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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um grande discurso de Serra

Nos últimos anos, as manifestações do governador paulista José Serra foram tão irrelevantes e anódinas que desanimei de tentar encontrar alguma consistência em seus discursos. Daí ter passado batido no discurso de ontem, na cerimônica de homenagem a Tancredo Neves.

Fui alertado, agora à noite, pela Maria Inês: um senhor discurso, que acabou nublado pelo título banal do Estadão. Aliás, o jornalismo político é incapaz de tratar qualquer tema se não for pela ótica do conflito.

Luis Nassisf
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Do Estadão.com.br

Serra critica PT e reivindica bandeira social para tucanos

Em discurso no Congresso, tucano diz que partido de Lula foi um dos principais beneficiários das mudanças implementadas no País na era FHC

Ana Paula Scinocca

BRASÍLIA

Provável concorrente do PSDB à Presidência, o governador de São Paulo, José Serra, aproveitou cerimônia em homenagem ao centenário de nascimento do presidente Tancredo Neves, ontem no Congresso, para, em discurso de candidato, resgatar para a oposição a bandeira do desenvolvimento social e esvaziar a tese de que o PT seria o principal responsável pelos avanços do País. No discurso, Serra lembrou o radicalismo do PT e disse que o partido de Lula foi um dos principais beneficiários das mudanças implementadas principalmente nos dois governos tucanos.

“O PT acabou por ser, por paradoxal que pareça, um dos principais beneficiários da eleição do primeiro presidente civil e das conquistas sociais e culturais da Constituição e soube, posteriormente, ao longo de seus períodos de governo, colher bons frutos de mudanças institucionais e práticas, como o Plano Real, o Proer (extinto programa de estímulo ao sistema financeiro nacional) e a Lei de Responsabilidade Fiscal”, afirmou ao mencionar programas criados ou consolidados na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso. O governador não citou os nomes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem de Fernando Henrique.

Ao fazer um histórico da Nova República, Serra disse que a vitória do partido do presidente Lula, em 2002, foi uma das alternâncias de poder “mais contrastantes” no País, embora, disse ele, o PT tenha sido “encarado, a princípio, se não como força desestabilizadora, ao menos de comportamento radical e deliberadamente à margem da política nacional”.

O governador, novamente sem citar o nome de Fernando Henrique, disse que o País conseguiu grandes avanços nos últimos anos e ressaltou a derrubada da superinflação e o “problema persistente da dívida externa herdada”. Destacou também o começo de uma “retomada promissora do crescimento econômico”, além da “expansão do acesso das camadas de rendimentos modestos ao crédito e ao consumo, inclusive de bens duráveis”.

HERANÇA

Serra disse que os futuros governantes do País devem “assumir com humildade e coragem” a herança dos 25 anos de democracia no País. “Não para negar o passado, mas para superá-lo, a fim de fazer mais e melhor.” Para Serra, embora o País tenha avançado, a estabilidade econômica não é garantia de um futuro de autossustentação para o Brasil. “Assim como não somos escravos dos erros do passado, tampouco devemos crer que a eventual sabedoria dos acertos de ontem se repetirá invariavelmente hoje e amanhã. A estabilidade, o crescimento e os ganhos de consumo ainda não têm garantidas as condições de sustentabilidade no médio e no longo prazos.”

Ele disse que o Brasil de hoje tem a cara e o espírito dos fundadores da Nova República. “Senso de equilíbrio e proporção; moderação construtiva na edificação de novo pacto social e político; apego à democracia, à liberdade e à tolerância; paixão infatigável pela promoção dos pobres e excluídos, pela eliminação da pobreza e pela redução das desigualdades.” Além de Serra, a cerimônia reuniu também o governador de Minas, Aécio Neves, neto de Tancredo.

TRECHOS DO DISCURSO DE JOSÉ SERRA

ELOGIOS

“Sr. presidente José Sarney, a quem agradeço a oportunidade de voltar a esta tribuna, depois dos anos que passei aqui, no Senado, a quem cumprimento pelo discurso hoje feito, um verdadeiro documento histórico, e a quem cumprimento, também, pelo papel que teve no processo de transição do Brasil à democracia – se V. Exa. me permite, o seu grande momento na vida pública. Cumprimento também o deputado Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, nosso companheiro há muitas décadas, e o meu queridíssimo amigo e governador Aécio Neves. Tive a oportunidade de conhecer o Aécio precisamente quando ele era secretário particular do presidente Tancredo Neves, há algumas décadas, de quem ele veio a se tornar o grande herdeiro político, não só dos ensinamentos, mas também de toda a experiência daquele seu avô.”

NOVA REPÚBLICA

“Esta Nova República, da qual Tancredo Neves foi um dos principiais, se não o principal fundador, completa neste mês de março 25 anos, precisamente quando Tancredo deveria tomar posse, no dia 15 de março. Eu tenho afirmado que este período, estes 25 anos tratam da História do Brasil como, na verdade, o período em que conteve o maior número de conquistas de indiscutível qualidade política e de qualidade humana. Em primeiro lugar, o País nunca havia conhecido um quarto de século ininterrupto de democracia de massas.”

INFLAÇÃO

“A Nova República teve seus dissabores. Ao contrário da fase recente de estabilidade, boa parte dos últimos 25 anos se desenrolou sob o signo da superinflação, com agravamento dos conflitos distributivos a eles associados. E não faltaram, depois, grandes crises financeiras mundiais: 1994 -1995, 1997-1998 e 2007-2008, a maior desde 1929. Ficamos, ainda, muitos anos sem crescimento econômico sustentado. Não faltaram reveses sérios, que, em outras épocas, teriam abalado as instituições. Lembro-me da frustração do Plano Cruzado e dos numerosos planos que se sucederam, alguns com medidas draconianas, como o confisco da poupança.”

ALTERNÂNCIA DE PODER

“Não obstante tudo isso, a Nova República, fundada por Tancredo, conseguiu completar com normalidade uma conquista que permaneceu fora do alcance dos regimes do passado: a alternância tranquila no Poder de forças político-partidárias antagônicas, que, no passado, provocava sempre a polarização e a radicalização na sociedade brasileira, como aconteceu, por exemplo, em 1954-1955, e, com consequências mais graves, de 1961 a 1964. Mas, neste último quarto de século, a alternância passou a fazer parte das conquistas adquiridas. Já ninguém mais contesta a legitimidade das vitórias eleitorais e do natural desejo dos adversários vitoriosos de governar sem perturbações.”

PT

“O PT, aliás, acabou por ser, por paradoxal que pareça, um dos principais beneficiários da eleição do primeiro presidente civil e das conquistas sociais e culturais da nova Constituição, e soube, posteriormente, ao longo de seus períodos de governo, colher bons frutos de mudanças institucionais e práticas como o Plano Real, o Proer e a Lei de Responsabilidade Fiscal.”

DÍVIDA

“Pois bem, o período de um quarto de século da Nova República, sem repressão, sem poderes especiais, conseguiu finalmente derrubar a superinflação. Fez mais: resolveu o problema persistente da dívida externa, herdado, e até deu começo a uma retomada promissora do crescimento econômico e à expansão do acesso das camadas de rendimento modesto ao crédito e ao consumo, inclusive de bens duráveis. Mas duas observações acautelatórias se impõem a esta altura. A primeira é que as conquistas da segunda redemocratização não foram resultado de milagres instantâneos, custaram esforços enormes e, com frequência, só se deram depois de muitas tentativas e erros. É por isso que o período tem de ser analisado na sua integridade, êxitos e fracassos juntos, já que esses são partes inseparáveis do processo de aprendizagem coletiva, para o qual contribuíram numerosos dirigentes e cidadãos numa linha de continuidade, não de negação e de ruptura. Por exemplo, o Plano Real não teria acontecido não fossem as experiências com os planos anteriores. A segunda reflexão acautelatória é que nenhuma conquista é definitiva, nenhum progresso no Brasil e no mundo é garantido e irreversível. Assim como não somos escravos dos erros do passado, tampouco devemos crer que a eventual sabedoria dos acertos de ontem e de hoje se repetirá invariavelmente hoje e amanhã.”
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Original no blog: Luis Nassif on line: http://bit.ly/aDbr6T
Capturado em 05/03/2010

sábado, 3 de abril de 2010

Herança Maldita

OS TUCANOS dizem que uma "herança maldita" do governo Lula será o deficit em transações correntes. Pelo nome da coisa, nota-se que não será um tema muito popular na campanha eleitoral. Do que se trata?

Também conhecido como "deficit externo", trata-se apenas da diferença do valor das exportações e importações de produtos e serviços. Inclui a conta do comércio com o exterior, dos gastos dos cidadãos com viagens e cartão de crédito internacional, fretes, aluguel de equipamentos, lucros e dividendos remetidos e recebidos por empresas etc.

E daí? Ter um deficit em transações correntes significa que entram menos dólares do que saem, considerada apenas essa parte das contas externas de um país. A fim de compensar a diferença, é preciso que entre moeda forte por outro canal contábil (chamado "conta de capitais", de investimentos estrangeiros em empresas e títulos brasileiros).

Ao menos segundo a experiência histórica, o deficit externo costuma ser coberto por investimentos até certo tamanho. Quando o deficit se torna grande demais, o investidor estrangeiro desconfia. Um país com grandes deficit está consumindo e/ ou investindo acima de seus meios. A partir de certo ponto, pode-se tornar incapaz de honrar seus compromissos externos (dívida externa, remessa de lucros etc.).

Quando tal desconfiança começa a se tornar crítica, pode ocorrer a redução de novos investimentos e/ou a fuga de capitais. Tal crise redunda numa grande desvalorização da moeda, alguma inflação e/ou grande arrocho do consumo (via alta de juros e/ou corte de gastos públicos).

Esse tipo de rolo é um clássico da história econômica do Brasil. O episódio mais recente desse tipo de crise ocorreu na transição de FHC 1 para FHC 2, em 1998-99. O problema se arrastou por todo FHC 2. Foi remediado com a quase recessão de 2002-03 e pelo superaquecimento da economia mundial, que engordou as exportações brasileiras. Na reeleição de FHC, o deficit externo estava em torno de 4% do PIB.

Segundo dados divulgados ontem, tal deficit foi a 1,66% do PIB. Na comparação, parece pouco. Mas tucanos dizem que o governo Lula tornou a economia brasileira um cabra marcado para ter deficit, o que é difícil de avaliar. Assim como é difícil saber qual o tamanho do deficit externo financiável. De resto, a resposta depende de como a China vai crescer, do que vai ser das economias ricas do Ocidente e de escolhas incertas dos donos do capital.

Deficit externos resultam de consumo excessivo: de salários relativamente altos, dada a produtividade da economia, e de gastos excessivos do governo. E também de moeda forte demais. A crítica tucana se concentra nos gastos públicos, de fato demasiados, e no câmbio (no real forte). Atribuem parte da valorização do real a taxas de juros altas demais. Note-se que esses fatores do deficit externo estão relacionados uns aos outros -dizer qual deles é o determinante depende do gosto teórico ou político do freguês.

Aumentar a produtividade da economia é uma solução de longo prazo para o deficit. No curto prazo, sobra a redução do consumo do governo e algum arrocho do valor real dos salários. Qual vai ser a proposta tucana?

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 23/03/2010

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