quinta-feira, 1 de maio de 2008

Presente e futuro das células-tronco


Especialistas esclarecem 12 questões sobre o que já se sabe e o que ainda é experimental nesta área.

Cristina Amorim escreve para ‘O Estado de SP’:

Fontes: Lygia da Veiga Pereira, geneticista do Instituto de Biologia da Universidade de SP (USP); Patricia Helena Lucas Pranke, professora da UFRGS e da PUC/RS e presidente do Instituto de Pesquisa com Célula-tronco; e Rosalia Mendez-Otero, pesquisadora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ.
A aprovação da nova Lei da Biossegurança no Congresso jogou os holofotes sobre um tema pouco conhecido da maioria das pessoas, ainda que elas sejam grandes beneficiadas das pesquisas com células-tronco.

O apoio dado por personalidades internacionais, como os atores americanos Michael J. Fox, que sofre do mal de Parkinson, e Christopher Reeve, que morreu no ano passado vítima de complicações decorrentes de uma paralisia do pescoço para baixo, ajudam a colocar o tema em evidência.

As células-tronco são atualmente uma das principais vedetes da pesquisa científica no mundo, com a promessa de entregar terapias para doenças hoje incuráveis. Porém, entre a realidade e a Confira algumas respostas dadas por especialistas a dúvidas usuais sobre o assunto:

O que são células-tronco?

São células pouco diferenciadas, com grande capacidade de transformação celular. São encontradas em embriões, cordão umbilical e tecidos adultos, como o sangue, a medula óssea e o fígado, por exemplo.

Se as células-tronco podem ser retiradas de tecidos adultos, por que os cientistas querem trabalhar com as embrionárias?

Porque somente essas são pluripotentes ou totipontentes, ou seja, têm a capacidade virtual de produzir todos os 216 tecidos do corpo. As células retiradas de um tecido adulto podem produzir apenas um tipo: por exemplo, as chamadas hemotopoiéticas, obtidas na medula óssea, formam todas as células que formam o sangue, como linfócitos e glóbulos vermelhos.

Pesquisas recentes sugerem que células-tronco adultas talvez apresentem uma capacidade similar às embrionárias, quando trabalhadas sob certas condições, mas os resultados são ainda incipientes.

O que a lei aprovada na Câmara permite e coíbe?

A lei permitirá o uso de células-tronco de embriões congelados nas clínicas de fertilização assistida que são excedentes, pois não serão colocados em útero, ou enviáveis, que não teriam a capacidade de se desenvolver em um feto. Os embriões precisam estar congelados há mais de três anos e só podem ser usados após o consentimento dos pais mediante doação.
Não serão permitidos o comércio dos embriões, nem sua produção e manipulação genética. Estão vetadas as clonagens terapêutica, para aplicação na pesquisa, e reprodutiva, que visa a produção de pessoas.
Destruir um embrião equivale a matar uma pessoa?

A chance de um blastocisto se transformar em bebê normal é de 30% - os outros 70% se perdem naturalmente. Quando ele é criado por técnicas de reprodução assistida, a possibilidade cai para menos de 1%.
Não há nenhuma definição científica formal para quando começa a vida. Alguns cientistas defendem o mesmo critério para a morte, quando a atividade cerebral cessa, para definir a partir de quando um embrião deve ser visto como mais do que um punhado de células. Um blastocisto não apresenta qualquer atividade cerebral, motivo pelo qual os países que permitem as pesquisas com células-tronco embrionárias estabeleceram um limite de idade de até 14 dias, pois até essa etapa não há resquício de sistema nervoso no embrião.

Por outro lado, a percepção de quando começa a vida varia de acordo com a que a pessoa possui. Para alguns, ela se inicia no momento da fecundação; para outros, quando o embrião é implantado no útero ou quando o feto pode ter uma vida independente da mãe.

Qual é o tamanho do embrião quando as células são extraídas para pesquisa?

Microscópico. Assim que o óvulo é fertilizado pelo espermatozóide, ele começa a se dividir. Em cinco dias, cerca de cem células estão formadas e o embrião é chamado de blastocisto. Ele é formado por uma camada fina de células - que formarão a placenta - e um aglomerado de células-tronco em seu interior - que formarão a pessoa.

Deste bolo de células, é retirado o chamado ‘botão embrionário’, o que destrói o embrião. Ele é cultivado em laboratório para se manter de forma não-diferenciada, ou seja, não formar nenhum tipo de tecido, como um neurônio ou uma célula de epiderme, formando linhagens que rendem material para diversos anos de trabalho no laboratório.

Quantos embriões congelados existem estocados no país? Como e a partir de quando eles poderão ser utilizados para pesquisas?

Estima-se que existam cerca de 30 mil embriões congelados nas clínicas de fertilização assistida no Brasil. Até a Lei da Biossegurança aprovada pela Câmara anteontem, o material não poderia ser descartado.

É errada a idéia de que cada pesquisa exigirá um ou mais embriões. Os pesquisadores usam linhagens de células-tronco embrionárias, que podem se manter indefinidamente se tratadas de forma correta. Na verdade, ninguém sabe quanto tempo uma linhagem pode durar. A primeira, de células-tronco embrionárias de camundongo, foi criada em 1989 e ainda existem pesquisadores que a utilizam. A primeira linhagem de células-tronco embrionárias humanas foi criada é de 1998 e também gera material para pesquisa até hoje.
Pesquisadores podem adquirir as células-tronco diretamente nas clínicas de fertilização assistida?

Sim, mas não antes sem autorização de uma comissão especial. Qualquer projeto científico que envolve a manipulação de material humano precisa da autorização de um concelho de ética do instituto onde o cientista trabalha. Após dar esse passo, ele poderá contatar as clínicas. Nenhum embrião poderá ser usado sem a permissão dos pais biológicos.

O prazo de três anos foi estabelecido no texto da lei para que os casais tenham tempo para decidir se querem ou não implantar o embrião no útero.

Quais doenças que, já se sabe, podem ser curadas ou mitigadas pelo uso de células-tronco?

Hoje, nenhuma, seja com as embrionárias, seja com as adultas. Todas as pesquisas realizadas até o presente momento estão em fase inicial e, apesar de alguns resultados preliminares serem promissores, não há nenhum tratamento aprovado para utilização nos hospitais.

Dito isso, há algumas áreas que os cientistas têm mais esperança de aplicação das células, como o mal de Parkinson, diabetes, lesões na medula, alguns tipos de câncer e doenças no coração. Em modelos animais, elas restituíram a medula óssea, aliviaram sintomas de Parkinson, recuperaram pelo menos parcialmente a visão de ratos e o movimento das patas.
As pesquisas mais avançadas são feitas com a variação adulta, cuja utilização é menos polêmica. Com as células-tronco embrionárias, há alguns problemas de segurança que ainda dependem de solução. O fato de elas terem a capacidade de se transformar em qualquer tecido tem dois lados. As possibilidades terapêuticas são extensas, mas os cientistas têm alguns problemas em produzir justamente o tecido desejado. Se elas não são direcionadas antes da aplicação no corpo, formam um tumor, como foi observado em camundongos. Outro problema é a compatibilidade, já que são células estranhas ao corpo.

Em que estágio está o Brasil na pesquisa com células-tronco?
O Brasil possui alguns estudos bastante adiantados com a variação adulta. Um exemplo é um projeto multicêntrico para tratar insuficiência cardíaca, que recebe investimento do governo federal e pode chegar ao Sistema Único de Saúde nos próximos anos. Há outras linhas de pesquisa em diferentes estágios especialmente em SP, RJ, Salvador e Porto Alegre.

Nações como a Grã-Bretanha e os EUA investem em linhas do tipo há mais tempo (leia texto na página A18). Contudo, os institutos de ciência brasileiros têm demonstrado capacidade técnica para produzir bons resultados.

Qual é a diferença entre o uso terapêutico de células-tronco e a clonagem?

As células-tronco retiradas de um embrião produzido naturalmente ou por fertilização assistida podem apresentar incompatibilidade com o paciente, pois podem ser interpretadas como um organismo invasor e ser atacado pelo sistema imunológico.

Quando um embrião é fruto da clonagem, utiliza-se o código genético do próprio paciente para produzir um blastocisto com suas características (veja quadro acima). Dessa forma, não haveria rejeição às células-tronco.
Essa é a chamada clonagem terapêutica, que é permitida em alguns países, como a Coréia do Sul e a Inglaterra. Se um embrião clonado é implantado em um útero, é a clonagem reprodutiva.

Alguém já clonou embriões humanos?

Há apenas um caso documentado e aceito pela comunidade científica internacional. No ano passado, cientistas sul-coreanos utilizaram 242 óvulos humanos para gerar 20 embriões e usados para a extração de células-tronco. Eles conseguiram produzir apenas uma linhagem .

(O Estado de SP, 4/3)

Matéria retirada do site:

Matéria inspirada do blog: http://valeriagborborema.blogspot.com/

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