Bem, o ano começou quente. Na edição de 31 de dezembro de 2009 do "Jornal da Band", dois garis apareceram desejando felicidades aos telespectadores. Entrou então a vinheta da emissora e, sem saber que o áudio estava sendo transmitido, o jornalista Boris Casoy, que apresenta o noticiário, comentou:
- Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho.
O vídeo com o comentário foi ao ar pela internet e o mundo desabou sobre a cabeça de Boris Casoy. Li de tudo a respeito do acontecido e tirei minhas conclusões:
1. A frase de Boris é um desastre no conteúdo e na forma como foi dita. O conteúdo é feio, revela preconceito sim. A forma é debochada. Mas duvido que qualquer um de nós não seria crucificado em praça pública se tudo o que pensamos e dizemos em particular fosse tornado público. E quem disser que não é assim está sendo hipócrita.
Você acredita que a frase define o caráter de Boris Casoy? Eu não.
2. Não conheço Boris pessoalmente, mas a frase parece um desabafo. Ele deve estar de saco cheio com alguns integrantes de sua equipe ou com a forma como o programa é produzido. Provavelmente está na posição de rainha da Inglaterra, com muito poder de direito e nenhum de fato. E tendo que engolir sapos. Se aparecesse um elefante cor-de-rosa ele reclamaria do elefante. Se fosse um padre ortodoxo ele reclamaria do padre. Foram os garis, ele reclamou e a fala foi ao ar. Dançou.
3. A argumentação de que ele disse o que disse por ser da "elite", rico, direitista ou até - como li em alguns blogs - nazista, é uma estupidez. Boris Casoy é um ser humano como qualquer um de nós. Politizar o que ele disse é um método que só engana trouxas. Outros vídeos (que publiquei em meu site no http://bit.ly/74URdn ) mostram ocasiões em que políticos cometeram escorregões parecidos - ou até piores - que os do Boris, e que também se transformaram em escândalos políticos.
4. Nenhum movimento indignado apareceu quando ele disse "isso é uma vergonha" para as sacanagens e roubalheiras de políticos e banqueiros.
Afinal, ele batia nos poderosos...
Mas no Brasil do pobrismo, onde se executa um jogo sem precedentes de incentivo à luta entre classes, um brasileiro bem educado, opiniático, com poder e bem sucedido como Boris Casoy é um prato cheio. Boris simboliza tudo aquilo que está sendo vendido aos brasileiros como a essência do mal: os loiros de olhos azuis. Mesmo não sendo loiro nem tendo olhos azuis.
Boris errou, sim. Pediu desculpas e vai arrepender-se pelo resta da vida.
Os dois garis já perdoaram Boris e para eles o episódio acabou. Mas preste muita atenção nos próximos acontecimentos. Os dois pobrezinhos que foram ofendidos pelo rico poderoso serão utilizados como bandeira ideológica até cansar. Quando não sevirem mais, voltarão a seu dia-a-dia humilde, como aconteceu com o caseiro Francenildo Costa, cujo testemunho ajudou a derrubar o ministro Palocci. Ou com o motorista Eriberto França que ajudou a derrubar Collor.
Os garis do Boris agora são eribertos e francenildos: gente humilde sendo utilizada como instrumento político por poderosos.
E isso é uma vergonha.
Luciano Pires
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