quarta-feira, 21 de julho de 2010

Quem paga mais

Por Fernando Torres e Graziella Valenti, de São Paulo-ValorOnline

26/04/2010
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Tamanho realmente é documento quando se fala de remuneração de executivos. No entanto, não é o único fator que determina quanto os diretores das companhias abertas vão receber pelos serviços prestados.

Levantamento feito pelo Valor com base em dados que começaram a ser divulgados neste ano ao mercado por determinação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) reuniu as 50 empresas que tiveram o maior gasto médio por diretor no ano passado.

Ao se comparar a lista com as 50 maiores companhias por valor de mercado na Bovespa, há coincidência em 28 dos casos.

Grosso modo, as estatais e as elétricas dão lugar no ranking de maiores salários para empresas de porte menor (não exatamente pequenas), mas que têm uma estratégia agressiva de remuneração variável seja na forma de bônus ou via plano de opções.

Na média, o peso da parcela variável - planos de opções em ações, por exemplo - no total pago é de 56% nas 50 empresas que mais remuneram, em comparação com um índice de 29% nas demais companhias de uma amostra com 197 empresas que divulgaram os dados exigidos pela CVM.


Mesmo grávida, Gisele foi a mais bem paga em 2009

Ainda dentro dessas características das líderes, destaque para as empresas do segmento financeiro e também para aquelas que já tiveram ou ainda têm investidores de fundos com participação relevante no capital e na gestão. Das 50 da lista, nove contaram em algum momento com a gestão da GP ou do Pactual, por exemplo.

Maior banco do país, o Itaú Unibanco encabeça o ranking, com remuneração média de R$ 7,9 milhões para cada um dos seus 16 diretores estatutários em 2009. O valor está bem acima do pago pelos concorrentes Santander, com R$ 3,7 milhões, e Bradesco, com R$ 2,1 milhões.

Atrás do Itaú, Vale, AmBev, Pão de Açúcar e Lojas Renner completam a lista das cinco empresas que melhor remuneraram os principais executivos em 2009.

Na média, as 50 empresas que pagaram mais no ano passado tiveram uma despesa de R$ 2,7 milhões com cada diretor e gastaram R$ 29,8 milhões com diretoria e conselho. Nas demais companhias, o valor individual cai para R$ 760 mil e o custo da administração recua para R$ 6,2 milhões.

Ao serem confrontados com o resultado do levantamento, especialistas da área de recursos humanos disseram que o tamanho das empresas é o principal fator determinante para a remuneração, principalmente por conta da responsabilidade do executivo, que aumenta proporcionalmente.

Mas há desvios nessa regra geral, seja pela cultura ou filosofia da empresa em questão, seja por uma característica setorial ou por conta da fase vivida pela companhia.

Felipe Rebelli, líder na América Latina da área de talentos e recompensas da Towers Watson, consultoria especializada na área, diz que as empresas do setor financeiro costumam ter políticas de remuneração mais agressivas. "Elas pagam um salário fixo um pouco abaixo do mercado e dão como contrapartida uma parcela variável acima da média, sujeita aos resultados", diz.

Essa estratégia é repetida, às vezes com uma alavancagem menor, nas empresas não financeiras que possuem gestores de fundos de participação no comando.

Isso justificaria, por exemplo, o fato de a BR Malls, que teve a GP entre os principais acionistas, ter pago R$ 3,8 milhões em média para seus diretores, enquanto sua concorrente de porte um pouco maior Multiplan pagou R$ 2,1 milhões.

Da mesma forma, os diretores da incorporadora Gafisa, que também teve gestão da GP, e da PDG Realty, que tinha um fundo do Pactual como principal acionista, receberam 50% a mais, em 2009, do que seus pares da Cyrela, maior empresa do setor.

Os diretores da MRV foram os que tiveram a menor remuneração entre as companhias do setor com receita líquida acima de R$ 1 bilhão em 2009. O gasto médio individual foi de R$ 855 mil.

Do outro lado, a Direcional, que tem entre os acionistas a gestora Tarpon, teve despesa média de R$ 1,3 milhão com cada diretor, quatro vezes mais do que pagou EZ Tec e mais do dobro gasto pela Helbor, que tiveram receita maior em 2009.

Sem entrar nos casos específicos, Christian Pereira, consultor sênior da Mercer, diz que essas aparentes distorções têm a ver com a estratégia. "Às vezes uma empresa pequena tem que pagar como uma grande, porque senão vai continuar sendo pequena. Se a meta é ser maior e crescer como as concorrentes, ela pode contratar executivos de companhias maiores", afirma o especialista.

Ainda na análise do levantamento, chama atenção o fato de sete empresas ligadas a GP integrarem a lista das 50 que pagaram mais aos diretores em 2009.

A própria GP Investments ainda não divulgou as informações sobre remuneração, mas provavelmente integrará o ranking, uma vez que pagou R$ 40,9 milhões em opções de ações no ano passado.

Quando a discussão sobre remuneração ainda engatinhava no Brasil, em meados de 2008, Antonio Carlos Bonchristiano, presidente da GP, fez uma apresentação sobre a governança do grupo, em evento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Na ocasião, Bonchristiano não deixou margem para dúvidas: o tema é o coração da gestão GP.

"Meritocracia é algo difícil de implantar. Tem que ser algo que faça diferença na vida das pessoas", disse o executivo no evento, referindo-se à remuneração variável. "Não tem importância que o executivo ganhe muito, se o acionista também ganhar junto."

Bonchristiano se posicionou contra o excesso de benefícios. "O custo de se administrar os benefícios é muito maior do que o valor percebido. Ganhando bem, o executivo vai comprar o carro que ele quiser, o celular que ele quiser."

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