Por Al Gore
Por Que o Público Não Sabe do Tamanho da Crise Ambiental
Al Gore é ex-vice-presidente dos EUA e ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua ação em defesa do equilíbrio ecológico em escala global. No texto a seguir ele mostra a conspiração criminosa de alto nível − envolvendo o governo do ex-presidente George W. Bush e companhias multinacionais − para que pouco ou nada seja feito em relação à crise ambiental causada pelo excesso de dióxido de carbono na atmosfera. A conspiração é internacional e está longe de ser vencida − como demonstra, por exemplo, a estranha omissão que há no Brasil diante do desafio criado pela mudança climática.
(O Editor)
Al Gore é ex-vice-presidente dos EUA e ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua ação em defesa do equilíbrio ecológico em escala global. No texto a seguir ele mostra a conspiração criminosa de alto nível − envolvendo o governo do ex-presidente George W. Bush e companhias multinacionais − para que pouco ou nada seja feito em relação à crise ambiental causada pelo excesso de dióxido de carbono na atmosfera. A conspiração é internacional e está longe de ser vencida − como demonstra, por exemplo, a estranha omissão que há no Brasil diante do desafio criado pela mudança climática.
(O Editor)
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O risco ambiental estratégico mais bem conhecido e, de longe, o mais sério é a crise climática. Para mim, esta questão está em uma categoria especial, em função dos problemas que acarreta. Preocupo-me particularmente porque a grande maioria dos cientistas ambientais mais respeitados de todo o mundo fez soar um alarme claro e urgente. A comunidade internacional − incluindo os EUA − deu início a uma enorme iniciativa, há vários anos, para montar um levantamento científico mais preciso com as evidências cada vez mais numerosas de que o ambiente da Terra está sofrendo danos severos e potencialmente irreparáveis decorrentes do acúmulo sem precedentes de poluentes na atmosfera. Em essência, esses cientistas estão dizendo às pessoas de todas as nações que o aquecimento global causado pelas atividades humanas tornou-se uma séria ameaça ao nosso futuro comum e deve ser confrontado. (...) Apesar das claras evidências disponíveis ao nosso redor, existem muitas pessoas que continuam a acreditar que o aquecimento global não é problema coisa nenhuma. E não é para menos, porque são alvo de uma campanha enorme e muito bem organizada de desinformação, impulsionada pelo governo [do ex-presidente George Bush] e fartamente financiada por empresas poluidoras que estão determinadas a deter qualquer ação que reduza as emissões de gases que contribuem para o efeito estufa, que causa o aquecimento global, por medo de que seus lucros sejam afetados se precisarem parar de lançar tanta poluição na atmosfera.
Ideólogos de direita ricos se juntaram às empresas mais cínicas e irresponsáveis nos setores de petróleo, carvão e mineração para contribuir com grandes somas de dinheiro para financiar grupos de fachada pseudocientífica que têm como especialidade semear confusão sobre o aquecimento na mente do público. Publicam um “relatório” enganoso depois do outro, fingindo que existe discordância significativa dentro a comunidade científica em áreas em que, na verdade, há amplo consenso de base.
As técnicas empregadas foram usadas com êxito pela primeira vez anos antes, pela indústria do tabaco, em sua longa campanha para criar incerteza na mente do público a respeito dos problemas de saúde causados pelo fumo. De fato, alguns dos seguidores dessa cartilha que receberam dinheiro das empresas de tabaco durante aquela iniciativa agora estão sendo financiados por empresas de carvão e de petróleo em troca de sua disposição de dizer que o aquecimento global não é real.
No início de 2007, quando o novo relatório científico internacional do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas estava sendo divulgado, um desses grupos de fachada, financiado pela ExxonMobil, ofereceu dez mil dólares por cada pseudo-estudo ou dissertação que contestasse as descobertas da comunidade científica. Esta estratégia foi adotada por décadas pelas empresas mais poluidoras.
Em um memorando franco a respeito de estratégia política para líderes republicanos, o especialista em opinião pública Frank Luntz expressou preocupação de que os eleitores poderiam punir candidatos que apoiavam a poluição, mas ofereceu conselhos sobre a principal tática para desarmar a questão: “Se o público chegar a acreditar que as questões científicas estão definidas, suas opiniões a respeito do aquecimento global vão mudar de acordo com isso. Portanto, é necessário continuar fazendo com que a ausência de certeza científica seja um item fundamental no debate (....).”
No entanto, o governo Bush foi muito além das recomendações de Luntz. No caso da crise global do clima, Bush menosprezou publicamente cientistas de seu próprio governo que redigiram relatórios oficiais ressaltando o perigo extremo que ameaça os EUA e o mundo. No lugar destes documentos, ele preferiu análises com profundas falhas, cheias de interesses particulares, financiadas pela maior empresa de petróleo do mundo, a ExxonMobil. Chegou até a censurar elementos de um relatório da Agência de Proteção Ambiental que falava do aquecimento global e mandar substituir parte do conteúdo do relatório oficial do governo por trechos do documento da ExxonMobil. As consequências de aceitar o conselho da ExxonMobil – de não fazer nada para conter o aquecimento global – são quase impensáveis.
A ExxonMobil teve influência especial sobre o (...) governo [de George W. Bush] e tem sido mais ativa que qualquer outra empresa poluidora em suas iniciativas descaradas para tentar manipular as percepções públicas da realidade e da seriedade da crise climática. Diversas organizações dedicadas à integridade científica apontaram o dedo para as práticas vergonhosas da ExxonMobil, mas, até agora, sem resultados.O risco ambiental estratégico mais bem conhecido e, de longe, o mais sério é a crise climática. Para mim, esta questão está em uma categoria especial, em função dos problemas que acarreta. Preocupo-me particularmente porque a grande maioria dos cientistas ambientais mais respeitados de todo o mundo fez soar um alarme claro e urgente. A comunidade internacional − incluindo os EUA − deu início a uma enorme iniciativa, há vários anos, para montar um levantamento científico mais preciso com as evidências cada vez mais numerosas de que o ambiente da Terra está sofrendo danos severos e potencialmente irreparáveis decorrentes do acúmulo sem precedentes de poluentes na atmosfera. Em essência, esses cientistas estão dizendo às pessoas de todas as nações que o aquecimento global causado pelas atividades humanas tornou-se uma séria ameaça ao nosso futuro comum e deve ser confrontado. (...) Apesar das claras evidências disponíveis ao nosso redor, existem muitas pessoas que continuam a acreditar que o aquecimento global não é problema coisa nenhuma. E não é para menos, porque são alvo de uma campanha enorme e muito bem organizada de desinformação, impulsionada pelo governo [do ex-presidente George Bush] e fartamente financiada por empresas poluidoras que estão determinadas a deter qualquer ação que reduza as emissões de gases que contribuem para o efeito estufa, que causa o aquecimento global, por medo de que seus lucros sejam afetados se precisarem parar de lançar tanta poluição na atmosfera.
Ideólogos de direita ricos se juntaram às empresas mais cínicas e irresponsáveis nos setores de petróleo, carvão e mineração para contribuir com grandes somas de dinheiro para financiar grupos de fachada pseudocientífica que têm como especialidade semear confusão sobre o aquecimento na mente do público. Publicam um “relatório” enganoso depois do outro, fingindo que existe discordância significativa dentro a comunidade científica em áreas em que, na verdade, há amplo consenso de base.
As técnicas empregadas foram usadas com êxito pela primeira vez anos antes, pela indústria do tabaco, em sua longa campanha para criar incerteza na mente do público a respeito dos problemas de saúde causados pelo fumo. De fato, alguns dos seguidores dessa cartilha que receberam dinheiro das empresas de tabaco durante aquela iniciativa agora estão sendo financiados por empresas de carvão e de petróleo em troca de sua disposição de dizer que o aquecimento global não é real.
No início de 2007, quando o novo relatório científico internacional do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas estava sendo divulgado, um desses grupos de fachada, financiado pela ExxonMobil, ofereceu dez mil dólares por cada pseudo-estudo ou dissertação que contestasse as descobertas da comunidade científica. Esta estratégia foi adotada por décadas pelas empresas mais poluidoras.
Em um memorando franco a respeito de estratégia política para líderes republicanos, o especialista em opinião pública Frank Luntz expressou preocupação de que os eleitores poderiam punir candidatos que apoiavam a poluição, mas ofereceu conselhos sobre a principal tática para desarmar a questão: “Se o público chegar a acreditar que as questões científicas estão definidas, suas opiniões a respeito do aquecimento global vão mudar de acordo com isso. Portanto, é necessário continuar fazendo com que a ausência de certeza científica seja um item fundamental no debate (....).”
No entanto, o governo Bush foi muito além das recomendações de Luntz. No caso da crise global do clima, Bush menosprezou publicamente cientistas de seu próprio governo que redigiram relatórios oficiais ressaltando o perigo extremo que ameaça os EUA e o mundo. No lugar destes documentos, ele preferiu análises com profundas falhas, cheias de interesses particulares, financiadas pela maior empresa de petróleo do mundo, a ExxonMobil. Chegou até a censurar elementos de um relatório da Agência de Proteção Ambiental que falava do aquecimento global e mandar substituir parte do conteúdo do relatório oficial do governo por trechos do documento da ExxonMobil. As consequências de aceitar o conselho da ExxonMobil – de não fazer nada para conter o aquecimento global – são quase impensáveis.
A Sociedade Real − o equivalente no Reino Unido à Academia Nacional de Ciências dos EUA – renovou formalmente seu pedido para que a ExxonMobil parasse de disseminar ao público informações “imprecisas”, “que induzem a muitos erros”, que “não condizem” com o que se aceita na comunidade científica a respeito da crise climática. A Sociedade Real também solicitou à ExxonMobil que pare de pagar milhões de dólares por ano a organizações que “representam de maneira enganosa a ciência das mudanças climáticas, pela negação total das evidências de que os gases responsáveis pelo efeito estufa são responsáveis pelas alterações no clima, ou por exagerar a quantidade e a importância da incerteza relativa ao conhecimento, ou por transmitir uma impressão falsa a respeito dos impactos potenciais da mudança climática antropogênica.” [1] Outra organização de cientistas, a norteamericana União de Cientistas Responsáveis (Union of Concerned Scientists, UCS) preparou um extenso relatório em 2006 mostrando que “a Exxon Mobil pagou quase 16 milhões de dólares entre 1998 e 2005 a uma rede de 43 empresas de defesa de causas que buscam confundir o público a respeito da ciência do aquecimento global.”
“A ExxonMobil produziu incerteza a respeito das causas humanas do aquecimento global, da mesma maneira que as empresas de tabaco negaram que seu produto causava câncer de pulmão”, disse Alden Meyer, diretor de estratégia e planos de ação da UCS. “Investimentos modestos, porém eficientes, permitiram que a gigante do petróleo alimentasse dúvidas a respeito do aquecimento global para postergar ações do governo, da mesma maneira que o tabaco fez por mais de quarenta anos.”
Dois senadores dos EUA, a republicana Olympia Snowe, do Maine, e o democrata Jay Rockefeller, da Virgínia Ocidental, também se uniram à iniciativa crescente de persuadir a ExxonMobil a se comportar de maneira ética. Os dois senadores disseram que a ousada e descarada iniciativa da ExxonMobil para disseminar a ignorância e a confusão a respeito da crise climática “prejudicou a reputação dos EUA”. Dizendo que a representação errônea que a ExxonMobil faz da ciência não é honesta, manifestaram-se contra “o extenso financiamento da Exxon Mobil a uma câmara de eco’ de pseudociência que não conta com a aprovação de especialistas.”
O motivo que a Exxon Mobil tem para se envolver nessa iniciativa extraordinária e incansável de dissimulação em massa com certeza não tem mistério nenhum. No início de 2007, a empresa anunciou o maior lucro no ano anterior, 2006, de qualquer corporação da história do país.
NOTA:
[1] “Antropogênica”: causada pela civilização humana.
O texto acima é um trecho da obra “O Ataque à Razão”, de Al Gore, Ed. Manole, SP, 2007, pp. 179-182.
Veja os textos da seção “Crise Climática e Mudança de Civilização”, no website www.filosofiaesoterica.com. Sobre a relação entre as ideias de Al Gore e a filosofia esotérica, leia ali o artigo “Al Gore e a Tradição Esotérica”.
Texto obtido no endereço:
http://transnet.ning.com/profiles/blog/show?id=2018942%3ABlogPost%3A30646&xgs=1
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