sábado, 24 de dezembro de 2011

Papai Noel Azul

Papai Noel Azul: crônica de Natal e Futebol


Por AIRTON GONTOW

Léo e Cláudio são amigos desde a infância.

Desde piás, como se diz em Porto Alegre.

Da mesma idade, ambos bons de bola e apaixonados por música seriam até que parecidos se não houvesse uma diferença maior do que o canyon do Itaimbezinho.

O primeiro é gremista. O segundo colorado. Um é azul. O outro, vermelho.

Desde guris os dois amigos inseparáveis gostavam de provocar um ao outro quando o assunto era futebol.

Foi de Cláudio a idéia de receber Léo na frente do colégio, com outros colegas, no dia seguinte à conquista do octacampeonato gaúcho pelo Inter, pintá-lo de azul, deitá-lo em um caixão e desfilar com o “morto gremista” pelos longos corredores do colégio.

Foi Cláudio que infernizou a vida do amigo nas duas vezes em que o Grêmio foi para a segundona do Campeonato Brasileiro: “ão, ão, ão, segunda divisão”, tripudiava até em momentos que nada tinham a ver com o futebol, como no recente encontro dos ex-colegas da turma formada no Ginásio em 78.

Léo teve menos oportunidades de irritar o amigo. Mas pôde fazê-lo por muito mais tempo.

De 83 a 2006, longo período que separa do título mundial gremista do colorado. “Qual é o próximo jogo do Nacional? Digo Nacional porque vocês nunca ganharam lá fora. Internacional é o que vocês não são….”, era seu maior jargão.

A verdade é que mesmo após as conquistas da Libertadores e do Mundial em 2006 pelo rival, Léo não se deu por vencido: “Tudo bem, tudo bem, mas vocês ainda estão atrás da gente. Somos bi da América”,  disse para o colega, antes mesmo do abraço, quando se encontraram por acaso no supermercado.

Adaptou o discurso este ano, com o bi da América pelo Colorado: “vocês venceram tanto nos últimos anos e ficaram tão grandes, mas tão grandes, que conseguiram chegar onde o Grêmio já está há muito tempo”, diz.

Léo é, desde sempre, desses gremistas que nunca vestem roupa vermelha, que não teriam um carro vermelho (“Nem a Ferrari”, garante) e que usam gorrinho azul no Natal. Tinha até a bandeirinha do PT azul – coisa que só acontece no Rio Grande – nos tempos de militante, como tantos e tantos tricolores.

Neste dia 24 de dezembro, Léo recebeu pela manhã a notícia de que Cláudio finalmente foi pai.

Mesmo em meio à correria dos preparativos para a ceia, encontrou tempo para sair às ruas em busca de um presente para o menino. No caminho, teve uma ideia e correu para uma loja de produtos esportivos.

Observou atentamente as vitrines e apontou para o vendedor. “Quero esse uniforme para bebê. Completo: meiõeszinhos, calção e camiseta.”

Pouco antes do meio-dia estava no hospital. Entrou no quarto, cumprimentou a mãe, saudou o velho amigo e entregou o pacote.

Cláudio logo viu a etiqueta da loja e imaginou do que se tratava. Abriu o presente e, como pensava, era um uniforme completo de futebol. Olhou para Léo e exclamou: “Mas é do Inter!”

- Quero que meu filho tire muito sarro do teu, mas faço questão que teu filho seja colorado. Eu torço por isso. Acho tão bonito quando um filho torce pelo mesmo time do pai! – falou Léo.

Os dois se olharam em silêncio. Léo observou os olhos lacrimejantes e vermelhos do amigo. Sentiu o rosto molhado e percebeu que também estava com os olhos vermelhos. “Ambos com a cor do Inter!”, pensou. Pela primeira vez o rival levava vantagem absoluta no confronto diário dessa amizade de mais de 40 anos.

Não resistiu e encontrou, antes de partir, a palavra final, para ao menos empatar a peleja:
- Um dia conte ao teu filho que ele recebeu, na data em que nasceu, um lindo presente de um Papai Noel Azul…

Airton Gontow é jornalista e cronista.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Deixe aflorar toda a sua doçura!

Por Rosana Braga

Às vezes, fico me perguntando por que é tão difícil ser transparente... Costumamos acreditar que ser transparente é simplesmente ser sincero, não enganar os outros. Mas ser transparente é muito mais do que isso.

É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que a gente sente... Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair as máscaras, baixar as armas, destruir os imensos e grossos muros que nos empenhamos tanto para levantar...

Ser transparente é permitir que toda a nossa doçura aflore, desabroche, transborde! Mas infelizmente, quase sempre, a maioria de nós decide não correr esse risco. Preferimos a dureza da razão à leveza que exporia toda a fragilidade humana.

Preferimos o nó na garganta às lágrimas que brotam do mais profundo de nosso ser... Preferimos nos perder numa busca insana por respostas imediatas à simplesmente nos entregar e admitir que não sabemos, que temos medo!

Por mais doloroso que seja ter de construir uma máscara que nos distancia cada vez mais de quem realmente somos, preferimos assim: manter uma imagem que nos dê a sensação de proteção...

E assim, vamos nos afogando mais e mais em falsas palavras, em falsas atitudes, em falsos sentimentos... Não porque sejamos pessoas mentirosas, mas apenas porque nos perdemos de nós mesmos e já não sabemos onde está nossa brandura, nosso amor mais intenso e não-contaminado...

Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar... doçura, compaixão... a compreensão de que todos nós sofremos, nos sentimos sós, imensamente tristes e choramos baixinho antes de dormir, num silêncio que nos remete a uma saudade desesperada de nós mesmos... daquilo que pulsa e grita dentro de nós, mas que não temos coragem de mostrar àqueles que mais amamos!

Porque, infelizmente, aprendemos que é melhor revidar, descontar, agredir, acusar, criticar e julgar do que simplesmente dizer: “você está me machucando... pode parar, por favor?”. Porque aprendemos que dizer isso é ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro. Quando, na verdade, se agíssemos com o coração, poderíamos evitar tanta dor, tanta dor...

Sugiro que deixemos explodir toda a nossa doçura! Que consigamos não prender o choro, não conter a gargalhada, não esconder tanto o nosso medo, não desejar parecer tão invencível...

Que consigamos não tentar controlar tanto, responder tanto, competir tanto... Que consigamos docemente viver... sentir, amar...

E que você seja todo coração, muito mais sentimento, inundado de um amor transparente, apesar de todo o risco que isso possa significar...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Telescópio da Nasa encontra primeiro planeta habitável


Kepler-22b está a 600 anos-luz de distância e é maior do que a Terra

Kepler-22b está há 600 anos-luz de distância e é maior do que a Terra<br /><b>Crédito: </b> AmesJPL Caltech / NASA / CP
Kepler-22b está há 600 anos-luz de distância e é maior do que a Terra
Crédito: AmesJPL Caltech / NASA / CP
A agência espacial dos Estados Unidos (Nasa) informou, nesta segunda-feira, que o telescópio espacial Kepler confirmou a existência do primeiro planeta habitável numa região fora do sistema solar. O astro tem cerca de 2,4 vezes o diâmetro da Terra, mas é pequeno o suficiente para não ser um gigante gasoso, como Júpiter ou Saturno. Além disso, ele orbita uma estrela muito similar ao Sol, ao contrário de outros candidatos, que giravam ao redor de anãs-vermelhas.

No início deste ano, cientistas franceses confirmaram a existência do primeiro planeta fora do sistema solar a atender às exigências para a manutenção da vida, conhecido como Gliese 581d. Mas o Kepler 22b, visto pela primeira vez em 2009, foi o primeiro cujas características puderam ser confirmadas pela agência espacial norte-americana. A confirmação significa que os astrônomos viram o astro cruzar a frente de sua estrela três vezes.

"A fortuna sorriu para nós com a detecção do primeiro planeta", disse William Borucki, principal pesquisador do Kepler no Centro de Pesquisas Ames, da Nasa. "O primeiro trânsito foi capturado apenas três dias depois de termos declarado o telescópio pronto operacionalmente. Nós testemunhamos a definição do terceiro trânsito durante o período de férias de 2010."

O Kepler-22b está há 600 anos-luz de distância. O planeta tem uma órbita de 290 dias ao redor de sua estrela. A Nasa também anunciou que o Kepler descobriu mais de 1 mil planetas com potencial de abrigar vida, duas vezes o número previamente localizado, segundo uma pesquisa que está sendo apresentada numa conferência realizada na Califórnia nesta semana.

O Kepler é a primeira sonda espacial da Nasa que procura planetas semelhantes à Terra e que orbitem sóis similares aos nossos. 
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Assalariados pagam mais IR que os bancos


Trabalhadores garantem 9,9% da arrecadação federal, mais que o dobro dos 4,1% pagos pelas instituições financeiras, aponta estudo

16 de outubro de 2011 | 23h 13

Iuri Dantas, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - As distorções tributárias do País prejudicam a classe média, que contribui com mais impostos do que os bancos. Análise feita pelo Sindicato Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), e confirmada por especialistas, indica que os trabalhadores pagaram o equivalente a 9,9% da arrecadação federal somente com o recolhimento de Imposto de Renda ao longo de um ano. As entidades financeiras arcaram com menos da metade disso (4,1%), com o pagamento de quatro tributos.
"Os dados mostram a opção equivocada do governo brasileiro de tributar a renda em vez da riqueza e do patrimônio", avalia João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). A face mais nítida desta escolha, segundo o especialista, é a retenção de imposto de renda na fonte, ou seja, no salário do trabalhador.
"São poucos os países que, como o Brasil, não deixam as empresas e as pessoas formarem riqueza," afirmou. "Todos os tributaristas entendem que não está correto, era preciso tributar quem tem mais."
O Sindifisco analisou a arrecadação de impostos federais no período de setembro de 2010 a agosto deste ano. Neste período, as pessoas físicas pagaram um total de R$ 87,6 bilhões em Imposto de Renda, incluídos os valores retidos na fonte como rendimentos do trabalho.
No mesmo período, o sistema financeiro gastou apenas R$ 36,3 bilhões com o pagamento de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), contribuição para o PIS/Pasep, Cofins e Imposto de Renda.
Procuradas, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) não se pronunciaram.
Motivo. Especialistas se dividem sobre as razões para a manutenção do que chamam de distorção tributária. Segundo o advogado tributarista Robson Maia, doutor pela PUC de São Paulo e professor do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, o Brasil precisa cobrar tributos equivalentes aos de outros países, para não perder investimentos.
Na avaliação de Olenike, do IBPT, a estrutura tributária tem relação com o poder de influência de bancos e instituições financeiras. "Se fosse em qualquer outro país, o governo já tinha caído, mas nós não temos essa vocação no Brasil, o povo é muito dócil e permite que o governo faça o que quer."
No seu estudo sobre benefícios fiscais ao capital, o Sindifisco defende mudanças na legislação para reduzir as distorções e permitir menor pagamento de imposto por trabalhadores e maior cobrança de grandes empresas e entidades financeiras. "Não basta o Estado bater recordes de arrecadação de Imposto sobre a Renda, pois quem sustenta essa estatística é a fatigada classe média."
http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,assalariados-pagam-mais-ir-que-os-bancos,88394,0.htm
Fonte: 

sábado, 15 de outubro de 2011

Dia do Professor

  “Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade (...)

    Sou professor a favor da esperança que me anima, apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e me imobiliza.

    Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias, sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser do lutador pertinaz, que cansa, mas não desiste.

    Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar.”

 Paulo Freire

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A quarta maçã


Nasci em 1956 em Bauru, no interior de São Paulo, numa família católica apostólica romana. Cresci sob a moral cristã num contexto em que uma maçã teve peso absoluto. Foi experimentando uma que Adão e Eva desobedeceram a uma ordem divina e foram expulsos do Paraíso. Mesmo que você argumente que Adão e Eva são apenas uma alegoria e que nada daquilo existiu de fato, aquela maçã determinou um momento de virada que influenciou a história da humanidade e a formação moral de milhões de pessoas. 

Sou o que sou como reflexo daquela primeira maçã.

Em 1965, com nove anos de idade, ganhei um compacto duplo com quatro músicas: Help!, I´m down, Not a Second Time e Till There Was You, de uma banda chamada The Beatles. Mas eu era muito jovem para entender aquilo. Foi só a partir de 1969, aos 13 anos, depois de ganhar um elepê chamado The Beatles, que percebi que algo diferente acontecia no mundo. E comecei a trilhar um caminho no qual meu modo de vestir, de dançar, de pentear o cabelo comprido, de falar e de interagir com os amigos e com a família entrava em choque com a geração de meus pais. O mundo estava em revolução. Vietnan, Rock´n Roll, as drogas, os hippies, a contracultura, os quadrinhos, o cinema, tudo mudou. Mas foi aquele disquinho de 1969 que abriu meus olhos para o que estava acontecendo. Ah, sim, aquele elepê foi editado por um selo novíssimo chamado... Apple.

Sou o que sou como reflexo daquela segunda maçã.

Cresci, fiz minhas escolhas e nos anos oitenta fui trabalhar como executivo numa multinacional de autopeças. Em 1986, produzindo um anúncio em homenagem à Volkswagem, fui a uma agência de criação onde conheci uma novidade: um computador Macintosh. Assisti maravilhado o artista fazendo diabruras com o logotipo da empresa, botando abaixo tudo aquilo que eu conhecia de fotomontagem, pasteup, letraset e fotolitos. Uma máquina com um design diferente, tela em preto e branco, um mouse e capacidade de fazer coisas que a gente via na tela antes de ter o produto pronto! Eu sabia que naquele momento minha vida começava a mudar. O computador passou a ser minha ferramenta indispensável para pesquisar, brincar, criar e me comunicar. Mudei a forma de trabalhar, a forma de pensar, a forma de me relacionar com o mundo. Depois veio o IPod com o ITunes, a base da tecnologia que me possibilitou criar o podcast Café Brasil. E por fim, o IPhone e o IPad. Nunca me cansei de admirar aquela turma capaz de criar coisas com as quais a gente nem mesmo sonhava... Ah, o nome da empresa é Apple.

Sou o que sou como reflexo dessa terceira maçã.

Ontem morreu Steve Jobs, o gênio criador da Apple, um espetacular editor de idéias que sabia antes da gente o que é que a gente queria. Não tenho dúvidas que junto com ele morreu muito do espírito inquieto que fez da Apple a empresa revolucionária que mudou a vida até de quem não sabe o que é um computador. 

Mas hoje acordei com uma dúvida...

Qual será a quarta maçã?

Luciano Pires

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Temporada de greves


<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER

Tem muita gente em greve. Todos com razão. Ninguém faz greve por amor a criar problemas para os outros, ainda que alguns mereçam. As greves surgem, como se diz no jargão das lutas, de necessidades imperiosas. Veja-se o caso da greve dos bancários. É mais do que justa. Só alguém muito reacionário pode condenar a greve dos bancários. Os ganhos dos bancos no Brasil são indecentes, obscenos, pornográficos. Banco é o melhor negócio do mundo. Todo mundo precisa ter uma conta bancária. Tudo passa pelos bancos. Os serviços são os mesmos em todos eles. Os bancos privados adoram se gabar das suas qualidades e fazer de conta que são mais ágeis, eficazes e modernos do que os públicos. É balela. Os caixas eletrônicos do Banco do Brasil são melhores, com interfaces mais amigáveis do que os de todos os bancos privados brasileiros. Banco do Brasil dá mais do que chuchu na cerca. Tem em toda esquina. Só dá o amarelão.

Banco no Brasil ganha muito e paga pouco. Os bancários pedem 5% de aumento real. Os patrões oferecem 0,56%. Por que tanto? Será que não vai faltar para esses pobres banqueiros pressionados por bancários sedentos de dinheiro? Que latinha a desses leitões que passam a vida mamando deitados! O lucro dos bancos cresceu 20,11% no primeiro semestre deste ano, um avanço de R$ 4,3 bilhões em relação ao mesmo período de 2010. É mole? Pois eles não querem dividir o bolo. A vida de banqueiro é dura. Tem de sustentar mansões, coleções de arte, intermináveis viagens luxuosas, familiares ociosos, serviçais de todo tipo, fusões estratosféricas, patrocínios a obras culturais que não decolam e ainda viver sob a terrível tensão das altas frequentes e das raras baixas da taxa Selic. Dá pena. Um sufoco. Um pesadelo. Coitados. Um inferno na Terra. Deve ser por isso que eles são aliviados de certos impostos. Ou não sobreviveriam.

Em 2011, o Itaú já faturou R$ 7,1 bilhões, e o Santander, R$ 4,1 bilhões. Realmente fica difícil, com lucros tão modestos, pensar em transferir uma fatia do bolinho para os empregados. Os impiedosos bancários, além de tudo, querem aumento no vale-refeição. Esse pessoal só pensa em comer. Será que esses banqueiros não sabiam de tudo isso quando escolheram essa atividade insana? Se estão insatisfeitos com tantas reclamações e greves, como parece, por que não mudam de profissão? Será que ficam só por causa desses míseros bilhões faturados no mole a cada ano? É quase impossível ver uma greve injusta. A dos Correios, por exemplo, tem toda razão de ser. As manifestações de brigadianos, no Rio Grande do Sul, exprimem reivindicações justíssimas. Se os professores da rede estadual entrarem em greve, em busca do pagamento do piso fixado por lei nacional, estarão cobertos de razão.

Só tem um jeito de evitar os problemas criados por tantas greves: pagar melhor. Sabe-se que é muito difícil para um banqueiro separar-se do seu rico dinheirinho obtido com tanto sacrifício pessoal, mas não tem jeito, terão de cumprir essa meta. Com esforço e treinamento, eles conseguirão. É só uma questão de empenho e missão.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

sábado, 10 de setembro de 2011

Dia Mundial da Prevenção do Suicídio

Localização: Em todo o Mundo
Data: 10 de Setembro de 2010
10 de Setembro assinala-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio que em 2010 é subordinado ao tema “Many faces, Many places: Suicide Prevention Across the World”.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de um milhão de pessoas comete suicídio por ano, o que corresponde a 1,4% da carga da mortalidade mundial. Em todo o mundo, nos últimos 45 anos, a taxa de suicídio aumentou 60% e o suicídio passou a ser uma das três principais causas de mortalidade entre os 15 e os 44 anos  e, em alguns países,  a segunda causa de morte nos jovens entre os 10 e os 24 anos.
Em 2010 e à semelhança de anos anteriores, a efeméride é assinalada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio, em colaboração com a OMS, através de uma campanha que pretende sensibilizar para o facto do suicídio ocorrer em todas as idades, alertando para a necessidade de definir estratégias de intervenção adequadas a cada grupo etário.

Mais informações:
             Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio [Eng]
             Organização Mundial de Saúde

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Empresa gentil = lucro maior

Por Rosana Braga
Acredite! Gentileza faz muito bem à sua saúde, tanto física, quanto emocional, espiritual, profissional e,  consequentemente, até a financeira. A gentileza é poderosa! É capaz de abrir portas até então trancadas a sete chaves e amolecer pedras. A gentileza faz milagres, meu caro, pode apostar!
As estatísticas comprovam! Uma pesquisa realizada na Universidade da Califórnia pela professora Sonja Lyubomirsky, mostrou que as pessoas são mais felizes quando são gentis. E mais: que uma variedade de atitudes gentis gera mais felicidade do que repetir várias vezes um mesmo gesto gentil. O resultado dessas pequenas ações, garantem os cientistas, vai além do que os olhos podem ver. Outro estudo, publicado na revistaProceedings of the National Academy of Sciences, comprovou também que a gentileza é contagiante. “Quem se beneficia de um ato de gentileza, passa adiante a gentileza para pessoas que inicialmente não estavam envolvidas no ato”, declararam. A generosidade de uma pessoa, durante o estudo, se espalhava para três outras pessoas e, em seguida, para nove pessoas com as quais estas três interagiam e assim por diante. Exatamente como não se cansava de repetir o Profeta Gentileza (de quem conto a história completa em meu livro O PODER DA GENTILEZA): Gentileza gera Gentileza.
Outro dado interessante é mostrado na pesquisa feita com 15 mil adultos, durante 15 anos, também pela Universidade da Califórnia. O estudo revelou as duas principais causas que dobram as chances de uma pessoa sofrer de hipertensão e problemas cardíacos: hostilidade nas relações interpessoais e impaciência ou pressa. E o que é isso senão falta de gentileza com o outro, com a vida e consigo mesmo? E os números não param por aí. Quando disse que a gentileza influencia diretamente também a sua saúde profissional e financeira, não estava sendo subjetiva! Obviamente, não se trata de transformar a gentileza numa moeda de troca, mas terminam sendo inevitáveis os benefícios propiciados por esta conduta também no âmbito profissional e, portanto, financeiro. O fato é que as empresas têm valorizado cada vez mais os colaboradores, atendentes, vendedores e gestores que sabem conciliar e ter uma atitude positiva diante das dificuldades, de qualquer ordem.
Profissionais que tumultuam o ambiente de trabalho, que não sabem trabalhar em equipe nem se comunicar, são convidados a deixar a empresa na primeira oportunidade. O mercado é cada vez mais exigente e para vencer a concorrência só existe um caminho: atingir a excelência, especialmente na fidelização dos clientes. E é muito fácil, enquanto consumidores, perceber que deixamos uma marca ou um serviço de lado – e ainda falamos mal deles – quando somos atendidos sem gentileza e respeito.
Entretanto, enquanto fornecedores, ou seja, enquanto empresas gentis, muitas vezes os gestores demoram a compreender que se não investirem, urgente e constantemente, no treinamento da gentileza de sua equipe, de seus gerentes e líderes, rapidamente perderão lugar para aquelas que investem. Uma pesquisa feita pela US News and World Report revelou os motivos pelos quais as empresas perdem seus clientes. Ao contrário do que muitos pensam, o valor do produto ou serviço é menos levado em conta (apenas 9%) do que a qualidade desse produto (14%), e a qualidade do produto, bem menos que a qualidade do atendimento (68%), conforme mostram os números. Isso mesmo: sete a cada dez clientes deixam de dar lucro a uma marca ou serviço porque ficaram insatisfeitos com a atitude do pessoal, com a qualidade do tratamento que receberam. Ou seja, ninguém gosta de ser maltratado, muito menos quem está pagando. E lembre-se que essas pessoas não só abandonam o tal fornecedor sem gentileza na primeira oportunidade, como também fazem questão de avisar ao maior número de pessoas para não se tornarem clientes dele.
A Manager Assessoria em RH, empresa dedicada à captação de profissionais, entrevistou 132 principais executivos de RH de empresas com mais de mil funcionários em todo o Brasil e questionou: “O que mais conta na hora da contratação de um colaborador?”. E o resultado foi categórico: conhecimento técnico e comportamento. Mas note bem: ficou claro que, com bom conhecimento e mau comportamento, o profissional é facilmente descartado, enquanto que com um comportamento extraordinário, mesmo sem conhecimento suficiente, pode ser contratado e treinado.
E a falta de gentileza não afeta uma carreira ou uma empresa somente no momento da contratação. Sabemos que em qualquer organização existem problemas a serem resolvidos o tempo todo. O que determina o sucesso ou o fracasso de cada uma é o modo como lidam com esses problemas. As que estão atentas ao ambiente, sempre promovendo harmonia, integração e motivação, certamente estarão muito menos sujeitas aos prejuízos causados por afastamentos, faltas e absenteísmo, ou seja, com o tempo de trabalho perdido quando os empregados não estão na empresa ou produzindo tanto quanto poderiam se estivessem bem!
O maior problema é que muitos administradores e até os presidentes de empresas, equivocadamente, ainda compreendem a gentileza por um viés romântico. Mas a verdade é que este comportamento deixou de ser “artigo de luxo” para se tornar requisito fundamental na postura de todos, na vida em geral e dentro de uma empresa. Recentemente, uma revista especializada em empregabilidade publicou uma pesquisa revelando que 87% dos colaboradores são também demitidos por inadequações comportamentais. Porém, mais do que garantir estabilidade ou sucesso profissional, a gentileza é fator determinante para aumentar o lucro das organizações. Ou seja, empresas e colaboradores que não conhecem ou ainda duvidam do poder da gentileza estão fadados senão ao fracasso, certamente à estagnação ou à falta de sucesso.
No que se refere aos afastamentos, improdutividade ou absenteísmo, não é difícil supor que empresas gentis, no sentido amplo e irrestrito da palavra, propiciam – direta e indiretamente – mais saúde física e emocional aos seus funcionários, evitando inclusive pedidos de demissões de profissionais em busca de uma empresa mais saudável para a qual possam oferecer a qualidade diferenciada de seu trabalho. Ao contrário, empresas que não sabem valorizar nem reconhecer seus colaboradores, que não priorizam a gentileza no atendimento interno e externo, terão não só evidentes problemas para manter parcerias, concretizar negócios e conquistar o mercado, como também para manter a saúde, inclusive financeira, de seu sistema produtivo.
E sinto em informar que os dados não têm sido nada promissores. A Previdência Social mostra que as duas principais causas de afastamento nas empresas são estresse e depressão. Isto é, fatores comportamentais! Para se ter uma ideia do tamanho da encrenca, em 2006, o número de afastados foi de 612 pessoas. Em 2009, pasme, esse número subiu para 14 mil. Isso mesmo: em apenas três anos, a depressão e o estresse aniquilaram 22 vezes mais a produtividade dos trabalhadores. E se isso não for preocupante, se esses dados não servirem para alertar os gestores de que algo precisa ser feito para despertar em seu pessoal uma nova forma de se relacionar e de viver, não consigo imaginar onde vamos parar!
E quer saber quanto isso custa aos donos das empresas? Basta fazer contas. Vamos supor que, numa organização, duas pessoas sejam afastadas durante 15 dias por questões de saúde. Um por conta de uma depressão e a outra por causa de uma crise de hipertensão. Ambas estão, muito provavelmente, com problemas de relacionamento e comunicação, e não seria nada surpreendente se acreditássemos que esses problemas afetam também o ambiente corporativo. É absolutamente certo que com um pouco mais de gentileza, esse quadro poderia ser visivelmente melhorado!
Mas voltando ao raciocínio matemático, o fato é que, se trabalham oito horas por dia, serão 16 horas desperdiçadas em cada um dos 15 que estarão fora. Considerando que não trabalhem aos finais de semana, serão 160 horas jogadas no lixo ao final da segunda semana. Dinheiro deixado de ganhar. Tempo que não produziram. Mas não é só isso! A empresa terá de pagar o salário e também os encargos desses funcionários como se estivessem trabalhando. Quanto isso significa de perda em dinheiro? E em resultados? Qual o tamanho do prejuízo? Certamente, grande! E nem começamos a falar naqueles que estão na empresa mas, além de produzirem aquém do que poderiam se estivessem motivados, integrados e se sentindo num ambiente acolhedor, ainda causam conflitos entre os colegas por pura falta de gentileza. Enfim, creio que não existam mais dúvidas de que a gentileza é determinante na produtividade e no lucro das empresas.
Tom Peters, considerado guru de administração de empresas desde a década de 1970 até os dias atuais e co-autor do livro In Search of Excellence (no Brasil, editado com o título de Vencendo a Crise) foi muito pontual ao enfatizar que uma empresa pode fazer uma tonelada com matéria-prima, mas o interessante é ter uma proposta de valor agregado diferente. “Toda empresa deveria ter um diretor de experiência”, aconselha, defendendo que a coisa mais dura e duradoura são os relacionamentos, os nossos clientes, por isso a importância da execução com Excelência. “Execução são as pessoas. Se você executar bem, já ganhou dos outros. Sou louco por execução”, declarou. Para ele, as empresas só existem por um único motivo: para prestar serviços. E isso vale para uma igreja, um hospital, uma loja e para todo mundo. "O caminho para a maximização do lucro é uma atitude decente". O especialista garante que as simples cortesias são a base da satisfação e retenção de clientes e funcionários. Como líder, diz ele, você precisa dedicar a sua carreira para o desenvolvimento de 100% das pessoas no seu cargo. “Você saberá que está tendo sucesso quando puder ver que eles estão comprometidos com a excelência em tudo que fazem”. Desta experiência, Peters listou as seguintes lições: 1 - A qualidade das interações positivas pode ser mais memorável do que o problema. 2 - Funcionários felizes, clientes satisfeitos. 3 – Fazer a coisa certa gera qualidade. 4 – A gentileza é de graça e dá lucro.
Sim, foi o que ele disse! A gentileza é de graça e dá lucro! Por isso, mesmo que se tenha de investir em treinamentos acerca do poder da gentileza, termina me parecendo fácil fazer comparações. Entre a produtividade e o absenteísmo, entre a gentileza e a dificuldade de se relacionar, o preço pago pelos afastamentos causados pela falta de gentileza é extremamente mais alto. Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor universitário que levanta a bandeira da gentileza com mestria, muito bem avisou: “Ou seremos gentis e cuidantes ou nos entredevoraremos”. Eu arriscaria dizer que temos perdido ótimas oportunidades de cuidarmos uns dos outros e, assim, já estamos nos entredevorando, muitas vezes. E pagando um preço bastante caro por isso! Até quando? No que se refere à sua vida e sua empresa, a decisão é sua!
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br
Reconhecida como uma das maiores especialistas em relacionamentos interpessoais do país, pesquisadora da área há mais de 10 anos, Rosana Braga é conferencista, escritora, jornalista e consultora em relacionamentos. Autora de 5 livros e DVDs de Treinamento, tais como ‘O Poder da Gentileza’, ‘Faça o Amor Valer a Pena’, 'Inteligência Afetiva – 2 volumes', entre outros.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Comportamento


 Circula um e-mail por aí com essa análise:

O brasileiro reclama do que?

1. - Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas.
2. - Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas.
3. - Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração.
4. - Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, e até dentadura.
5. - Fala no celular enquanto dirige.
6. - Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o celular dos amigos (me dá um toque que eu retorno...) - assim o amigo não gasta nada.
7. - Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento.
8. - Para em filas duplas, triplas, em frente às escolas.
9. - Viola a lei do silêncio.
10. - Dirige após consumir bebida alcoólica.
11. - Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.
12. - Espalha churrasqueira, mesas, nas calçadas.
13. - Pega atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho.
14. - Faz "gato” de luz, de água e de tv a cabo.
15. - Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos.
16. - Compra recibo para abater na declaração de renda para pagar menos imposto.
17. - Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas.
18. - Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10, pede nota fiscal de 20.
19. - Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes.
20. - Estaciona em vagas exclusivas para deficientes.
21. - Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado.
22. - Compra produtos piratas com a plena consciência de que são piratas.
23. - Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca.
24. - Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem.
25. - Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.
26. - Frequenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho.
27. - Leva das empresas onde trabalha,  pequenos objetos, como clipes, envelopes, canetas, lápis... como se isso não fosse roubo.
28. - Comercializa  vale-transporte e vale-refeição que recebe das empresas onde trabalha.
29. - Falsifica tudo, tudo mesmo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado.
30. - Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem.
31. - Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve.
32. - Coloca nome em trabalho que não fez.
33. - Coloca nome de colega que faltou em lista de presença.
34. - Paga para alguém fazer seus trabalhos.

E quer que os políticos sejam honestos....
Escandaliza-se com o mensalão, o dinheiro na cueca, a farra das passagens aéreas...
Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo, ou não?
Brasileiro reclama de quê, afinal?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Enquete no site do senado


No portal do Senado, (está no canto superior, à direita, bem pequena) tem uma enquete pesquisando a opinião pública sobre um projeto da lei que propõe colocar corrupção no rol dos crimes hediondos.

Até agora 98% dos votos foram 'a favor', mas, foram poucos votos. Vamos convocar os amigos para uma avalanche em favor da tipificação da corrupção como crime hediondo.


Os fatos revelados


Roberto Siegmann: “Inter peca em democracia e transparência”


Ex-dirigente do Internacional, Roberto Siegmann critica atual presidente Giovanni Luigi e o excesso de poder de Fernando Carvalho no clube: "Em 2005, nós queríamos um Inter sem dono e transparente; hoje, pecamos em democracia e transparência" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Felipe Prestes e Milton Ribeiro
Juiz do trabalho e diretor do Foro Trabalhista de Porto Alegre, Roberto Teixeira Siegmann deixou a vice-presidência de futebol do Internacional no dia 18 de julho, junto com o técnico Paulo Roberto Falcão, que havia contratado. Na entrevista coletiva de despedida do clube, Siegmann já havia deixado claras as suas divergências com o atual presidente Giovanni Luigi e com a forma como vem sendo administrado o Internacional. Em entrevista ao Sul21, um mês e meio após sua saída, ele aprofunda suas críticas e defende que o grupo político do qual faz parte – na direção do Inter desde 2002 – precisa se repensar.
“Em 2005, nós queríamos um Inter sem dono e transparente; hoje, pecamos em democracia e transparência”, afirma Siegmann. O ex-vice de futebol do Inter recebeu o Sul21 na terça-feira (23) da semana passada, em seu gabinete na Justiça do Trabalho.
Na entrevista, Siegmann conta por que decidiu desmantelar o Inter B, diz que abriu o clube para outros empresários – “havia uma centralização” – e que mais não fez por bater de frente com o “Novo Testamento de Fernando Carvalho”, ex-presidente do Internacional, que ainda manteria ampla influência sobre a direção, pelo “temor reverencial por parte do presidente” Luigi.
“Um presidente lento e corajoso ainda seria aceitável, mas suas tomadas de decisões são muito demoradas”, dispara Siegmann. O atraso na reforma do Beira-Rio, segundo o ex-dirigente, teria relação com a tomada de decisão demorada.
Sem medir muitas palavras, o ex-dirigente do Inter aponta uma “cultura de idolatria” no clube, que trouxe de volta o ídolo Fernandão para ser diretor de futebol. Para Siegmann, não vai dar certo. Na entrevista, ele refere-se ao futebol como uma “máfia”, critica as federações e os interesses estabelecidos dentro dos clubes do futebol, de quem se diz um apaixonado. “Sei como são feitas as salsichas, mas ainda assim como”, define.
Leia abaixo a entrevista com Roberto Siegmann.

"No caso dele (Delcir Sonda), há o problema de ele ser muito rico e colorado, então age como se fosse meio dono do clube. Eu abri o clube para outros empresários que não vinham trabalhando no clube. Havia uma centralização em dois ou três" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – O que deu e o que não deu certo em seu período como diretor de futebol do Inter?
Roberto Siegmann – O que deu certo foi a reestruturação do departamento de futebol. Conseguimos uma economia de aproximadamente R$ 2 milhões mensais na folha de pagamento e a conquista do Campeonato Gaúcho, que estava quase perdido. Acho que a avaliação do que foi feito no departamento de futebol só pode ser positiva.
Sul21 – Como foram obtidos esses R$ 2 milhões de economia na folha?
Roberto Siegmann – Primeiro resolvendo alguns problemas crônicos como Ilan e Edu (dois jogadores que vieram da Europa com altos salários e não deram resultados em campo), assim como a demissão de inúmeros jogadores do Inter B e de outros jogadores das categorias de base que estavam “empilhados”, sem perspectivas de utilização. Também houve a não renovação com o Rafael Sóbis. Então foram várias ações que resultaram em grande economia.
Sul21 – A que o senhor atribui o episódio de sua saída?
Roberto Siegmann – O presidente Giovanni Luigi é muito temeroso e lento para modificar quaisquer estruturas no clube. Um presidente lento e corajoso ainda seria aceitável, mas suas tomadas de decisões são muito demoradas. Não havia nenhuma tentativa de Fernando Carvalho de interferir no trabalho, porém um temor reverencial por parte do presidente em relação à figura de Fernando Carvalho. Qualquer coisa que pudesse atingir a memória ou aquilo que ele pensasse ser o patrimônio de Fernando Carvalho era evitado.
Sul21 –Era uma espécie de autocensura?
Roberto Siegmann – Sim, uma autocensura. Funcionava no imaginário.

"Não havia nenhuma tentativa de Fernando Carvalho de interferir no trabalho, porém um temor reverencial por parte do presidente em relação à figura de Fernando Carvalho" | Foto: Divulgação/Internacional
Sul21 – A manutenção do Celso Roth no início do ano foi um desses “temores reverenciais”?
Roberto Siegmann – Luigi foi engolido. Eu conversei com Vitorio (Piffero) e ele numa reunião do departamento de futebol onde parecia que prevaleceria a posição que era a seguinte: ganhando ou não, o Celso seria substituído. O motivo era simples. Se ganhássemos, nós já tínhamos a experiência com o Abel pós-Yokohama. Ele estava desmobilizado. Perdendo, era mais óbvia a necessidade de substituir, porque o Celso já tem um estigma de ser um treinador com mau relacionamento com as torcidas. Mas eu acho que o trabalho do Celso é perfeito em determinados momentos. Ele trabalha muito, é um sujeito muito íntegro, mas eu entendia que a derrota seria fatal. Em qualquer empate ou derrota, todos lembrariam de Abu Dhabi. E, realmente, quando eu o demiti, havia uma grande rejeição da torcida em relação a ele. De 70 a 80 sócios se desligavam do clube por dia, então eu achei que era o momento de trocar, mesmo contrariamente à posição do presidente.
Sul21 – O senhor falou em Ilan, Edu e outros jogadores que estavam sem utilização. Alguns desses jogadores são mantidos por pressão de empresários?
Roberto Siegmann – A princípio não. É que quando tu tens muito dinheiro, tu apostas em vários jogadores que possam desenvolver bom futebol. Eu não tinha muito. Então contratei o Cavenaghi que veio de graça, o Bolatti, que foi uma compra parceladíssima, o Zé Roberto, cuja negociação foi direta, e algumas apostas como o Siloé e o Gilberto. Porém, houve um momento no ano passado no Inter em que se contratava à rodo. Aí é fácil acertar, os erros não aparecem. Os empresários são muito úteis quando a gente precisa de alguém, são como corretores de imóveis, eles te orientam e às vezes fazem oferecimentos em condições vantajosas. Ou seja, há momentos em que pode ser bom ou ruim a presença deles. Sobre Edu e Ilan, não havia pressão de empresários, foram apenas duas tentativas que não deram certo. Quando isso acontece, o fato desafia o dirigente a tomar uma atitude. O Edu era uma pessoa admirada por todos no vestiário, tinha uma boa relação, mas estava mal e aquilo perturbava a todos. Isso contagia e então era melhor retirá-lo do vestiário. Só que para fazer isso há que assumir o erro. Uma das formas de resolver a questão é de ignorar o fato deixando-o cair no esquecimento.
Sul21 – Houve algum confronto quando da extinção do Inter B?
Roberto Siegmann – O Fernando Carvalho entendeu que sim, ele se sentiu atingido. Ele tinha montado aquele time, mas eu, no cargo, fiz o que achava melhor. E acho que tinha razão.

"Comecei a examinar cada contrato daqueles jogadores e tomei um susto: eram jogadores extremamente bem pagos que estavam numa zona de conforto, numa espécie de come-dorme. Foi o que me fez objetivamente a acabar com o Inter B" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – O Inter tentou quebrar uma dependência para com os empresários? Eles influenciam, incomodam?
Roberto Siegmann – No meu período não houve interferência de empresários. Apenas no jogo contra o Corinthians, em São Paulo, houve um desconforto entre mim e o presidente, em função de uma reclamação do (Delcir) Sonda (investidor que detém os direitos econômicos de alguns jogadores do Internacional) de que ele havia sido mal tratado pelo Inter. Isso não é verdade. Eu simplesmente não abri para ele o alojamento, o local onde eram feitas as refeições, o ônibus que a delegação usa. O que é promíscuo não é a atuação dos investidores, isso é natural, é um mal necessário, como um corretor. Eles ganham, mas fazem um serviço, muitos deles fazem bons serviços. O que eu não permiti foi a promiscuidade da convivência. O Felipão também não permite isso e brigou com o Sonda. No caso do Sonda no Inter, há o problema de ele ser muito rico e colorado, então age como se fosse meio dono do clube. Eu vetei apenas isso. Eu abri o clube para outros empresários que não vinham trabalhando no clube. Havia uma centralização em dois ou três. Eu abri para empresários argentinos e italianos que trouxeram o Cavenaghi e o Bolatti. Houve também negociações diretas com o clube em que joga o atleta, como a do Zé Roberto, feita diretamente com o Vasco.
Sul21 – Logo após sua saída, houve um retorno inesperado de alguns jogadores anteriormente desaprovados, como Marquinhos e Wilson Mathias. A Convergência Colorada, grupo de conselheiros do Inter, atualmente pede detalhes dos contratos destes jogadores e dos de Jô e Rodrigo. Quem são os donos destes jogadores?
Roberto Siegmann – Pedem o do Dalton também. O Marquinhos foi surpreendente mesmo. Olha, eu tenho que acreditar que os donos dos passes destes atletas são aqueles que aparecem no papel. Quando eu extingui o Inter B, fiz um exercício bem racional: nós estávamos em meio ao Campeonato Gaúcho e à Libertadores, naquela época o treinador do Inter B era o Enderson Moreira, que a meu juízo não tinha a menor autonomia para escalar o time. Ele sofria a enorme influência de um ex-diretor das categorias de base que se chama Giscard Salton e eu via que ele obedecia. Havia também uma enorme diferença entre a forma como era controlado o grupo não tinha nada a ver com a forma muito mais rígida e cobradora do Celso Roth. As pessoas do Inter B eram “doces de pessoa”. Comecei a examinar cada contrato daqueles jogadores e tomei um susto: eram jogadores extremamente bem pagos que estavam numa zona de conforto, numa espécie de come-dorme. Foi o que me fez objetivamente a acabar com o Inter B. O meu limite foi aquela partida contra o Cruzeiro de Porto Alegre, quando fomos desclassificados. A zona de conforto era tamanha que ninguém apareceu para bater os pênaltis decisivos, os caras caíam em campo e sobrou para o goleiro Agenor bater pênalti. Então, após o jogo, eu entrei no vestiário, dei um chute numa lata de lixo e acabei com o Inter B. E mais: eu descobri que os jogadores do Inter B tinham medo de serem chamados pelo Celso Roth para treinar com o time principal por causa da rigidez. Estavam adaptados ao conforto.

"Luigi o presidente foi tirando cada vez mais poder do Aod porque ele estava batendo contra as mesmas contradições que eu enfrentava: atentar contra o Novo Testamento de Fernando Carvalho" | Foto: Divulgação/Internacional
Sul21 – Como foi a saída do Aod Cunha?
Roberto Siegmann – A saída do Aod foi muito parecida com a minha. Quando ele assumiu, a ideia era a de que precisávamos profissionalizar a administração do clube e de que seria necessário alguém suprapartidário. No comitê de gestão, eu pedi que só fossem contratados jogadores para as categorias de base com laudos assinados por alguém que os avaliasse. Houve alguns casos de jogadores que receberam avaliações conclusivas de que não se deveria contratar. Mas logo de cara o presidente Luigi pediu para que eu contratasse o “Joãozinho” e o “Pedrinho”. Isso estabeleceu um conflito, pois eu não poderia estabelecer uma regra para ser quebrada logo de início. O Aod ficou com a minha posição e nós começamos a formar uma espécie de parceria. Depois disso eu aceitei a ideia dele de cortar despesas no futebol, que é onde mais se gasta, desde que trabalhássemos com três orçamentos: um para um cenário positivo, outro para um médio e outro para um negativo. A redução de despesas também foi submetida a ele. Ele me apoiou quando da extinção do Inter B. Então, o presidente foi tirando cada vez mais poder do Aod porque ele estava batendo contra as mesmas contradições que eu enfrentava: atentar contra o Novo Testamento de Fernando Carvalho.
Sul21 – Houve algo com a Rede Globo, não?
Roberto Siegmann – Sim, houve. O presidente várias vezes descredenciou o Aod para que ele representasse o clube nas negociações. Sempre era necessário falar com o Carvalho antes. Então, ele me disse: ou o Fernando volta para o clube ou nós assumimos. Esse foi o problema do Aod.
Sul21 – Ao aceitar a nova distribuição dos direitos de TV, o Inter e o Grêmio assinaram seu atestado de pequenez em relação aos clubes de Rio e São Paulo?
Roberto Siegmann – Não. Nós temos que considerar nosso mercado. Não adianta fugir à realidade. Futebol é entretenimento e isso dá dinheiro. Como? Pela audiência. Onde tem mais audiência tem mais verba publicitária e maior retorno. Não dá para comparar nossa audiência com as do centro do país. É uma tendência óbvia. Agora, em contrapartida, nenhum outro lugar do país tem nossa dicotomia. Por que o Inter tem mais de 100 mil sócios? E por que o Grêmio pode chegar ao mesmo número? Porque o estado é dividido. Há 5 milhões de um lado e 5 de outro. Isso é um enorme desafio para a criatividade dos clubes de utilizar esse fator regional e fazer disso um grande negócio. Se a gente, numa hipótese louca, conseguisse um real por mês de cada torcedor, seríamos poderosíssimos. E o Grêmio também. O Inter tem 105 mil sócios. Essa relação direta do torcedor com o clube só nós temos. Isso não ocorre no centro do país.

"A situação financeira do clube é dramática. Se não vender o Damião, não tem como chegar ao fim do ano que vem" | Foto: Divulgação/Internacional
Sul21 – E a situação financeira do clube?
Roberto Siegmann – A situação financeira do clube é dramática. São 24 milhões de reais de deficit acumulados este ano. No ano passado, este déficit foi mascarado pela venda do Estádio dos Eucaliptos. O déficit foi minorado, mas a situação é dramática. A venda do Leandro Damião é uma questão emergencial. Se não vender o Damião, não tem como chegar ao fim do ano que vem. É só uma questão de preço, de oportunidade.
Sul21 – Por que os grandes clubes e as federações reelegem sistematicamente o Ricardo Teixeira? Qual é a vantagem? De que forma ele aglutina os dirigentes?
Roberto Siegmann – O futebol é uma máfia. Não tem nada mais parecido com a máfia do que o futebol. O futebol funciona, aqui e em nível internacional, em cima da troca de favores. Como a máfia funciona pela troca de favores. Então como é que as pessoas se elegem? Os presidentes das federações se elegem como? Ora, botando um gramado num campo do interior, abrigando as delegações em um hotel quando vão jogar fora de casa. Então, mediante pequenos favores, eles obtêm os votos tornando-se figuras absolutamente imbatíveis dentro de uma estrutura que não é nada democrática. A estrutura do futebol é tão antidemocrática que o presidente da Confederação Sul-Americana (Conmebol), Nicolás Leoz – que será mumificado na liderança do futebol sul-americano – tem uma declaração muito antiga de cada federação obrigando-se por si e por seus sucessores a votarem nele. É o restabelecimento da monarquia. E é assim na FIFA e nos países. Para quem gosta de Direito, há uma coisa fantástica. Sabemos que todas as nações são soberanas, com seu próprio Direito, sua Constituição, etc. Porém, o futebol tem uma estrutura própria que se sobrepõem às leis de cada país. Se a FIFA decidir punir um clube no Brasil, não adianta recorrer a ninguém.

O futebol é uma máfia. Não tem nada mais parecido com a máfia do que o futebol. Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – Tudo amarrado entre si.
Roberto Siegmann – Claro. Todas as federações têm um Tribunal de Justiça Desportiva e quem indica seus membros? O presidente da Federação. Eu, quando bati de frente com o Noveletto (Francisco Noveletto, presidente da Federação Gaúcha de Futebol), quase levei seis meses de gancho. E junto com isso vêm as ameaças ao clube que poderia ficar sem disputar competições. Foi o que ocorreu em 2005. Fomos roubados e a estrutura do futebol não permitia que o Inter questionasse o ocorrido porque ficaria fora das principais competições. É uma estrutura mafiosa que pisa na democracia e no direito individual e ainda implica em malversação de verbas. O futebol move muito dinheiro e é algo sem controle nenhum.
Sul21 – E o papel da imprensa nisso tudo?
Roberto Siegmann – Querem saber? Vocês não vão bater em mim? Eu acho a imprensa esportiva a mais desqualificada de todas. Para ser jornalista econômico, o cara deve saber algo de economia; para ser jornalista político, o cara tem que ter um conhecimento mínimo de como as coisas funcionam e as competências de cada setor e órgãos. Para ser jornalista esportivo é só o cara falar bem e saber que são onze contra onze. Porque de resto é só inventar ou embelezar os fatos. Veja o rádio: temos três ou quatro emissoras que dedicam 60% de seus espaços com esporte. Não há tanto assunto. E em Porto Alegre só há dois clubes grandes. O que ocorre é a valorização da banalidade absoluta. Eu enfrentei o caso Índio no ano passado. Foi um massacre da imprensa para cima dele por causa daquele corte na mão. E eu bati de frente com a imprensa, blindei o Índio. Por quê? Ora, ele estava de folga. Não interessa se ele caiu em casa ou noutro lugar, temos que resguardar a individualidade, mas aquilo precisava virar notícia e escândalo. Os caras enlouqueceram, foram ao hospital, à polícia, etc. Então, quando do episódio, eu, mal comparando, falei com um editor de esportes de um grande jornal. Referi o acontecido com o neto de um grande empresário de comunicação e lhe disse que saíra uma notinha mínima. Quando, às seis da manhã, um artista da Globo cai no Arroio Dilúvio com seu carro e dá entrevista num estado que parece ser o de um alcoolizado dizendo que ia buscar a filha, sai outra notinha. Mas o Índio, que é do futebol, corta a mão e todo tipo de suposição é discutida. Eu só respeito o Ruy Carlos Ostermann, recém aposentado, que tinha uma visão de mundo que extrapolava os limites do futebol. Ele não se metia em fofocas.
Sul21 – Há jornalistas na folha de pagamento de clubes?
Roberto Siegmann – Há das mais variadas formas. Às vezes comprando livros, às vezes comprando CDs. Tem de tudo.
Sul21 – Sobre a parceria com a Andrade Gutierrez. Fala-se num recuo do Inter e que o novo contrato seria extremamente ruim para o clube…
Roberto Siegmann – É possível. O presidente Giovanni Luigi é uma pessoa de temperamento muito fraco. Quando assumimos em janeiro, fizemos uma avaliação da possibilidade de realizar as obras com recursos próprios. Aquilo era absolutamente fantasioso. O negócio era baseado na venda de 100 suítes ao valor de R$ 1 milhão. Vender uma suíte ou 100 no Maracanã ou em São Paulo é fácil porque são locais que aglutinam empresas que recebem muitas pessoas. Essas empresas convidam os visitantes para verem o jogo na suíte, ela é utilizada como uma ferramenta de negócio. Vender uma suíte por um valor desses para pessoa física é quase impossível pela nossa realidade econômica. Depois de todo o movimento feito, tínhamos algumas poucas promessas de venda. Promessas, não vendas efetivadas. Hoje, não é mais como construir o Beira-Rio nos anos 1960. Quando a gente fala em fazer o estádio, fala em concreto e em todo o entorno e mais a manutenção. O foco hoje é em conforto e comunicações. Então, naquela época surgiu a possibilidade da parceria com a Andrade Gutiérrez. Os estádios do país foram loteados. A OAS pegou o estádio do Grêmio e Manaus e assim por diante. Coube à Andrade Gutiérrez o Beira-Rio. Mais do que uma obra, para a Andrade Gutiérrez a construção é uma operação de marketing. Quando da Copa, a Andrade Gutiérrez trará um sheik ou um governante qualquer e mostrará o potencial da empresa. Então, para a Andrade Gutiérrez, este não é um negócio espetacular em si. É mais um trampolim.

"Duvido do interesse da Andrade Gutiérrez em fazer o negócio porque ela já viu qual é o perfil do presidente" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – E a sua posição?
Roberto Siegmann – Eu e o Aod queríamos fazer a obra com a Andrade Gutiérrez, principalmente porque era preço fechado e se adequaria às exigências da FIFA. Ou seja, se o Blatter exigisse banheiros pintados de ouro, a empresa teria que pintá-los pelo preço fechado anteriormente, sem onerar o Inter. Em segundo lugar, eles teriam o usufruto de um shopping center por 20 anos quando nós sabemos que estes empreendimentos levam muito tempo para se consolidarem e se tornarem superavitários. Vinte anos de uma parceria num shoping significa que a Andrade Gutiérrez vai assumir o prejuízo inicial. Então, qual é o problema?
Sul21 – Por que então não foi assinado?
Roberto Siegmann – Nosso presidente é muito lento e temeroso. O que ele fez? Criou numa comissão no conselho para discutir o que era bom ou ruim. Isso demandou um tempo enorme. Aí foi pedido o contrato para a Andrade Gutiérrez, que vai também para o Conselho… Eu duvido muito que isso passe e, além do mais, duvido do interesse da Andrade Gutiérrez em fazer o negócio porque ela já viu qual é o perfil do presidente.
Sul21 – O senhor não considera correto passar pelo Conselho?
Roberto Siegmann – Considero coreto, mas não se deve criar instâncias para discussões tão amplas que façam com que tu, a todo momento, voltes ao zero. Tem que ir logo para votação, mas é esse o temor do presidente. Qual era minha posição? Ora, eu queria repassar logo o contrato para votação no Conselho. Ele apenas retarda o processo. Se alguém chegar lá agora e lhe disser que que há um negócio melhor ele para tudo para ouvir. Dirigir é assumir ônus.
Sul21 – Há uma linha tênue entre as necessidades democráticas e a necessidade de ação.
Roberto Siegmann – Exato. Não dá para passar a vida fazendo comissões como o Sarney fazia. É um negócio maluco. Há um monte de construtores no Conselho. Cada um tem um amigo com o melhor negócio, a melhor proposta. O melhor seria se a comissão não tivesse nenhum engenheiro, nenhum construtor de ideias brilhantes. O ideal seria uma comissão de médicos e advogados. Neste caso, talvez a coisa já estivesse pronta.
"Diz-se que a gente não pode saber como é feita a política, o futebol e as salsichas. Sei como são feitas as salsichas, mas ainda assim como" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sul21 – O grupo político que começou a dirigir o Inter em 2002 está fragmentado?
Roberto Siegmann – Sim.
Sul21 – Tem volta?
Roberto Siegmann – Na vida tudo tem volta. Mas eu entendo que precisaríamos discutir premissas. O tempo nos faz esquecer delas, ele sedimenta posturas. Há uma necessidade de se fazer uma grande discussão no movimento sobre nossas premissas. Em 2005, nós queríamos um Inter sem dono e transparente; hoje, pecamos em democracia e transparência. Pessoalmente, acho que há meios de se acertar, principalmente porque a parte lírica do futebol ainda não está morta dentro de mim. Basta pensar nos anos 1970, que o entusiasmo volta e eu esqueço dos interesses que há num clube. Eu não sou nenhum anjo, mas ainda vejo o jogo em campo, a beleza dele. Diz-se que a gente não pode saber como é feita a política, o futebol e as salsichas. Sei como são feitas as salsichas, mas ainda assim como.
Sul21 – O que o senhor acha da presença do Fernandão como diretor técnico?
Roberto Siegmann – Acho trágica. Há uma cultura de idolatria no Internacional. Tudo o que voltar a 2005-2006 é uma maravilha. Vários jogadores foram contratados – Renan, Tinga, Bolívar, Sóbis – no anopassado, na mesma ideia do De Volta para o Futuro I, II, III, etc. O futebol está aí para nos desafiar, para que inventemos novos modelos e posturas, não para a gente ficar se repetindo. No imaginário do presidente, ele pensava em alguém que pudesse discutir a escalação com o treinador, interferir na contratação de jogadores e tivesse uma boa relação com eles. Nós já temos o Fábio Mahseredjian, o Élio Caravetta (preparadores físicos) e mais duzentas pessoas que têm relação com os jogadores. Não precisa mais gente. Sobre discutir a escalação: nenhum técnico com quem eu já tenha trabalhado que admita uma pessoa como o Fernandão dando pitacos sobre escalação. Até é admitida a intromissão de um dirigente quando as coisas estão ruins, mas de um ex-jogador que recém se aposentou? Nenhum treinador reconhecerá e admitirá a legitimidade nesta figura. O Inter, então, criou um monstro.
"Há uma cultura de idolatria no Internacional. Tudo o que voltar a 2005-2006 é uma maravilha" | Foto: Divulgação/Inter
Sul21 – Então o Dorival Junior não aceitará o Fernandão?
Roberto Siegmann – Claro que não. Eles terão problemas a não ser que o Fernandão aceite ficar fazendo nada. Se ele ficar numa zona de come-dorme, pode ser que funcione.
Sul21 – O Fernandão não é burro…
Roberto Siegmann – Mas, olha só, o Celso Roth não falaria com o Fernandão, tenho certeza. Fossatti e Falcão idem. O Chumbinho ainda tinha uma função de infra-estrutura, logística e nas contratações, o Fernandão é jogador de futebol. Qual é sua experiência com contratos? Ele vai analisá-los? Sua presença só pode ser explicada pela necessidade de substituir o Falcão por outro ídolo para amenizar a insatisfação da torcida. Mas que ele não terá função, eu tenho toda a certeza.
Sul21 – O que o senhor não faria de novo como diretor de futebol? Como vê a fama de explosivo?
Roberto Siegmann – Eu não sou uma pessoa explosiva, sou uma pessoa que reage. Futebol é paixão. Se eu não tivesse paixão pelo Inter, não estaria lá. Eu só estava no Inter por paixão e quando a gente fala em paixão, fala de sentimentos e reações exacerbadas. Quem nunca esteve apaixonado? Toda a vez que tive reações, estas foram à altura do Internacional. Uma delas foi em relação aos jogadores do Inter, quando eu pedi que eles dessem tudo naquela final do Gauchão. Eles atenderam. Usamos tudo, aproveitamos tudo o que o Renato e a imprensa dizia. Isso só se faz por paixão.
"Nenhum técnico com quem eu já tenha trabalhado que admita uma pessoa como o Fernandão dando pitacos sobre escalação" | Foto: Divulgação/Inter
Sul21 – O Zé Roberto entrou louco em campo…
Roberto Siegmann – Ah, ele entrou louco por um motivo bem simples. Lamentavelmente, houve um episódio de racismo que foi engavetado pelo Tribunal de Justiça Desportiva. Quem já viveu fora do nosso estado sabe que a Região Sul tem reais dificuldades em conviver com a raça negra. E o Zé Roberto foi vítima de três episódios de racismo: um no edifício onde mora, outro no colégio do filho e o terceiro no Estádio Olímpico, quando eu tomei a iniciativa de denunciar. O voto do relator foi muito bom, mas o tribunal entendeu por bem arquivar, o que foi muito decepcionante para mim, ainda mais que vi o presidente Luigi desculpar-se com o presidente Odone pelo que eu havia feito, como se fosse uma mentira. Aquilo foi a gota d’água em nossas divergências que na verdade começaram quando nós dois nascemos. Temos uma divergência comportamental com o mundo do qual ele se acha um eterno devedor. Então, eu acho que faria tudo de novo.
Sul21 – Mesmo?
Roberto Siegmann – Há uma coisa que Maquiavel ensina e que eu não levei a sério. Eu deveria ter feito uma limpa no primeiro dia, retirando todas as pessoas que eu achava que deveria tirar. Se eu tivesse feito isso, não haveria tanta intriga, pois é ela que gera a instabilidade política. Eu deveria ter posto pessoas da minha confiança, como Maquiavel ensinou.

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