sexta-feira, 5 de março de 2010

A Santarrona de Forquilhinha


AINDA A SANTARRONA DE FORQUILHINHA
COM A PALAVRA, O ADVOGADO DO DIABO

João Eichbaum
(joaoeichbaum.blogspot.com)

“Não existe ser humano mais perfeito, mais solidário e sem preconceitos que as crianças”.

Essa frase foi atribuída à senhora Zilda Arns Neumann, como sendo um dos pensamentos que expressou em sua última conferência.

Quem é que conhece uma criança “solidária”? Qual é a criança que reparte, imediatamente, sem apelo, o seu brinquedo, o seu doce, a sua comida, o colo de sua mãe?

A exclusão do outro é uma expressão rudimentar, não elaborada, de preconceito. A criança, enquanto criança, é a manifestação mais explícita de egoísmo que se encontra na raça dos primatas humanos. Por instinto, e não por deliberação consciente, ela quer a mãe e tudo quanto implique noção de propriedade exclusivamente para si. O instinto de sobrevivência é que dita as normas e o comportamento para a criança. E por força desse instinto ela não abre mão de seu “ego”.

Enfim, o ser humano, mercê da carga animal de que é composto, nunca foi, nem será perfeito.

Conclusão minha: dona Zilda não conhecia crianças. Ou tinha escassos conhecimentos de antropologia, na proporção inversa do tamanho de sua fé, que a mandava acreditar na estória bíblica de Adão e Eva.

Dona Zilda, que se havia casado com um marceneiro, teve todo o apoio de seu irmão, o bispo Paulo Evaristo Arns, para se tornar médica. Tornou-se médica e arrumou um emprego público, na Secretaria de Saúde do Estado do Paraná. Não se tem notícia de que ela tenha trabalhado em hospital, consultório, que tenha trabalhado, efetivamente, como pediatra.

Até que um dia o secretário executivo da UNICEF, James Grant, bateu às portas do palácio episcopal do arcebispo Paulo Evaristo Arns, convidando –o “para iniciar uma campanha contra a mortalidade infantil”. O americano garantiu ao bispo que “não faltariam recursos”. Como o religioso, segundo diz a notícia “não tinha tempo, nem agenda para a empreitada”, ele trouxe a irmã Zilda, uma médica burocrata que, então, estava “meio encostada” em razão da troca do governo no Paraná.

Trata-se de um caso explícito de nepotismo, pois é difícil acreditar que em todo o Estado de São Paulo não houvesse alguém com honestidade e competência suficientes para administrar grandes somas de recursos contra a mortalidade infantil.

Não sei se a doutora Zilda era concursada ou não. Não sei em que situação funcional ela assumiu a “Pastoral da Criança”. Uma coisa é certa: não faltavam recursos.

Então, a doutora fez o que qualquer pessoa faria: patrocinada pelo prestígio do irmão se entregou a uma tarefa internacional, com recursos garantidos, inclusive do seu amigo e colega Alceni Guerra, também do Paraná, que, na condição de Ministro da Saúde, liberou meio milhão de dólares para dona Zilda administrar.

Agora podem me xingar, porque estou instituindo o paradoxo, andando na contramão. Mas, a hipocrisia não me faz bem. Não acho que dona Zilda seja uma heroína, uma santa, ou qualquer coisa do gênero. Se ela administrou bem o dinheiro e o emprego que recebeu, nada mais fez do que cumprir com o dever.

Nada de extraordinário há nisso. Mas nenhuma surpresa me causará a abertura de um processo de “beatificação” da ilustre viúva, vítima da fúria da natureza, que não respeita nem as igrejas.

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