Por Maurício Gomide Martins
Eu sou bancário. Eu sou motorista. Eu sou balconista. Eu sou jornalista. Eu sou estoquista. Eu sou comerciante. Eu sou industrial. Eu sou…. e assim por diante.
Todos estão integrados a um sistema social que, atualmente, é o econômico. Sem perceberem, estão condicionados à linguagem comportamental vigente. Tal como nos comunicamos pela linguagem oral materna. Sem examinarem a questão a fundo, raciocinam, agem, e vivem ao compasso desse sistema. É como se houvesse uma linguagem social sedimentada desde o nascimento. É a linguagem cultural, que guia nossos passos, comanda nossas aspirações, marca o ritmo social. São essas condicionantes que constroem as leis e dizem o que é normal ou marginal. A preservação dos recursos naturais não consta do rol de suas preocupações.
Essa linguagem é tida como tão natural que não se dão conta de que podem existir outras condutoras estruturais para a sociedade. Espantam-se e não compreendem as ações de outrem, tal como ocorre a uma criança quando ouve diálogo em língua diferente da que usa. Ninguém se questiona sobre a possibilidade da existência de outra linguagem vivencial. Espanta-me quando leio alguma crítica sobre os procedimentos sociais de alguma teocracia ou de povos aborígines. Culturas diferentes não podem ser mutuamente criticadas. É preciso que cada lado leve em consideração esse caldo de linguagem em que os povos vivem. Muitas dessas culturas giram em torno de uma cosmovisão antropocêntrica.
A palavra linguagem, aqui, é inadequada no seu verdadeiro significado. Empregamo-la, figurativamente, para destacar que o sistema econômico em que todos estamos inseridos funciona como um se fosse um referencial único e correto. É o paradigma da vida em sociedade. Passa a ser um estado de consciência permanente, em função do qual o homem pensa e age. Seria como a água para os peixes. Fica sendo tão natural para eles respirarem o oxigênio da água que ficam incapacitados de entender como podem viver seres fora desse meio.
Existem outros sistemas, fora dessa linguagem dominante, a que não damos a devida atenção, mas que servem perfeitamente de exemplo e indicação de que é possível alterar o sistema vigente:
a) a linguagem social imperante dentro da família, formada pelo pai, a mãe e filhos. Esse ambiente propicia condições para que os relacionamentos se façam de forma própria, exclusiva, sem a pressão dos esquemas sociais egoísticos. As individualidades agem e se condicionam em função do todo familiar;
b) a que prevalece numa comunidade religiosa, seja num mosteiro, num convento, ou numa coletividade ideológica. Ali vivem segundo um código próprio, particular, exclusivo. E se entendem muito bem, pois suas mentes são equalizadas pela crença ou ideologia com vistas a um bem uno;
d) a usada em reuniões de dirigentes corporativos ao tratar de seus procedimentos ou objetivos econômicos. Esclarecendo melhor esse aspecto, além de servir de exemplo, eles decidem implantar uma revolta militar sangrenta para derrubar um governo e saem candidamente da reunião para o convívio amoroso da família. Esse caldo de vivência lhes parece tão normal que eles próprios, identificados como os agentes da destruição dos recursos naturais, não conseguem entender as motivações ambientalistas. Eles têm uma fé inabalável na perenidade da riqueza individual e só conhecem essa linguagem. No âmbito da vida humana, isso tudo não é mais do que o objetivo sem objetivo.
Mesmo alguns ambientalistas, tal como os fanáticos de todas as espécies, ainda não foram capazes de perceber que os humanos estão aprisionados mentalmente a um contexto, a uma linguagem civilizacional. Não conseguem enxergar a amplidão da liberdade vivencial e se vêm aprisionados pelas condicionantes da cultura e do antropocentrismo.
Há outras linguagens, outros viveres. Basta citar os silvícolas não contatados, ainda não impregnados pela modernidade desagregadora. Eles, na vivência simples, natural, têm o conjunto ambiental como parte integrante das concessões que lhes fazem o criador, em suas crenças cosmogônicas.
A alteração para uma linguagem compatível com o meio ambiente somente se dará com uma revolução mental de todo o sistema civilizacional vigente. Pontos fundamentais dessa mudança: abandono do egoísmo humano, visão ecológica, governo mundial e afrontamento demográfico.
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“Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista, colaborador e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------Nota: o livro “Agora ou Nunca Mais“, está disponível para acesso integral, gratuito e no formato PDF, clicando aqui.
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