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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dia da educação

Do livro de Ladislau Dowbor, TECNOLOGIAS DO CONHECIMENTO: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO (2001):



Terminada a última guerra mundial foi encontrada, num campo de concentração nazista, a seguinte mensagem dirigida aos professores:

Prezado professor,

Sou sobrevivente de um campo de concentração.
Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver.
Câmaras de gás construídas por engenheiros formados.
Crianças envenenadas por médicos diplomados.
Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas.
Mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades.

Assim, tenho minhas suspeitas sobre a Educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos.
Seus esforços nunca deverão produzir mosntros treinados ou psicopatas hábeis.

Ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas."

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Idealismo ou ativismo?

Certamente já deve ter ouvido falar muito sobre esses termos acima, mas é bem possível que não saiba o significado do que cada um deles envolve nem tão pouco qual é o limite da linha que os separa. Em poucas palavras poderemos ver aqui algumas variações e como elas influenciam e conduzem as pessoas a tomarem partido desta ou daquela causa.
Tudo começa com uma IDÉIA, sempre as temos ao longo de nossas vidas, muitas já existem e apenas as adaptamos ás nossas necessidades e outras simplesmente criamos do nada, mais ou menos como estar debaixo de um chuveiro cantando e de repente descobrimos uma solução para um problema que antes parecia insolúvel. Em geral as idéias mais simples são as de
melhor resultado, coisas muito complexas acabam por se perderem na logística de implementá-las.
Ainda assim, quando abraçamos uma idéia somos chamados de IDEALISTAS, defendemos  aquele conteúdo por acreditarmos nele, nos seus conceitos e embasamentos, algumas soam melhores que outras, podem até ficar incubadas esperando uma oportunidade favorável para que se viabilize, ou nunca saem do papel. Toda a idéia que tenha um conteúdo fundamentado
sempre terá maiores chances de ter sucesso.
Quando aceitamos uma ou varias idéias como sendo verdadeiras e queremos que outras pessoas a aceitem também, chamamos de ATIVISTA, mostramos o seu conteúdo e como implementá-las, as expectativas e seu sucesso. Este nome geralmente está muito associado aos problemas ambientais, mas sua amplitude é enorme podendo ser usado em quase tudo o
que se possa defender, independente dos valores já que não estamos aqui classificando como certo ou errado.
Um dos maiores equívocos que o ativista comete é o do RADICALISMO, quando ultrapassamos a fronteira da racionalidade sobre um assunto e o queremos impor á força sobre os demais aparece a figura do radicalista, senhor de toda a verdade não mede esforços e utiliza qualquer meio ao seu alcance para enfiar goela abaixo seus conceitos, suas probabilidades sem lhe dar oportunidade de defesa. Estão em todos os lugares, da religião á política, extremistas ao máximo, semeiam a discórdia e decidem seu futuro sem que você participe, é sempre bom conhecer todos estes aspectos para que não tome as decisões erradas.
Como evitar se tornar um ou aceitar essas imposições? Bem, existe uma coisa chamada “Beber na Fonte do Saber”, que consiste em ir diretamente á origem da informação para que se tenha a absoluta certeza de como chamam na gíria popular, estar comprando alguma “Abobrinha”, sabemos que a informação e a técnica de desinformação caminham juntas e uma tem a finalidade de anular a outra ou induzir ao caminho errado. Já vi casos em que uma mesma informação inicial quando passada de boca em boca ao longo de várias pessoas acaba chegando à ultima com um conteúdo totalmente diferente do original, faça esse teste numa roda de amigos!
Prevaleça-se de adquirir a informação verdadeira na origem seja ela qual for para poder formular uma opinião conceituada e de amplo espectro sobre qualquer assunto, o idealismo deve ser um território livre de tendenciosidades e ter um foco claro sobre o assunto a que se refere, isso é apartidário e denota a utilização correta do processo de civilidade. Dentre as artimanhas utilizadas em qualquer sociedade a condução da opinião publica em prol de interesses de minorias é das piores, por isso sempre beba na fonte do saber.
Colaboração de Ana Paula de Carvalho, 40 anos, engenheira civil, para o EcoDebate, 13/07/2010
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A educação avançará no Brasil?

'Para continuar avanço, investimento no professor tem que ser prioridade', diz Haddad

Ministro diz que nenhum país de alto desempenho educacional paga aos seus professores um salário menor do que a média de outras profissões de nível superior

Agência Brasil
As conquistas em educação alcançadas pelo Brasil na última década, apontadas pelos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) divulgados hoje (7), dependem de investimentos estratégicos para seguir avançando. Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, a valorização do professor deve ser um dos focos de ação nos próximos anos.
A prova é aplicada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos de idade em matemática, leitura e ciências. No ano passado participaram 65 países. Na média entre as três disciplinas o Brasil atingiu 401 pontos – foi a terceira maior evolução entre os participantes do período 2000-2009. A meta estabelecida pelo próprio Ministério da Educação (MEC) é chegar a 473 pontos em 2021.
“A remuneração dos professores no Brasil tem que fazer o país reconhecer que dificilmente vamos chegar às metas de 2021 sem enfrentar essa questão de maneira decisiva. Nenhum país de alto desempenho educacional paga aos seus professores um salário menor do que a média das outras profissões de nível superior. No Brasil, o salário do professor é 40% menor” comparou.
Além do investimento nos docentes – tanto na formação quanto na remuneração – o ministro destaca a necessidade de ampliação da pré-escola. Uma proposta de emenda à Constituição (PEC) aprovada neste ano determina que até 2016 todas as crianças deverão estar matriculadas na escola a partir dos 4 anos de idade – hoje a obrigatoriedade é a partir dos 6.
“Já está provado que a pré-escola tem impacto importante no desempenho dos alunos quando eles chegam ao ensino fundamental. A ampliação da obrigatoriedade vai atender as camadas mais pobres, sobretudo do Nordeste, e isso vai impactar o desempenho dos alunos”, avaliou.
Segundo o ministro, para atingir as metas será necessário grande esforço do país, que precisa aproveitar o movimento atual de avanço. “Até 2012, nós estamos falando de América Latina, estaremos liderando a região [caso as metas sejam atingidas]. A partir de 2012, o jogo muda, aí estamos falando de país europeu, é como estar em outra divisão do campeonato”, comparou. Haddad destacou ainda que alguns países com sistema educacional consolidado, como a Inglaterra, perderam pontos em 2009.
“Nós desperdiçamos um século. Mesmo no pós-guerra, quando os países começaram a investir pesado em educação, nós levamos 50 anos para isso. Agora que estamos vivendo um momento que vai avançar nos próximos governos, porque está caracterizado que o sistema de ensino responde quando você diz o que quer dele e faz os investimentos necessários”, defendeu.
Original no endereço: http://goo.gl/zQEa5

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Brasil continua um dos piores do mundo

BRASÍLIA - O Brasil pode comemorar, mesmo que sem muita empolgação, os resultados do o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O País teve a terceira maior evolução nas médias de 65 nações e conseguiu superar a barreira dos 400 pontos em leitura e ciências, mas ficou abaixo desse patamar em matemática. O resultado, no entanto, ainda está longe de ser positivo. Nas três áreas, pelo menos a metade dos jovens brasileiros não consegue passar do nível mais básico de compreensão.
O Pisa avalia estudantes de 15 anos completos em todos os países membros da OCDE, mais os convidados - como Brasil, México, Argentina e Chile, entre outros. Em 2009, ano da prova mais recente, foram selecionados 400 mil jovens em todo o mundo, incluindo 20 mil brasileiros de todos os Estados. A escolha pela faixa etária permite uma comparação entre os diferentes países, mesmo que os sistemas de ensino sejam diferentes.
 

A matemática ainda é o ponto mais fraco dos estudantes do País. Apesar de ter subido 16 pontos, a média nacional - de 386 - ainda fica 111 pontos abaixo da média da OCDE. Em ciências, a média brasileira subiu 15 pontos e chegou a 405, enquanto em leitura, onde houve a maior evolução - 17 pontos -, alcançou 412.

Os melhores números, no entanto, ainda deixam uma boa parte dos alunos pelo caminho. Em leitura, quase metade dos brasileiros avaliados alcança apenas o nível 1. Em três anos, houve uma melhoria de apenas 6 pontos percentuais. O nível 1 significa que esses adolescentes são capazes de encontrar informações explícitas nos textos e relacioná-las com o dia-a-dia deles. E só. Não são analfabetos, mas têm somente o grau mínimo de habilidade de leitura.

Em matemática, 69% dos estudantes do País chegam apenas ao nível 1, contra 73% em 2006. Esses jovens não conseguem ir além dos problemas mais básicos e têm dificuldades de aplicar conceitos e fórmulas. Na avaliação da OCDE, eles teriam inclusive dificuldades de tirar proveito de uma educação mais avançada.
Em ciências, 54,2% dos brasileiros avaliados ficaram no nível 1 - ou seja, conseguem apenas entender o óbvio e têm enormes dificuldades de usar ou compreender essa disciplina. Em 2006, 61% estavam nesse patamar.
Na outra ponta, apenas 1,3% dos estudantes atinge os níveis 5 e 6 em leitura, 0,8 % em matemática e 0,6% em ciências.
A evolução revelada na prova foi comemorada pelo governo, já que em apenas três anos o País conseguiu mostrar, pela primeira vez, resultados consistentes. Entre 2003 e 2006, a média geral brasileira havia crescido apenas um ponto. Em leitura, havia caído 10, e permanecido estável em ciências. Apenas matemática havia crescido. Nesta edição, o Brasil conseguiu superar, na América Latina, Colômbia e Argentina, mas ainda está atrás do Chile, Uruguai e México.


Original no endereço: http://goo.gl/MSHL6

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O que as escolas não ensinam

Aqui estão alguns conselhos que Bill Gates recentemente ditou em uma conferência em uma escola secundária sobre 11 coisas que estudantes não aprenderiam na escola. 
Ele fala sobre como a "política educacional de vida fácil para os adolescentes" tem criado uma geração sem conceito da realidade, e como esta política tem levado as pessoas a falharem em suas vidas posteriores a escola. 
Muito conciso todos esperavam que ele fosse fazer um discurso de uma hora ou mais, ele falou por menos de 5 minutos, foi aplaudido por mais de 10 minutos sem parar, agradeceu e foi embora em seu helicóptero a jato... 
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Regra 1: A vida não é fácil - acostume-se com isso. 


Regra 2: O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. 
O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo. 

Regra 3: Você não ganhará R$ 20.000,00 por mês assim que sair da escola. 

Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone a disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone. 

Regra 4: Se você acha seu professor rude, espere até ter um Chefe. Ele não terá pena de você. 

Regra 5: Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. 
Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade. 

Regra 6: Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles. 

Regra 7: Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. 
Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são "ridí­culos”. 
Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto. 

Regra 8: Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. 

Isto não se parece  com absolutamente NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido, RUA!!!!!

Faça certo da primeira vez. 

Regra 9: A vida não é dividida em semestres. 
Você não terá sempre os verdes livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período. 

Regra 10: Televisão NÃO é vida real. 
Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar. 

Regra 11: Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas).
Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.

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Bill Gates
Dono da maior fortuna pessoal do mundo, e da Microsoft, a única empresa que enfrentou e venceu a Big Blues (IBM) desde de sua fundação em meados de 1900.... A empresa que construiu o primeiro Cérebro Eletrônico (computador) do mundo.

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ensinar com amor

É possível ensinar nossas crianças de forma amorosa?

Educador popular, antropólogo e folclorista, Tião Rocha fundou o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) por indignação e teimosia. Essa ONG foi parida em 1984, em Belo Horizonte, em meio à miséria, à dor, ao abandono e à esperança. Na ocasião, Rocha começou se perguntando se era possível fazer educação embaixo de pé de manga. Não só foi possível como ele e sua equipe transformaram cafuné, abraço e sabão em pedagogia e políticas públicas. Os projetos do CPCD estão em mais de 20 cidades brasileiras e em três países (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau). “Aprendi em Moçambique que para educar uma criança é preciso toda uma aldeia. Se a comunidade assumir a responsabilidade por suas crianças, não vai haver mais criança analfabeta neste país. Isso não é uma política de governo, nem de Terceiro Setor, é uma questão ética. E como se mobiliza a aldeia? Juntando o que as pessoas têm de melhor e disponibilizando”, diz Rocha.

Como unir simplicidade e modernidade na escola?

Educação só acontece no plural, porque estão envolvidas, no mínimo, duas pessoas. Se houver uma máquina no meio, qualquer que seja, como um computador, que favoreça, tudo bem. Mas, se isso tiver o caráter de substituir pessoas, pode até ter aprendizagem, mas falar que há educação é outra história. A sofisticação se dá na relação entre as pessoas: você senta numa roda e estabelece entre elas processos de troca. É uma relação de construção. Livros, cadernos e equipamentos têm que entrar para se somar a esse projeto de pessoas. Se houver isso, ótimo, ajuda. Se não houver, não significa que se vai deixar de fazer.

Como você diferencia educação de escolarização?

Escola é meio. Educação é fim. Há escolas muito bem equipadas que têm uma educação medíocre do ponto de vista da formação dos seres humanos. A gente observa, nos grandes centros, escolas bem montadas, mas que parecem uma cadeia, cercadas de grades, cheias de câmeras para policiar. Comprovamos há 25 anos que é possível fazer educação de boa qualidade debaixo de pé de manga, recuperando o sentido da educação como prática humana. Trabalho no interior de Minas Gerais, onde as pessoas vivem em condições subumanas e aonde a tecnologia ainda não chegou. O fato de passar um canal lá de televisão não significa que houve mudanças efetivas. Houve informação, mas não transformação em conhecimento.

Vocês usam a pedagogia da roda. Como ela funciona?

A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva. Na roda você constrói consensos. Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.

Nos seus projetos também foi adotada a pedagogia do brinquedo. De que se trata?

A pedagogia do brinquedo veio responder a uma pergunta: será possível ter uma escola formal boa e prazerosa? Será que os meninos podem aprender brincando, ou a escola tem que ser um serviço militar aos 7 anos? É a idéia de transformar o brinquedo em instrumento de aprendizagem. Percebemos que eles podem aprender tudo, desde se alfabetizar até história, física, química, matemática, e também cidadania, ética, solidariedade, sexualidade. De que forma esse processo pode ser multiplicado?Foi em cima disso que comecei a trabalhar com meninos de 7 a 14 anos. Todo início de ano, faço com eles uma aposta de que tudo que vou fazer vai ser na base do brinquedo, da brincadeira. Há 20 e tantos anos, um garoto chegou para mim e disse: “Ah, legal, mas cadê os brinquedos?” Eu falei: “É verdade, não tem nenhum. Mas vamos fazer uma aposta? No dia em que não soubermos mais inventar os próprios brinquedos eu começo a comprar. Topa?” E toparam. Claro que ganhei. Isso é a pedagogia do sabão: aproveitar os recursos que tem e transformar em utilidade econômica, social, doméstica e também pedagógica. Com isso, você vai gerando uma série de processos. São exercícios de aprendizagem.

Você fala em pedagogia do abraço. Como funciona?

A pedagogia do abraço é uma forma de trabalhar com grupos marginalizados, não por carências nem pelo IDH, mas pelas potencialidades. Trabalhamos com o IPDH: Índice de Potencial de Desenvolvimento Humano. Começamos a falar em cafuné pedagógico. Só sabe que é bom cafuné aquele que já o recebeu uma vez na vida. Então tivemos que fazer cafuné pedagógico, que é possibilitar que o outro invista no lado luminoso dele, capaz de surpreender e de gerar. Isso também começou em uma brincadeira com meninos na periferia. A minha brincadeira era dizer: só vou dar um abraço apertado, daqueles de quebrar costela, se você estiver com o cabelo penteado, ou de batom, cheirosa. Senão, comigo vai ser distância, na ponta do dedinho. Um jogo. Só que isso fez com que a meninada levasse a sério. Nós percebemos na comunidade e na escola a demanda dessas pessoas que querem ser cuidadas, que querem se gostar. Percebemos que o afeto, o abraço, o cafuné pedagógico favoreciam as pessoas a sentir mais orgulho de si. E as ajudavam a sair da linha de baixo, do desprezo, para a de cima, da auto-estima.

É difícil convencer os governos a investir nesses projetos?

É difícil demais. Imagine que a maioria dos órgãos públicos trabalha com rubricas financeiras e não em cima de plataformas, bandeiras e causas. A educação é transformada em números. A escola, que foi o aparelho ideológico do estado na época da ditadura, virou aparelho ideológico do mercado. Você tem que formar gente para atender à demanda do mercado. Há escolas em que o importante é formar, empurrar para a frente, não importa o tanto de alunos que deixou para trás. Isso retira o poder de pessoas. São jogos políticos, não de solidariedade. O grande problema da escola atual é que é cômodo ficar dentro de uma forma que existe há 500 anos. Ela ainda trabalha com conteúdos absolutamente equivocados. Os meninos têm que passar por sessões de tortura, com informações sem a mínima importância. Perde-se um tempo danado.

Conheça mais sobre o trabalho de Tião Rocha no Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento:

texto Clarinha Glock
fotos Carol Da Riva

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O problema não é o doutorado, são os incentivos

21 de Abril de 2010 - por Claudio Shikida*

Recentemente, o excelente Alexandre Barros publicou algumas observações sobre os impactos dos incentivos do MEC sobre a educação superior. Em seu artigo, ele fala sobre a possibilidade de professores universitários se juntarem em uma corporação e se protegerem da competição de profissionais do setor privado com barreiras à entrada, especificamente com a exigência do título de "doutor" para o exercício da profissão. Embora concorde com vários de seus pontos, creio que é interessante pensar em algumas considerações.

Seu artigo, em resumo, argumenta que professores universitários se uniriam para impedir a entrada de profissionais renomados na universidade simplesmente pelo fato de que estes últimos não teriam cumprido os rituais do MEC, em particular o de obter alguma titulação, como a de mestre ou doutor. Dois dos exemplos utilizados pelo autor são os de Bill Gates e de Steve Jobs. Pergunta Alexandre o que aconteceria se eles perdessem o emprego e desejassem dar aulas. Ao contrário do autor, creio que eles conseguiriam um bom emprego em algum programa de MBA e, mais ainda, achariam isto melhor do que lecionar em um mestrado ou um doutorado, mas vamos em frente.

Ainda que eu concorde com o autor sobre o valor “inflado” do diploma, não sei se o fluxo de pessoas do mercado para as universidades é sinônimo de aumento de qualidade. Embora “experiência” seja algo desejável em algumas disciplinas, não se pode depender só dela. Além disso, pense no seguinte exemplo: pessoas que não souberam ganhar dinheiro no mercado e perderam seus empregos na crise atual têm — exatamente — o quê a nos ensinar em uma aula de mercados financeiros? Se o mercado funciona razoavelmente bem, é de se esperar que os mais talentosos sejam melhor alocados em postos de trabalho nos quais são mais eficientes. Dificilmente um competente especialista em finanças será demitido. Mesmo que o seja, é mais fácil que seja reabsorvido nesse mercado do que no de ensino, pois crises como a de 2008 não são permanentes.

A transferência do sujeito do mercado para o ensino também se dá em outro ponto: há quem aproveite para substituir o sinal emitido por um diploma obtido em uma faculdade de qualidade inferior com o diploma de especialização em uma de maior renome. E nem sempre isso significa maior produtividade, pois há diplomas e diplomas (veja, por exemplo, esta notícia, para os EUA).

Alexandre também cita o — sempre recomendável — Simon Schwartzman, que faz algumas críticas sobre o direcionamento da pesquisa científica. Para este último (conforme citação de Alexandre): “o professor [brasileiro] participa de um congresso ou publica um artigo numa revista que ninguém lê." Nesse ponto do argumento é bom tomar cuidado. Lugar de artigo científico é na literatura especializada e, sim, é desejável que a mesma resulte em novos processos produtivos ou mesmo em novas instituições sociais mais favoráveis ao desenvolvimento econômico, mas nem todo artigo científico se presta a uma divulgação, digamos, ampla.

Além disso, o público interessado nas últimas contribuições teóricas da Economia não é o mesmo que deseja saber o que fazer com o dinheiro aplicado no final do mês. Pelo menos não necessariamente. Públicos diferentes desejam ler artigos com graus de detalhes técnicos distintos e o fato de se saber ler não significa que se queira ler sobre os últimos resultados das pesquisas científicas no dia-a-dia. Ensinar a ler nem sempre significa inculcar interesse científico na mente (e nos corações) das pessoas.

Certamente, como diz Alexandre, os incentivos da burocracia governamental podem distorcer os objetivos das pesquisas científicas. Recentemente o prof. Novaes, do Departamento de Economia da PUC-RJ, escreveu um artigo crítico quanto à “ênfase na quantidade em detrimento da qualidade” na produção científica de economistas e não creio que Alexandre discordaria dos pontos centrais deste artigo. As distorções na produção científica geradas por incentivos errados — criados pelo governo a partir de grupos de interesses específicos — são bem conhecidas dos economistas e há vários estudos a respeito e, sim, é verdade que há muito interesse corporativista entre professores.

Mas não se pode assumir que publicações científicas sejam, todas elas, escondidas em periódicos desconhecidos. Como já disse, são públicos-alvo distintos. Além disso, nem todo mundo que perde emprego e deseja lecionar sem ter mestrado ou doutorado sabe realmente mais do que um mestre ou doutor (e, sim, há muitos mestres e doutores mais interessados em preservarem seus feudos do que, de fato, pesquisarem). E não se engane: os salários ofertados pelas universidades nem sempre atraem gente como Bill Gates ou Steve Jobs.

Por outro lado, Alexandre está correto: o governo não ajudará a alterar esta situação se usar incentivos que coíbem a produção científica.
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*Claudio Shikida é economista, professor do IBMEC-MG, e mantém o blog De Gustibus Non Est Disputandum.
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Original no endereço: http://www.ordemlivre.org/node/976 Acesso em 26/05/2010

domingo, 20 de junho de 2010

Sem doutorado? Então fora!


19 de Abril de 2010 - por Alexandre Barros*

A crise está produzindo alguns efeitos magníficos, que ninguém planejou. Belezas do capitalismo: milhões de pessoas fazendo escolhas independentes e produzindo efeitos que ninguém previu.

Muitos profissionais que perdem empregos nos Estados Unidos estão virando professores. Isso mesmo. Contadores vão para as escolas ensinar, depois de muitos anos com a mão na massa. Projetistas vão para escolas e faculdades ensinar desenho industrial e por aí afora.

Se perdessem os empregos, dois meninos maluquinhos que resolveram cair na vida, em vez de virar acadêmicos, poderiam ir dar aulas. Muitas universidades receberiam Bill Gates (Microsoft) e Steven Jobs (Apple) de braços abertos. Acredito que haveria uma enorme disputa entre as melhores universidades para ver quem conseguiria levar qual.

No Brasil, como professores, bateriam com o nariz na porta.

Como nenhum dos dois tem mestrado ou doutorado, não valem nada para qualquer universidade brasileira. O Ministério da Educação não os reconhece. Um profissional fantástico sem mestrado ou doutorado é proibitivo para uma universidade brasileira.

Cirurgiões que foram dos bancos da escola para as salas de operação não poderiam lecionar em faculdades. Sua experiência avançadíssima vale zero.

Não passaram pelos rituais de iniciação: gastar tempo escrevendo dissertações. Estão fora. Graças ao MEC, no Brasil, vigora o "quem sabe faz e quem não sabe ensina."

Simon Schwartzman, especialista em educação superior e pós-graduada, disse numa entrevista (Veja 2059, 7 de maio de 2008): "O professor [brasileiro] participa de um congresso ou publica um artigo numa revista que ninguém lê." Em outras palavras, os professores brasileiros passam a vida fazendo imensos esforços para ter impacto zero no desenvolvimento da ciência, da tecnologia e das políticas públicas.

Parece anedota, mas não é. Criou-se um clube de amigos que publicam em revistas nas quais, não raro, o intervalo entre o término de uma pesquisa e sua publicação pode ser de até 4 anos. Só essas revistas são reconhecidas. Outras mídias (jornais, revistas, TV) de nada valem, ainda que possam ser lidas por milhões de pessoas. Isso em tempos de Internet.

Nikola Tesla (o inventor da geração de corrente alternada que move o mundo) não teria emprego em nenhuma universidade brasileira. Dificilmente conseguiriam publicar um artigo em revista Qualis (esse é o codinome das revistas que o MEC reconhece).

Na Universidade de Chicago, a maior ganhadora de prêmios Nobel (79 ao todo, 27 em Física e 25 em economia), é possível entrar sem jamais ter ido para a escola, qualquer escola. Lá, o principal critério para contratação de um professor de economia é o potencial para um prêmio Nobel. A universidade sabe que cada prêmio Nobel é um pote de mel para atrair alunos, doações e outros bons professores.

Recentemente, na feira de ciências de uma escola secundária na área de Boston, em Massachussets, um adolescente de 16 anos apresentou um trabalho da maior relevância para a saúde pública no Brasil: descobriu que o vírus da hepatite C e o vírus da dengue são primos próximos. Este atalho pode economizar muitos anos na descoberta da cura da dengue (sabendo que os vírus são primos próximos podem-se usar muitos conhecimentos já avançadíssimos sobre o vírus da hepatite C, para a dengue).

O caminho até a cura da dengue ainda é longo, mas será muito mais curto do que sem a descoberta.

No Brasil, ninguém o levaria a sério porque ele não tem idade nem para poder entrar para uma faculdade, como, de resto, não levaram o Portellinha, sobre quem comentei n’O Estadão em "Deixem o Portellinha estudar em paz," (O Estado de São Paulo, 12 de março de 2008, pág 2). Apesar de aprovado no vestibular de direito com sete anos de idade, Portellinha foi impedido, pelo lobby da OAB e pela lei, de entrar para a universidade.

O interesse dos burocratecas do MEC está em formalidades e papelório.

O currículo oficial do CNPq registra minúcias da vida de professores que me lembram o que meu amigo Lorenzo Meyer, historiador mexicano, chamava de ridiculum vitae.

Qualquer atividade acadêmica exige um papel assinado por alguém atestando que aquilo é verdade. Vou além de Simon: o pouco tempo que sobra de tentar publicar artigos que não serão lidos por ninguém é consumido correndo atrás de papelório inútil.

Tomara que Bill Gates e Steven Jobs não percam seus empregos, pois poderemos continuar a curtir nossos produtos Microsoft e nossos Macs e iPhones.

No Brasil, Bill Gates e Steven Jobs não teriam tempo para inventar nada. Perderiam seu tempo correndo atrás dos certificados que os legitimaria perante a burritzia nacional.

As invenções, ora, as invenções... são coisas de gringo... Aqui basta uma política industrial para dar dinheiro aos amigos do rei.

Quando a lei e os oligopólios de proteção profissional impedem o progresso de alguém porque não passou pelos rituais de iniciação, fica mais fácil entender porque o Brasil não tem nenhum prêmio Nobel, em nenhum campo.
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*Alexandre Barros é cientista político (PhD, University of Chicago) e diretor-gerente da Early Warning: Políticas Públicas e Risco Político (Brasília - DF), além de colaborador regular d’O Estado de São Paulo. Ele pode ser contactado em alex@eaw.com.br.
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Original no endereço: http://www.ordemlivre.org/node/970 - Acesso em 26/5/2010

domingo, 13 de junho de 2010

Ode aos professores

Recebi esta pergunta: "Por que o senhor defende tanto os professores?". Achei, inicialmente, a pergunta estranha. Afinal, a resposta sempre me parecera óbvia. Depois, comecei a responder para mim mesmo. Embora seja impossível estabelecer objetivamente um ranking de profissões, eu acho o trabalho de professor o mais importante que existe, especialmente o de professor de ensino fundamental e médio, função que nunca exerci, embora tenha chegado a passar num concurso. Sei da importância dos médicos, dos engenheiros, dos padeiros, dos lixeiros e de tantos outros profissionais. Mesmo assim, considero que o professor é a base de tudo.

Por pensar assim, sempre vejo como injustos e até mesmo absurdos os salários pagos aos professores do ensino público. Não consigo aceitar que qualquer jogador de futebol ruim ganhe mais do que um professor. Esperamos dos professores que eles eduquem os nossos filhos, dando-lhes conhecimentos e valores. Depositamos enormes esperanças na atividade desses mestres de poucos recursos e muita perseverança. Cobramos muito. Pagamos pouco. A desculpa é sempre a mesma: os cofres públicos não comportam salários maiores para uma categoria tão numerosa. Essa explicação sempre me parece fácil, simplória, hipócrita e até canalha. É uma maneira de lavar as mãos. A culpa não é só dos governantes. É da sociedade. Por que não nos organizamos para pagar melhor os professores? Outro dia, na Rádio Guaíba, o senador Paulo Paim nos garantiu que não existe o rombo da Previdência Social. Autorizou-me a chamar de mentiroso quem afirme o contrário. Não perderei a oportunidade.

De minha parte, farei uma afirmação categórica: a sociedade brasileira pode pagar melhor seus professores. Não o faz por não os valorizar suficientemente. Volta e meia, ouço alguém atacar os professores dizendo algo assim: "Se não estão satisfeitos que mudem de profissão". Nunca ouço argumento semelhante aplicado aos grandes proprietários que pedem subsídios aos governos. Os professores viraram saco de pancada. Os governantes empurram com a barriga o eterno problema dos baixos salários. Por toda parte, vejo professores trabalhando duro e ganhando pouco. Ser professor é cada vez mais difícil e bonito. Hoje, além de saber passar informações, é preciso saber educar num ambiente de liberdade. Muita gente tem saudades dos castigos corporais e dos métodos medievais nas escolas. São os mesmos que sentem saudade da ditadura militar e que fecham os olhos para a tortura.

Imagino um leitor conservador dizendo-se que estou empilhando clichês ou fazendo demagogia. Num ano eleitoral, eu espero que algum candidato apresente um plano consistente para a educação. Teria meu voto. Toda hora alguém diz que só a educação muda um país. Para que a educação mude um país, no entanto, o país precisa mudar a sua educação. Um bom começo seria pagar melhor os professores. Eu não me importaria de pagar mais impostos para isso. Pagar impostos pode ser muito bom. Faz bem para a sociedade. Não há serviços sem impostos. Jamais.
 
Por Juremir Machado

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dia da educação

Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável. "Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"
28 DE ABRIL
DIA DA EDUCAÇÃO
"...a boa educação é a base de uma nação consciente de seus direitos e deveres, que é capaz de construir o melhor para si e seu país, contribuindo para uma sociedade mais justa e com alta qualidade de vida". Educação - É o conjunto de técnicas e conhecimentos necessários para a transmissão do saber e dos valores essenciais à sociedade.

Ao professor cabe transmitir conhecimentos e estimular o raciocínio lógico e a visão crítica dos estudantes, ajudando-os no desenvolvimento de habilidades para entrar no mercado de trabalho e assumir seu papel de cidadão.
Atua em todos os níveis da educação, do ensino infantil ao superior. Pode lecionar disciplinas específicas nos cursos profissionalizantes, nas classes de alfabetização, de educação especial (para portadores de deficiência) ou para jovens e adultos (antigo supletivo). Pela Lei de Diretrizes e Bases de 1996, todos os professores, de qualquer nível de ensino, devem ter formação superior a partir de 2007. Para lecionar em faculdade, é preciso, ainda, ter pós-graduação.
Hoje em dia é grande a importância dada à educação. O número de analfabetos no país vem caindo a cada ano e praticamente todas as crianças com idade entre 7 e 14 anos estão matriculadas na escola. E também há um esforço para colocar na pré-escola as crianças com menos de seis anos de idade.
Outra preocupação atual é com a repetência. Professores e o Ministério da Educação buscam formas de evitar a repetência dos alunos para que eles não desanimem e acabem abandonando a escola. Mesmo assim, muitas crianças e jovens têm que deixar de estudar porque precisam trabalhar.
A qualidade do ensino também é um ponto importante para se pensar. Pouco adianta completar séries e ganhar um diploma se não aprendermos de verdade. Por tudo isso, estudar com prazer e buscar compreender o mundo através do que aprendemos é uma boa forma de comemorar o Dia da Educação.
Como anda a educação no Brasil?
O IBGE realiza várias pesquisas que levantam dados sobre a educação no Brasil, sendo a maior delas o Censo Demográfico. O último censo foi em 2000 e trouxe informações sobre analfabetismo, anos de estudo, freqüência escolar e redes de ensino, com distribuição de acordo com idade, estados, regiões do Brasil e sexo, entre outros dados.
Outra pesquisa importante, realizada com amostras da população brasileira, é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, que apresentou seus mais recentes resultados em 2003. Vamos aproveitar o Dia da Educação para sabermos mais sobre o assunto no Brasil?
Mais brasileiros sabendo ler e escrever
O mundo moderno exige das pessoas uma preparação cada vez melhor para o exercício de suas tarefas. Ler e escrever, além de serem formas de se comunicar com o mundo, são atividades básicas para o desempenho de muitas outras funções.
Sob esse aspecto, a população brasileira vem conseguindo alguns avanços. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2004, que traz os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2003 (PNAD), do IBGE, o crescimento contínuo da taxa de escolarização vem reduzindo o analfabetismo, elevando o nível de instrução da população em todo o país e diminuindo, gradativamente, as grandes diferenças entre as regiões.
A taxa de escolarização dos jovens de 15 a 17 anos, por exemplo, aumentou cerca de 33% nos últimos 10 anos e atingiu, em 2003, 82,4% desses jovens. Não houve grandes variações entre as taxas regionais e a taxa média nacional.
Sobe o nível de instrução da população, cai o analfabetismo
A crescente escolarização vem impulsionando a elevação do nível de instrução da população. Entre 1993 e 2003, o analfabetismo declinou em quase 30% no Brasil. Esse declínio foi mais intenso nas regiões Sul (34,7%), Centro-Oeste (32,1%) e Sudeste (31,3%), principalmente nos estados do Paraná e Santa Catarina (com reduções de 37,6% e 36,7%, (respectivamente), o Distrito Federal (-45,7%) e o Rio de Janeiro (-41%). O Nordeste apresentou um declínio de 27%.
São considerados analfabetos todos aqueles que possuem mais de 15 anos de idade e não sabem ler nem escrever. A diminuição das taxas de analfabetismo no Brasil deve-se ao maior acesso da população carente ao ensino fundamental e aos programas de alfabetização de adultos, como, por exemplo, o Alfabetização Solidária, onde o governo federal atua em parceria com universidades, empresas privadas, prefeituras e comunidades, e o Movimento de Educação de Base, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB.
Meninos e meninas: quem estuda mais?
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2004, o analfabetismo apresentou maior declínio entre as mulheres (31,7%) do que entre os homens (26,9%).
No grupo das pessoas com mais de 10 anos de idade, ocupadas, as mulheres têm em média um ano de estudo a mais do que os homens (média de anos de estudo iguais a 7,7 e 6,7, respectivamente).
Educação, formando o ser humano
Segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, educação é: "processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual ou moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social". O processo de educação começa com a família, quando os pais ensinam a seus filhos o que julgam ser certo, como devem se comportar, a respeitar as outras pessoas. Ou seja, é o início da formação da criança, que aos poucos vai sendo preparada para a vida individual e em sociedade.
Num segundo momento, entra em cena a escola. Tem início a etapa da instrução da criança, onde ela vai adquirir conhecimentos referentes a áreas do saber específicas: Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, entre outras.
Mas o papel da escola na formação do indivíduo não fica restrito a esse tipo de informação. De certa forma, a escola vai dar continuidade ao processo que foi iniciado pela família, educando a criança e o adolescente também para a vida, através da disciplina, das responsabilidades, do estímulo ao exercício da cidadania.
E lembre-se: a boa educação é a base de uma nação consciente de seus direitos e deveres, que é capaz de construir o melhor para si e seu país, contribuindo para uma sociedade mais justa e com alta qualidade de vida.
Quem está na escola vai à escola?
Agora vamos estudar mais detalhadamente a situação desses jovens que estão na escola. Há inúmeras razões que determinam o grau de freqüência à escola. A Pesquisa de Padrão de Vida (PPV), realizada pelo IBGE, entre março de 1996 e março de 1997, nas regiões metropolitanas do Nordeste e do Sudeste, onde estão concentrados 70% da população, teve como um dos temas apurados a Educação, com destaque para o estudo da freqüência à escola.
Veja alguns dos resultados da pesquisa:
8% das crianças entre 7 e 14 anos, residentes nos domicílios pesquisados, não freqüentam a escola e grande parte alega como causas dessa situação dificuldades financeiras e desinteresse.
Entre as crianças de 7 a 9 anos, a renda aparece como o principal motivo (28%) pela não freqüência, seguida por razões ligadas ao sistema educacional (26%, sendo 11% a falta de vagas e 15% a ausência de escola próxima do domicílio) e por desinteresse (9%).
Já para a faixa de 10 a 14 anos, o desinteresse é o principal motivo (31%), seguido pela renda (25%). Os problemas relacionados ao sistema educacional respondem por 22%.
Na medida em que aumenta a renda familiar, cresce também a taxa de escolarização entre os membros da família.
O atual sistema educacional brasileiro tem a seguinte estrutura: - Educação Básica - compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. - Educação Superior - compreende o ensino superior e pós-graduação. Há também a educação profissional nos níveis básico, técnico de nível médio e tecnológico e a educação especial, para estudantes portadores de deficiência física ou mental.
Quanto maior o nível de instrução, maiores são as chances de encontrar trabalho. A conclusão é da Pesquisa de Padrão de Vida (PPV), realizada pelo IBGE, entre março de 1996 e março de 1997, nas regiões metropolitanas do Nordeste e do Sudeste, onde estão concentradas 70% da população.
Os resultados da PPV mostraram que a taxa de ocupação para quem estuda durante 12 anos ou mais é de 77,62%, contra 44,5%, para os que têm de 1 a 3 anos de estudo.
O Brasil gasta, em média, 5,5% do Produto Interno Bruto - PIB em programas de educação, incluindo os gastos públicos e os investimentos privados. Esse valor é alto. Só para se ter idéia, os Estados Unidos destinam 5,3% de seu PIB com educação e a Inglaterra, 5,5%. O problema que o Brasil enfrenta é a distribuição desigual dos recursos nos diferentes níveis de ensino. Aos alunos de nível superior é destinada uma quantidade muito maior de recursos do que para os do ensino fundamental.
Pesquisa em diversos sites
Webdesigner: Lika Dutra
Charge e pergunta inicial recebidas por e-mail do Professor FLAVIO -Educação Física CREF 3619/SC
O artigo foi capturado no site:

sábado, 26 de setembro de 2009

Punição do pichador

Educador comenta episódio em que professora puniu adolescente pichador
Professor e pai de seis filhos, Régis Gonzaga propõe um novo olhar sobre a paternidade

O episódio em que a professora Maria Denise Bandeira fez um aluno retocar a pintura de nove salas de aula como punição por ter pichado o apelido em uma delas, revelado por ZH e zerohora.com, foi tema ontem do programa Polêmica, na Rádio Gaúcha. Embora tenha despertado críticas dos pais do adolescente de 14 anos, a professora da Escola Estadual de Ensino Médio Barão de Lucena recebeu o apoio de 97% dos 2.278 participantes de enquete do programa.
Professor e pai de seis filhos, Régis Gonzaga foi um dos convidados a debater a questão no Polêmica e fez um contundente manifesto a favor da paternidade responsável.
ZH publica a opinião do educador abaixo:
A professora Maria Denise, que nada tem do que se envergonhar, declarou ter agido com raiva no episódio da pichação da escola em que trabalha, em Viamão. Essa mesma raiva tem de tomar conta de todos nós. Chega de passar a mão por cima de tudo. Chega de morar em uma cidade imunda, suja, em que todos os prédios estão pichados, e ninguém faz absolutamente nada. Está na hora de dar um basta, mas não o basta da professora tão somente, um basta de toda a sociedade.
Espero que essa pichação signifique a retomada de um novo debate. Que tipo de sociedade nós queremos para os nossos filhos? Que tipo de sociedade nós estamos deixando para os nossos netos? O nosso papel como educadores é dizer: “olha, chegou. Vai haver repercussão, algumas pessoas são contra.” Houve quem dissesse que a atitude da professora não educa. Essas pessoas deveriam conviver com jovens, como nós fazemos diariamente, e ver como alguns adolescentes que agem corretamente se queixam. Alguém tem de dar limites, alguém tem de dizer chega.
Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=capa_online

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A educação

“ A Educação não se limita a desenvolver o Eu individual do homem; ela cria, no homem, um ser novo: suscita e desenvolve, não apenas desenvolve.
A virtude criadora é própria da Educação. Nos animais, mediante treinamento específico, pode-se apressar o desenvolvimento de certas capacidades, mas não se pode iniciá-lo numa vida inteiramente diversa: pouco aprende o animal além do que poderia aprender sozinho. Quando muito, através do condicionamento, podemos treiná-lo em algo que nada acrescente à essência de sua natureza.
No homem, a educação cria um ser novo – o Ser Social. Afinal .... o homem só se torna humano em sociedade.”
Fonte: Della Torre; M.B . O Homem e a Sociedade, 1997, cap. 12 p. 229.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Silêncio


Pense em alguém que seja poderoso. Essa pessoa briga e grita como uma galinha, ou olha e silencia, como um lobo?
Lobos não gritam. Eles têm a aura de força e poder. Observam em silêncio.
Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio. Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.
Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos. Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis. Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota.
Olhe.
Sorria.
Silencie.
Vá em frente.
Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar. Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.
Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques.
Não é verdade! Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir. Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal.
Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça. Você pode escolher o silêncio. Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu Xenocrates, mais de trezentos anos antes de Cristo, ao afirmar:
“ME ARREPENDO DE COISAS QUE DISSE, MAS JAMAIS DO MEU SILÊNCIO".
Responda com o silêncio, quando for necessário.
Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais. Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos. Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas. E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.

(autor desconhecido)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Poder da educação

Conta-se que o legislador Licurgo foi convidado a proferir uma palestra a respeito de educação.
Aceitou o convite, mas pediu, no entanto, o prazo de seis meses para se preparar.
O fato causou estranheza, pois todos sabiam que ele tinha capacidade e condições de falar a qualquer momento sobre o tema. E por isso mesmo, o haviam convidado.
Transcorridos os seis meses, compareceu ele perante a assembléia em expectativa.
Postou-se à tribuna, e logo em seguida entraram criados portando quatro gaiolas.
Em cada uma havia um animal, sendo duas lebres e dois cães.
A um sinal previamente estabelecido, um dos criados abriu a porta de uma das gaiolas e uma pequena lebre, branca, saiu a correr espantada.
Logo em seguida, outro criado abriu a gaiola em que estava o cão e este saiu em desabalada carreira ao encalço da lebre.
Alcançou-a com destreza, trucidando-a rapidamente.
A cena foi dantesca e chocou a todos. Uma grande comoção tomou conta da assembléia e os corações pareciam saltar do peito.
Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão.
Mesmo assim ele nada falou. Tornou a repetir o sinal convencionado e outra lebre foi libertada. A seguir outro cão.
O povo mal continha a respiração. Alguns mais sensíveis levaram as mãos aos olhos para não ver a reprise da morte bárbara do indefeso animalzinho que corria e saltava.
No primeiro instante o cão investiu contra a lebre. Contudo, em vez de abocanhá-la, deu-lhe com a pata e ela caiu.
Logo se ergueu e se pôs a brincar.
Para surpresa de todos, os dois ficaram a demonstrar tranqüila convivência, saltitando de um lado para outro.
Então, e somente então Licurgo falou:
“- Senhores, acabais de assistir a uma demonstração do que pode ser a educação. Ambas as lebres são filhas da mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos cuidados. Assim, igualmente os cães. A diferença entre eles reside simplesmente na educação.”
E prosseguiu vivamente o seu discurso dizendo das excelências do processo educativo.
“- A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo.”
Devemos educar nosso filho, esclarecer sua inteligência, mas, antes de tudo, devemos falar ao seu coração, ensinando-o a despojar-se das suas imperfeições.
Lembremo-nos de que a sabedoria, por excelência, consiste em nos tornarmos melhores.
Licurgo foi um legislador grego que deve ter vivido no século quarto antes de Cristo.
O verbo educar é originário do latim educare ou educcere e quer dizer extrair de dentro.
Percebe-se, portanto, que a educação não se constitui em mero estabelecimento de informações, mas sim de trabalhar as potencialidades interiores do ser, a fim de que floresçam a semelhança de bela e perfumada flor.

Autoria: equipe de redação do Momento Espírita, com base no livro “Depois da Morte” de Léon Denis.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A desastrosa idéia de sucesso

Fomos educados para nos destacar dos semelhantes. E assim educamos nossos filhos. Deixamo-nos intoxicar por uma idéia de sucesso baseada na capacidade de nos diferenciarmos dos semelhantes, de vencê-los como quem triunfa sobre os inimigos ou derrota a concorrência, em vez de nos aproximarmos dos outros. Essa idéia é desastrosa, porquanto, sob sua influência, desperdiçamos as potencialidades criativas e inovadoras das múltiplas parcerias e sinergias que o relacionamento horizontal entre as pessoas proporciona. Guiados por ela, perdemos talentos, bloqueamos a dinamização de inusitadas capacidades coletivas, matamos no embrião futuros gênios e exterminamos o mais precioso recurso para o desenvolvimento de pessoas e comunidades: o capital social (que é uma metáfora, construída do ponto de vista dos recursos necessários ao desenvolvimento, para designar nada mais do que a própria rede social.).
Em meados do século 19, de cada 100 brasileiros, 99 eram analfabetos (na mesma época os Estados Unidos contavam com 22% de alfabetizados) (1). Se existe algo como uma dependência da trajetória, estamos mal. De qualquer modo, no Brasil não demoramos muito para descobrir que a instrução era uma arma poderosa... de exclusão! Sim, ainda ouço minha mãe me dizer, no final da década de 1950: “- Estude, meu filho, senão você vai acabar sendo sapateiro, igual ao seu pai”. Ela estava preocupada com a minha inclusão, é claro, queria que eu me destacasse dos demais, vencesse na vida. Mas não sabia que minha inclusão no seleto grupo dos que “foram para frente”, significava a exclusão do meu pai desse mundo do incluídos, quer dizer, do conjunto daqueles que se destacaram dos demais. Se eu estudasse e terminasse um curso superior, teria, por exemplo, direito à prisão especial (privilégio que um excluído como meu pai não teria). Era assim: os pais queriam que os filhos (homens) tivessem um anel de doutor (com pedra verde, azul ou vermelha, que correspondem, respectivamente, à graduação em medicina, engenharia ou direito). Aquela pedra colorida no dedo era um sinal de que seu portador triunfou. Usá-la – vejam só, um troço tão cafona – já era sinal de destaque.
Destacar-se dos demais é ter sucesso na vida. Mas não é só pela escolarização e pelo conhecimento atestado por títulos que alguém se destaca e faz sucesso. Com a massificação da escolarização, talvez hoje esse seja o caminho mais difícil para se diferenciar da massa ignara, da plebe rude e deixar de ser como qualquer um do povo.
Os principais indicadores de sucesso da nossa sociedade, no dealbar do século 21, ainda são, muito mais do que o conhecimento atestado por títulos, a fama, a riqueza e o poder.
A fama parece ser o principal indicador. Quem acumulou riqueza ou conseguiu deter em suas mãos algum poder de mandar nos outros, não se sentirá plenamente bem-sucedido se não for conhecido por muita gente ou, pelo menos, por uma parcela ponderável de seus pares.
Como critério de sucesso, a fama é inquestionável, indiscutível mesmo. Se você virou uma celebridade, é sinal de que progrediu na vida. Deixou de ser qualquer um. Destacou-se e continuará sendo destacado. Merecerá tratamento especial aonde for (e não apenas para fins carcerários). Não entrará na fila. Não receberá senhas. O maitre logo lhe arranjará uma mesa, mesmo que o restaurante esteja lotado. Não ficará aguardando atendimento nos bancos das repartições públicas ou nos sofás das antesalas das organizações. E todos o observarão com admiração, alguns deixarão escapar suspiros à sua passagem, muitos o cumprimentarão como se o conhecessem de longa data; outros, mais afoitos, lhe pedirão autógrafos ou implorarão sua licença para tirar uma foto ao seu lado.
Mas a fama não é necessariamente um prêmio pelo talento e sim o resultado direto da exposição em algum meio de comunicação centralizado, do tipo broadcasting (de mão única, um-para-muitos). Qualquer pessoa que aparece regularmente na televisão (não importa se apresentando um noticiário ou um programa de auditório ou atuando em uma novela) fica famosa. Qualquer pessoa que atua com certo protagonismo em um filme fica famosa. Qualquer pessoa que escreve durante algum tempo em um grande jornal ou revista fica famosa.
Artistas, desportistas e até cientistas só ficam famosos porque são transmitidos por broadcasting (do contrário ninguém os reconheceria na rua). Mesmo os grandes teatros, estádios e auditórios de conferências, nos quais um é visto por muitos, já são uma forma de broadcasting (conquanto não permitam uma visualização tão massiva).
O mesmo ocorre com quem acumulou riqueza ou detém algum cargo de poder. Mesmo estes fazem um certo esforço financeiro para sair na revista Caras ou nas chamadas colunas sociais. Por que? Ora, porque estão fazendo sucesso, estão seguindo os conselhos da mamãe para se destacar dos demais. Encaram isso como um investimento, pois aprenderam desde pequenos que só é possível fazer negócios – comerciais ou políticos – a partir de relacionamentos. Aprenderam que é preciso ser conhecido como alguém que se destacou dos demais para ser incluído nos círculos de relacionamentos daqueles que se destacaram dos demais (porque têm fama, riqueza ou poder). Estão apenas pagando a jóia, o preço para entrar no clube. E a partir daí podem até ostentar alguns distintivos dos bem-sucedidos, como fumar charutos e jogar golfe.
Quando questionadas, as pessoas que acreditam nesse tipo de coisa – e são muitas – costumam dizer que a vida é assim mesmo. É uma luta. E que é preciso vencer na vida. A expressão, convenhamos, é muito escrota: vencer quem? Por acaso estamos em uma guerra?
Mentiras pregadas em nome da ciência
Alguns respondem que não somente a vida humana é assim, mas a vida em geral. E aí dão os exemplos mais furados, supostamente embasados na biologia da evolução, de que sempre vence o mais forte ou o mais esperto e que a natureza seleciona os sobreviventes por seu sucesso. Essa crença, entretanto, nada tem de científica. Como escreveu a notável bióloga Lynn Margulis, não é que “os sobreviventes sejam selecionados por seu sucesso, mas sim que os seres que não conseguem reproduzir-se antes de morrer são excluídos por seleção” (2). Simples assim. Quase (tauto)lógico. Ou seja, a natureza não premia apenas alguns, os mais destacados. E não há nada como uma “luta pela vida” nos cinco reinos de organismos vivos – nem no reino das bactérias, nem no dos protoctistas (como as amebas e conchas), nem no dos fungos (como os cogumelos), nem no das plantas, nem no dos animais – com uma única exceção: os humanos.
O problema com essas leituras ideológicas do darwinismo (e com o próprio darwinismo) é que, em algum momento do passado, projetamos sobre a natureza a competição que observamos nos mercados (e na política autocrática a eles associada) na antesala do nascente capitalismo concorrencial inglês. Costumo dizer sobre isso que selvagem não era bem a selva, mas a concorrência nesse capitalismo inaugural (que, aliás, foi chamado, não por acaso, de “capitalismo selvagem”) e que a “lei da selva” não saiu propriamente da selva para uma sociedade sob o influxo desse mercado nada-livre, mas, ao contrário, da segunda para a primeira.
Capitalismo, ao contrário do que se pensa, não é livre mercado. Na sua origem e em grande parte do seu desenvolvimento, ele foi uma espécie de conúbio entre empresas monárquicas e Estado autocrático hobbesiano (de lá para cá, o Estado se democratizou um pouco, porém as empresas – em sua maioria – continuaram monárquicas, mas isso não vem ao caso agora). O fato é que, independentemente das atuais leituras do darwinismo urdidas para legitimar a idéia de sucesso competitivo-excludente, o darwinismo foi capturado por uma corrente de pensamento hobbesiana e transformado, desde o princípio, em “darwinismo social”.
Como percebeu com argúcia Matt Ridley (1996), “Thomas Hobbes foi o antepassado intelectual de Charles Darwin em linha direta” (3). Segundo Hobbes (que tantos citam e poucos lêem) na falta de um poder que domestique ou apazigue os homens, “não há sociedade; e o que é pior do que tudo, [há] um medo contínuo e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, miserável, sórdida, brutal e curta”. E isso ocorre – segundo ele – não por razões culturais, que emanassem da forma como a sociedade se organiza, mas intrínsecas: uma espécie de inclinação “genética” – e Hobbes (1651) só não disse isso porquanto Mendel (1864) ainda não havia nascido. Sim, senhor, foi o que ele escreveu, sem meias-palavras, no famoso capítulo XIII do “Leviatã”: “na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória”. Para ele o egoísmo e seus bad feelings acompanhantes (como a desconfiança) não eram culturais, mas tinham sua origem na própria natureza humana (seja lá o que isso for).
Muito tempo depois surgiu toda uma linhagem de tarados individualistas mais intelectualizados (como Ayn Rand e Ludwig von Mises) construindo suas ortodoxias com base nesse pressuposto metafísico, segundo o qual o homem é inerentemente competitivo, que o egoísmo é a força motriz da criatividade e que a cooperação e o altruísmo são um atraso de vida. Trata-se, é claro, de uma impostura antropológica que não pode ser justificada pela ciência. Mas muitos – com estruturas mentais um pouco mais simples do que Rand e von Mises – ainda tentam embasá-la com hipóteses científicas para aumentar-lhe a verossimilhança. Dizem então que basta olhar o comportamento dos outros seres vivos para perceber que essa é “a ordem natural das coisas”.
E citam exemplos. As abelhas têm sua rainha. Os formigueiros têm seus chefes. Os pássaros que voam em bando seguem sempre o seu líder. Ou seja, por toda parte que se olhe, sempre há os que dirigem e os que são dirigidos. E os que dirigem foram os que conseguiram se destacar dos demais, por serem mais bem-dotados, mais capazes de desenvolver suas próprias potencialidades como indivíduos e, sobretudo, mais aptos a enfrentar a luta pela vida saindo-se vitoriosos. Um leão protege o seu território (e suas fêmeas) afugentando os outros leões na base de rugidos, patadas e mordidas. Em várias espécies animais o macho-alfa impõe seu domínio pela força, pela destreza ou pela esperteza, batendo a concorrência. E o mais forte vence, fere, mata ou devora o mais fraco. Sim, é “a natureza, vermelha em dentes e em garras”, como cantou o poeta Tennyson.
De sorte que se disseminou a crença segundo a qual no mundo humano, semelhantemente ao que ocorre no mundo animal (e nos outros reinos de organismos vivos), ter sucesso é sempre se destacar dos demais, vencê-los, sobretudo em contextos em que há escassez – tudo isso baseado no egoísmo. Como se diz no Nordeste do Brasil: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Ora, se ter sucesso em condições de escassez (e dependendo do modo de olhar sempre encontraremos escassez de algum recurso em toda parte) é se destacar dos demais, isso significa que há uma economia política do sucesso, ou seja, a escassez precisa ser administrada. Se todos tivessem sucesso, cada qual naquilo que realiza de uma maneira peculiar (e que só ele pode realizar daquela maneira), o sucesso não seria um prêmio pela vitória. Vitória é o triunfo em uma luta, aquele triunfo que recebiam os generais romanos, atributo da sua glória, conquanto a glória (escoimada da ideologia que a acompanhava) não passasse de uma metáfora para a fama possível naquela época: não havia TV e os caras precisavam desfilar em carro aberto com a coroa de louros nas praças e estádios para serem vistos (e isso não deixava de ser uma difusão por "broadcasting", pois que um era visto por muitos).
Mas essa escassez – segundo a qual no pódio só cabem alguns – é gerada artificialmente pela construção de um pódio em que só cabem alguns. Eis o ponto. Não precisava ser assim. Da mesma forma, não há nenhuma lei natural segundo a qual os jogos precisem ser, quase todos, baseados no padrão perde-ganha; ou, como observou George Orwell, como uma espécie de “guerra sem mortes”. A invenção da escassez replica um padrão piramidal de organização: poucos em cima e muitos na base. Com aqueles degrauzinhos dispostos em diferentes níveis, os pódios são pirâmides.
Se as mentes simples que gostam de sacar exemplos do mundo natural se esforçassem um pouco mais para acompanhar as descobertas científicas, veriam que não há pódios nos reinos de organismos vivos (com exceção do humano). E não há porque não é necessário. Há quatro bilhões de anos a vida vem trabalhando com redundância (e, portanto, com abundância): mesmo quando os recursos sobrevivenciais se esgotam para uma população, a evolução compensa essa (aparente) escassez desenvolvendo novas habilidades na espécie atingida, novas sinergias entre várias espécies e simbioses entre espécies diferentes gerando novas espécies adaptadas às condições mutantes.
O padrão jamais é o da luta, tal como nós, os humanos, a concebemos. O padrão jamais é de competição, como a praticamos. Não há nenhum triunfo e os indivíduos de qualquer espécie não-humana, por mais que tenham conseguido superar grandes dificuldades para sobreviver ou se reproduzir, não desfilam em carro aberto como os generais romanos. Maturana já nos mostrou que animais não-humanos não competem por alimentos, simplesmente seguem seu impulso de se alimentar, não importando para nada se outro exemplar da espécie ficou sem alimento; ou seja, não é constitutiva da sua ação (nem da sua emoção, no caso dos mamíferos), a diretiva de vencer o outro (não sendo essencial para quem come o fato de que o outro deixe de comer).
Da mesma forma, não há liderança nos reinos de organismos (com exceção dos humanos, no reino animal). A abelha rainha não lidera as outras abelhas. As colônias de formigas não têm chefe (nem coordenador, nem facilitador). Como escreveu a cientista Deborah Gordon (professora de ciências biológicas em Stanford, que pesquisou durante 17 anos colônias de formigas no Arizona), “o mistério básico que cerca as colônias é que nelas não há administração... Não há nenhum controle central. Nenhum inseto dá ordens a outro ou o instrui a fazer coisas de determinada maneira... De fato, não há entre elas líderes de qualquer espécie”. E não há, ademais, qualquer programação genética capaz de determinar um tipo de comportamento especializado em relação aos demais indivíduos da espécie: “as formigas não nascem para executar certa tarefa; a função de cada uma delas muda juntamente com as condições que encontra, incluindo as atividades de outras formigas” (4).
Outra hipótese perversa, supostamente científica – que também tem sido instrumentalizada para legitimar a idéia de sucesso competitivo-excludente – é a de que existe uma escala evolutiva segundo a qual alguns seres vivos seriam mais “evoluídos” do que outros. E assim como o homem seria mais evoluído do que o macaco ou do que uma fischerella (uma cyanobactéria), assim também, entre os próprios seres humanos, alguns seriam mais “evoluídos” do que outros: ou seja, a evolução natural se espelharia ou teria uma espécie de continuidade em uma evolução cultural baseada em fatores naturais diferenciados (daí as perversões que levaram alguns a justificar a superioridade do ‘macho branco no comando’: os caucasianos seriam superiores aos negros, amarelos e pardos, os machos seriam superiores às fêmeas, os arianos seriam superiores às demais “raças” humanas e outras barbaridades).
Nada disso! Novamente aqui é Lynn Margulis que vem puxar a orelha dos impostores: “Todas as espécies existentes são igualmente evoluídas. Todos os seres vivos, desde a minúscula bactéria até o membro de um comitê do Congresso, evoluíram do antigo ancestral comum que desenvolveu a autopoese e que, com isso, tornou-se a primeira célula viva. A própria realidade da sobrevivência prova a “superioridade”, já que todos descendemos de uma mesma forma originária metabolizadora. A delicada explosão da vida, numa sinuosa trajetória de quatro bilhões de anos até o presente, produziu-nos a todos” (5).
Os indicadores de sucesso da sociedade hierárquica
Apesar de a ciência já ter desmascarado tantas mentiras que nos pregaram em seu nome, a insanidade continua. Conhecimento atestado por títulos, fama, riqueza e poder permanecem sendo indicadores de sucesso. São os indicadores de sucesso adequados às sociedades hierárquicas. São coisas que só alguns podem ter, não todos. São coisas que alguns podem ter em detrimento dos outros. Assim o sábio se destaca dos ignorantes (ou o titulado do não titulado, até na cadeia), o famoso não se mistura com o zé-ninguém, o rico vive entre os ricos para ficar mais rico e não se relaciona com o pobre (que só continua pobre porque seus amigos são pobres) e o poderoso só consegue exercer seu poder porque os que (acham que) não têm poder lhe prestam obediência. Os critérios de sucesso competitivo são, na verdade, mais do que indicadores: são ordenações da sociedade hierárquica.
O fato é que, os que tiveram sucesso ou venceram no mundo do comando-e-controle, em grande parte, venceram aplicando esquemas de comando-e-controle. Venceram – e foram reconhecidos como vencedores – porque aplicaram esquemas de comando-e-controle, ou seja, porque replicaram um determinado padrão de ordem (e, para tanto, é como se tivessem recebido uma ordenação).
Dentre os que fazem sucesso não estão necessariamente os mais capazes e talentosos. Nem os mais visionários. Aliás, para fazer sucesso na sociedade hierárquica e de massa você tem que ser um pouco cego quanto ao futuro. Visionários não costumam fazer sucesso (quando em vida) porque, não raro, chegam antes da hora, ainda que, com isso, às vezes, consigam abrir caminhos para os pósteros. Van Gogh (1888) não fez sucesso (praticamente não conseguiu vender nenhum quadro). Karl Marx (1867) não fez sucesso: seu famoso (post mortem) Das Kapital, quando lançado, não foi assim aquele fenômeno editorial.
Dentre os que fazem sucesso na sociedade hierárquica e de massa encontram-se, é claro, pessoas esforçadas, criativas ou inovadoras, talentos extraordinários e gênios incontestes. Mas estão lá também – em número tão grande para derrubar o mito de que o sucesso é um prêmio pelo talento – os agentes reprodutores desse tipo de sociedade, como, por exemplo, os colecionadores de diplomas, os marqueteiros de si-mesmos, os vendedores de ilusões, os aprisionadores de corpos (aqueles que reduzem a mobilidade dos outros, em geral obrigando-os a passar grande parte do seu tempo em uma construção murada ou em um território cercado, submetidos diretamente ao seu comando e controle), os construtores de pirâmides (lato sensu), os fabricantes de guerras (idem) e os condutores de rebanhos (aqueles que se dirigem sempre às massas – não às pessoas – com o objetivo de comandá-las e controlá-las, sejam ditadores ou manipuladores). Sobre cada uma dessas categorias – que freqüentemente se misturam e incidem em alguma combinação particular sobre um mesmo indivíduo vitorioso – pretendo fazer uma análise mais aprofundada em outra oportunidade.
Os novos indicadores de “sucesso” na sociedade em rede que está emergindo
Malcolm Gladwell (2008) acabou de escrever um livro de quase 300 páginas, intitulado Outliers, para chegar à conclusão de que “o outlier, no fim das contas, não está tão a margem assim”. Ou seja, os bem-sucedidos são frutos de uma constelação particularíssima e imprevisível de fatores, alguns conhecidos, outros desconhecidos. Como ele próprio escreve, “advogados celebridades, prodígios da matemática e empresários de software parecem, à primeira vista, estar fora da experiência comum. Mas não estão. Eles são produtos da história, da comunidade, das oportunidades e dos legados. Seu sucesso não é excepcional nem misterioso. Baseia-se numa rede de vantagens e heranças, algumas merecidas; outras, não; algumas conquistadas, outras obtidas por pura sorte – todas, porém, cruciais para torná-los o que são” (6).
Sim, ele tem razão: nem excepcional, nem misterioso. No entanto, a combinação ideal, a “fórmula” do sucesso é desconhecida e varia de acordo com as condições de trajetória, tempo e lugar para cada indivíduo.
“Os mitos dos melhores e mais brilhantes e do self-made man afirmam que, para obtermos o máximo em potencial humano, basta identificarmos as pessoas mais promissoras. Olhamos para Bill Gates e dizemos, num espírito de autocongratulação: “Nosso mundo permitiu que aquele adolescente de 13 anos se tornasse um empresário tremendamente bem-sucedido”. Mas essa é a lição errada. O mundo só deixou que uma pessoa de 13 anos tivesse acesso a um terminal de tempo compartilhado em 1968. Se um milhão de adolescentes tivesse recebido uma oportunidade idêntica, quantas outras Microsofts existiriam hoje? Quando compreendemos mal ou ignoramos as verdadeiras lições do sucesso, desperdiçamos talentos... Agora multiplique esse potencial perdido por cada campo e profissão. O mundo poderia ser bem mais rico do que este em que nos acomodamos” (6).
No segundo capítulo do livro, Gladwell conta a história de Bill Gates, sublinhando o fato de que ele foi matriculado em uma escola particular que criou um clube de informática. Essa escola especial investiu, em 1968, 3 mil dólares na compra de um terminal de tempo compartilhado ligado a um mainframe no centro de Seattle. Assim, Gates, quando ainda estava na oitava série, passou a viver numa sala de computador (20 a 30 horas por semana). De sorte que, “quando deixou Harvard após o segundo para criar sua própria empresa de software, Gates vinha programando sem parar por sete anos consecutivos... Quantos adolescentes tiveram esse mesmo tipo de experiência?” É o próprio Bill Gates que responde: “Se existiram 50 em todo mundo, eu me espantaria. Houve a C-Cubed e o trabalho para a ISI com a folha de pagamento. Depois a TRW. Tudo isso veio junto. Acredito que meu envolvimento com a criação de softwares durante a juventude foi maior do que o de qualquer outra pessoa naquele período, e tudo graças a uma série incrivelmente favorável de eventos” (6).
Todos os outliers que Gladwell analisou no livro “foram favorecidos por alguma oportunidade incomum [como, no caso de Gates, estar na escola Lakeside em 1968]. Golpes de sorte não costumam ser exceção entre bilionários de software, celebridades de rock e astros dos esportes. Pelo contrário, parecem constituir a regra” (6).
Responsabilizar a sorte não acrescenta muito conhecimento sobre o fenômeno. Se continuarmos focalizando o indivíduo, a equação não terá solução. Ou melhor, não conseguiremos nem equacionar o problema (já que solução mesmo dificilmente haverá), o que poderia acrescentar, aí sim, algum conhecimento novo. Mas Gladwell erra um pouco o alvo. Não é que tudo se baseia – como ele diz, falando metaforicamente – “numa rede de vantagens e heranças” e sim que tudo depende (muito mais do que pensamos) de uma rede mesmo, de uma rede social propriamente dita. Quando ele afirma que o sucesso dos bem-sucedidos não foi criado só por eles, mas “foi o produto do mundo onde cresceram”, deixa de ver que esse mundo não é o mundo físico, nem 'o mundo' como noção abstrata usada para designar a totalidade da existência e sim o mundo social, quer dizer, a rede social a que estão conectados seus outliers. Eis o erro: ver o indivíduo e não ver a rede; ver a árvore, mas não ver a floresta; ver o organismo vivo, mas não ver o ecossistema em que ele está inserido. É a estrutura e o metabolismo da rede social que podem revelar as condições para o papel mais ou menos relevante assumido, em cada tempo e lugar (ou seja, em cada cluster), pelos seus nodos.
Em uma sociedade como a nossa, cuja topologia e dinâmica se aproximam, cada vez mais, das de uma rede distribuída – a chamada sociedade em rede, emergente nas últimas décadas – isso ficará cada vez mais evidente. Os critérios de sucesso nesse tipo de sociedade tendem a deixar de ser baseados em características puramente individuais e em noções competitivo-excludentes (se destacar dos demais, triunfar, vencer na vida, subir ao pódio onde cabem apenas alguns poucos) para passar a ser função de um corpo e de um metabolismo coletivos: a própria rede.
Não se trata de coletivos indiferenciados, segundo uma velha perspectiva coletivista, própria dos condutores de rebanhos (sejam ditadores ou manipuladores de massas, de direita ou de esquerda, contra os quais os individualistas têm razão nas críticas que fazem) e sim de arranjos de pessoas. A pessoa é o indivíduo conectado e que, portanto, não se constitui apenas como um íon social vagando em um meio gelatinoso e exibindo orgulhosamente suas características distintivas e sim também como um entroncamento de fluxos, uma identidade que se forma a partir da interação com outros indivíduos.
É por isso que o tipo de educação que recebemos, para nos destacar dos semelhantes, é terrivelmente prejudicial em uma sociedade em rede, na qual estão abertas infinitas possibilidades de polinização mútua e de fertilização cruzada que impulsionam a inovação e o desenvolvimento pessoal e coletivo. Essa idéia é desastrosa, porquanto, sob sua influência, desperdiçamos as potencialidades criativas e inovadoras das múltiplas parcerias e sinergias que o relacionamento horizontal entre as pessoas proporciona. Guiados por ela, perdemos talentos, bloqueamos a dinamização de inusitadas capacidades coletivas, matamos no embrião futuros gênios e exterminamos o mais precioso recurso para o desenvolvimento de pessoas e comunidades: o capital social (que é uma metáfora, construída do ponto de vista dos recursos necessários ao desenvolvimento, para designar nada mais do que a própria rede social).
Assim, antes de qualquer coisa, tanto a idéia quanto a própria palavra ‘sucesso’ deverão ser abolidas. Trata-se agora, outrossim, de reconhecer papeis relevantes.
No meu livro “Novas visões” (2008) já escrevi um pouco sobre três papéis relevantes na sociedade emergente. Não é o caso de reescrever tudo agora para dizer a mesma coisa. Concluo este artigo, portanto, com essa extensa auto-citação:
“A chamada sociedade em rede ou sociedade-rede não é uma novidade que está nascendo para substituir a sociedade hierárquica. Ela é (sempre) a (mesma) sociedade que se manifesta assim, como rede distribuída, toda vez que não está rodando programas verticalizadores. Ocorre que, ultimamente, os meios horizontais de conexão transitiva estão ganhando uma velocidade jamais experimentada. De sorte que as fluições distribuídas estão se espalhando: como a vida, elas estão conquistando o globo, não pelo combate e sim pela formação de redes. E estão cobrindo o planeta como uma pele. Dessarte, o social (no sentido especialíssimo que Maturana empresta ao termo) está podendo se manifestar com mais freqüência (7). E essa freqüência está aumentando em um ritmo alucinante.
Assim, normas e valores estão sendo rapidamente modificados. Novos scripts estão se infiltrando (se instalando como vírus) e alterando antigos programas. Novos papéis sociais — como os desempenhados pelos hubs, pelos inovadores e pelos netweavers — estão surgindo, mudando a própria idéia de sucesso: na rede, você é importante na medida de sua capacidade de exercer uma dessas três funções e não de seu exibicionismo, de sua desenvoltura em usar os semelhantes como instrumentos para sua projeção ou de sua auto-reclusão estudada, baseada em uma opinião muito favorável sobre si mesmo ou baseada em seu currículo.
Fama, glória, riqueza, poder, conhecimento atestado por títulos — que são sinais de sucesso em outros tipos de sociedade — tendem a não ser os atributos mais importantes na sociedade-rede.
E o que são os hubs? Os hubs são os conectores, os nodos da rede social muito conectados, são os entroncamentos de fluxos. Um hub não é necessariamente alguém com grande popularidade ou notoriedade e sim alguém com muitas relações, que pode acessar — e ser acessado por — outros nodos com baixo grau de separação.
Não é a fama que faz um hub. Pessoas famosas, celebridades, costumam ser, em geral, inacessíveis. Não são, portanto, conectores. Qualquer trabalho na rede social que não conte com seus principais hubs encontrará mais dificuldades para “conversar” com o que se vem chamando, no âmbito da presente investigação, de “rede-mãe”.
Também não é o conhecimento que faz um hub, a não ser que se queira relacioná-lo ao conhecimento das pessoas, quer dizer, aos contatos de confiança. Às vezes um hub é o chaveiro do bairro, em quem as pessoas confiam que sua segurança residencial não será colocada em risco — e aqui novamente é evocada uma imagem do filme The Matrix: aquele “O Chaveiro”, interpretado pelo ator Randall Duk Kim, era um programa confiável; um hub, de certo modo, também é um programa que “roda” na rede. Tocou-se agora em um ponto importante da dinâmica das redes: confiança. Para que um hub possa cumprir sua função é necessário que as pessoas confiem nele.
Em vez de conhecimento individual, um hub precisa do reconhecimento social. Trata-se de um reconhecimento diferente daquele que se manifesta em relação a uma celebridade: não é um reconhecimento das massas, do grande público, das multidões e sim o reconhecimento realizado um a um, molecular. Assim, pode-se dizer que o hub é “produzido” socialmente pela rede.
O que são os inovadores? Inovadores são muito diferentes dos hubs. Em geral não são conhecidos — e não conhecem — muita gente nem são, na maior parte dos casos, muito conectados. Às vezes, são até bastante isolados. Podem vir a ser amplamente reconhecidos, mas isso depende de fatores, via de regra, fortuitos. A característica principal do inovador é emitir mensagens na rede que acabam produzindo mudanças de comportamento dos agentes (considerando a rede social como um sistema de agentes). Quando esse processo ocorre, o inovador não sabe bem por que nem o que aconteceu. Formaram-se laços de realimentação de reforço (feedback positivo) e a mensagem emitida pelo inovador acabou sendo reforçada e amplificada, adquirindo condições de se disseminar pela rede. Tais mensagens podem ser idéias, modos de fazer ou estilos (como a moda, por exemplo), atitudes que contenham novos padrões (sim, não custa repetir: um padrão é uma mensagem e pode ser transmitido como tal, como já ensinava, há tanto tempo, Norbert Wiener).
O inovador — tal como o hub — também é “produzido” socialmente pela rede. Ninguém vira inovador apresentando sua inovação na TV, nos jornais ou anunciando-a em um evento massivo. A inovação é uma perturbação no tecido social que vai se espalhando molecularmente, ponto a ponto. Pequenas perturbações, mesmo que partam da periferia do sistema (quer dizer, de regiões pouco clusterizadas da rede social), são capazes de se disseminar se conseguirem atingir uma espécie de tipping point (a coisa parece funcionar da mesma forma que a propagação epidemiológica), mas para cada configuração de rede e, a rigor, para cada tipo de mensagem, pode-se ter um “ponto de desequilíbrio” diferente, a partir do qual a mensagem passa a se disseminar exponencialmente.
Nem sempre, porém, os inovadores vêem os resultados de sua inovação. Muitas vezes, eles desencadeiam mudanças de comportamento que só vão aparecer muito tempo depois, quando não se pode mais atribuir a um inovador particular a paternidade da inovação, pois é próprio da dinâmica da rede social que muitas mensagens se misturem, combinem-se e se transformem em outras mensagens.
O que são os netweavers? Netweavers são os “tecelões” (para aproveitar o que poderia ter sido uma feliz expressão de Platão, no diálogo O político, se ele não estivesse se referindo a um sujeito autocrático), e os animadores de redes voluntariamente construídas. Na verdade, eles constroem interfaces para “conversar” com a “rede-mãe”. Os netweavers não são necessariamente os estudiosos das redes, os especialistas em Social Network Analysis ou os que pesquisam ou constroem conhecimento organizado sobre a morfologia e a dinâmica da sociedade-rede. Os netweavers, em geral, são políticos, não sociólogos. E políticos no sentido prático do termo, quer dizer, articuladores políticos, empreendedores políticos e não cientistas ou analistas políticos.
Os políticos tradicionais, entretanto, não são netweavers e sim, exatamente, o contrário disso: eles hierarquizam o tecido social, verticalizam as relações, introduzem centralizações, obstruem os caminhos, destroem conexões, derrubam pontes ou fecham os atalhos que ligam um cluster a outros clusters, separando uma região da rede de outras regiões, excluem nodos; enfim, introduzem toda sorte de anisotropias no espaço-tempo dos fluxos. Fazem tudo isso porque o tipo de poder com o qual lidam — o poder, em suma, de mandar alguém fazer alguma coisa contra sua vontade — é sempre o poder de obstruir, separar e excluir. E é o poder de introduzir intermediações ampliando o comprimento da corrente, dilatando a extensão característica de caminho da rede social ou aumentando seus graus de separação, ou seja, diminuindo a conectividade. Não é por outro motivo que os políticos tradicionais funcionam, via de regra, como despachantes de recursos públicos, privatizando continuamente o capital social. Pode-se dizer que, nesse sentido, os políticos tradicionais são os anti-netweavers, visto que contribuem para tornar a rede social menos distribuída e mais centralizada ou descentralizada, isto é, multicentralizada. Também não é à toa que todas as organizações políticas — mesmo no interior de regimes formalmente democráticos — têm topologia descentralizada ou mais multicentralizada do que distribuída. Essa também é uma maneira de descrever, pelo avesso, o papel dos netweavers.
É claro que a “culpa” por esse comportamento “desenredante” não é dos políticos tradicionais individualmente. Eles são “produzidos” pelo próprio sistema político uma vez que esse sistema não está democratizado. Em outras palavras, quanto mais democratizado estiver o sistema político mais o agente político atuará como um netweaver e vice-versa.
É preciso considerar que os netweavers articulam e animam redes (netweaving) — conectando pessoas com pessoas com o grau máximo de topologia distribuída que for possível alcançar — independentemente do objetivo dessas redes. Podem ser netweavers digitais ou cybernetweavers que contribuam, por exemplo, para expandir a blogosfera, quer inaugurando seu próprio blog, quer ajudando outras pessoas a adquirirem essa efetiva condição de inclusão digital, quer criando ambientes interativos e programas que sirvam para agregar blogs por temas de interesse. Mas eles também podem se dedicar a induzir o desenvolvimento por meio de redes comunitárias ou setoriais. Podem, ainda, assumir um papel político, mais explícito, de experimentar e disseminar inovações políticas (em geral, por enquanto, em pequena escala), ensaiando formas alternativas de democracia — ou de democratização da democracia — ou de governança compartilhada em redes voluntárias de participação cidadã.
Uma longa jornada ainda será percorrida antes de se assumir mais amplamente esses novos paradigmas, o que não significa que eles já não estejam vigendo. Quem está “na ponta” já se comporta mais ou menos assim. Basta ver o que começa a ocorrer nos meios científicos: no passado, um pesquisador, para ser reconhecido, precisava se submeter ao conselho editorial de uma publicação autorizada pelas instituições acadêmicas e esperar alguns meses (às vezes muitos) para ter seu trabalho publicado (ou rejeitado). Hoje, boa parte desse pessoal publica, em seus próprios blogs, as descobertas que vai fazendo, imediatamente e sem pedir licença a ninguém. Há que se convir que essa é uma mudança é tanto!
Acontecerá com os inovadores o que já acontece com algumas atividades intelectuais ou exercidas livremente na área do conhecimento, por exemplo, com os escritores. Escritor é quem escreve. O escritor é reconhecido pelos que lêem o que ele publica e não em virtude de ter obtido um título acadêmico ou uma licença de uma corporação de escribas para escrever ou, ainda, um atestado concedido por uma burocracia qualquer.
A rede é uma ótima oportunidade para se quebrar o poder das burocracias do conhecimento. Na verdade, para quebrar o poder de qualquer burocracia. “Quebrar” talvez não seja a melhor palavra, pois se trata de desobstruir o que foi entupido.
Quanto mais ocorrem eventos de desobstrução, mais a sociedade vai se comportando como uma entidade que aprende, pois o que é chamado de aprendizagem é sempre a abertura de novos caminhos. E mais, a sociedade vai se desenvolvendo, pois o que chamamos de desenvolvimento é a mesmíssima coisa: a abertura de novas oportunidades de conexão” (8).
Notas e referências
(1) Estatísticas reconstruídas pelo professor Nathaniel Leff, de Harvard, sobre a estrutura educacional do século 19, citadas em CAMPOS, Roberto (2000): “Dois desapontamentos”. Rio de Janeiro: O Globo, 02/01/2000.
(2) MARGULIS, Lynn & SAGAN, Dorion (1998). O que é a vida? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
(3) Em 2007, no livro “Alfabetização democrática” (Curitiba: FIEP, 2007), observei em uma nota que “o caso de Hobbes é notável, pois além de esse pensador ter lançado os fundamentos para uma justificação filosoficamente elaborada da autocracia, também derruiu os pressupostos cooperativos de qualquer idéia democrática, tendo influência marcante sobre grande parte dos pensadores de outras disciplinas científicas que surgiram ulteriormente – como a biologia da evolução e a economia – até, praticamente, o final do século 19. A esse respeito vale a pena ler a brilhante passagem de Matt Ridley (1996) no livro As origens da virtude: “Thomas Hobbes foi o antepassado intelectual de Charles Darwin em linha direta. Hobbes (1651) gerou David Hume (1739), que gerou Adam Smith (1776), que gerou Thomas Robert Malthus (1798), que gerou Charles Darwin (1859). Foi depois de ler Malthus que Darwin deixou de pensar sobre competição entre grupos e passou a pensar sobre competição entre indivíduos, mudança que Smith fizera um século antes. O diagnóstico hobbesiano – embora não a receita – ainda está no centro tanto da economia quanto da biologia evolutiva moderna (Smith gerou Friedman; Darwin gerou Dawkins). Na raiz das duas disciplinas está a noção de que, se o equilíbrio da natureza não foi projetado de cima, mas surgiu de baixo, não há motivo para pensar que se trata de um todo harmonioso. Mais tarde, John Maynard Keynes diria que “A Origem das Espécies” é “simples economia ricardiana expressa em linguagem científica”. E Stephen Jay Gould disse que a seleção natural “era essencialmente a economia de Adam Smith vista na natureza”. Karl Marx fez mais ou menos a mesma observação: “É notável”, escreveu ele a Friedrich Engels, em junho de 1862, “como Darwin reconhece, entre os animais e as plantas, a própria sociedade inglesa à qual pertence, com sua divisão de trabalho, competição, abertura de novos mercados, ‘invenções’ e a luta malthusiana pela existência. É a ‘bellum omnium contra omnes de Hobbes’”. Cf. RIDLEY, Matt (1996). As origens da virtude: um estudo biológico da solidariedade. Rio de Janeiro: Record, 2000”.
(4) GORDON, Deborah (1999). Formigas em ação: como se organiza uma sociedade de insetos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
(5) MARGULIS, Op. cit.
(6) GLADWELL, Malcolm (2008). Fora de série (Outliers). Rio de Janeiro: Sextante, 2008.
(7) Cf. Lynn Margulis e Dorion Sagan em Microcosmos (1986), Don Tapscott e Anthony Williams em Wikinomics (2006) e Humberto Maturana em Biologia del fenómeno social (1985), cujas referências completas estão no texto citado abaixo:
(8) FRANCO, Augusto (2008). Escola de Redes: Nova visões sobre a sociedade, o desenvolvimento, a internet, a política e o mundo glocalizado. Curitiba: Escola-de-Redes, 2008.
Augusto de Franco
augusto@augustodefranco.com.br
26 de março de 2009.

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