terça-feira, 14 de julho de 2009

O Adeus!


VIVENDO E NÃO APRENDENDO A SE DESPEDIR

O exercício do ofício de psicoterapeuta tem me mostrado que uma das maiores dificuldades do Ser Humano é dizer adeus. Na cultura ocidental o vínculo á altamente valorizado e não é por acaso que várias teorias psicológicas se preocuparam com essa questão. Em contra partida tenta-se esvaziar os sentimentos e sensações ligados à situações de despedidas e quebras de vínculos. Desde cedo ouve-se frases como: - Não chore... Vai passar... Bola pra frente... Tome outro... Levante a cabeça... etc o que ajuda a fazer um contato rápido e superficial com a dor de perder . No entanto, é impossível viver e não perder:
• Pessoas – por morte ou qualquer outro tipo de separação.
• Sonhos ou expectativa de futuro – por realização, adiamento ou desistência.
• Imagem ou função corporal – pelo envelhecimento ou doença.
• Casa ou referência geográfica - pelas mais variadas mudanças.
• Papéis ou ocupações profissionais - por aposentadoria, desemprego.
• A própria vida - pela morte.
Pela instabilidade ansiogênica criada por qualquer situação acima citada, o ser humano usa seus recursos defensivos para não vivê-las intensamente. O luto, enquanto experiência de transformação de vínculos, é pouco incentivado. A nossa cultura não ritualiza as despedidas e tenta reduzi-las a um único momento que pode ser esvaziado.Sendo Gestalt-terapeuta,trabalho esses eventos olhando-os como situações inacabadas; Yontef (1998.p.98) sugere definindo:”Gestalt incompleta é um assunto pendente que exige resolução. Normalmente, isso assume a forma de sentimentos não resolvidos expressos de maneira incompleta.” É dessa forma que eles se explicitam nas queixas dos clientes durante o processo psicoterápico.

Nessa maneira de ver, o Ser humano é um colecionador de despedidas mal feitas, de olhares mal dados para as vivências de perdas. O que foi vivido, em muitas situações, só é realmente fechado ao retornar na vivência de uma situação presente que facilite o aparecimento do real acontecimento, com sua intensidade perceptível e assumida, o que na Gestalt terapia é chamado de awareness e segundo Yontef (l998.p.30) “uma forma de experiência que pode ser definida aproximadamente como estar em contato com a própria existência com aquilo que é.“
A vida, tal qual se vive, é uma tentativa de viver de uma maneira mais “normal” possível, desconsiderando a importância do vivido no seu aspecto existencial.


“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás?
Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você se reconhece?”
(A LISTA – Oswaldo Montenegro)

Autora:
Magda Campos Dudenhoeffer
Psicóloga – Gestalt-terapeuta
Rua Visconde de Caravelas,91 - BotafogoRio de Janeiro - RJ – CEP 22271-030

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