sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Condição humana

Por Mariana Lobato


Já ouvi muito que a solidão é uma condição humana. Que somos todos profundamente sós, por mais que estejamos acompanhados. Por muito tempo acreditei nisso, acreditei que ninguém seria capaz de compreender minha existência e que jamais seria capaz de compreender completamente alguém.

Descobri, entretanto, algo muito diverso de tudo isso. Descobri que só eu simplesmente não sou. Para ser é preciso que as pessoas sejam com e sejam para. Ninguém é simplesmente. Por isso precisamos dos outros, somos com a presença dos outros e não somos, portanto, sós. Se escrevo este texto, se falo, estudo, acordo, vivo, faço tudo isso para alguém, para todos, para ser reconhecida e amada e, só assim, feliz.

Ainda que estejamos sem a presença física de alguém, temos o mundo inteiro conosco determinando cada ato, cada pensamento. Quanto mais distantes disso, mais distantes dessa existência dos outros (que também são para nós e conosco), mais triste se torna a vida, pois mais próximos da não existência ficamos.

Não é preciso que alguém me compreenda em minha essência para que eu esteja acompanhada. Até porque não existe a minha essência, o que sou, e o que cada um é consiste naquilo que faço e vivo na minha relação com o mundo, com as pessoas e com as coisas à minha volta. O que existe, portanto, é o Universo e tudo que ele contém, e eu estou nele da mesma forma que todos estão. Não sou, portanto, sozinha e ninguém é.

Existem, porém, pessoas que estão mais isoladas das outras, do mundo, das coisas. Certamente essas pessoas sofrem mais, porque, como já disse, estão mais distantes de uma real existência. O que é muito triste. Muitas pessoas se sentem sós. Eu me sinto só. Mas é essa solidão, do estar só não do ser só. Solidão de não interação com o outro, do não amor, da não troca, tão prejudiciais à existência concreta de todos.

Por tudo isso, não quero partir em uma eterna viagem em busca do meu ser, quero ser com muitas pessoas e muito próxima de todas elas, pois só assim se existe com intensidade.
Original em: http://www.geocities.com/filosofiasf/mari01.htm

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