domingo, 18 de julho de 2010

Mordomo e vampiro

Por Juremir Machado da Silva  correio@correiodopovo.com.br
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Agora, felizmente, está ficando tudo mais claro. Levou tempo. Já podemos entender quase tudo. Ciro Gomes disparou contra todo mundo. Demonstrou uma impressionante rapidez no gatilho. Só bala perdida. Chutou o balde com vários anos de atraso. Bateu de cabeça na parede. Abusou dos clichês. Fez pose de matador. Triste pistoleiro solitário. Entregou verdades frias como telepizzas. Morreu de boca fechada. É, como se dizia em Palomas, um paspalho. Um cangaceiro aposentado. Disse que o cara de vampiro José Serra é melhor do que a cara de Caubi Peixoto Dilma Rousseff. Vai apoiar Dilma. Chamou o cara de mordomo Michel Temer de chefe do "ajuntamento de assaltantes" conhecido por PMDB. Vai engolir Temer como candidato a vice na chapa de dona Dilma. Tudo em casa.

Uma coisa é certa: Ciro vai fazer falta na campanha. A disputa ficará menos engraçada. Será como um circo sem palhaço. Quer dizer, sem o palhaço mais engraçado, aquele que diz as maiores barbaridades com espontaneidade a ponto de ninguém se ofender. O PMDB nunca se ofende. Nem vomita. Tem estômago de avestruz. Engole tudo, de botão de jaquetão até denúncias do Ciro. Sejamos francos, será uma eleição enfadonha sem o Ciro. Mais ou menos como o futebol sem as declarações do Romário e do Edmundo. Quem fará discursos inflamados e pretensamente mais profundos? Uma vitória de Ciro nas eleições daria uma grande contribuição para a história brasileira: a primeira-dama mais bonita de todos os tempos nestas paragens tropicais. Ciro é como Lampião. Já se apagou. Mas fez estragos.

O PT terá mais de nove minutos na televisão para Dilma graças ao consórcio com PMDB, PDT, PR, PRB e PSB. O PSDB só conseguiu aliciar até agora os remanescentes da ditadura militar - o Dem - e os herdeiros dos comunistas - o PPS. Faz sentido. Vigora a anistia total e irrestrita. Só dá cinco minutos e meio de TV. É o que se chama de aliança capaz de superar as diferenças ideológicas e de possibilitar o diálogo num patamar superior: o pragmatismo absoluto. Ou de comprovar a tese de alguns de que não existe mais essa de esquerda e direita. Falta o PP, a outra metade do Dem, que não sabe se casa com o PT, baseado no princípio de que os opostos se atraem, ou com o PSDB, seguindo a ideia de que não há mais opostos. São todos partidos de programa. Como certas garotas. Não confundir com partidos programáticos.

O Brasil tem muitos partidos. Até em demasia. Mas só dois parecem bons partidos. Todos querem se casar com eles. O PMDB, apesar de grande, aceita fazer o papel de padrinho de casamento. Ou de alcoviteira. O importante é figurar no testamento. Ou no contrato de matrimônio. Afinal, como todos sabemos, casamento implica cargos e encargos. Esses casamentos são sempre com união total de bens, isto é, união total com os bens da União. Como no filme do Woody Allen, tudo pode dar certo. Exceto para quem não fizer uma boa aliança. O derrotado Ciro Gomes poderá ser recompensado por suas críticas acerbas com um ministério. Um ministério dado pelo PT ou pelo PSDB.

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