terça-feira, 17 de março de 2009

A manada


Othon Moacyr Garcia foi um filólogo, lingüista, ensaísta e crítico literário brasileiro. Em um de seus trabalhos escreveu que "ainda quecometamos um número infinito de erros, só há, na verdade, do ponto de vista lógico duas maneiras de errar: erramos raciocinando mal comdados corretos ou raciocinando bem com dados falsos."
Vivemos numa sociedade em que a maior fonte de informação é a mídia que apresenta os dados superficialmente, conforme seus interesses.Fiar-se numa fonte assim é um risco.Por outro lado a capacidade intelectual da sociedade tem sido reduzida num processo de emburrecimento infinito. Vivemos cada vez mais numamanada, copiando as decisões que o bovino ao lado tomou. Surge então uma terceira maneira na equação de Othon Garcia: raciocinar mal com dados falsos...
Dentro da manada fazemos perguntas erradas, recebemos respostas erradas, realizamos diagnósticos errados e tomamos as ações erradas. Some-sea isso um altíssimo grau de cagaço e pronto! Olhe em volta!
Um amigo foi comprar um automóvel. Um Ford KA. Na concessionária, a informação: 45 dias para entrega. Não tem carro em estoque...A Volkswagen, que no fim de 2008 cancelou o pagamento de horas-extras e concedeu férias coletivas escalonadas para seus 22 mil empregados,vai convocar sete mil funcionários para turno extra de trabalho no final de semana. Ela precisa adequar o volume de produção à demanda, quecresceu rapidamente. A situação nas demais montadoras não é diferente: ou você se adapta ao que tem na concessionária ou espera até sessentadias.Enquanto isso o segmento de carros importados ri à toa: saltou de 13,2% de participação de mercado em novembro para quase 20% em janeiro.
Se tudo andar mal com a indústria automotiva brasileira, voltaremos em 2009 aos patamares de 2007... Que foi simplesmente o segundo melhorano da história dessa indústria no Brasil.
Que raio de crise é essa?
É a crise do pensamento estratégico, que morreu. Só restou o tático. Típico de manadas.
Deixe-me esclarecer com um exemplo simples: um arquiteto desenha um prédio maluco. É preciso que um engenheiro faça os cálculos estruturaispara o prédio ficar em pé. E então os pedreiros erguem o edifício conforme os planos.A visão (objetivo) do arquiteto é sustentada pela técnica (estratégia) do engenheiro que é tornada realidade pela execução (tática) dospedreiros. Estratégia sem objetivo é desperdício. Execução sem estratégia é um desastre. O muro ficará torto e o prédio vai cair. E, se nãocair, provavelmente terá custado infinitamente mais do que se seguisse uma estratégia.
A miséria intelectual, a asinidade estratégica e a vida em manada acabaram com os "arquitetos" na virada do milênio. E agora o cenário decrise está acabando com os "engenheiros". Só restam "mestres de obra" e "pedreiros". Atenção para as aspas, por favor.
Decisões? Só para curto prazo, para coisas que podem ser medidas e vistas. E dá-lhe simplismo. Tem que reduzir custo? Mande o povo embora.Corte os investimentos em comunicação. Transfira o poder para o departamento de compras, que vai escolher o mais baratinho. Deixe o dinheirono banco que é mais seguro...
Infelizmente ninguém jamais medirá o custo dessas decisões. Eles não cabem numa planilha. E se coubessem a manada não entenderia.
Pois alguém já disse que "nenhum de nós é tão burro quanto a soma de todos nós."
Nunca na história deste país vi uma verdade mais absoluta.
Luciano Pires
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