Constantemente sou convidado a falar para grupos de jovens em escolas, entidades e eventos específicos. É sempre uma experiência fascinante pegar pela frente uma platéia jovem, faminta por informação e questionadora. Numa das últimas vezes falei sobre minha experiência de 26 anos como executivo numa multinacional. Hoje como empresário, olho o universo corporativo sob um novo ponto de vista, que me leva a pequenas
reflexões sobre o que vi e aprendi. Achei que valeria a pena compartilhar algumas com você:
Se você é cliente e acha ruim ser tratado com desrespeito, espere até ser fornecedor. Você provavelmente será visto como um Zé qualquer que sempre chega na hora inconveniente para roubar o tempo dos outros. E vai ter que esperar. Esperar que seu email seja retornado. Que seu telefonema seja atendido. Que seu interlocutor o receba...
Todo mundo parece ocupado demais para ser educado. Emails e telefonemas não são retornados. Reuniões têm o horário desrespeitado, mesmo que você venha de muito longe. E ninguém pede desculpas. Ficou tão normal ser mal educado que quando alguém respeita as regras da educação, ficamos espantados! Comentamos até! Não é uma inversão total de valores?
Que feio... Será preciso um livro japonês, um guru estadunidense, um processo alemão ou a ISO xis mil para que a educação volte a fazer parte dos relacionamentos profissionais?
Outro ponto: todo mundo está com medo. Medo do concorrente, medo de tomar decisões erradas, medo que as ações caiam, medo de perder o emprego. Houve um tempo em que esse medo era o gatilho que gritava: "mexa-se!" e fazia com que as pessoas criassem soluções.
Mas hoje é diferente. Alimentado pela insegurança, pela falta de autonomia, pela ignorância sobre o negócio, pela gritaria da mídia sensacionalista, o medo hoje é criado por gente que jamais se preocupou em preparar seus sucessores. Por sistemas criados para pulverizar as responsabilidades e os processos de tomada de decisão. Assim, o que antes era resolvido em uma semana agora leva seis meses. O medo que desafiava, agora só paralisa.
Mais um ponto: você pode ser um gênio, mas estar estúpido. Ser e estar. Se a genialidade é inata, a estupidez é uma condição. Ninguém deixa de ser inteligente ou genial. Mas todo mundo está propenso a praticar atitudes estúpidas. Somos todos bons em alguma coisa e ruins em outras. Reconhecer os momentos em que estamos estúpidos é o primeiro passo para atenuar os problemas. Mas quem é capaz de se reconhecer estúpido?
E por fim: neste Brasil do novo milênio parece que perdemos a capacidade de aprender com nossos erros. Os erros de hoje são os mesmos de 10, 20, 30 ou 100 anos atrás. Estão mais sofisticados, informatizados, teorizados e enfeitados. Mas são os mesmos erros de sempre. Será que ninguém aprende?
Boa educação, coragem, reconhecer nossas limitações e aprender com os erros.
No meu tempo o nome disso era "obviedades". Hoje é "exceções".
Luciano Pires
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