segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Declaração de Ética Mundial - parte I


Declaração de Ética Mundial
Parlamento das Religiões Mundiais
4 de setembro de 1993
Chicago, E. U. A.

Introdução

O texto ora intitulado “Introdução” foi redigido em Chicago por um comitê redacional do “Council” do Parlamento das Religiões Mundiais, com base na Declaração original, escrita em Tübingen e reproduzida a seguir sob o título “Princípios”. Esta “Introdução” pretendeu oferecer – para divulgação junto ao grande público – um resumo sucinto da Declaração.

O mundo agoniza. E sua agonia é tão pungente e aflitiva que nos sentimos desafiados a nomear suas formas de manifestação, de modo a evidenciar a gravidade de nossa preocupação. A paz esquiva-se de nós – o planeta está sendo destruído – vizinhos convivem com medo – homens e mulheres são estranhos uns para os outros – crianças morrem!
Isso é abominável!
Condenamos a usurpação dos ecossistemas de nosso planeta. Condenamos a pobreza, que asfixia as chances de vida; a fome, que enfraquece o corpo humano; as desigualdades econômicas, que proliferam em nossas comunidades; e a morte insensata de crianças através da violência. Condenamos em especial a agressão e o ódio cultivados em nome da religião.
Essa agonia não precisa existir.
Ela não precisa existir, porque já se tem a base para uma ética.
Essa ética oferece a possibilidade de uma ordem individual e global melhor, afasta os seres humanos do desespero, e afasta as sociedades do caos.
Somos homens e mulheres que professam os mandamentos e as práticas das religiões do mundo:
Afirmamos haver uma reserva de valores fundamentais em comum nas doutrinas das religiões, e que esses valores constituem a base para uma ética mundial.
Afirmamos que essa verdade já é conhecida, mas ainda precisa ser vivida em atos e nos corações.
Afirmamos haver uma norma irrefutável e incondicional para todos os campos da vida, para as famílias e comunidades, para as raças, nações e religiões. O comportamento humano já conta com linhas mestras muito antigas, que podem ser encontradas nas doutrinas das religiões mundiais e que são condição para uma ordem mundial duradoura.
Declaramos:
Todos dependemos uns dos outros. Cada um de nós depende do bom prosseguimento do todo. Por isso respeitamos a comunidade dos seres viventes, seres humanos, animais e plantas, e nos preocupamos com a conservação da Terra, do ar, da água e do solo.
Temos responsabilidade individual por tudo que fazemos. Todas as nossas decisões, ações e omissões têm conseqüências.
Precisamos dar aos outros o tratamento que deles queremos receber. Obrigamo-nos a respeitar a vida e a dignidade, a individualidade e a diferença, de modo que cada pessoa seja tratada humanamente – e sem exceção. Precisamos cultivar paciência e aceitação. Precisamos ser capazes de perdoar, à medida que aprendemos com o passado, mas jamais permitir que permaneçamos prisioneiros de lembranças de ódio. À medida que abrimos nossos corações uns aos outros, precisamos sepultar nossas controvérsias mesquinhas, em favor da causa de uma comunidade mundial, e praticar assim uma cultura da solidariedade e da aliança recíproca.
Consideramos a humanidade como nossa família. É preciso que almejemos ser amigáveis e generosos. Não podemos viver apenas em favor de nós mesmos, e, mais que isso, precisamos servir aos outros e jamais esquecer as crianças, os idosos, os pobres, os sofredores, os deficientes, os fugitivos e os solitários. Seja como for, jamais alguém deverá ser explorado ou tratado como cidadão de segunda classe. Deverá haver uma relação de companheirismo entre homem e mulher, com igualdade de direitos. Jamais devemos praticar qualquer forma de imoralidade sexual. Devemos deixar para trás todas as formas de dominação ou de abuso.
Comprometemo-nos com uma cultura da não-violência, do respeito, da justiça e da paz. Não exploraremos, não lesaremos, não torturaremos, nem jamais mataremos qualquer ser humano, e renunciaremos à violência como meio para a solução de diferenças.
Precisamos ansiar por uma ordem social e econômica justa, em que cada pessoa tenha a mesma chance de fazer frutificar todas as suas possibilidades como ser humano. Precisamos falar e agir com veracidade e com simpatia, de modo a tratar todas as pessoas com honestidade e evitar preconceitos e ódio.
Não nos permitimos roubar. Mais que isso, devemos suplantar o domínio da ânsia por poder, prestígio, dinheiro e consumo, a fim de concebermos um mundo justo e pacífico.
A Terra não pode ser modificada para melhor sem que primeiro a consciência dos indivíduos se modifique. Prometemos ampliar nossas capacidades de perceber a realidade, à medida que disciplinarmos nosso espírito através da meditação, da oração e do pensamento positivo. Sem riscos e sem prontidão para o sacrifício não pode ocorrer nenhuma mudança fundamental em nossa situação. Por isso nos comprometemos com essa ética mundial, com a compreensão mútua, e com formas de vida compatíveis com as dinâmicas sociais, promotoras da paz e benéficas à natureza.
Convidamos todos os seres humanos, religiosos ou não, a fazer o mesmo.

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