É barato fazer promessas. Especialmente quando não existe o compromisso de cumpri-las. Basta assistir ao horário eleitoral para ver o desfile de promessas que transformarão o Brasil num paraíso. E o mais curioso: ninguém é cobrado sobre o que prometeu.
Fiz uma palestra para o Sebrae outro dia e uma coisa me chamou a atenção: o presidente da entidade permaneceu na primeira fila o tempo todo. Meses depois repeti a dose em outro evento e lá estava ele outra vez: na primeira fila, o tempo todo.
Em outra oportunidade, num evento para alguns clientes da Syngenta, quem permaneceu na primeira fila? O presidente da empresa.
Fiz outra palestra, desta vez para o Ministério Público do Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves. E o prefeito ali ficou, o tempo todo.
Sabe o que estes casos tem em comum? São exceções... Isso mesmo, exceções: promessas cumpridas. A regra é: a maior patente, o líder, o chefão, reúne os clientes, fornecedores e funcionários, faz um emocionante discurso de abertura dizendo como eles são importantes, fundamentais, a razão de a empresa existir e em seguida cai fora. Desaparece, deixando um recado claro:
- Vai desculpando aí pessoal. Tenho coisa mais importante pra fazer.
Isso me lembra de uma carta de agradecimento que recebi anos atrás de uma funcionária que estava saindo da empresa. Ela falava de coisas que a marcaram, colocando em primeiro o fato de um dia, ainda estagiária, trabalhar na montagem de um estande tendo ao lado o gerente, com as mangas arregaçadas, pegando duro também. Ela dizia que ver o chefe ali, pegando no batente como ela, a impressionou de tal forma que ajudou a moldar seu modelo de liderança.
Anos mais tarde, nos EUA, aprendi o termo que os estadunidenses utilizam para falar desse assunto: “walk the talk”. Numa tradução livre, “faça o que você diz que faz”.
Recentemente interrompi um cliente que fazia um discurso-chavão sobre a importância da comunicação em sua empresa. E perguntei:
- Qual é o budget?
- Como?
- Quanto dinheiro você separou para investir em comunicação?
- Ah, não trabalhamos com “budget”. Trabalhamos com despesas.
Em outras palavras, o dinheiro reservado para investir naquilo que ele dizia ser o mais importante era zero. Nada. Niente. Néris de pitibiribas. Dei-lhe então o definitivo coice:
- Se você não tem budget, significa que não tem um plano. E o que não tem plano, não tem compromisso. É só blá-blá-blá.
Infelizmente esse diálogo é muito comum. No mundo profissional o “walk the talk” está cada vez mais difícil, apesar de ser – talvez – o mais importante atributo de quem se pretende líder. Na política então...
Ofereci àquele cliente que fazia o discurso-chavão um “santinho”que carrego comigo, com a imagem de Ofélia e Fernandinho, os personagens imortalizados por Sônia Mamede e Lúcio Mauro no célebre humorístico “Balança mas não cai”. Após pronunciar as maiores barbaridades, demonstrando sua infinita ignorância, Ofélia dizia o bordão famoso:
- Só abro a boca quanto tenho certeza.
Conclusão: só “talk” se fizer o “walk”.
Ou - para aproveitar o ano de eleição - só vote no talk de quem faz o walk,
Luciano Pires
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