Houve um tempo em que tudo girava em torno dela: ter honra era ser um legítimo membro da tribo; não ter, preferível morrer. O conceito de honra, na sua interpretação mais tradicional, nasceu na Grécia antiga, foi remodelado em Roma e reemergiu na Idade Média. "Na época feudal, a honra era uma qualidade atribuída aos nobres, essencialmente guerreiros, cuja função social era proteger o rei, as crianças e as mulheres", diz Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp. Hoje, a HONRADEZ pode ser mais relacionada à fidelidade aos próprios princípios ou ao próprio eu. Ou, no popular, ter vergonha na cara. É por isso que o tribunal da própria consciência continua a pesar mesmo quando se alega que "todo mundo faz", a começar dos "caras lá de cima", então "que mal tem" em levar a avozinha para passar na frente na fila de comprar ingresso, desrespeitar a precedência na hora de pegar uma vaga no estacionamento do shopping ou deixar uma toalha guardando lugar o dia inteirinho na espreguiçadeira da piscina disputada? O mal, evidentemente, está em desprezar a própria dignidade.
O fato
Nelson Almeida/AFP
É difícil imaginar exemplo mais completo de desonra que o do piloto NELSON PIQUET JÚNIOR. Ameaçado de demissão da escuderia Renault, ele confessou bem a posteriori ter concordado em fraudar o Grande Prêmio de Fórmula 1 de Singapura no ano passado. A certa altura da corrida, para facilitar a situação de seu companheiro de equipe, Fernando Alonso, Nelsinho recebeu a ordem de bater seu carro contra um muro. Obedeceu. Os privilégios de nascimento - bonito, rico, sobrenome famoso - agravam o tamanho da indignidade cometida contra si mesmo e do mau exemplo dado à sociedade.
A análise
"Ser honrado, hoje em dia, significa ser portador de exemplaridade para uma comunidade. E, para ser exemplo, o sujeito precisa ser probo em todos os aspectos da vida dele. Não basta, por exemplo, ser só bom médico ou bom piloto. É preciso ser bom pai, bom marido, um sujeito respeitoso e incorruptível", diz o cientista político Bolívar Lamounier.
Original em:
http://veja.abril.com.br/041109/pequeno-manual-civilidade-p-108.shtml
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