quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mudando o mundo


Uma vez, logo no começo de minha vida profissional, levei um impresso para um cliente aprovar. Era um folheto que mostrava um loteamento numa cidade do litoral de São Paulo. No verso eu havia desenhado – na verdade feito um cartum - um mapa mostrando os caminhos para chegar até a tal cidade. Quando o cliente – um senhor de idade - viu o mapa, ficou fulo! Começou a gritar, dizendo que o mapa não tinha proporções, que uma estrada estava mais curta que a outra, que as cidades não estavam na localização correta, que aquilo estava tudo errado e tinha que ser feito de novo. O homem ficou uma fera e pela expressão do rosto do pessoal que trabalhava com ele, saquei que a coisa era séria. Já antevendo o prejuízo que eu tomaria se tivesse que fazer a arte e os fotolitos outra vez, arrisquei uma explicação ao indignado:
- Senhor fulano, este mapa é apenas ilustrativo. É só uma indicação artística para dar uma idéia de onde fica o loteamento.
O homem soltou um “ah, é artístico?”. E imediatamente parou de bufar, mudou a carranca para um quase sorriso e aprovou o folheto. E eu, que um segundo atrás estava tomando um esporro, não entendi nada...
Anos mais tarde é que fui compreender o que havia acontecido. Minha argumentação mudou a perspectiva do cliente, fazendo com que ele olhasse a situação sob outro ângulo.
Na teoria cognitiva, “perspectiva” é a escolha de uma referência a partir da qual procedemos à decodificação de uma experiência. Quer ver como é?
Uma vez ouvi uma história deliciosa sobre uma criança de oito anos que, durante um vôo comercial, corria pelo corredor, batia nas pessoas, fazia barulho, não parava quieta. É uma história que ilustra perfeitamente a questão da perspectiva. O sujeito que me contou, disse assim:

- “Os pais do moleque, moderninhos, deixavam o filho livre. O demônio quase derrubou meu laptop e uma xícara de café do sujeito que estava na poltrona ao lado. Até que um passageiro perdeu a calma e deu uma descompostura nos pais do garoto. Muito a contragosto os pais prenderam o moleque pelo cinto de segurança na poltrona e o obrigaram a ficar quieto. Então o diabinho começou a chorar, gritar e espernear. O escândalo era pior do que a bagunça pelos corredores, transformando o vôo num inferno. Aumentei o volume do fone de ouvido, mas não adiantou. De repente uma colega que estava sentada à minha frente chamou a aeromoça e lhe disse alguma coisa.
A aeromoça deu um sorriso e foi à cabine do piloto. Curioso, perguntei para a colega o que ela havia dito à comissária, e ela respondeu:
- Em vez de tentar resolver o nosso problema, deveríamos resolver o problema da criança.
Minutos depois o co-piloto apareceu no corredor e perguntou para o menino se ele gostaria de pilotar o avião. O diabinho olhou para o pai e para a mãe, sem acreditar no que ouvira. E pronto! Durante quase todo o resto do percurso o garoto ficou na cabine de comando, fingindo que pilotava o avião. E ninguém mais ouviu um pio do pentelhinho.“
Em vez de olhar o problema por nossa perspectiva, aquela moça olhou pela perspectiva do moleque...
Mudando a perspectiva, mudamos o mundo.
Luciano Pires

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