domingo, 8 de março de 2009

Mulher, conquistas e renúncias no século XXI


Algumas questões são recorrentes: ainda existe machismo no mercado de trabalho? Terá a emancipação feminina acarretado, para o homem, uma sensação de inadequação, um deslocamento social, uma profunda dificuldade para encontrar o seu próprio lugar? E será verdade que, para as brasileiras, a conquista de um marido ainda constitui um elemento central da existência, enquanto as europeias são muito mais autossuficientes?
Também se fala, insistentemente, da angústia de tentar corresponder aos diversos papéis sociais –de esposa, mãe, profissional de sucesso, familiar amorosa, cidadã consciente–, que sobrecarregam a mulher e, não raro, a impedem de simplesmente viver.
É um pouco dessa problemática, capaz de inspirar desde filmes a teses de mestrado, que a executiva Magui Lins de Castro, sócia da empresa de headhunters CTPartners Brasil e ex-CEO de grandes multinacionais, aborda nesta entrevista.
A executiva moderna tem algum diferencial competitivo em relação aos colegas homens?
Independentemente do sexo, executivo é executivo. É pago para trazer negócios lucrativos para a empresa, preservando os seus valores. A mulher tem alguns traços que são inerentes à sua natureza: é mais intuitiva, escuta mais, pondera mais e sabe tocar vários projetos ao mesmo tempo, sem se perder em nenhum. Mas, ao mesmo tempo, quando ela chega a ter um alto posto, já ultrapassou diversas barreiras competitivas em relação aos homens. Mulher executiva não precisa ser masculina para se provar. Tem que ser competente. Dar resultado. Saber como manter o time junto, coeso. Ter habilidade para se comunicar com coerência e transparência. Mas essas qualidades são necessárias tanto nas mulheres quanto nos homens.
Você concorda com a frase: "O que conta é a competência, e a questão de gênero não é importante"?
Sim, eu concordo 100%. Ao longo da minha carreira, contratei muita gente para desempenhar funções executivas e sempre olhei para a competência e não para o gênero. Porém, sou muito favorável a ter uma mescla de 50% de homens e 50% de mulheres em qualquer organização. Energias masculinas e femininas se somam e se completam em uma empresa. Quando um departamento tende a ter mais mulheres ou homens, considero relevante, sim, fazer uma mão dura para trazer o sexo oposto. Mas isso só é feito quando há dois candidatos exatamente iguais em competência, e o critério de desempate pode estar relacionado à harmonia do conjunto.
Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres que chegam aos degraus mais altos de suas carreiras?
Seu principal desafio reside nela mesma: a culpa. A culpa de não dar muita atenção aos filhos, ao marido, de não ser a esposa perfeita, de não corresponder plenamente a um certo padrão que sua mãe lhe ensinou. Chegar a um degrau alto na profissão exige muita dedicação, como tudo na vida. Se você quer ser um bom desportista, tem que treinar. Se quer ser uma boa bailarina, tem que treinar. Se quer ser um bom músico, tem que treinar. As coisas não são diferentes para quem almeja ser um bom executivo. O sucesso profissional exige estudos, para que haja entendimento do negócio, entendimento da empresa em que o executivo está inserido, entendimento acerca de seus concorrentes principais. Enfim, um executivo de sucesso tem que colocar as suas metas em primeiro plano. Dedicação é a chave para ter sucesso em qualquer profissão.
Ainda acontece de muitas mulheres abrirem mão de uma carreira de sucesso para poder se dedicar à vida pessoal?
Sim, isso é muito comum. Grande número de mulheres opta por se dedicar às suas vidas pessoais. Elas renunciam à ascensão profissional porque essa busca poderia requerer um tempo e uma energia que, a seu ver, são excessivos. Mas não vejo esse tipo de renúncia como algo negativo, pois é uma opção de vida, e, como tal, é perfeitamente válida. Acho importante ressaltar, no entanto, que, muitas vezes, as mulheres não vão mais longe em suas carreiras, porque não o querem, não veem isso como prioridade.
Escolhas pessoais, como a decisão de ter filhos, afetam a carreira?
Na grande maioria das vezes, é inevitável que as decisões pessoais afetem o andamento da vida profissional. Mas o impacto dessa influência dependerá, principalmente, da forma com que a mulher lida com a nova realidade. Há aquelas que abrem mão de tudo quando decidem ter um filho. Outras, no entanto, buscam caminhos para conciliar seus diferentes anseios. Conheço muitas que criaram um esquema doméstico eficiente, baseado no apoio da babá e das empregadas, todas de confiança. Desse modo, conseguiram manter o ritmo profissional sem que isso as impedisse de ser ótimas mães. Mais uma vez, estamos falando de opções de vida.
Que atitudes as mulheres devem cultivar e quais elas devem evitar para alcançar o sucesso?
Qualquer profissional, independentemente de ser homem ou mulher, deve cultivar o aprimoramento constante e buscar um ponto de equilíbrio que lhe permita equacionar corretamente a vida pessoal e o crescimento profissional. Não é produtivo focar demais um só ponto, em uma só dimensão. Já o equilíbrio é a receita para o sucesso de qualquer ser humano.
Você pode dar alguns exemplos?Homens que trabalham demais acabam, cedo ou tarde, se arrependendo de suas atitudes obsessivas em relação à carreira. É comum que eles deixem de ver os filhos crescer, e que acabem repetindo o mesmo erro com os netos. Quando envelhecem, percebem que deixaram de ter um tempo de qualidade com as pessoas queridas, e sentem remorso por isso. O mesmo se aplica às mulheres. Quando elas se arrependem, nem sempre dá tempo de consertar a situação. Por isso, qualquer executivo, por mais que esteja sobrecarregado no escritório, tem de aprender a deixar os problemas profissionais do lado de fora da porta assim que chega à sua casa. É melhor que ele não fale de trabalho, que aproveite a companhia das pessoas queridas. Em contrapartida, quando a pessoa está trabalhando, é bom que ela fique atenta ao que está fazendo naquele momento. Não tem cabimento ficar telefonando pra casa de 20 em 20 minutos, por exemplo. No final das contas, o que vemos mesmo é que as pessoas precisam ter bom senso.
Fonte: Equipe Ricardo Viveiros – Oficina de Comunicação
05/03/09
Original em:

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