A primeira característica que lembramos ao pensar na religião egípcia é a crença em vários deuses. Contudo, o pensamento religioso egípcio era muito mais complexo, pois as suas explicações, religiosas, filosóficas ou científicas, estavam baseadas no mito no qual os deuses eram os protagonistas. Os mitos buscavam fornecer a base do pensamento moral egípcio. Eles englobam a cosmogonia (gênese) e a cosmologia (funcionamento do universo). Assim, por exemplo, os ciclos da natureza, o poder faraônico e a concepção filosófica em relação à morte eram explicados pela mitologia.
Havia três escolas de pensamento que buscaram explicar a criação do mundo realizada pelos deuses. A escola de Hermópolis afirmava que no oceano cósmico (o Num) estavam oito divindades, organizadas em quatro casais, que representavam as potencialidades latentes nessas águas caóticas. O segundo mito, o de Heliópolis, foi o mais difundido ao longo do território egípcio. Neste, o deus Atum surgiu do oceano cósmico, criando outras divindades responsáveis pela ordenação das coisas, como os deuses: Shu (ar) e Tefnut (umidade), Geb (terra) e Nut (céu), que deram origem aos primeiros deuses que vieram habitar a terra (Egito). Por fim, há o mito da cidade de Mênfis, no qual o deus criador é Ptah (divindade padroeira do local), que através do verbo criou os outros deuses e as coisas.
Os deuses eram representados pelos egípcios de três maneiras: antropomórfica (forma humana), antropozoomórfica (forma humana e animal) e zoomorfa (forma de animal). A forma do deus estava relacionada ao modo como os egípcios associavam o significado da divindade. Eles acreditavam que não tinham acesso à real forma dos deuses, assim como não sabiam o verdadeiro nome da divindade. Para eles os deuses possuíam vários nomes, para ocultar o seu verdadeiro, pois aquele que soubesse o exato nome divino poderia ter acesso aos poderes do deus.
O culto oficial e diário às divindades deveria ser dirigido pelo faraó. Mas, como havia templos dedicados às divindades locais em cada cidade egípcia, o governante elegia sacerdotes que, representando o Estado egípcio, conduziam o rito.
O ritual que era realizado todos os dias, próximo ao horário do nascer do sol, servia para manter a ordem do mundo criado pelos deuses. Esse rito estava relacionado aos cuidados junto à estátua do deus a que o templo era dedicado. Eram oferecidos alimentos à divindade, incensos eram queimados, além de cuidados físicos com a estátua divina.
A população em geral não tinha acesso ao interior do templo. Apenas o faraó, os sacerdotes e outras autoridades podiam ter acesso ao seu interior. A sala mais escura do local, chamada de “santo dos santos”, onde ficava o tabernáculo com a imagem do deus, era acessada apenas por um único sacerdote, no momento do rito diário, sendo que o deus não era perturbado no restante do dia.
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A partir do Reino Novo tornou-se comum a prática de dedicar a uma divindade a múmia de um animal que fosse relacionado a ela. Assim, durante as festas religiosas inúmeros animais eram mortos e embalsamados, como as íbis, que eram dedicadas ao deus Toth, gatos, dedicados à deusa Bastet, falcões, dedicados ao deus Hórus, entre outros.
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A compreensão da religião egípcia nos ajuda a refletir sobre como os antigos habitantes da terra dos faraós pensavam o seu mundo. Não há como estudá-los sem conhecer a sua religião, visto que sua crença estava presente em todos os momentos de suas vidas.
Original no site da AMORC: http://www.amorc.org.br/destaque_cca.html
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