O outono chegou sem fazer muito alarde. Quase não percebemos sua chegada. Aos poucos, porém, os sinais serão perceptíveis, principalmente por meio das folhas que passam a trocar de tonalidade, cedem à velocidade do vento e caem. Árvores e arbustos vistosos e viçosos passam a ter uma aparência ressequida. Durante um período, a natureza ouve o toque de recolher. Neste tempo, porém, a seiva continua sustentando a vitalidade da planta.
Na vida humana, o outono e o inverno acontecem em qualquer tempo. São períodos exigentes que necessitam ser acolhidos e administrados. Assim, como as estações vão se sucedendo, na vida de cada um de nós tudo passa. E o que passou poderá se tornar ensinamento e aprendizado para o que está por vir. Mas é necessário saber tirar lições de cada situação. Só assim, eternos aprendizes, seremos capazes de acalentar sonhos e concretizar utopias.
O passar dos anos tem deixado no ser humano a sensação de declínio, de redução da capacidade física e intelectual. Determinadas tarefas já não são mais praticadas, justificando que a idade não permite. Fica a impressão de que a proximidade do fim exclui a possibilidade do sonho, da utopia e da necessidade de superar os próprios limites. É inevitável a chegada do envelhecimento, que deixa suas marcas. Porém, o ser humano, mesmo tornando-se mais lento, carrega consigo a possibilidade de ultrapassar estações e ir além do tempo, pois sua existência não se resume em ter apenas um corpo, uma dimensão física.
Há algo de extraordinário em cada ser humano que possibilita o ilimitado, o infinito. É justamente essa dimensão transcendental que garante jovialidade e superação. Assim sendo, percebe-se a existência de algo muito maior do que o envelhecimento físico. Algo que faz o caminho inverso. Enquanto o corpo tende ao declínio, lá no mais íntimo do ser parece brotar uma força incrível que se traduz em planos, metas e desejos, independente se serão ou não alcançados. Enquanto houver espaço para utopias e sonhos, a vida estará destinada ao infinito. O envelhecimento é inevitável, mas o desejo de viver é uma questão de escolha.
Não importa a idade física. Importa não deixar de sonhar e de contribuir para que a esperança, esse produto tão escasso, continue construindo vida e história com as marcas do amor, da compreensão, do perdão e da solidariedade. O cuidado com a exterioridade não pode negligenciar o cuidado com a interioridade, lugar ideal para cultivar novos horizontes e de equilibrar as diferenças e desafios de cada estação, na certeza de que haverá um amanhã primaveril aguardando o entardecer do hoje, único tempo que pertence à existência de cada um de nós.
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