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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Declaração de Ética Mundial - parte I


Declaração de Ética Mundial
Parlamento das Religiões Mundiais
4 de setembro de 1993
Chicago, E. U. A.

Introdução

O texto ora intitulado “Introdução” foi redigido em Chicago por um comitê redacional do “Council” do Parlamento das Religiões Mundiais, com base na Declaração original, escrita em Tübingen e reproduzida a seguir sob o título “Princípios”. Esta “Introdução” pretendeu oferecer – para divulgação junto ao grande público – um resumo sucinto da Declaração.

O mundo agoniza. E sua agonia é tão pungente e aflitiva que nos sentimos desafiados a nomear suas formas de manifestação, de modo a evidenciar a gravidade de nossa preocupação. A paz esquiva-se de nós – o planeta está sendo destruído – vizinhos convivem com medo – homens e mulheres são estranhos uns para os outros – crianças morrem!
Isso é abominável!
Condenamos a usurpação dos ecossistemas de nosso planeta. Condenamos a pobreza, que asfixia as chances de vida; a fome, que enfraquece o corpo humano; as desigualdades econômicas, que proliferam em nossas comunidades; e a morte insensata de crianças através da violência. Condenamos em especial a agressão e o ódio cultivados em nome da religião.
Essa agonia não precisa existir.
Ela não precisa existir, porque já se tem a base para uma ética.
Essa ética oferece a possibilidade de uma ordem individual e global melhor, afasta os seres humanos do desespero, e afasta as sociedades do caos.
Somos homens e mulheres que professam os mandamentos e as práticas das religiões do mundo:
Afirmamos haver uma reserva de valores fundamentais em comum nas doutrinas das religiões, e que esses valores constituem a base para uma ética mundial.
Afirmamos que essa verdade já é conhecida, mas ainda precisa ser vivida em atos e nos corações.
Afirmamos haver uma norma irrefutável e incondicional para todos os campos da vida, para as famílias e comunidades, para as raças, nações e religiões. O comportamento humano já conta com linhas mestras muito antigas, que podem ser encontradas nas doutrinas das religiões mundiais e que são condição para uma ordem mundial duradoura.
Declaramos:
Todos dependemos uns dos outros. Cada um de nós depende do bom prosseguimento do todo. Por isso respeitamos a comunidade dos seres viventes, seres humanos, animais e plantas, e nos preocupamos com a conservação da Terra, do ar, da água e do solo.
Temos responsabilidade individual por tudo que fazemos. Todas as nossas decisões, ações e omissões têm conseqüências.
Precisamos dar aos outros o tratamento que deles queremos receber. Obrigamo-nos a respeitar a vida e a dignidade, a individualidade e a diferença, de modo que cada pessoa seja tratada humanamente – e sem exceção. Precisamos cultivar paciência e aceitação. Precisamos ser capazes de perdoar, à medida que aprendemos com o passado, mas jamais permitir que permaneçamos prisioneiros de lembranças de ódio. À medida que abrimos nossos corações uns aos outros, precisamos sepultar nossas controvérsias mesquinhas, em favor da causa de uma comunidade mundial, e praticar assim uma cultura da solidariedade e da aliança recíproca.
Consideramos a humanidade como nossa família. É preciso que almejemos ser amigáveis e generosos. Não podemos viver apenas em favor de nós mesmos, e, mais que isso, precisamos servir aos outros e jamais esquecer as crianças, os idosos, os pobres, os sofredores, os deficientes, os fugitivos e os solitários. Seja como for, jamais alguém deverá ser explorado ou tratado como cidadão de segunda classe. Deverá haver uma relação de companheirismo entre homem e mulher, com igualdade de direitos. Jamais devemos praticar qualquer forma de imoralidade sexual. Devemos deixar para trás todas as formas de dominação ou de abuso.
Comprometemo-nos com uma cultura da não-violência, do respeito, da justiça e da paz. Não exploraremos, não lesaremos, não torturaremos, nem jamais mataremos qualquer ser humano, e renunciaremos à violência como meio para a solução de diferenças.
Precisamos ansiar por uma ordem social e econômica justa, em que cada pessoa tenha a mesma chance de fazer frutificar todas as suas possibilidades como ser humano. Precisamos falar e agir com veracidade e com simpatia, de modo a tratar todas as pessoas com honestidade e evitar preconceitos e ódio.
Não nos permitimos roubar. Mais que isso, devemos suplantar o domínio da ânsia por poder, prestígio, dinheiro e consumo, a fim de concebermos um mundo justo e pacífico.
A Terra não pode ser modificada para melhor sem que primeiro a consciência dos indivíduos se modifique. Prometemos ampliar nossas capacidades de perceber a realidade, à medida que disciplinarmos nosso espírito através da meditação, da oração e do pensamento positivo. Sem riscos e sem prontidão para o sacrifício não pode ocorrer nenhuma mudança fundamental em nossa situação. Por isso nos comprometemos com essa ética mundial, com a compreensão mútua, e com formas de vida compatíveis com as dinâmicas sociais, promotoras da paz e benéficas à natureza.
Convidamos todos os seres humanos, religiosos ou não, a fazer o mesmo.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Filhos – Manual do proprietário


Certa vez, participando de um encontro, o palestrante fez a seguinte pergunta para uma plateia de pais, todos com mais de 40 anos: Quem dos presentes obedecia aos pais só com um olhar? Absolutamente todos ergueram as mãos. Em seguida veio outra pergunta
por Denisa Puggina*
Quantos dos que levantaram as mãos têm filhos que fazem a mesma coisa? Imobilidade geral e algumas risadas.
Fomos criados com autoritarismo, o que não tem mais espaço atualmente. Mas, hoje, nos perdemos no exercício da autoridade.
Esperamos um redentor que nos console, tranquilize e absolva perante uma realidade que nos entorpece. Procuramos atabalhoadamente a solução sem buscar a compreensão do problema.
Paralisados pelo medo, fazemos o que não devemos: transferimos nossa responsabilidade de educadores para a escola. Buscamos para nossos filhos uma espécie de assistência técnica, como fazemos com os automóveis. Vã tentativa de justificar nossa incompetência.
Filho não nasce com Manual de Proprietário, infelizmente. Precisamos criar uma ordem moral e íntegra dentro de nós, que transformada em ação, sirva de exemplo. Nossos filhos são muito observadores e percebem com facilidade quando pregamos uma coisa e fazemos outra. Nossa incoerência é devastadora quando pretendemos educar.
Se nosso objetivo é ser exemplo, não precisamos de professor, guia espiritual, bafômetro, ou qualquer outro instrumento externo. Ao compreendermos nossa incongruência entre o pensar e agir, não estaremos resolvendo apenas nossos próprios desafios, mas ajudando também a solução dos problemas sociais.
Ouvimos muitas vezes pais dizendo que são “amigos” dos filhos. Nossos filhos não querem que sejamos seus amigos, eles já os têm. Querem que sejamos seus pais, seus educadores. Porque amor de pai é diferente. Tem que sinalizar o certo e o errado, não pode ser complacente, tem que dar colo e castigo, alimento para o corpo e para o espírito. Pai sofre junto, faz curativo, fica acordado de madrugada até ouvir o bendito barulho da chave. Pai olha boletim, vai a reunião na escola, fica orgulhoso com o sucesso e triste com o fracasso. Que amigo faz isso?
As férias estão aí. Permaneceremos mais tempo ao lado de nossos filhos. Aproveitemos para resgatar o que perdemos durante a pressa do ano que terminou. Sem regras e sem condicionamentos, porque cada filho tem sua própria história, apenas escutando nosso coração, conheceremos a verdade. E, na verdade, pura e íntegra está a arte de educar que deixa de ser tarefa para se tornar missão.
*Denisa Puggina é cirurgiã-dentista
Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, RS - 05 01 2009
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domingo, 16 de novembro de 2008

As duas éticas ou A ação possível


A modernidade começa com uma desilusão: quando se percebe que do bem não decorre o bem. Maquiavel faz essa terrível constatação – aquilo que, no plano privado ou pessoal ou religioso1 redundar em catástrofe no campo da política. Alguns dizem que, com isso, o pensador italiano terá separado a política e a ética, proclamando a primeira como imoral ou pelo menos amoral. Não é verdade. Maquiavel mostra-se exigente com o seu príncipe, ou seja, com aquele que governa os demais homens: nada mais errado do que imaginar as regras que presidem a sua ação como efetuando uma desqualificação daquela que seria a verdadeira ética, ou seja, a pessoal ou religiosa. Ninguém compreenderá nada de Maquiavel, ou da política moderna, se não tiver isso bem em mente. Podemos, isso sim, falar em duas éticas, como faz Max Weber, nisso claramente tributário do florentino.
O tema das duas éticas, ou melhor, o da segunda ética, da que o estadista pratica, tornou-se estes últimos anos um dos tópicos centrais da fala de um presidente brasileiro formado nas ciências sociais. Ele próprio um cientista político2, parte significativa de sua fala consistiu em atacar a ingenuidade daqueles que pensam que o líder político deveria pautar sua ação por regras morais. Não se pode dizer que o seu discurso, nesse campo, seja original: não pretende sê-lo. Ele e seus partidários retomam, basicamente, o que Weber disse. Isso em nada reduz a importância de seu discurso. Ao político, não cabe tanto a originalidade, mas o endosso e a execução. Enquanto no mundo das idéias a novidade, a originalidade contam enormemente, no da ação o que vale mesmo é pô-las em prática. O pensador escreve, o político assina. Os próprios intelectuais têm consciência disso, quando se cansam de apenas especular e procuram um príncipe – um tirano de Siracusa no caso de Platão, um rei da Prússia para Voltaire, uma czarina da Rússia para Diderot – que converta em carne o seu verbo. A essa busca geralmente se segue uma decepção, mas nem por isso deixa, quem filosofa sobre a ação, de procurar aquele que transforme em prática a sua teoria.
Resumindo, a ética de princípios, que pode ser a do indivíduo privado, é a mais próxima de uma ética tradicional. Não se deve, porém, confundi-la com esta última, já que a tradição consiste em seguir acriticamente uma lista de mandamentos, um gabarito do que é certo ou errado – enquanto uma ética de princípios, ou valores, supõe que estes tenham sido meditados, ponderados, refletidos, antes de um sujeito os incorporar e assumir como seus. Mesmo assim, essa ética está perto da tradição na medida em que atribui aos valores uma vigência forte, ou até um caráter absoluto. Não os considera valores apenas porque valem, isto é, porque foram instituídos por um sujeito ao avaliar o mundo e suas circunstâncias. Essa última visão, que, simplificando, seria a introduzida por Nietzsche, soa geralmente fraca, aos olhos de quem defende ou pratica uma ética de princípios. Com efeito, derivar estes últimos dos interesses, vontade, desejos ou mesmo da consciência dos homens reduz-lhes o caráter normativo.
Já a ética da responsabilidade é aquela que se aplica na política – não: melhor dizendo, é aquela que vale sobretudo para quem age politicamente. (Agir politicamente, isto é, levando em conta as relações de poder, pensando na construção do futuro, pode fazer-se também fora da esfera usual da política: posso agir politicamente na minha vida pessoal, por exemplo). Essa ética é muito mal compreendida pelo grande público. O maior erro a seu respeito consiste em entendê-la como uma não-ética. Na política, tudo seria válido, já que validado pelos resultados. Mas não é assim que funciona esse tipo de ética.
Essencialmente, trata-se de uma ética da ação política, mais que da instituição política. Das instituições e da ação, já tratamos, ao desenvolver uma oposição entre Mandeville e Maquiavel. O pensador florentino priorizou a ação. Seu mundo é plástico, em constante mutação. É visto do ângulo do indivíduo criativo (e aqui Burckhardt o captou muito bem, ao vincular a Renascença à figura do condottiere, do guerreiro quase sem princípios que plasma o seu mundo). Já o inglês, autor da Fábula das abelhas, confere menor importância ao agir, e maior ao modo pelo qual este se desvia em instituições.
Não é esse o mesmo modo pelo qual Mandeville abre o mundo moderno. (Assim como se fala, em xadrez, de tal ou qual "abertura", diríamos que existem, nesta partida que é a modernidade, uma abertura Maquiavel e uma abertura Mandeville). O italiano enfatiza ações que procuram produzir determinados fins. Se não os produzem, isso se chama fracasso. César Borgia assim fracassou. Nem por isso, será ele menos digno de nossa admiração – sempre segundo Maquiavel. César Borgia bateu-se e fez o que pôde (ou quase). De todo modo, a medida da ação está na produção direta de seu resultado.
Já Mandeville se interessa por outra coisa. O seu ponto é como ações que visam a um fim, este não político, mas privado, econômico, interesseiro, egoísta3, podem ser canalizadas de modo a produzir indiretamente fins que, do ponto de vista social, sejam positivos. Por isso, seu problema é o da canalização, isto é, o das instituições que desviam o rumo consciente dos atos.
Nesse sentido, Mandeville pretende exatamente o contrário de Maquiavel. Para este último, o importante era preservar o sentido das ações. Bom seria que as ações de César Borgia, orientadas para a conservação de seu poder, dessem certo. Já para Mandeville, o importante é desviar o sentido dos atos. Bom será que o egoísmo e a ganância de cada indivíduo resultem em outra coisa, em livre concorrência, em progresso econômico.
O ponto de vista do indivíduo, e de sua ação, é o óculo ideal de Maquiavel (evidentemente, o do indivíduo chefe, líder, estadista ou pelo menos conquistador). Para Mandeville, porém, é fundamental desfocar esse ponto de vista, seqüestrar, de seus autores, os atos. Por isso, enfim, o resultado dos atos fica, para Maquiavel, aquém deles, raras vezes lhes emulando o alcance político – ao passo que, em Mandeville, o resultado vai além do ato, conferindo-lhe uma dimensão bem maior do que poderiam ter.
Essas diferenças entre os dois grandes mestres do xadrez político obedecem a uma diferença anterior e fundamental. Para Maquiavel, a ação e seu resultado compartilham um sentido político. César Borgia agindo, e o resultado histórico de suas ações, das de seus contemporâneos e ainda da fortuna, são, tudo, política. Já para Mandeville, a ação e seu resultado diferem radicalmente quanto ao sentido. A seu ver, nem a ação individual nem seu fruto histórico são políticos. Ocorre nele um esvaziamento significativo do teor político da vida. (E é a onipresença do político em Maquiavel que permite uma leitura recente, que enfatiza seus vínculos com o humanismo cívico).
Em Mandeville, a ação é radicalmente privada. Não é privada apenas porque se dá no recesso do lar, no íntimo da consciência, no cerne do coração. É-o porque somente busca interesses pessoais, agressivos em relação aos outros. É privada, até, na valoração má e negativa do termo. Evidentemente, o autor não quer com isso afirmar que o homem seja mau. Tomar o privado enquanto mau é um recurso argumentativo muito inteligente, pelo qual Mandeville implica o seguinte: se o que afirmo vale até para o pior, até para o mau em estado puro, valerá muito mais para quem é neutro eticamente ou mesmo bom4. De todo modo, ainda que a ação seja privada e egoísta, seu resultado é social.
Dos dois grandes exemplos de Mandeville, um reza que da ganância de cada um decorre a concorrência capitalista, o outro que da prostituição no porto de Amsterdam se segue o respeito à virtude das matronas e donzelas5. Nos dois casos, não só o móvel da ação individual (busca desenfreada do ganho econômico, desejo sexual do marinheiro, desejo de ganho ou indecência das prostitutas) não é político, mas também o resultado é social e não político. O esvaziamento do político significa, aqui, que a sociedade passa a ser pensada em termos, digamos, próprios, de seu funcionamento, e não mais como fruto de uma ação plasmadora do mundo. A sociedade é despolitizada nas suas causas e nos seus efeitos.
Maquiavel teria dificuldade em aceitar esses termos. Para ele, a construção da casa comum dos homens passava por uma ação que lhe imprimisse uma forma. Era essa ação o que mais lhe importava. Aqui, porém, a construção prescinde dos atores ou das ações – melhor dizendo, não prescinde deles, mas se faz mediante um desvio significativo em face da consciência ou do anseio que os movesse a agir.
Ora, o importante para Mandeville é justamente esse desvio. O decisivo, para ele, é estabelecer claramente tal desvio. "Vícios privados, benefícios públicos" assim significa que o ponto de vista do indivíduo, ou de sua consciência, se torna insuficiente para se entender o funcionamento do social. Além disso, e de forma nada acessória, por essa via o social substitui o político – e um social no qual a economia desempenha papel fundamental.
Dessas duas distintas aberturas, decorrem duas maneiras bastante diferentes de jogar a política. Se abrirmos com Mandeville, estaremos considerando a vida social como barata, e nos contentaremos com o papel de indivíduos procurando seu bem pessoal, e produzindo a vida social como que por acaso. (Evidentemente, toda a genialidade desse jogo está em fazer passar por acaso aquilo que não o é; em construir uma teia de relações que produza o social enquanto almejamos o particular).
Se abrirmos, porém, com Maquiavel, estaremos considerando o social como resultante do político. Reabilitaremos a ação política, seja esta a do estadista, seja a do opositor. O governante e o rebelde compartilham essa ética: veja-se por exemplo o que diz Julien Sorel, numa passagem d’O vermelho e o negro, de Stendhal, em que ele exalta o líder político que talvez tenha sido quem mais, ou melhor, mesclou os papéis de chefe revolucionário e de dirigente no governo:
"- Danton fez bem em roubar? – perguntou-lhe ele bruscamente [isto é, perguntou Julien Sorel a Mathilde de la Mole], e com um ar cada vez mais feroz. – Os revolucionários do Piemonte, da Espanha, deviam comprometer o povo com crimes? Dar a pessoas mesmo sem mérito todos os postos do Exército, todas as cruzes? As pessoas que tivessem essas cruzes não temeriam a volta do rei? Dever-se-ia saquear o tesouro de Turim? Numa palavra, senhorita – disse, aproximando-se dela com um ar terrível –, o homem que quiser expulsar da terra a ignorância e o crime deve passar como a tempestade e espalhar o mal ao acaso?"6
Basta essa passagem – que, observemos sem nos determos, no romance exerce o decisivo papel de consumar o enamoramento de Mathilde por Julien, ao perceber ela que lida com um homem superior, cujos devaneios não se limitam aos da vida privada, mas se alçam a questões das mais relevantes para a época –, basta essa passagem para mostrar que a ética da responsabilidade não é apenas a do governante. É também a do rebelde, seja ele Danton, seja Julien Sorel. É a de todo aquele que vê o social como podendo e/ou devendo ser plasmado por uma ação criadora – e pouco importa se esta é a do indivíduo ou a do grupo. A essa ação que cria o social, cabe chamar de ação política.
É política assim a ação que assume como seu o ponto de vista da criação, que pretende moldar, criar, o social. Há política quando nos fazemos sujeitos de uma realidade, isto é, quando não a tomamos por dada, ou por independente da ação humana, mas a concebemos como resultando dessa ação – e, melhor ainda, nos propomos a agir, moldando o mundo. Para se definir a ação como política, não tem mais valor falar ex parte principi, falar do lugar do príncipe – nem do do revolucionário, que contesta aquele a fim de lhe ocupar a posição. O que importa é, pois, uma atitude criativa, de quem se torna sujeito de sua vida, e não mais o lugar: a postura, e não a posição, eis o que conta. Sai-se de uma idéia de poder delineada a partir de um espaço, de um território, mais ou menos estáticos, e passa-se a uma política que tem mais a ver é com uma atitude, com um enfoque, com o rumo de uma ação.
(...)
NOTAS
1 É óbvio que esses adjetivos não são sinônimos. Mas, para o que nos interessa, estão bastante próximos, sendo sua diferença sobretudo de ênfase: no caráter religioso (e portanto algo altruísta) ou pessoal (e quem sabe egoísta) da boa conduta.
2 O nome de "príncipe dos sociólogos", dado por alguns a Fernando Henrique Cardoso, tem mais a ver com o constante trânsito interno entre as várias ciências sociais, do que com uma denominação precisa de área.
3 O que não significa que a ação política seja necessariamente desinteressada, altruísta.
4 Esse modo de argumentar aparece já no rei Jaime I da Inglaterra, quando mostra como mesmo o mau rei detém um direito divino: se a legitimidade cabe até para o tirano, o monarca que não segue o bem, quanto não valerá para os bons reis? Cf. meu Ao leitor sem medo – Hobbes escrevendo contra o seu tempo, 2a edição, Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999, cap. V, esp. p. 147-49.
5 Mandeville, The Fable of the Bees, respectivamente notas G e H – na edição da Penguin, que é a que utilizamos, p. 118-30.
6 Parte II, cap. 9, p. 287-8 da ed. Abril, 1971, na trad. de De Sousa e Casemiro Fernandes; p. 228 do original francês, na ed. L’intégrale.

Este trecho faz parte do livro
A sociedade contra o social (Cia. das Letras, 2000).
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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Não basta querer vencer

Ora, todos nós queremos vencer.
As vezes o conceito de vencer pode ser diferente, os objetivos diversos e as vontades se limitarem a várias intensidades, mas, o objetivo sempre será vencer.
Em algum momento da vida lutamos por um diploma, uma profissão, um lar, uma vida, um reconhecimento, por um sonho e mil objetos de desejo.
Os sábios sempre deram as fórmulas necessárias e eficazes para que qualquer pessoa, sem distinção de credo, raça, patrimônio ou idade, pudesse vencer. Umas mais simples, outras complexas e algumas realmente difíceis. Mas, as fórmulas existem, aos milhares.
Se bem olharmos, todas, sem exceção, implicam em induzir o discípulo a adquirir conhecimentos gerais e específicos; assimilar noções básicas de direitos, deveres e limites, além de gerar estímulos de conduta moral, disciplinar e de perseverança.
Esta é a base, não há dúvida.
Entretanto, embora sejam conhecidos e disponíveis os instrumentos, muitas pessoas ainda se perdem na hora de escolher um caminho; seja no âmbito da formação educacional, do direcionamento profissional, do convívio social ou mesmo da sua valoração pessoal.
É que o ato de decidir impõe responsabilidade, e esta, solenemente, se constitui na grande barreira inibidora do desenvolvimento humano. Entretanto, todos nós já temos os nossos sonhos e, se houver dúvida em qualquer encruzilhada, será correta a opção que guardar sintonia com o sonho. O resto não interessa, deve ser descartado.
A grande maioria, indecisa, se perde e estaciona à beira do gesto de responsabilidade; outros, mais afoitos, a esquecem, e tentam suprimir etapas para que o sucesso chegue mais rápido; e alguns, embora cônscios, quando se defrontam com as dificuldades, desanimam, e se sucumbem. Mas, uns poucos, atentos à compreensão das regras, avançam, e se tornam vencedores.
Para os vencidos o fracasso é obra do destino, para os vencedores o sucesso é resultado do trabalho e da dedicação.
Todavia, se analisarmos detidamente cada uma das situações, vamos concluir que um detalhe se aflora; é a construção do objetivo e manutenção deste foco em todas as decisões do cotidiano é que fazem a diferença.
Nenhum viajante chegará a lugar nenhum se não souber para onde pretende ir; porque não terá objetivo. Alguns viajantes poderão ficar pelo caminho se se encantarem pelas sombras das árvores, pelo frescor do riacho ou pela beleza das flores; porque perderam o foco do seu objetivo. Mas chegará lá, sem dúvida, o viajante que sabe para onde vai, não se deslumbra com a beleza adjacente e não busca atalho; porque tem seu foco voltado definitivamente para o objetivo.
Então, para alcançar o sucesso é importante definir o sonho; buscar os ensinamentos úteis para a jornada; quebrar a inércia começando imediatamente a caminhada e, a partir dali, manter o foco quando dorme, quando acorda, quando alimenta, quando se diverte, quando trabalha e enquanto vive.
Não adianta apenas querer, é preciso, antes de tudo, se despojar dos vícios periféricos e se concentrar, integralmente, no objetivo.
Os momentos próprios de descanso devem estar além do objetivo, depois dele, assim como uma recompensa pela dedicação ou um prêmio pelo sucesso, do contrário só restará absorver a poeira que os obstinados deixarem pelo caminho.
Assim, não é demais repetir: para alcançar o sucesso é importante definir o sonho; buscar os ensinamentos; quebrar a inércia e manter o foco, sempre. Não se pode esquecer; obstinadamente sempre. O resto, é só o resto.
Sucesso a todos
Paula e Fabricio Yabiku

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A água


Deu no Ponto de Vista do Diário Popular

Por RENATO BRITO

Todo mundo sabe que a Terra é formada por muita água, mas 97% dessa água toda está nos oceanos e mares e é salgada, 2% estão armazenadas nas geleiras, em lugares quase inacessíveis. Apenas 1% de toda a água do planeta está disponível para uso, armazenada nos lençóis subterrâneos, lagos, rios e na atmosfera.
Mesmo assim, durante milênios a água foi considerada um recurso infinito. A generosidade da Natureza fazia crer em inesgotáveis mananciais, abundantes e renováveis. Porém este quadro está mudando e atualmente 11 países da África e nove do Oriente Médio já não têm água. A situação também é crítica no México, Hungria, Índia, China, Tailândia e Estados Unidos. Preocupados com a situação alguns países tentam reverter o problema, como Israel que está reciclando 70% do esgoto para irrigação, ou seja, é o país com o melhor índice de aproveitamento de água na agricultura cuja eficiência chega a 90%; os Estados Unidos, desde 1950 diminuíram 36% o consumo de água pelas indústrias.
O Brasil tem 8% de toda a água doce existente no planeta. Esse é um dado impressionante mas, na verdade, todo esse recurso está mal distribuído; a água é abundante na região amazônica, que tem 80% da disponibilidade total e em outras regiões, como o semiárido nordestino, é escassa; seria esse também um bom motivo pelo interesse da Internacionalização da Amazônia?

Além da distribuição desigual da água, estamos enfrentando ainda, a poluição dos rios e nascentes, a destruição das matas de topo, de cobertura e ciliares e o crescimento da demanda pelo recurso. Uma população maior aliada à crescente industrialização do País, à irrigação para produção de alimentos e à geração de energia por exemplo. E a Natureza já não está respondendo os recursos na mesma velocidade em que são gastos.
Também no Brasil, a água vem escasseando. A cada ano que passa quem vive nas zonas rurais está vendo secar nascentes antes consideradas perenes. Enquanto isso, nas cidades, água suja tem sido veículo de doenças que atingem principalmente às populações mais pobres, produzindo números impressionantes:
- A cada 100 crianças internadas em hospitais, 60 adoecem por consumir água suja;
- A cada 100 crianças que morrem antes de completar um ano, 30 foram vitimadas pela diarréia (doença transmitida por água suja).
Então por que não cuidamos da água como cuidamos uma árvore, por exemplo?
Todos sabem que a Terra não pode viver sem as árvores e por isso as pessoas têm o maior cuidado com elas. Todas as escolas comemoram o Dia da Árvore. Uma árvore é muito fácil de desenhar.
Mas e a água, todas as pessoas adoram uma água bem clarinha e fria na hora da sede. Todo mundo adora mergulhar num lago de águas claras, num rio cristalino. Todos sabem que o ser humano não pode viver sem água limpa. Todo mundo sabe que a água é tão importante quanto o ar. Até mesmo uma árvore, sem água, não pode viver. Poucas escolas sabem que existe o Dia da Água (22 de março).
Ninguém sabe desenhar a água. Vai ver é por isso que ninguém cuida da água com o mesmo carinho que cuida da árvore.
A questão da água não pode ser apenas responsabilidade do Governo que pouco pode fazer sem a efetiva participação de cada cidadão, usuário da água. Somente uma mudança de atitude de todos e de cada pessoa como ser humano e cidadão pode assegurar o futuro da qualidade e quantidade de água necessária ao bem-estar das populações e ao equilíbrio ambiental. A gestão da água precisa ser compartilhada pelo Governo e sociedade, cabendo a responsabilidade a todos os seus usuários.


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