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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O deboche da Veja


Richard Simonetti lamenta em carta à revista Veja o tom de deboche na reportagem sobre o filme Nosso Lar.

RICHARD SIMONETTI

Carta para a revista VEJA em 01 09 2010.

Senhor redator

Como espírita, assinante dessa revista há  muitos anos, lamento o tom de deboche que caracterizou sua reportagem  sobre o filme Nosso Lar, o que, diga-se de passagem, também está  presente em matérias sobre outras religiões. Nesse aspecto, VEJA é uma revista coerentemente debochada. Não respeita a crença de nenhum leitor.

Pior são os erros de apreciação sobre a  Doutrina Espírita, revelando ignorância do repórter, uma falha  perigosa, porquanto coloca em dúvida outras matérias e informações.

Como saber se os responsáveis estavam preparados para escrevê-las,  evitando fantasias e especulações? Para sua apreciação, senhor redator, algumas? escorregadelas? do repórter:

a) Grafa entre aspas o verbo desencarnar.
Só teria sentido se  ainda não houvesse sido dicionarizado. Por outro lado, noventa por  cento dos brasileiros são espiritualistas, isto é, acreditam na  existência e sobrevivência do Espírito. Este ser imortal desencarna, jamais morre. A minoria materialista, que acredita que tudo termina no  túmulo, certamente terá surpresas quando ?morrer?.

b) Fala em cordilheira de ectoplasma onde se situaria Nosso Lar.
De onde tirou isso? Ectoplasma é um fluido exteriorizado pelos médiuns  para trabalhos de materialização. Os físicos, esses visionários cujas? fantasias? acabam confirmadas pela Ciência, falam hoje que há  universos paralelos, que se interpenetram, semelhantes ao nosso. A  partir daí não é difícil imaginar o mundo espiritual descrito por  André Luiz como parte de um universo paralelo com seres e coisas semelhantes à Terra, feitos de matéria num outro estado de vibração,  não um mundo? ectoplasmático?, mas de quinta-essência material. Nada  de se admirar, portanto, que em cidades desse mundo existam pessoas  com ?uma rotina parecida com a dos vivos: comem, bebem, trabalham e moram em casas modestas ou melhorzinhas?. Espirituoso esse  ?melhorzinhas?. Imagina o repórter que o Espírito é uma fumaça sem  forma, sem consistência, habitando um nada?

c) Situa o aeróbus, um transporte coletivo que voa, como algo  improvável.
Menos mal que não tenha escrito impossível. De qualquer forma, ignora, certamente, que pesquisadores estão aperfeiçoando  veículos dessa natureza, em alguns países, como solução para os  problemas de trânsito e que no universo paralelo, o mundo espiritual,  de matéria quinta-essenciada, é muito mais fácil resolver problemas  relacionados com a gravidade. Ou, imagina que tudo flutua por lá?

d) Diz jocosamente que? o visual da colônia dos espíritos de luz  comprova: o brasileiro pode até se livrar do inferno, mas não escapa  nem morto da arquitetura de Oscar Niemeyer.
A cidade fantasmática de  Nosso Lar é a cara de Brasília?? Não se deu ao trabalho de comparar  datas e não percebeu que, mais apropriadamente, Brasília copiou Nosso  Lar, visto que a cidade espiritual foi descrita por André Luiz em  1943, enquanto a construção de Brasília foi planejada e ocorreu no  governo de Juscelino Kubistchek, de 1956 a 1961, inaugurada em 1960.

Quanto ao mais, seria recomendável aos  repórteres de VEJA o benefício de um estudo acurado e sem  prejulgamento do livro que deu origem ao filme, psicografado por esse  atestado vivo de integridade e amor à verdade, que foi o médium Chico  Xavier, para compreenderem qual é o objetivo dessa magistral obra,  como resume o Espírito Emmanuel, no prefácio:

André Luiz vem contar a você, leitor amigo, que a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com a própria  consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos  precipitamos no abismo infernal; vem lembrar que a Terra é oficina  sagrada, e que ninguém a menosprezará, sem conhecer o preço do  terrível engano a que submeteu o próprio coração.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A mãe natureza é cruel

O paleontólogo americano diz que é inútil e perigoso para a humanidade, a esta altura da civilização, tentar se reconciliar com a natureza retornando ao estilo primitivo de vida

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Carlos Graieb

Na mitologia grega, Medeia é a rainha que mata os próprios filhos como forma de vingança contra o marido infiel, o herói Jasão. Segundo o paleontólogo americano Peter Ward, da Nasa e da Universidade de Washington, a natureza é dotada desse mesmo instinto assassino, condenando todos os seres vivos à extinção a longo prazo. A natureza conspira para tornar a Terra um planeta estéril. A tese central de Ward de que a vida é inimiga da própria vida colide frontalmente com algumas das ideias mais estabelecidas do movimento ambientalista. Em seu livro The Medea Hypothesis (A Hipótese Medeia), Ward desmonta a "hipótese Gaia", aventada pelo cientista inglês James Lovelock há cerca de quarenta anos, segundo a qual a natureza teria compromisso com a manutenção da vida sobre a Terra tendendo para a harmonia, situação que teria a ação humana como única ameaça séria de desequilíbrio. Diz Ward: "É falsa a ideia de que a natureza se salvará se nos conciliarmos com ela. A chance de manutenção da vida humana no planeta está no aprimoramento da ciência e da tecnologia".

De cientistas renomados ao filme Avatar, boa parte do discurso ambientalista insiste que o homem precisa "retornar à natureza". Essa ideia faz sentido?

Há muita coisa louvável no ambientalismo, da ênfase na economia de combustíveis e outros recursos à ideia de que é necessário preservar certas regiões do planeta. Mas a utopia do retorno a um mundo mais simples, mais primitivo, mais natural, aponta na direção errada, tanto por motivos práticos quanto por motivos teóricos. Se a população da Terra fosse de 1 bilhão de pessoas, vá lá. Mas, num mundo com 6 bilhões de habitantes, não poderemos abrir mão das conquistas de nossa civilização tecnológica se quisermos cuidar de doenças e produzir alimentos em larga escala, para ficar nas necessidades mais básicas. A civilização pré-industrial dos sonhos ambientalistas resultaria, muito rapidamente, em fome global. A fome acarretaria guerras e há poucas coisas feitas pelo homem mais devastadoras para o ambiente do que a guerra. Esse é um dos motivos por que os "verdes" deveriam deixar de lado sua aversão à tecnologia, e considerá-la uma aliada. Mas há outra razão para abandonarmos a tese do retorno ao primitivismo. A história do planeta mostra o contrário: a vida está sempre conspirando contra si própria, está sempre no caminho da autodestruição. Cabe a nós, humanos, refrear essa tendência, mais uma vez, por meio de nossa inteligência e da tecnologia. Estou falando na busca de soluções sem precedentes de "engenharia planetária", com efeito atenuador sobre a temperatura da Terra e regulador dos ciclos básicos da biosfera.

A natureza não é uma mãe bondosa?

Ao contrário do que propõe uma das teorias mais difundidas nos últimos quarenta anos, a famosa hipótese Gaia, a mãe natureza não cuidará de nós eternamente se apenas voltarmos ao seu seio. Gaia é uma referência à deusa Terra na mitologia grega, cujo nome também pode ser traduzido como "boa mãe". A hipótese tem duas versões. Uma diz que os seres vivos colaboram entre si para manter as condições ambientais dentro de parâmetros compatíveis com a manutenção da vida. A outra, mais radical, afirma que os organismos não apenas estão programados para manter os padrões de "habitabilidade" da Terra, como ainda conseguiriam melhorar a química da atmosfera e dos oceanos. Essas duas versões da hipótese Gaia estão totalmente erradas. Tomados em conjunto, os organismos existentes na Terra interagem com o ambiente de tal maneira que, a longo prazo, a vida tende a desaparecer. A natureza se comporta como Medeia, a mãe impiedosa que, na mitologia grega, mata os próprios filhos.

Por que a vida seria inimiga da vida?

Isso se deve a um efeito colateral do processo de evolução. As espécies evoluem, mas a biosfera não. A cada etapa evolutiva, as espécies, individualmente, vão aprimorando as características que permitem a cada uma triunfar no jogo da sobrevivência e, com frequência, isso significa desenvolver arma s letais para as outras espécies.

Quais são os furos na hipótese Gaia?

Se as teses de Gaia estivessem corretas, alguns fenômenos comprobatórios já teriam sido observados. O contínuo aumento da diversidade das formas de vida bem como da biomassa (o volume total de organismos vivos) seria um formidável indicador empírico da validade de Gaia. Seria um resultado consistente com a ideia de que, ao longo do tempo, as condições do planeta vão ficando mais acolhedoras para os seres vivos. Não é o que se observa. Os modelos mais recentes indicam que a biomassa atingiu seu ápice em algum ponto entre 1 bilhão e 300 milhões de anos atrás e vem se reduzindo desde então. Quanto à biodiversidade, no melhor dos casos, ela se manteve estável nos últimos 300 milhões de anos.

Em relação à "hipótese Medeia", quais são as evidências de que ela é correta?

Os episódios de extinção em massa registrados no passado geológico do planeta são uma dessas evidências. Quando falamos nesses episódios catastróficos, as pessoas logo pensam nos dinossauros e lembram que o seu desaparecimento está ligado ao choque de um grande asteroide. Isso dá a falsa impressão de que desastres com causas externas seriam o principal risco para a nossa biosfera. O caso dos dinossauros, no entanto, é uma exceção em meio a um grande número de episódios nos quais processos conduzidos pelos próprios seres vivos acarretaram reduções dramáticas na biomassa. Meu exemplo preferido é o da grande extinção no fim do período permiano, cerca de 250 milhões de anos atrás, quando pereceram 90% das espécies marinhas e 70% do total da biota. Por algum tempo acreditou-se que essa extinção também estava relacionada à queda de um asteroide. Essa tese hoje está quase abandonada. Outra teoria que emergiu com força aponta bactérias como as assassinas responsáveis por essa hecatombe.

Poderia explicar melhor?

Há um grupo de bactérias que produz, como resultado de seu metabolismo, uma substância altamente tóxica, o gás sulfídrico (H2S). Ele é mortífero para plantas e animais até mesmo em baixas concentrações. Estudos recentes mostram de maneira bastante robusta que, no permiano tardio, esse tipo de micróbio proliferou de maneira incomum, a tal ponto que o gás sulfídrico que ele produz não apenas envenenou os oceanos como ainda entrou na atmosfera. A consequência disso foi a aniquilação de seres vivos em todo o planeta. Conhecemos pelo menos outras oito ocasiões em que esse processo se repetiu no passado, ainda que em escala menor.

O que causou a proliferação anormal dos microrganismos assassinos?

No caso do permiano, foram os gigantescos volumes de magma lançados por vulcões nos mares e na terra ininterruptamente por milhares de anos. Esse processo potencializou o efeito estufa, aquecendo demais a superfície do planeta, e praticamente eliminou o oxigênio livre nas águas dos oceanos, favorecendo a multiplicação descontrolada das bactérias anaeróbicas assassinas.

Algo semelhante poderia voltar a acontecer no futuro?

Evidentemente, e dessa vez com ajuda humana. Efeito estufa é efeito estufa, pouco importa se causado por vulcões ou por fábricas e automóveis. Quando e se os níveis de CO2 na atmosfera superarem a taxa-limite de 1 000 ppm (partes por milhão), a série de eventos de longo curso que pode levar a uma extinção como a descrita se porá em movimento. A taxa atual é de 380 ppm, e ela está subindo. As estimativas mais pessimistas sugerem que em um século poderemos nos aproximar dos níveis críticos.

O senhor, então, não é um cético do aquecimento global?

É claro que não. Acabo de voltar de uma temporada no Ártico. É espantosa a maneira como a calota polar está retrocedendo. O fato de eu me contrapor a certas ideias do movimento ambientalista não significa que me posicione no lado contrário. De fato, há ocasiões em que eu gostaria de dar uma surra em céticos barulhentos como o dinamarquês Bjorn Lomborg. Esse ceticismo só é útil quando nos leva a refinar hipóteses científicas, mas não quando serve de desculpa para empresas e governos não agirem. Suponha que os céticos estejam certos e que as piores previsões sobre o aquecimento global não se realizem. Ainda assim, lidamos hoje com uma matriz energética que é muito poluente. Faremos mal em desenvolver novas fontes de energia? É claro que não. Uma economia diversificada desse ponto de vista será melhor em todos os sentidos. Digamos agora que a tese do aquecimento está correta. Nesse caso, as consequências serão desastrosas se não nos precavermos. A curtíssimo prazo, veremos nosso modo de vida ser profundamente afetado pelo aumento do nível dos oceanos. Esse seria apenas o primeiro dos desastres.

Na cúpula sobre o clima realizada em Copenhague, no fim do ano passado, o ceticismo ficou em segundo plano. Apesar dos resultados políticos pífios da cúpula, isso não foi um avanço?

Nesse caso, sou eu que me ponho na posição de incrédulo. Nos Estados Unidos é muito fácil retornarmos a uma posição oficial de ceticismo. Os republicanos linha-dura na questão climática, no estilo George W. Bush, não foram extintos. Eles podem voltar ao governo. Se uma administração que se diz atenta à questão do aquecimento global, como a de Obama, nada fez em Copenhague, quais são as causas para entusiasmo?

O senhor mencionou que feitos de "engenharia planetária" são necessários para manter a Terra habitável para o homem e outras espécies. De que estava falando?

A curto prazo, da busca engenhosa de novas fontes de energia. Mas, ainda que consigamos interromper a tendência atual de aquecimento do planeta ensejada pela atividade humana, a longo prazo temos de lidar com outro problema: nosso sol se tornará maior, e enviará mais energia para a Terra. Algumas alternativas já foram aventadas, como a construção de espelhos gigantescos que seriam postos em órbita para reduzir a incidência de luz solar sobre o planeta, ou a cobertura de grandes áreas de terra e mar com material refletivo. Parece ficção científica, mas, diante de um desafio dessa magnitude, não podemos abandonar a nossa imaginação.

O efeito estufa é o único fenômeno que pode disparar um desses eventos em que alguns seres vivos se tornam ameaça para a biosfera como um todo?

Falamos muito sobre os perigos do aumento do CO2. Ironicamente, contudo, uma ameaça ainda maior para a vida na Terra pode ser a diminuição extrema dos níveis desse mesmo gás mais uma vez, causada pelos seres vivos. Corais e outros animais marinhos sequestram quantidades gigantescas de CO2da atmosfera ao "fabricar" estruturas calcárias como as conchas. Suponha que o efeito estufa tenha sido abortado. Em algumas centenas de milhões de anos 500 milhões, digamos, o que não é muito tempo em termos geológicos , a quantidade de CO2 poderá baixar a um nível tal que as plantas se verão incapacitadas de realizar a fotossíntese. E com isso estaria rompida toda a cadeia de alimentação que permite à vida se reproduzir. Muito gás carbônico, pouco gás carbônico: as duas situações são potencialmente desastrosas. Entre todos os seres vivos, somos os únicos que dispõem de ciência para entender esses perigos e nos contrapor a eles. Teremos de guiar as mudanças no planeta e na biosfera se quisermos continuar aqui por milhões de anos.

Colonizar outros planetas seria uma opção para a espécie humana?
 
Infelizmente, creio que não. Os planetas vizinhos são hostis demais à vida. É mais fácil colonizar a Antártica do que Marte. E, dadas as distâncias e a escala temporal envolvidas, não vejo como produzir naves capazes de nos levar a planetas distantes. A Terra é só o que temos.
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Original no site da Veja/Abril: http://bit.ly/9J5UEP

domingo, 7 de março de 2010

Os gigolôs de terremoto


Até terremoto tem seu lado bom, imaginaram os estrategistas do Planalto no dia em que o Haiti acabou. Desde 2004 no comando da força de paz da ONU, ferido pela morte de Zilda Arns, de um diplomata e de 17 soldados, o Brasil conseguira com a tragédia o trunfo que faltava para assumir, livre de concorrentes, a condução das operações internacionais destinadas a ressuscitar o país em frangalhos. E então tomou forma a má idéia: que tal aproveitar a favorável conjunção dos astros para fazer do Haiti um protetorado da potência regional que Lula criou?

Eufóricos com o surto de inventividade, os alquimistas federais transformaram o velório de Zilda Arns em comício e escalaram Gilberto Carvalho para o lançamento, à beira do caixão, do novo projeto nacional. A frase de abertura surpreendeu os parceiros de roda de conversa: ”O Brasil perdeu uma grande militante e ganhou uma grande padroeira”. Alheio ao espanto provocado pela demissão sumária de Nossa Senhora Aparecida, substituída sem anestesia pela fundadora da Pastoral da Criança, o secretário particular do presidente foi ao que interessava: “Devemos adotar o Haiti a partir de agora. Temos até uma mártir lá”.

“Vou me empenhar para que Zilda Arns ganhe o Prêmio Nobel da Paz”, emendou Lula na roda ao lado. Expressamente proibida pelos organizadores do Nobel, a premiação póstuma foi autorizada uma única vez, para atender a circunstâncias excepcionais. Em 1961, o estadista sueco Dag Hammarskjöld, secretário-geral da ONU por muitos anos, já estava escolhido quando, às vésperas do anúncio formal, morreu num acidente aéreo.

Enquanto Lula lançava candidaturas sem chances em cerimônias fúnebres, Nelson Jobim e Celso Amorim articulavam o movimento de resistência à invasão do Haiti por soldados e médicos americanos, armados de remédios, alimentos e equipamentos de socorro. A coleção de fiascos começou com a tentativa de retomar o controle do aeroporto da capital. Quando preparava a contra-ofensiva, Jobim soube que os ianques estavam lá a pedido do governo haitiano.

Se fosse menos primitivo, o Brasil teria aproveitado a vigorosa entrada em cena dos EUA para associar-se à única superpotência do planeta e aprender o que não sabe. No pós-guerra, por exemplo, os americanos organizaram a reconstrução do Japão e da Alemanha. O Brasil não consegue lidar sequer com enchentes de médio porte e é um país ainda em construção. Mas Lula acha que está pronto. E o governo desoladoramente jeca preferiu disputar com os americanos o papel de protagonista.

Passada uma semana, só conseguiu ficar ainda mais longe da vaga no Conselho de Segurança da ONU. É o que atesta o resumo da ópera publicado neste 19 de janeiro pelo jornal espanhol Vanguardia, editado em Barcelona. “O terremoto ocorrido há uma semana desnudou a incapacidade da Organização das Nações Unidas para fazer frente a um desastre de tais dimensões. A onerosa missão dos 8.300 capacetes azuis não serviu para nada no momento de enfrentar a emergência e organizar a ajuda aos haitianos. O Brasil, que tem aspirações ao status de potência regional latino-americana, mostrou-se, como coordenador das forças da ONU, incapacidade e falta de liderança”.

Nesta terça-feira, enquanto os haitianos imploravam pela salvação que teima em demorar, Celso Amorim continuava implorando por conversas com Hillary Clinton. Enquanto soldados brasileiros lutavam pelos flagelados, Nelson Jobim lutava para prolongar por cinco anos a permanência no Haiti das tropas que visita quando lhe convém.

Tanto os brasileiros que morreram em combate quanto os que continuam no Haiti merecem admiração e respeito. São heróis. Políticos que ignoram o pesadelo inverossímil para concentrar-se em disputas mesquinhas são gigolôs de terremoto.
 
 
Publicado na coluna do Augusto Nunes do site da Veja em 19/01/2010 http://bit.ly/4NNXOs

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Matéria da Veja

Brasil

Coisa de maluco

Ai, ai... Um decreto do governo defende a censura à imprensa
e ataca o direito de propriedade. Pelo jeito, eles não desistem

DESUMANO

O secretário Paulo Vannuchi, ex-militante de organização terrorista e artífice do decreto: se não foi com revólver, vai com caneta
 
Era pior do que parecia - e a aparência já não era nada boa. Em dezembro, o Decreto dos Direitos Humanos, gestado pelo secretário especial de Direitos Humanos, o ex-terrorista de esquerda Paulo Vannuchi, provocou uma crise nas Forças Armadas ao propor a revisão da Lei da Anistia e a punição dos militares que cometeram crime de tortura durante o regime ditatorial. O surto de revanchismo constrangeu até o presidente Lula - obrigado a dizer que havia assinado o documento sem lê-lo. A afirmação do presidente fica tanto mais surpreendente agora, quando se revela a amazônica extensão do decreto cuja parte mais relevante ainda deve ser votada no Congresso. É praticamente uma revogação da Constituição Federal na garantia dos direitos democráticos mais básicos. Ao longo de 73 páginas eivadas de vociferações ideológicas e ataques ao "neoliberalismo" e ao agronegócio, o documento volta a propor o controle da imprensa, a prática de referendos e outras práticas de "democracia direta", e a criação de leis que protegem invasores de terra em detrimento de suas vítimas. Nos três casos, fica claro que a preocupação com os "direitos humanos" figura no documento muito menos como propósito do que como pretexto para tentar fazer descer goela abaixo da sociedade propostas que o governo já tentou impingir-lhe de outras formas, sem sucesso.


Além de propor punições, que vão de multa à cassação de outorgas, a veículos de comunicação que publiquem informações consideradas contrárias aos direitos humanos, o decreto prevê um "acompanhamento editorial" das publicações de modo a elaborar um ranking de veículos que mais respeitam ou violam os ditos direitos (da forma como eles são compreendidos pelo governo, evidentemente). Em relação à questão agrária, as medidas que o Executivo pretende aprovar no Congresso não são menos estarrecedoras: o governo quer a "priorização" de "audiências públicas" entre fazendeiros e sem-terra antes que a Justiça conceda liminares no caso de invasões. Se houver mandado de reintegração de posse, o decreto sugere, candidamente, que o cumprimento da ordem seja "regulamentado". Como liminares constituem, por definição, medidas urgentes que se destinam a evitar prejuízos e ordem judicial é para ser cumprida e não regulamentada, resta evidente que o decreto visa a proteger os invasores e obstruir o acesso dos fazendeiros à Justiça.

O decreto produzido pelo ex-terrorista de esquerda Vannuchi - com a colaboração dos ministros Tarso Genro, da Justiça, e Franklin Martins, da Comunicação Social, sempre eles - não se limita, porém, a lançar ideias sobre como censurar a imprensa, extinguir o direito à propriedade e emular o sistema chavista de "consultas populares" como forma de neutralizar os poderes da República. Numa espécie de samba do petista doido, ele dispõe ainda sobre assuntos que vão do apoio às organizações de catadores de materiais recicláveis à mudança de nomes de ruas e prédios públicos - aqueles que não estiverem de acordo com o gosto dos bolcheviques que ora habitam o Planalto, claro.

Na juventude, o secretário Vannuchi tentou transformar o Brasil em uma ditadura comunista por meio da guerrilha - ele foi militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização terrorista esquerdista. Agora, no crepúsculo da vida, tenta fazê-lo à base de canetadas. De uma forma e de outra, o ex-terrorista de esquerda Vannuchi entrou para a história pela porta dos fundos. Seu decreto é como achar que se pode matar inocentes em nome de uma causa política: coisa de maluco.

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