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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Nas mãos do mané


Segunda metade dos anos setenta, festinha com a turma da faculdade na casa do Waltinho. Com os pais dele viajando. O pai do Waltinho tinha uma adega particular com vinhos de primeira, que decidimos experimentar.
Abrimos a primeira garrafa. Faz tempo demais pra eu lembrar a marca, mas era um tinto italiano maravilhoso. A molecada surtou. Tomar aquele vinho era pra nós - duros - um evento! Que sabor. Que elegância.
Nos sentimos os tais e mandamos ver, enquanto fazíamos uma rodinha de som,cantando e bebendo. Foi-se a primeira garrafa. E a segunda. Que vinho! E assim continuamos. Pelas minhas contas, já tínhamos desfalcado a adega do pai do Waltinho em sete garrafas... Como é que ele ia explicar ? O Waltinho dizia "não se preocupem", enquanto o Mané trazia outra garrafa. O Mané era uma figura, um japonês chamado Manoel. Era ele quem trazia da cozinha o vinho que tanto nos agradava.
E então eu reparei...
A garrafa vazia nunca ficava na sala. O Mané pegava a bichinha e ia pra cozinha, de onde voltava com outra garrafa cheia... e aberta. Não falei nada pra ninguém, só segui o picareta até a cozinha pra vê-lo entornando um garrafão de "Sangue de Boi" dentro da garrafa de vinho italiano.. Só a primeira rodada foi do italiano de verdade. Dali em diante, só "Sangue de Boi", que os "experientes" garotos de vinte anos achavam o máximo...
- Mané, como você é sacana!
E o Mané, sorrindo:
- Vem me ajudar.
Entrei no jogo e também comecei a servir o vinho "ïtaliano". Mas não servia apenas. Puxava assunto...
- E aí, tá bom?
- Excelente!
- Sentiu o buquê?
- Ah, isto é uva de primeira. Também, né? Italiano...
E assim foi. Todo mundo tomando "Sangue de Boi" e desbundando com a qualidade fantástica do "italiano".
Lembrei dessa história anos depois, ao viver uma experiência com vinhos junto à turma de meu filho, que tinha seus 20 anos. Os moleques tomavam um vinho de oito reais...
- Ninguém tem grana pra comprar melhor, pai. Vai esse mesmo.
Abri então um vinho de primeira. Um gaúcho daqueles de tomar de joelhos. E servi pra molecada.
- Que tal, moçada?
- Hummmm... Excelente, tio. Muito bom mesmo.
- Tá vendo? Isso é que é vinho, não essa porcaria que vocês tomam!
- É verdade, tio. Mas vamos continuar com nosso vinhozinho de oito reais. Não queremos qualidade. Queremos quantidade...
Pois é... Saber gostar de vinho é uma questão cultural. Entender de onde vem e como é feito, saber das combinações das uvas, muda nossa percepção. O conhecimento faz com que tomemos vinho com os cinco sentidos. E então o milagre acontece: passamos a apreciar a qualidade mais que a quantidade. E o mais importante: aprendemos a encontrar jóias mesmo entre os vinhos baratos!
O mesmo acontece com música. Com literatura. Com cinema. Com artes plásticas. Com poesia. Com...
Se daquilo que consome você só conhece o preço, vai ficar nas mãos dos manés.
Luciano Pires
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Reinvente-se!


Por Airton Luiz Mendonça (Artigo do jornal o Estado de São Paulo)
O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... você começará a perder a noção do tempo. Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea. Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol.
Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: Nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processarconscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e 'apagando' as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente. Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo.Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo.
Como acontece?
Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência). Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa... São apagados de sua noção de passagem do tempo... Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir-as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações... enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década. Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a... ROTINA
Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos. Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M (Mude e Marque). Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos.
Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugarquente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas.
Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia). Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe do aniversário de formatura de sua turma, visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.
Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente. Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes. Seja diferente.
Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos..... em outras palavras...... V-I-V-A !!!
Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida que existem por aí.
Cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes. Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é?
Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.
E S CR EVA em tAmaNhos diFeRenTes e em CorES di f E rEn tEs !
CRIE, RECORTE, PINTE, RASGUE, MOLHE, DOBRE, PICOTE, INVENTE, REINVETE...V I V A!!!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A humanidade está louca?


Silvia Malamud, psicóloga, silvimak@gmail.com
Loucura é sofrer e concluir que viver desta maneira é normal. Loucura também é estar parado no tempo se repetindo indefinidamente nos mesmos padrões. Loucura é ficar no conhecido "piloto automático" tendo um tipo de reatividade para cada demanda que a vida nos incita e sequer se dar conta de que não há qualquer autonomia sobre si mesmo, portanto, sobre a própria existência.
Num processo gradativo, a nossa percepção pouco a pouco acabou sendo minada. Passamos a achar normal uma vida medíocre sem grandes entendimentos sobre nós mesmos. Pensamos ser normal correr atrás de uma ganância desenfreada alimentada por uma competição atroz.
Pouco a pouco, perdemos a referência de quem somos e o pior é que passamos a achar que a baixa qualidade de prazer que temos na vida é normal. Não nos apropriamos de nós mesmos e, como conseqüência, deixamos de existir como consciências quânticas que somos, passando a funcionar num limiar muitíssimo baixo.
Através de uma comprometida busca pelo encontro com o que nos é pessoal, os nossos processos de lucidez e de emancipação do eu autogerador de um si mesmo consciente e, portanto, criativo, têm portas abertas para se inaugurar. A preconização é de que estejamos lúcidos, atuantes, criativos e prazerosos em todos os nossos processos, que nada mais são do que as jornadas conscienciais do nosso dia-a-dia.
À medida que nos libertarmos de sistemas de crenças aprisionantes, bem como de tudo o que nos mantêm grudados numa tela de aparente movimento, estaremos exatamente no caminho da lucidez. Neste sentido, todo processo de crise existencial é bem-vindo como válvula propulsora de uma transformação pessoal.
Nesta etapa, pela experimentação consciente e totalmente vitalizados, estaremos na nota do prazer, em busca dos mais diversos tipos de conhecimento e em conseqüência, a cada nova descoberta teremos a oportunidade de nos renovarmos. Levamos um enorme tempo nos alimentando por critérios morais impostos e auto-impostos, por noções de certo e errado e por tudo o mais deste orbe que costuma nos compor. Ocorre que todos nós, ao menos uma vez na vida, num determinado instante somos acometidos por uma espécie de "ataque de lucidez" onde passamos a ser e a pensar por nós mesmos questionando toda essa "engenhoca" na qual nos transformamos.
Quase sempre no início da idade adulta, quando já estamos identificados com tudo o que diz respeito a este plano, é que podemos começar a ter vislumbres de percepção de existirmos em nós mesmos. A seguir, costuma acontecer uma sensação de "descolamento". É quando nos percebemos existindo independentes de qualquer sistema em que estejamos inseridos.
Depois desta percepção, que dependendo da pessoa poderá acontecer com maior ou menor intensidade, é bastante comum seguir os mais diversos rumos de acordo com a ampliação da consciência que este eu percebido promove em cada um de nós.Este momento também pode passar de modo obscuro para a grande maioria e para outros pode causar um enorme impacto na medida em que se tem um vislumbre da unidade que todos nós somos.
Mesmo que seja por apenas um instante, esta sensação/percepção do UM é extremamente delicada, posto que é neste ponto que a consciência, assolada pelo medo do desconhecido pode seguir o caminho que envolve uma possível paralisação existencial. Através de profundas experiências individuais ocorre a possibilidade de transcender os limites impostos pelas crenças assimiladas como únicas verdades. É neste momento que começamos a ter consciência do que significa a existência em si.
Para falarmos deste estado de consciência de si mesmo e da sanidade, precisaremos entrar em contato com algumas das vertentes que norteiam a psique humana e observar a sua singularidade. Portanto, aqui cabe um foco de alta definição se você estiver neste tipo de busca de encontro consigo mesmo.
Esta jornada pela sua lucidez na certa vai impulsioná-lo a buscar parceiros que possam compartilhar desses seus momentos de transformação e de resgate de si mesmo. A idéia é que de fato você busque parcerias adequadas e tome um cuidado especial para que não entre em algum outro tipo de sistema de crença camuflado que vende ilusões de idéias sensacionalistas sobre significados de como que se alcançar um suposto nirvana.
O nirvana está na capacidade da presença autoconsciente no agora. Isso mesmo, na lucidez que se tem a cada microssegundo de nossas vidas. No prazer que este status nos oferece e na mais absoluta certeza de que isso sim é que é estar plenamente sentindo-se vivo e, por conseqüência fora de qualquer espécie de insanidade.
Busque parcerias que possam estar na mesma senda que você, mas seja extremamente criterioso nessa busca.
Evite escorregar em padrões conhecidos. Fique atento porque este lugar aqui proposto requer um esforço inicial para que uma mudança efetiva se inaugure em você. Se acaso se perceber muito mental ou só emocional, saiba que está caminhando na direção oposta do que procura.
A parceria pode ser por meio de yoga, terapia, meditação ou por algum assunto que o envolva em criatividade e elaboração. Sempre elaboração sobre o vivenciado e esta pode vir em forma de insights e pensamentos, mas invariavelmente deverá acontecer, para que o agora esteja efetivamente presente e dinamizado em todos os seus momentos.

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