quarta-feira, 28 de julho de 2010

Somos todos do bem

Ao menos é o que apregoa o psicólogo americano Dacher Keltner, professor da Universidade da Califórnia e autor de um estudo que contesta o ceticismo radical

Por Moisés Sznifer, de São Francisco

Trava-se nas prateleiras uma batalha do bem contra o mal. Algo que contrapõe a visão de Rousseau à de Thomaz Hobbes, o “bom selvagem” contra o homem-lobo. De um lado, despontam obras como O Gene Egoísta, de Richard Dawkins, e On Evil (“Sobre o mal”), de Terry Eagleton, que enfatizam o lado mais obscuro dos seres humanos. De outro, livros como o recém-lançado The Empathic Civilization (“A civilização da empatia”), de Jeremy Rifkin, e Born to Be Good (“Nascidos para o bem”), do psicólogo Dacher Keltner. Professor da Universidade da Califórnia e diretor do Centro de Ciências Greater Good (Bem Maior), Keltner diz na entrevista a seguir que escreveu seu livro na tentativa de “desmistificar” uma visão sombria unilateral que paira sobre a espécie humana. Segundo ele, a emoção prevalecente da compassion (misto de simpatia e solidariedade) foi muito bem elaborada por Darwin, mas propositadamente negligenciada pelos autores mais pessimistas. Aluno do psicólogo Paul Ekman, Keltner conviveu algum tempo com o dalai-lama, de quem absorveu o conceito confuciano de Jen, segundo o qual o significado de uma vida honrada passa pela bondade, pelo respeito aos outros e a gratidão. Apoiado nestas três fontes, escreveu um livro fácil de ler, repleto de metáforas inusitadas, anedotas simpáticas e exemplos curiosos acerca de vidas plenas de significado. É uma contribuição relevante à chamada psicologia positiva que prospera na Universidade de Berkeley, a mesma onde nasceu o movimento hippie, aquele que pregava “a paz e o amor” nos anos 60.
Jen Science é o título do primeiro capítulo de seu livro. Do que se trata?_Jen é a ideia central dos ensinamentos de Confúcio e se refere a uma complexa combinação de elementos como bondade, humanidade e respeito, intervenientes nos relacionamentos. Para Confúcio, uma pessoa Jen é alguém capaz de catalisar os bons fluidos emanados por outros, evitando absorver os negativos. O Jen é também aquele sentimento profundo que o envolve quando você consegue extrair o bem dos outros. Podemos identificá-lo fisicamente, por meio de neurotransmissores (a serotonina, por exemplo) e potenciais de ação, em áreas do cérebro que promovem a confiança, o carinho, a devoção, o perdão e a alegria.
Paul Ekman identificou seis tipos de emoções, das quais quatro são negativas, uma positiva e uma neutra. Como afirmar, então, que as pessoas foram programadas para ser boas?_Ekman partiu da teoria da evolução de Darwin sobre as emoções. São, para ele, representações da nossa evolução enquanto mamíferos e expressas em muitas partes do corpo – olhos, respiração, pele etc. Ekman fixou-se basicamente nas expressões faciais. Por 15 anos tenho estudado como manifestamos nossas emoções a partir do tato, da voz e dos movimentos de cabeça. Observei a existência prevalecente de emoções, como desejo, riso, compaixão, interesse e gratidão, o que me permitiu formular que estamos programados para as emoções positivas. É a minha proposição, ainda que Ekman dela divirja.
Mas em seu livro você cita uma obra de Darwin que reproduz uma lista de 25 emoções negativas e apenas 16 positivas. Não seria outra indicação contrária à tese de que nascemos para ser bons?_A natureza humana apresenta variadas nuances e emoções. A genialidade de Darwin foi mostrar que todas essas emoções negativas (como medo, raiva, nojo) são produtos da evolução. Mas frequentemente é negligenciada sua afirmação de que nossa emoção mais forte é a solidariedade. Este sentimento está no âmago de quem somos como espécie. Darwin pintou um quadro bem complexo, ao qual estamos retornando agora de forma integral, pois há boas e más emoções.
_____________________
Original no endereço: http://bit.ly/dwQ6cv 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Visualizações nos últimos 30 dias

Visitas (clicks) desde o início do blog (31/3/2007) e; usuários Online:

Visitas (diárias) por locais do planeta, desde 13/5/2007:

Estatísticas