Oi! Tava relendo o post anterior, em que foi publicada a minha crônica de quarta-feira em Zero Hora, e me dei conta de como é delicado julgar os outros - e no entanto é o que mais fazemos, o tempo todo. Quando eu escrevo (ou qualquer pessoa escreve) que o consumismo anda desmedido, está passando a informação de que é uma pessoa diferente, que o seu próprio consumismo é controlado. Cada vez que criticamos alguém, estamos nos auto-elogiando. Isso é uma sinuca... Mas uma sinuca inevitável, e isso me veio à cabeça porque estava lendo sobre dois acontecimentos recentes e pensei: e se fosse comigo? É com essa pergunta que a gente testa se estamos sendo realmente honestos na nossa crítica ou se estamos apenas jogando pra torcida.
Um desses acontecimentos foi a eleição do ex-presidente e atual senador Fernando Collor como o mais novo imortal da Academia Alagoana de Letras. Como se sabe, todo pretendente se candidata à vaga, e trabalha por ela, faz campanha. De campanha o Collor entende, mas de literatura? Recebeu 22 votos a favor e oito em branco - nenhum contra. Eu considero isso uma piada, mas o que mais me surpreende é a cara-de-pau. Suponhamos que não tenha sido ideia dele, e sim de um baba-ovo que tenha sugerido: "Fernando, candidate-se a uma vaga na Academia de Letras, seus artigos e discursos são literatura da maior qualidade, e será mais um momento de holofote em sua carreira, você ficará ainda mais prestigiado aqui na nossa terra, vamos lá, honre seu sobrenome". Collor vem de uma linhagem de políticos reconhecidos, mas Academia de Letras é local de escritor, até onde sei - o que não impede que Sarney e Marco Maciel sejam imortais da ABL. Mas voltando à cena imaginária: como um homem ou mulher sensata responderia à sugestão? "Meu caro, obrigada pela gentileza da lembrança, mas meu negócio é política, nunca publiquei um livro, nunca colaborei para a vida intelectual do país, vamos deixar isso para poetas e romancistas, eu já tenho visibilidade suficiente no que faço". E encerrava a questão. Mas isso é o que eu faria, e provavelmente o que você faria. Collor nem pestanejou. Outro assunto que me incomodou: a confirmação de que Nelsinho Piquet realmente provocou um acidente de propósito no GP de Cingapura de 2008, uma palhaçada planejada pela Renault para facilitar a vitória de Fernando Alonso. Foi todo mundo pego com as calças na mão: a Renault por desrespeitar os princípios do esporte, o Piquet por não ter a grandeza de se negar ao papelão (ok, ele disse amém pros chefes para garantir a renovação do seu contrato, mas onde fica aquela palavrinha chamada honra, caráter?) e Fernando Alonso por ter aceitado levantar o troféu (no caso de saber antecipadamente da farsa - não sei se sabia). Posso estar parecendo ingênua, já que estamos falando de uma escuderia com muita bala na agulha, ou seja, assunto de gente grande. Mas honradez e caráter não são negociáveis, ao menos não pra mim, e acredito que pra você também não. Até mesmo as facilitações de ultrapassagem entre parceiros de escuderia, razoavelmente explicáveis com o argumento de "trabalho de equipe", me irritam, acho que ferem o espírito esportivo, imagine então provocar um acidente na pista como estratégia. É de uma cafajestada ímpar, sem falar no risco que algumas pessoas correram de sairem feridas, o próprio Nelsinho, inclusive. Vergonha na cara. Como a gente vê pouco.
Um desses acontecimentos foi a eleição do ex-presidente e atual senador Fernando Collor como o mais novo imortal da Academia Alagoana de Letras. Como se sabe, todo pretendente se candidata à vaga, e trabalha por ela, faz campanha. De campanha o Collor entende, mas de literatura? Recebeu 22 votos a favor e oito em branco - nenhum contra. Eu considero isso uma piada, mas o que mais me surpreende é a cara-de-pau. Suponhamos que não tenha sido ideia dele, e sim de um baba-ovo que tenha sugerido: "Fernando, candidate-se a uma vaga na Academia de Letras, seus artigos e discursos são literatura da maior qualidade, e será mais um momento de holofote em sua carreira, você ficará ainda mais prestigiado aqui na nossa terra, vamos lá, honre seu sobrenome". Collor vem de uma linhagem de políticos reconhecidos, mas Academia de Letras é local de escritor, até onde sei - o que não impede que Sarney e Marco Maciel sejam imortais da ABL. Mas voltando à cena imaginária: como um homem ou mulher sensata responderia à sugestão? "Meu caro, obrigada pela gentileza da lembrança, mas meu negócio é política, nunca publiquei um livro, nunca colaborei para a vida intelectual do país, vamos deixar isso para poetas e romancistas, eu já tenho visibilidade suficiente no que faço". E encerrava a questão. Mas isso é o que eu faria, e provavelmente o que você faria. Collor nem pestanejou. Outro assunto que me incomodou: a confirmação de que Nelsinho Piquet realmente provocou um acidente de propósito no GP de Cingapura de 2008, uma palhaçada planejada pela Renault para facilitar a vitória de Fernando Alonso. Foi todo mundo pego com as calças na mão: a Renault por desrespeitar os princípios do esporte, o Piquet por não ter a grandeza de se negar ao papelão (ok, ele disse amém pros chefes para garantir a renovação do seu contrato, mas onde fica aquela palavrinha chamada honra, caráter?) e Fernando Alonso por ter aceitado levantar o troféu (no caso de saber antecipadamente da farsa - não sei se sabia). Posso estar parecendo ingênua, já que estamos falando de uma escuderia com muita bala na agulha, ou seja, assunto de gente grande. Mas honradez e caráter não são negociáveis, ao menos não pra mim, e acredito que pra você também não. Até mesmo as facilitações de ultrapassagem entre parceiros de escuderia, razoavelmente explicáveis com o argumento de "trabalho de equipe", me irritam, acho que ferem o espírito esportivo, imagine então provocar um acidente na pista como estratégia. É de uma cafajestada ímpar, sem falar no risco que algumas pessoas correram de sairem feridas, o próprio Nelsinho, inclusive. Vergonha na cara. Como a gente vê pouco.
Beijo!
Martha Medeiros
Original no blog dela em:
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