O desabrochar se dá a partir de si mesmo, na direção indicada por seu potencial criador e único em suas raízes e desenvolvimento pessoal. O olhar do terapeuta talvez seja a luz em cuja presença torna-se possível vislumbrar o desvelamento e compreender-lhe o sentido”.
A necessidade de uma estabilidade após cada situação de perda, experenciada como desequilíbrio, tem me aparecido como a capacidade do ser humano de fazer, desfazer e refazer, de compor, descompor e recompor, de lidar com problemas e soluções, de se fragilizar e se fortalecer, de encontrar caminhos onde não pareciam existir, de continuar a sentir seu pulsar de vida. Ostrower (2001.p.99) escreve que: “para o ser humano, o equilíbrio interno não é um dado fixo. Nem se trata de uma abstração ou de uma conceituação de um estado ideal. O equilíbrio é algo que a todo instante precisa ser reconquistado. Trata-se de um processo vivido, um processo contínuo onde as coisas se propõem a partir de uma experiência e onde, ao se organizarem os termos da experiência, já se parte para uma outra experiência, mais ampla. No fluir da vida, nos sucessivos eventos externos e internos que nos mobilizam, cada momento de estabilidade é imediatamente questionado. Cada situação que se vive, cada ação física ou psíquica, cada emoção e cada pensamento desequilibra algum estado anterior. ... Esses desequilíbrios em busca de equilíbrio são inevitáveis. São da essência do viver. São do nosso crescimento e desenvolvimento. Integram o conteúdo de nossas experiências, de nossas motivações e de nossas possibilidades reais. Traduzem para nós a presença vária de forças desiguais e intercorrentes em nós, de princípios talvez de oposição, originando ímpetos vitais que nos impulsionam a agir, a superar os obstáculos, a compreender e a criar”.
Autora:
Magda Campos Dudenhoeffer
Psicóloga – Gestalt-terapeuta
Rua Visconde de Caravelas,91 - Botafogo - Rio de Janeiro - RJ – CEP 22271-030

sábado, 11 de julho de 2009

Adeus - IV



TRANSFORMANDO PERDA EM SAUDADE
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque ausência, essa ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Humanos que somos fugimos das perdas porque elas nos apontam a finitude, o nunca mais. O homem desenvolve várias maneiras de suavizar as despedidas, das mais simples nem nos damos conta, não fomos criados para perder.
O paciente com câncer se vê obrigado a descobrir na sua humanidade a melhor forma de lidar com as perdas que bombardeiam sua vida de uma maneira inevitável. Elas surgem no aspecto físico, emocional, social. Não há como fugir nem fingir. As situações cotidianas se apresentam desorganizadas e precisam ser organizadas. O cliente traz todo o tempo a sensação da falta, do buraco deixado por alguma coisa que ali existia e que lhe era familiar. O desejo de acabar rapidamente com a dor e a necessidade de prosseguir são os pedidos mais emergentes. É aí que a psicoterapia encontra o seu lugar como espaço facilitador do reconhecimento da dor que se apresenta, colaborando para a elaboração das perdas enquanto processo de vida. Acolher o paciente do jeito que ele pode estar e qualificar seus sentimentos, certamente, contribui para o estabelecimento de uma relação sem críticas e sem conselhos; uma relação autêntica onde nenhum comportamento é esperado; permeada pela confiança na capacidade que o outro, que está diante de mim, tem de transformar e alcançar sua melhor ressignificação. Ribeiro (1998.p.82) afirma que: ”ninguém faz psicoterapia sem aprender mais sobre si e sobre o ser humano em geral; como ninguém estuda com afinco qualquer conceituação básica sobre o ser humano sem se abalar, sem se modificar de alguma forma.”
A crença na capacidade de transformar do ser humano, criando condições capazes de sustentar suas experiências de vida, aproximam cliente e terapeuta e levam ao reconhecimento das etapas desse processo de transformação criativa. O espaço psicoterápico é: lugar de redimensionamento do possível do cliente, do aproveitamento do que ele pode ter como sua melhor escolha, do trabalhar com o tempo imediato, do poder fazer uma conexão efetiva com o seu tempo interno para que ele possa se ver onde antes havia um objeto distanciado. Assim, neste Agora vivencial ele se reconhece. No buraco vazio da falta é possível encontrar alternativas, a perda é capaz de se ressignificar em saudade, pelo assumir daquilo que foi vivido e que a “mim” se incorpora. A insegurança do lidar com o novo se transforma em auto-confiança, ao descobrir que só ” eu” sou capaz de fazer o meu caminho e a rejeição se torna auto estima, pela possibilidade de confirmação do que está sendo sentido.
Enquanto gestalt-terapeuta, me sensibilizo em poder me sentir acompanhante de um processo que se dá diante dos meus olhos e que se torna suporte para escolhas satisfatórias às necessidades apresentadas. Enquanto ser humano, me engrandeço com a possibilidade de caminhar em direção à liberdade do transformar, à espontaneidade do sentir, aceitando limites e limitações, deixando que o finito se aproxime, que a presença se torne ausência e que a ausência se faça saudade.
Aos pacientes, que juntos já caminhamos, e aos que continuam nessa empreitada, o meu mais profundo reconhecimento por terem contribuído com o material dessa reflexão e o meu maior respeito pela possibilidade de transformação com eles vivida.
Aos que se foram a minha saudade e gratidão.
Mas a minha tristeza é sossego.
Porque é natural e justa.
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Fernando Pessoa
In Guardador de Rebanhos
Autora:
Magda Campos Dudenhoeffer
Psicóloga – Gestalt-terapeuta
Rua Visconde de Caravelas,91 - Botafogo - Rio de Janeiro - RJ – CEP 22271-030

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