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Que delícia de lembrança! Quando garoto me correspondi com vários amigos por carta. Eu tinha que comprar o papel almaço, envelope e selo. Depois escrever à mão, com cuidado para não errar. Dobrar, colocar no envelope e fechar, lambendo a goma arábica da aba. Outra lambida e pronto, era só grudar o selo e levar até o correio. Era um trabalhão, mas ainda não encontrei uma sensação melhor do que a chegada do carteiro com uma cartinha pra mim. Aquele papel em minhas mãos tinha valor! Era uma obra de artesanato, à qual alguém havia dedicado minutos – talvez horas – de cuidadosa execução. Só pra mim! E aquela execução demorada permitia uma profunda reflexão sobre o que estávamos escrevendo. Dava tempo de se arrepender...
Mas a quantidade de gente com quem eu me correspondia era limitada. Cinco ou seis amigos e parentes, e olhe lá.
Hoje, graças à internet, me correspondo com centenas, talvez milhares de amigos reais e virtuais! E o processo é rápido, com custo quase zero e resposta imediata. A chegada do carteiro, é verdade, perdeu a graça. Agora é um “ping” que indica a entrada de uma mensagem na caixa postal.
Revendo aquele penoso e prazeroso processo de décadas atrás, reparo na importância de um comando do e-mail que talvez seja o grande gatilho a impulsionar as transformações em nossas vidas: o botão “enviar”.
Ele pensa nela. Deixa a imaginação fluir num texto apaixonado, colocando pra fora todos seus desejos e expectativas, naquele jogo da conquista que é nutritivo e fonte da energia de viver. Aí, sem pestanejar, aperta o “enviar” e com um friozinho no estômago vê a mensagem disparada em direção ao coração da amada. A sorte está lançada, sua vida pode mudar a partir daquele momento. A resposta dela, pelo sim ou pelo não, apontará um rumo, uma transformação. Pela mágica do “enviar”.
Já outro “ele” faz tudo igual. Mas em vez do botão “enviar”, aperta o “salvar como rascunho” e vai tomar um café. Mais tarde mexe no texto, tira um pouco do impacto daqui, atenua aquela expressão exagerada ali, apaga aquela frase que o deixou envergonhado. E transforma seu sentimento puro em algo mais, digamos, suave. Pasteurizado. Só então aperta o “enviar”. Quando não se arrepende e aperta o “delete”. E sua vida continua como está.
O “enviar” é o gatilho que transforma reflexões em ação.
Portanto, quando escrever seu próximo email, pare e reflita antes de apertar o “enviar”. Valorize-o. Mereça-o. Pense nas mudanças que sua mensagem provocará na pessoa que vai recebê-la. Se concluir que nada vai mudar, talvez o “enviar” não valha a pena. Então releia a mensagem e inclua algo instigante, criativo, emocional, único, excepcional. Algo que faça do “enviar” uma ação positiva, que torne a vida de alguém mais alegre, mais motivada, mais culta, mais nutritiva.
Só então o “enviar” terá valido a pena.
Pronto. Enviei.
Luciano Pires
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