Uma onda de regressão perpassa os círculos psiquiátricos. Como nunca, volta-se a acreditar em vidas passadas e a se explicarem comportamentos presentes por elas.
Já tive a oportunidade várias vezes de declarar nesta coluna que acredito em reencarnação. Por força de certos vestígios, alguns até conhecidos de todos: por exemplo, de repente você vê um lugar pela primeira vez e ele lhe parece familiar. Ou a gente avista também uma pessoa pela primeira vez e ela lhe parece tão íntima.
São conhecidos casos de pessoas que, de repente, sem nunca terem tido contato com determinada língua estrangeira, passam a falá-la correntemente. E por aí a fora vão esses sinais todos de que vivemos outras vidas no passado.
Mas não foi bem por isso que eu há muito tempo passei a crer na reencarnação. Começou com aquela ideia torturante de que, se existe Deus, como pode ele permitir tantas injustiças, crueldades, misérias humanas? O mínimo que pode manter um homem de pé é a ideia de justiça. Deus ou seja lá como se chame a força invisível que preside a vida, a criação e a natureza tem que agir com justiça e equilíbrio. Caso contrário, a vida não se propagaria e não teria sentido para o homem a educação, o progresso, a busca do bem no proceder, a ânsia de felicidade.
Sendo assim, como compreender as desigualdades? Como uma pessoa nasce feia e outra bonita? Como um é forte e outro fraco? Um rico e outro pobre? Um já nasce rico e outro pobre, sem nenhuma análise de merecimento? Sem ainda não terem nada feito para chegar a essa condição? Um é bem sucedido, outro empilha fracassos?
Pode uma pessoa ter uma vida inteira marcada por saúde integral, família bem formada, felicidade total, e a outra dilacerada por grandes infortúnios e dores incessantes?
Por que pessoas inocentes são condenadas e outras que nunca praticaram o mal, tendo vidas virtuosas, são castigadas violentamente pelos acontecimentos? Como pode um homem ser livre e feliz por toda a vida e o outro ter passado sua vida inteira na prisão? Que tipo de injustiça é essa que administra o mundo?
Não há dúvida de que esse desequilíbrio afronta a razão. Se a vida é uma só, a desigualdade entre as pessoas é inexplicável e atentatória ao bom senso e à inteligência. Além de ser desanimador que não haja um critério de mérito para premiar ou castigar as pessoas.
A teoria da reencarnação explica tudo isso: nós viemos à terra várias vezes e aqui somos felizes ou infelizes, saudáveis ou torturados, premiados ou castigados, conforme os nossos méritos em vidas passadas.
É uma evolução. Ou seja, a vida não é uma só. Conformem-se os injustiçados e os infelizes, que isto não vai ficar assim.
Não se trata de um consolo. E sim de um raciocínio lógico. O contrário seria o caos. E a vida, como prova a passagem do homem sobre a terra, a sua evolução e progresso da civilização, não é um caos.
É um aperfeiçoamento.
Crônica de Paulo Sant’Ana de 18.08.96
Nenhum comentário:
Postar um comentário