terça-feira, 18 de agosto de 2009

Base ética científica


O interesse comum como principal base ética científica
O desenvolvimento econômico é, muitas vezes, baseado em inovação tecnocientífica. No entanto, esse desenvolvimento é geralmente realizado em detrimento do desenvolvimento social e da preservação do meio-ambiente. Australiano de nascimento, Hugh Lacey, filósofo da ciência da Universidade de São Paulo (USP) – convidado para uma mesa redonda na 61ª reunião Anual da SBPC – concedeu uma entrevista para a revista ComCiência e falou sobre a maneira como a ciência e a tecnologia são aplicadas no mercado e, sobretudo, no sistema capitalista. A entrevista é de Erica Guimarães e publicada pela revista eletrônica ComCiência, 17-07-2009.
Eis a entrevista:
Qual deveria ser a principal preocupação ética dos cientistas?
A ciência é o entendimento e conhecimento de fenômenos do mundo. Ela possibilita a descoberta de novos fenômenos, às vezes produzidas de forma prática e tecnológica, muitas vezes, sem nenhuma aplicação. Acho que todas as pesquisas, projetos de pesquisa devem começar com uma questão: como essa pesquisa pode ajudar na formação humana? Essa questão ética é a primeira questão. E então, depende da área.
Existe uma preocupação com as questões ecológicas e sociais?
Existe uma preocupação, mas não é suficientemente séria ainda. Os temas que envolvem sustentabilidade, inovação, crescimento econômico, desenvolvimento social, questões tecnocientíficas precisam ser discutidos com mais frequência. Quero como cientistas criar na balança entre inovação e bem estar social. A ciência está dominada pelos interesses econômicos, infelizmente.
Em sua opinião o direito de propriedade intelectual é ético?
Não. Para mim, ética tem a ver com bem estar. Um direito ético deve ser algo que contribui para nossa sociedade. Existe um discurso de que não basta ter produtividade acadêmica, tem que virar patente. Não se pode patentear o conhecimento, mas produtos e processos. É necessário avaliar se as inovações contribuem para o bem estar do cidadão. O problema é que o valor da ciência é sempre maior para o mercado. O conhecimento pertence ao patrimônio da humanidade.
Os problemas sociais são evidentes, sobretudo no Brasil. As iniciativas científicas negligenciam as áreas sociais e emergentes e focam mais em inovações tecnocientíficas?
Acho que temos um dilema. Nos países como Brasil, China e Índia há uma necessidade na área social por conta da pobreza. Hoje, desenvolvimento significa, no mundo inteiro, desenvolvimento econômico baseado em inovação tecnocientífica. E as inovações, podem, muitas vezes, aumentar as diferenças sociais e ter um impacto sobre os problemas ambientais e sociais. Em curto prazo a inovação é positiva, mas em longo prazo existe a possibilidade de destruição.
Como conciliar economia, preocupação ecológica e bem estar social?
Formamos, para isso, instituições como a SBPC. Pode haver uma mobilização de todos os setores ecológicos e sociais. Da economia, ecologia, e sociedade. Mas as universidades estão dependendo e precisando, cada vez mais, de dinheiro, mas acredito que é papel das universidades limitarem a economia sem deixar de lado o bem estar social. É preciso enfatizar a necessidade de outra abordagem.
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