ENTREVISTA:
ZH – Uma marca do seu período foram as críticas recebidas por suas manifestações O senhor busava provocar polêmica?
Dadeus – A gente tem a função de pastor, de orientar o rebanho, de denunciar os males. Os profetas sempre foram assim, incompreendidos. A repercussão é boa, por um lado, porque mostra que estamos atingindo a ferida. Algum ponto nevrálgico foi atingido, porque há uma reação contra.
ZH – Em que situações a repercussão foi maior?
Dadeus – Houve várias. Em uma entrevista, eu comentei: “Não foram só os judeus que morreram. E os ciganos? Os homossexuais? Os deficientes físicos? Por que os judeus não falam disso?” A reação dos judeus foi veemente. Queria vir o embaixador de Israel falar comigo, dizendo que neguei o Holocausto. Mas não neguei, só estava dizendo que não eram só judeus. Foram mais cristãos do que judeus que morreram no Holocausto.
ZH – E a questão da pedofilia?
Dadeus – Eu disse: “Isso não é só o clero, isso é uma questão da sociedade”. A pesquisa que se tem é que só 0,2% dos casos são dos padres. Há muito mais médicos e professores pedófilos. Mas isso não se noticia. A repercussão veio porque sentiram que atingimos o nó da questão.
ZH – O senhor não se arrependeu de nenhuma opinião?
Dadeus – Pelo contrário. Mais do que críticas, recebi apoios. Houve um caso sobre o homossexualismo, em que fizeram um protesto diante da catedral. Veio meia dúzia de gente. Quando a gente diz que não é esse o caminho, que é uma anomalia, então é homofobia. Não é assim. Tenho um pai, tenho irmãos muito queridos. Então não tenho homofobia, claro.
ZH – A acusação foi injusta?
Dadeus – Perguntaram se a pedofilia tinha relação com o homossexualismo. Eu disse: “Tem uma ligação, claro”. Então disseram que sou homofóbico. O que significa homofobia? Quer dizer ter uma aversão a homem. Não tenho. Tenho pai, tenho irmãos.
ZH – O termo é usado no sentido de aversão aos homossexuais.
Dadeus – Pejorativo. Contra os homossexuais.
ZH – Em um desentendimento com o Judiciário, o senhor foi condenado a pagar uma indenização.
Dadeus – O Poder Judiciário não é confiável. Esse é o problema. A gente nunca sabe o que passa na cabeça de juiz. Aquela juíza de Viamão deu uma liminar obrigando o padre a casar um homem que já estava casado no civil com outra. Publiquei um artigo veemente. Ela entrou com danos morais. Mas não tinha razão nenhuma. Fui reclamar com o juiz Tedesco (José Eugênio Tedesco, ex-presidente do Tribunal de Justiça). Ele teve de defender a juíza, pelo corporativismo. Na segunda chamada, fizemos um acordo. Eu paguei.
ZH – Quanto o senhor pagou?
Dadeus – Não foi muito.
ZH – O senhor tem a prerrogativa de indicar três nomes para a sua sucessão. Já pensou neles?
Dadeus – Sim, tenho vários nomes. Estou amadurecendo. A indicação do arcebispo tem peso, mas às vezes as circunstâncias não permitem que o pedido dele seja atendido. Muitos são consultados. Na medida do possível, será alguém daqui, do clero da diocese e que virou bispo em outro lugar. Como é uma categoria de responsabilidade, dificilmente terá menos de 50. Normalmente tem de ter algum curso no Exterior, para ter visão de mundo.
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