Crédito: arte Pedro Lobo |
Tenho recebido recados de homens ameaçando me capar por causa de "História Regional da Infâmia, o Destino dos Negros Farrapos e outras Iniquidades Brasileiras, ou como se Produzem os Imaginários" (L&PM). Estou disposto a morrer pelo meu livro. Não tenho medo. Sou de Palomas. Mas, se escapar, quero preservar a integridade dos meus órgãos genitais. Ainda pretendo recorrer aos bons serviços deles por muitos anos. Muitos historiadores, como Moacyr Flores, Tau Golin e Mário Maestri, já examinaram vários dos temas abordados por mim. Tenho a convicção de dar alguns passos à frente. Ninguém até hoje abordou como eu a questão da venda de negros no Uruguai para o financiamento do nosso movimento revolucionário, hoje louvado por muitos como tendo sido abolicionista.
Retomo algumas questões: Bento Gonçalves foi ladrão e contrabandista? Canabarro traiu em Porongos? Os negros farrapos foram entregues ao Império ao final do conflito ou libertados? Nosso hino é um plágio? Morreu muita gente nos dez anos de guerra? Ou morria mais gente de velhice e doença? Acrescento outras: Domingos José de Almeida foi um escravista convicto que vendeu negros para financiar parte do movimento e depois brigou para cobrar a conta? Neto foi acusado de desvio de dinheiro? A divisão entre os farrapos se deu por causa da corrupção que campeava solta? Alguns historiadores pulam partes que lhes parecem sem importância. Não examinam, por exemplo, a polêmica entre Alfredo Varela e Alfredo Ferreira Rodrigues sobre a questão de Porongos. Eu passo o pente-fino em tudo isso.
Precisamos vencer a etapa dos estudos de folcloristas e militares aposentados. A historiadora Daniela Vallandro de Carvalho está preparando na UFRJ tese sobre os negros na Revolução Farroupilha. É tempo de releitura. Varela foi dos primeiros a denunciar a traição em Porongos. Descobriu uma carta assinada por Caxias combinando com Canabarro o massacre dos negros. Rodrigues buscou "provas" para refutar a acusação. Encontrou um depoimento de um suposto testemunha meio século depois dos fatos. Caxias teria assinado a carta, depois dos acontecimentos, apenas para confirmar uma intriga já montada. É frágil, pífio, quase infantil. A assinatura é verdadeira. O conteúdo seria falso. Acontece que outros elementos confirmam a traição. Canabarro tirou a munição da infantaria (não dos lanceiros), que foi massacrada. Há quem prefira crer numa boa e simples coincidência. Uau!
Recebo insultos por e-mail e Twitter. Acompanho o silêncio da grande imprensa. A mídia brasileira vem abrindo espaço para livros de vulgarização histórica, como os de Laurentino Gomes, que tem a vantagem de ter sido editor da Veja. Gomes bebeu fartamente em livros de verdadeiros historiadores, como o professor da PUCRS Jurandir Malerba. Está na hora de se ver nos jornais o trabalho de quem faz pesquisa de arquivos. É conversa fiada essa história de que os pesquisadores escrevem mal. Há muita gente escrevendo bem. O Rio Grande do Sul é que regrediu. Que me capem se eu estiver errado. Podem vir!
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
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