Moléculas fundamentais à vida podem ter origem extraterrestre, diz pesquisa
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Cientistas da Nasa (agência espacial americana) descobriram que alguns aminoácidos --elementos essenciais à vida na Terra-- podem ter vindo do espaço, pegando carona em asteroides que se chocaram com a nossa atmosfera.
Os aminoácidos são importantíssimos porque ajudam a compor as proteínas, indispensáveis para a existência de todas as formas de vida no nosso planeta.
Ao estudar os fragmentos de um meteorito (pedaço de asteroide) que caiu no deserto africano em 2008, cientistas da Nasa comandados por Daniel Glavin do Centro Goddard de Voo Espacial, descobriram que os pedaços de rocha vindo do espaço continham aminoácidos do tipo canhoto.
Os aminoácidos podem ser de duas variedades: destros ou canhotos. Elas funcionam como imagens espelhadas. Algo como nossas mãos, uma com o polegar voltado para direita e outra, para a esquerda.
Na Terra, todos os seres vivos têm aminoácidos canhotos, como os do meteorito. Mas isso não quer dizer que a versão destra seja impossível por aqui. Cientistas já conseguiram sintetizá-la em laboratório.
O que eles não sabem ainda é por que os canhotos prevaleceram. Os fragmentos do meteorito podem, então, dar uma importante contribuição para matar essa charada.
Ao analisar essas moléculas, os pesquisadores se surpreenderam: alguns dos aminoácidos simplesmente não existiam na Terra, enquanto outros eram realmente bem difíceis de se encontrar na natureza.
Isso, de acordo com os autores do trabalho, publicado esta semana na revista "Meteoritics and Planetary Science", comprovaria que o meteorito já teria chegado ao planeta com os aminoácidos, tornando impossível a hipótese de "contaminação" no ambiente.
Eles acreditam que o asteroide, batizado de 2008 TC3, é provavelmente uma parte de algum planeta que existiu nos primórdios do Sistema Solar. Mas, como a temperatura nesse planeta devia ser realmente muito alta, os cientistas acham que os aminoácidos não se formaram enquanto o astro ainda estava inteiro.
E o enigmas vão além: ao contrário dos aminoácidos da Terra, que precisam de água para se formar, as "moléculas ET" não tinham o líquido disponível no ambiente do meteorito.
Isso, de acordo com o chefe do trabalho, aumenta as possibilidades da existência de vida usando "ingredientes" até agora considerados impossíveis.
Glavin disse em entrevista ao "Science News" que, na opinião dele, se realmente existir uma forma de produzir aminoácidos sem água, isso então "aumentaria muito a probabilidade da existência de vida em outros lugares do Universo".
Embora esta seja uma grande novidade, vale lembrar que os aminoácidos são apenas uma parte da vida. Para chegar até ela, ainda são necessários muitos outros fatores.
Original em Folha.com http://goo.gl/N7qqK
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