sábado, 16 de outubro de 2010

Experiências autênticas



Crédito: 
ARTE RODRIGO VIZZOTTO


Um homem quase aos 50 anos de idade defronta-se com questões angustiantes: qual a chance de vir a ter um câncer de próstata? Poderá sofrer de disfunção erétil? Hasteará a bandeira a meio pau? Verá o Internacional ser campeão brasileiro novamente? Suportará o exame do toque uma vez por ano? Ou vai querer que seja semestral? Alguns se arrependem de coisas de décadas antes: não ter pego a mão da Fátima na matinê do cinema Internacional só para não perder a cena do duelo, não ter beijado a Luísa na miniboate do clube Cruzeiro, ter beijado a Márcia no Carnaval de 1978, ter deixado cair a hóstia na cerimônia da primeira comunhão, ter permitido que o Marcão levasse aquele disco da Nara Leão e deixado, em troca, um do Wilson Simonal, ter usado pantalona, costeleta e colete de lã.

A proximidade dos 50 apavora. Alguns se dizem que é hora de tomar uma decisão e de viver uma experiência autêntica definitiva. Já vi gente trocar de sexo, de ideologia, de partido político, de cabeleireiro, de carro e, até, de parceiro por causa disso. Os tempos andam tão vertiginosos que tudo parece possível. Até aquilo que ainda nos choca. Por exemplo, um cara de 50 anos trocar de clube de futebol, o Grêmio pelo Inter, o Inter pelo Grêmio (menos provável no momento). Aí, sejamos francos, já é falta de caráter ou desespero. Precisamos, contudo, compreender as pessoas. A proximidade dos 50 anos fragiliza os homens. Eles começam a pensar no sorteio. Sabem o sorteio? Cada um de nós terá, cedo ou tarde, uma doença que o matará. Resta saber com qual seremos sorteados. Há casos previsíveis por fatores hereditários. 

Homens de 50 anos questionam-se sobre coisas inusitadas ou simplórias: devem usar Viagra ou é cedo? Fica bem nessa idade trocar o PP pelo PSol ou é melhor passar primeiro pelo PV? Usar tênis All Star e blazer não vai parecer coisa de velho babão querendo bancar o jovem? Devem arranjar desculpa para tentar caçar na Pink Elephant ou é só meter a cara? Ir na Farm''s para ouvir sertanejo universitário é coisa de velho jovem ou de jovem velho? Sair direto da Padre Chagas para o Bar do Beto tem um significado? Qual? Um homem quase aos 50 pode também ter crises de seriedade. Eu me pergunto: posso ser um indivíduo melhor? Um amigo me responde: "Pode. Mas é mais fácil ficar pior". Como tem gente cínica no mundo. Como ter experiências autênticas com uma turma assim?

Fiz uma pesquisa com uma amostragem masculina próxima dos 50 anos de idade. Perguntei: qual a pergunta que mais se faz um homem perto de completar 50 anos? A resposta foi unânime, de deixar os índices de Luiz Inácio no chinelo: 100% dos entrevistados responderam que se perguntam: ainda vou comer alguém de parar o trânsito? Bando de machistas. Só essa expressão já mostra a idade que têm. Hoje, gata é que é gata mesmo para é trânsito de helicóptero. Aí um entrevistado falou: "Pensando bem, estou fora dessa, que não quero ser pato". Ouviu na lata de um mais assanhado: "Tudo que eu queria era ser Pato".

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Visualizações nos últimos 30 dias

Visitas (clicks) desde o início do blog (31/3/2007) e; usuários Online:

Visitas (diárias) por locais do planeta, desde 13/5/2007:

Estatísticas