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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pesquisador defende ações com empresas por biodiversidade

Amália Safatle
De São Paulo

Imagine um agricultor que, para sobreviver, precisa comer as sementes que tem para plantar. Imagine um banco que não vive mais dos juros que cobra, mas sim consome o capital que teria para emprestar. Ambos estão com os dias contados, pois nesses casos a busca de sobrevivência no curto prazo compromete de modo irreversível o dia amanhã.
Esta é a figura de linguagem que Jason Clay, PhD em Antropologia e Agricultura pela Universidade de Cornell, nos EUA, e vice-presidente sênior da ONG WWF usa para ilustrar o fato de que nós - humanidade - estamos na mesma situação em relação à Terra. Desde 1990, estamos no vermelho, consumindo hoje 1,3 planeta. Onde mais queimamos a linha foi na questão da perda de biodiversidade, protagonizando a única espécie capaz de provocar a extinção em massa e acelerada de todas que existem. E extinção, vale lembrar, é para sempre.
Diante de um quadro de aumento populacional e de consumo, com países emergentes almejando o nível de afluência das nações ricas, as pressões sobre a biodiversidade só tendem a crescer. Ao mesmo tempo, as decisões no âmbito das Nações Unidas para conservar a biodiversidade são lentas, pois exigem consenso de todos países participantes, que possuem interesses divergentes e se estendem em longuíssimas negociações.
Com pouco tempo para revertermos o ritmo de perda da biodiversidade, Jason Clay, defende uma iniciativa de ordem bem prática, específica, quase cirúrgica: atuar junto a algumas empresas escolhidas a dedo, que sejam capazes de mover uma extensa cadeia de valor, trabalhem com produtos de consumo prioritários e atuem em regiões estratégicas em termos de biodiversidade.
Ele mapeou 35 regiões ricas em diversidade biológica e literalmente vitais para o equilíbrio ecológico. E também identificou 15 commodities que, produzidas de maneira insustentável, representam as maiores ameaças a esses lugares devido ao desmatamento, à perda de solo fértil, à exploração da água, ao uso de pesticidas, à sobrepesca, entre outros fatores.
Dados 35 lugares e 15 commodities, Clay perguntou-se como podem ser modificados os modos de produção, de modo a conservar a biodiversidade. Certamente será complicado trabalhar com 6,9 bilhões de consumidores (a população mundial) que falam 7 mil línguas diferentes e conscientizar todos a ponto de mudarem instantaneamente seus modos de consumo. E mesmo que queiram mudar, haveria oferta de produtos mais sustentáveis para todos ao mesmo tempo?Também será difícil lidar com 1,5 bilhão de produtores. Mas com 300 a 500 empresas, que controlam no mínimo 70% do comércio de cada uma das 15 commodities, a ideia começa a se tornar mais factível. "Se mudarmos essas companhias e a maneira como fazem negócios, o restante acontecerá automaticamente", defende Clay, em palestra que pode ser acessada em www.ted.com/talks/jason_clay_how_big_brands_can_save_biodiversity.html.
Em uma visão mais detalhada, Clay descobriu que 100 dessas 300 empresas estão ligadas de alguma a 25% do comércio das 15 commodities. "E com 100 companhias, nós podemos trabalhar". Ainda que 25% não seja um percentual tão alto, o pesquisador explica que essas grandes marcas têm o poder de influenciar a rede de fornecedores com a qual trabalham, e criar um efeito em cadeia.
Companhias podem 'empurrar' produtores mais rapidamente do que os consumidores seriam capazes."
E por que as empresas seriam convencidas a transformar seu modo de operar e fazer negócios levando em conta a conservação da biodiversidade e processos mais sustentáveis. Mais que o risco reputacional, está em jogo a própria existência das commodities, que dependem de um ambiente em equilíbrio.
Clay conta que 100 empresas já foram identificadas nos últimos dois anos. Nos últimos 18 meses, foram assinados acordos com 40 delas. Nos próximos 18 meses, ele acredita que serão firmados acordos com mais 40. Uma das empresas que cita é a Cargill que embora ainda esteja engatinhando nesse processo, ao menos aderiu a ele. É uma empresa chave, responsável por 20% a 25% da produção global de óleo de palma. "Se ela toma essa decisão, pelo menos metade da indústria mundial de palma se mexe", aposta. Outros exemplos que menciona são a Mars e a Coca-Cola.
"Essas companhias começaram a pensar diferente. Tudo o que possa ter sido sustentável em um mundo com 6 bilhões de habitantes não será em um mundo com nove", afirma.
Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Devastação x preservação


Devastar ecossistema e biodiversidade é mais oneroso do que preservá-los



Manter os ecossistemas preservados é menos oneroso que devastar. Essa é uma das conclusões do relatório A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para Políticas Locais e Regionais, apresentado ontem em Curitiba. O relatório faz parte de uma série de estudos que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) está lançando para a Conferência da Biodiversidade (COP-10) em Nagoya, Japão, em outubro.

A reportagem é de Evandro Fadel e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 10-09-2010.
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O estudo, encomendado pelo G-8 + 5 (grupo dos países mais industrializados mais Brasil, África do Sul, China, Índia e México) e conhecido em inglês como Teeb, traz uma série de exemplos de regiões que lucraram com o uso responsável dos recursos naturais. Destaca 120 exemplos de decisões políticas que alteraram realidades degradantes ao meio ambiente, contando com a participação da comunidade - como a cidade de Curitiba, no Brasil. O objetivo do relatório é chamar a atenção para os benefícios econômicos globais da biodiversidade e somar forças que permitam ações concretas.

A devastação ambiental representa perdas de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões por ano, segundo o estudo. "Ver o tamanho econômico dos ecossistemas e deixá-los de fora das contas nacionais é um erro. Deixando isso invisível, você está criando uma falta de consciência", afirmou o economista indiano Pavan Sukhdev, coordenador do estudo.

Segundo ele, as comunidades pobres e rurais, que vivem em torno de florestas e dela retiram parte do sustento, são as que mais sofrem. No Brasil, ele estimou o número em 20 milhões de pessoas. "A biodiversidade é uma necessidade para os pobres e não apenas uma ligação afetiva para os ricos", afirmou Sukhdev.

Na questão da Amazônia, o economista acentuou que vale o "princípio do perigo". Segundo ele, a perda da Amazônia pode reduzir o suprimento de água e causar um prejuízo de US$ 1 trilhão para a produção agrícola de Brasil, Paraguai e Argentina. "Temos de tomar medidas de precaução para evitar que isso aconteça, pois é melhor errar pelo lado da precaução", diz.

O economista afirmou que o Brasil é uma "superpotência" em biodiversidade. O representante do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, concordou com a avaliação do economista, salientando que a biodiversidade no País ainda é tratada como potencial. "Temos as mais extensas florestas e convivemos com taxa grande de desmatamento, além de um aumento no desmatamento no Pantanal, que começa a preocupar", afirmou Dias.


Açaí
Como contribuição, o cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)Carlos Nobre apresentou a possibilidade de agregar valor à produção do açaí como alternativa a outras culturas que degradam a Floresta Amazônica.

Segundo ele, o açaí permite renda de US$ 206 a US$ 2.272 por hectare ao ano, contra US$ 100 a US$ 400 por hectare no caso da madeira ou de US$ 100 a US$ 200 por hectare ao ano para a soja. A pecuária renderia apenas US$ 20 a US$ 70 por hectare ao ano. No entanto, Nobre ressaltou que o produto sai do campo por US$ 200 e chega aos supermercados na Califórnia por US$ 70 mil. O valor é agregado por outras empresas do Sudeste e Sul do Brasil ou de outros países e não beneficia o produtor.


EXEMPLOS BEM-SUCEDIDOS
Vietnã
Nas costas, onde 70% da população está vulnerável a desastres naturais, comunidades passaram a proteger manguezais em vez de construir barreiras. Investimento de US$ 1,1 milhão poupou US$ 7,3 milhões por ano em manutenção dos diques.

Brasil
A cidade de Curitiba conseguiu aumentar a área verde por pessoa de menos de 1 metro/habitante para 52 m/h. Moradores plantaram 1,5 milhão de árvores e incentivos fiscais foram concedidos para estimular áreas verdes.

Equador
Quito, a capital do Equador, desenvolveu um fundo para água. Os recursos pagos pelos moradores do município pela água são investidos na proteção das bacias hidrográficas e no reflorestamento.


PARA ENTENDER
Estudos serão lançados até a COP no Japão
O relatório
Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade faz parte de uma série de cinco estudos que as Nações Unidas lançam até a Conferência da Biodiversidade (COP-10), em Nagoya, Japão, em outubro.
O objetivo do relatório é mensurar o papel dos ecossistemas e da biodiversidade na economia e alertar governantes e empresas para que se desenvolvam sem destruir o ambiente. O relatório é realizado por 140 especialistas de 40 países, com apoio financeiro da Comissão Europeia, Alemanha, Grã-Bretanha, Holanda, Noruega e Suécia. 

Fonte: IHU

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eleições 2010: Em jogo o futuro, não o passado


Quem assiste à propaganda dos partidos no horário eleitoral da televisão fica com a impressão de que está mais em questão um julgamento do passado do que uma proposta para os próximos anos. Discute-se principalmente para saber quem fez mais em termos de programas sociais, culminando com o Bolsa-Família.

Mas a questão real e central não é essa. Deveria ser a estratégia brasileira para os próximos anos, que serão muito difíceis, com a crise econômica global e com o agravamento das chamadas questões ambientais – além dos dramas na educação, na saúde, no saneamento, no desemprego dos jovens, na concentração da renda.

Não é difícil explicar a aprovação do governo atual. O primeiro fator é a manutenção, desde 1994, de baixas taxas de inflação – porque não há nada pior para os segmentos de menor renda que a inflação, que consome os salários já nos primeiros dias de cada mês. O segundo é a manutenção, também desde governos anteriores, de taxas cadentes de desemprego. Terceiro, políticas de ampliação do crédito e de financiamentos populares. E, para culminar, o Bolsa-Família, que consolida e amplia vários programas sociais que vêm desde a década de 1990. Se se quiser discutir mais a fundo, porém, pode-se lembrar que o próprio Bolsa-Família, ao beneficiar diretamente 11 milhões de pessoas e, indiretamente, outros 30 milhões, exige cerca de R$ 12 bilhões por ano. Mas só a juros pagos a bancos e investidores o governo federal tem destinado 15 vezes mais, R$ 182 bilhões no último balanço do economista Ricardo Bergamini (23/8). De janeiro de 2003 a dezembro de 2009 o déficit fiscal nominal gerado pela União soma R$ 708,4 bilhões, ou 4,18% do PIB. A carga tributária da União, de 2002 a 2008, aumentou 12,86% do PIB (era de 22,02% em 2002 e passou para 24,92%). A dívida interna cresceu 142,28%, de R$ 841 bilhões, em 2002, para R$ 2.037,6 bilhões, em 2009.

Tudo isso é importante. Mas como vamos navegar nas águas tempestuosas que se prenunciam? Com que estratégias enfrentaremos as questões centrais do esgotamento progressivo dos recursos e serviços naturais? Qual é nossa estratégia para mitigar mudanças climáticas (que precisa ir muito além de “compromissos voluntários” de redução de emissões) e de adaptação aos eventos extremos já em curso? Essas questões já chegaram até o coração dos sistemas de defesa dos principais países, como mostra a Quadrennial Defense Review, ligada ao Pentágono norte-americano (IPS, 27/8).

Mas, embora vivamos num país relativamente privilegiado, como tem sido escrito aqui tantas vezes – com território continental, quase 13% de toda a água superficial do planeta, de 15% a 20% da biodiversidade global, possibilidade de matriz energética renovável e “limpa” -, deixamos tudo isso para segundo plano ou plano nenhum. Desprezamos o que é fator escasso no mundo e pode ser nossa vantagem comparativa. Enquanto isso, o País parece um fogareiro, com queimadas descontroladas em todo o Norte e Centro-Oeste, sem sabermos exatamente o que fazer e já precisando criar um Fundo de Catástrofes, para o qual a União poderá contribuir com até R$ 4 bilhões, destinados à “cobertura suplementar de riscos para a segurança rural” (e os outros setores?). Ele garantirá às seguradoras e resseguradoras cobertura adicional para os “riscos de seguros rurais em caso de catástrofes climáticas como secas, excesso de chuvas e geadas”. Ou seja, tudo o que já está acontecendo – intensificação de secas e chuvas, eventos extremos, como tem advertido o professor Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, coordenador das políticas da área (Brasil Econômico, 23/8). Ele chama a atenção para o fato de que a temperatura que nos afeta já subiu um grau, na média (em relação a meio século atrás), e que isso é grave. Incêndios, desmatamentos e mais gases poluentes aceleram o processo de mudanças na vegetação da Amazônia, que, por sua vez, reduz a umidade no Sudeste e no Sul. A seu ver, o caminho mais curto e eficiente para reverter o quadro seria cessar a queima de pastagens e restos de colheitas.

Ao mesmo tempo, entretanto, o Ministério do Meio Ambiente anuncia que vai rever o processo de licenciamento ambiental para obras de infraestrutura, com o propósito de chegar a “licenciamentos mais rápidos e eliminar exigências desnecessárias” – como se o retardamento das licenças não se devesse muito mais aos problemas gerados pelos empreendimentos e à insuficiência dos respectivos estudos de impacto ambiental. Na verdade, bastaria que os licenciadores aplicassem um artigo da Resolução 1/86 do Conselho Nacional de Meio Ambiente – que manda examinar antes de tudo se não há alternativas menos problemáticas – para negar a licença.

Um desses casos poderia ser exatamente o da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, cujo contrato com as empresas construtoras o presidente da República assinou na semana passada, antes mesmo de concedida a licença de instalação – o que não deveria ocorrer. Uma usina combatida por centenas de instituições e considerada, na revista do Instituto de Engenharia de São Paulo (Estado, 27/8), “uma vergonha”.

Quem pense que as questões do clima e do sobreúso dos recursos naturais não são prioritárias pode ler algumas frases do livro O que os Economistas Pensam sobre a Sustentabilidade, do jornalista Ricardo Arnt, lançado há pouco (Editora 34). Está lá, nas palavras do ex-ministro Delfim Netto: “Nunca imaginei que fôssemos viver um período em que a evidência da finitude de recursos fosse visível.” Ou do ex-presidente do BNDES e um dos criadores do Plano Real André Lara Resende: “Talvez seja tarde demais para a recuperação do planeta.” Também é possível ler o que o conceituado físico Stephen Hawking disse ao site Big Think: “O ser humano precisa abandonar a Terra nos próximos 100 anos – ou tornar-se uma espécie extinta.”

Que tal discutir isso com os eleitores?

Washington Novaes é jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

Artigo originalmente publicado no O Estado de S.Paulo.

EcoDebate, 06/09/2010

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