segunda-feira, 12 de julho de 2010

Reflexões sobre o cagaço

Num texto recente que chamei de OS REIS DO CAnGAÇO (o "ene" estava ali só para não chocar de cara), escrevi o seguinte: "... A empresa treinava todo mundo, gastava uma bala em tecnologia, botava gente viajando pra todo lado, promovia reuniões em cima de reuniões, falava de inovação e de 'produtos disruptivos', mas na hora de tomar a decisão não havia um só fariseu disposto a assumir riscos.

Procurei uma definição para aquele comportamento, pensei que era 'medo'. Mas era mais. Era o velho 'cagaço'. Para mim, 'cagaço' sempre foi mais que simplesmente 'medo'. Medo parece ser algo eventual. Aparece aqui e depois some. Cagaço não. É um estado de espírito, constante e sistemático. Uma forma de enxergar o mundo..."

Pois é, medo e cagaço. Essa diferenciação não tem embasamento científico, é coisa minha e tem a ver com as experiências que vivi. O medo é um sentimento que nos alerta para ameaças físicas ou psicológicas. De certa forma foi ele - o medo - que nos manteve vivos desde que descemos das árvores. Portanto o medo é necessário e costumo tratá-lo como algo positivo.

Quem não tem medo é estúpido.

Com o tempo e a experiência de vida dá para aprender a usar o medo a seu favor. Veja só: você, como todo mundo, sente medo todos os dias ao tomar decisões. Esse medo se manifesta como aquele frio no estômago no momento de dizer "sim" ou "não". De assinar aquele papel. De aceitar aquela responsabilidade. O frio no estômago é um aviso que o corpo nos dá:

- Cuidado, ô! Você está escolhendo algo perigoso, além do razoável. Você está optando por tentar algo que as pessoas não tentam, por ir aonde as pessoas não vão. Cuidado!

Pô, mas se tudo o que quero é não ser previsível, não viver apenas repetindo o que os outros fazem, não ser apenas mais um bovino no rebanho, esse medo é útil. Ele indica que estou saindo da média, tentando buscar algo que está além do que a mediocridade define como "normal", entendeu? As maiores e melhores decisões de minha vida, tomei com o estômago gelado. E hoje, se uma decisão não me congela o estômago, não vale a pena. Aprendi a usar o medo a meu favor.

Já o cagaço é diferente. Tem a ver com covardia. Ele nem mesmo deixa que cheguemos à situação em que o estômago vai gelar. O cagaço é o medo que paralisa por antecipação. É uma predisposição a não correr riscos. Nunca pode ser usado a favor. E sabe o que é curioso? Quem opta pelo cagaço tem a consciência limpa, pois acha que está sendo precavido, prudente, cuidadoso...

Na sociedade moderna, onde a mídia espalha diariamente razões e exemplos para que sintamos medo, tornar-se um cagão é normal. E no ambiente profissional então? O cagaço é incentivado, nutrido, necessário! O ambiente profissional focado na eficiência operacional, nos resultados de curto prazo e nas pequenas ações táticas, detesta tudo que é novo. Nos discursos pregamos a inovação, mas nas atitudes... Abominamos!

Afinal, o "novo" implica em mudanças que geram instabilidade. E instabilidade é mortífera para quem quer previsibilidade, processos firmes e seguros. Controle... Instabilidade gera insegurança e insegurança gera medo.

- Você é pago pra trabalhar, não pra pensar, sacou? Não invente moda! Siga aí o roteiro e não me encha o saco. Não queremos sustos!

Isso é familiar pra você? Pois é... Daí pro cagaço é um pulinho...

Luciano Pires
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