segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Aprender a reclamar

"Curtir": aos poucos, redes sociais ajudam na resolução de problemas de consumo

SÃO PAULO – Quem nunca desabafou no Twitter que a operadora de celular tem um péssimo atendimento, que a empresa de internet não resolveu os problemas de conexão ou que um produto é ruim? Ou mesmo escreveu no Facebook ou Orkut que o voo estava atrasado, que recebeu a fatura errada e que o banco não para de mandar cartões de crédito sem qualquer permissão?

Os usuários de internet estão aprendendo aos poucos: reclamar sobre produtos e serviços nas redes sociais, de alguma forma, os ajuda a resolver seus problemas de consumo. “O crescimento das redes sociais é fato e o consumidor vem descobrindo que elas podem ser mais um caminho nesse sentido”, afirma a especialista em marketing digital e e-commerce e diretora de Marketing da Boa Vista Serviços – SCPC, Sandra Turchi.

E não foi só os consumidores que perceberam as possibilidades que têm quando soltam o verbo nas web. As empresas perceberam que além de uma ferramenta de marketing e promoção, as redes sociais também podem ser instrumentos efetivos de aproximação com os consumidores. Mais que isso, perceberam o risco que uma reclamação no Twitter, por exemplo, pode gerar para a imagem da marca.

RT @empresa

Para Sandra, a partir do momento que os consumidores passam a ver nas redes sociais mais uma opção de conseguir resolver pendências com as empresas, as instituições começaram a acordar a respeito da necessidade de implantar melhorias nos canais digitais de relacionamento com os consumidores.

Para eles, a reclamação pode resultar em um atendimento mais rápido que se a queixa fosse feita em algum canal tradicional. Contudo, nem todas as instituições têm condições de fazer isso. E o resultado, é uma imagem cada vez pior na rede. “A grande maioria das empresas não está preparada para esse tipo de atendimento, para os meios digitais”, constata Sandra.

“O ideal é que elas tenham a preocupação de entender esse novo modelo de relacionamento”, ressalta a especialista. Afinal, na internet não dá para prever as consequências de um “RT” ou um “curtir” em alguma reclamação de um consumidor. As perdas para as instituições no fim das contas podem ser grandes.

Aquelas instituições que já entenderam o peso das redes na sua imagem e mesmo no seu faturamento, agem de forma rápida. Não são raros casos de consumidores que fizeram queixas na web e foram contatados pela empresa por meio do mesmo canal para que o problema fosse resolvido. Essas estão na frente, na avaliação da especialista.

Conscientização (curtir)

Embora seja cada vez maior o número de consumidores que utilizam as redes para reclamar, essa ação ainda ocorre de maneira inconsciente. No fim, o que eles querem mesmo é desabafar. “É uma evolução”, diz Sandra. “O consumidor começa usando mais como uma forma de diversão, para relacionamentos. Mais tarde ele vai aprendendo a ver outras utilizações”, afirma.

Esse processo de educação já está em fase avançada e a tendência é que as redes sociais sirvam como mais um canal para os consumidores resolverem seus problemas, deixando os canais tradicionais, como call centers, para trás. “As redes sociais não vão substituir os canais de relacionamento tradicionais, mas o consumidor já está percebendo que é mais uma opção”.

Original no site http://goo.gl/Zzdmz

domingo, 30 de janeiro de 2011

A cura do autismo

EXCLUSIVO:
 Brasileiro encontra caminho para cura de 90% dos tipos de autismo, além de Rett



Por Paiva Junior
Sim, 90% dos tipos de autismo têm causas genéticas e poderão ser curados num futuro (que desejamos ser próximo), assim como a Síndrome de Rett. A conclusão é do neurocientista Alysson Muotri, que trabalha na pesquisa da cura do autismo nos EUA.
Em entrevista exclusiva com o neurocientista, que trabalha e reside em San Diego, na California, foi possível entender melhor o que a mídia mundial noticiou há três semanas: uma esperança para a cura do autismo. Aliás, as palavras “cura” e “autismo” jamais estiveram juntas na história da ciência. Só por esse fator, o trabalho já é um marco. Além de Alysson, os neurocientistas Carol Marchetto e Cassiano Carromeu formam o talentoso trio brasileiro que lidera esse trabalho.
Todas as reportagens citavam a cura do autismo. As mais detalhadas, porém, diziam que o tipo de autismo era a síndrome de Rett apenas. Sem entrar na discussão de Rett estar ou não incluída no espectro autista, isso incomodou muita gente e algumas pessoas que se animaram com a notícia se desapontaram ao saber que o trabalho foi feito apenas com  essa síndrome -- que afeta quase que somente meninas (pois os meninos afetados morrem precocemente). Muitos diziam: “síndrome de Rett não é autismo!”. Então de nada valeria a pesquisa para os autistas.
Certo? Errado.

Alysson não gosta de comentar trabalhos ainda não publicados, porém me revelou com exclusividade que seu próximo trabalho é exatamente o mesmo feito com síndrome de Rett, porém utilizando pacientes com autismo clássico, que deverá ser publicado em algum momento de 2011. E ainda adiantou que os resultados de um subgrupo dessa pesquisa foi o mesmo que conseguiu com os Rett: “os sintomas são similares aos de Rett, mas ainda não tentamos a reversão propriamente dita, mas acreditamos que deva funcionar da mesma forma; os experimentos estão incubando; tudo isso é muito recente ainda. E a filosofia é a mesma: se curar um neurônio, ele acredita que poderá curar o cérebro todo. Quando perguntei se ele já sabe onde será publicado esse trabalho e se tinha mais detalhes, a resposta foi imediata: “Não, ainda é muito cedo, precisamos terminar uma serie de experimentos”. Essa nova pesquisa envolveu vinte pacientes com autismo clássico. “Em alguns casos conseguimos descobrir a causa genética, o que facilita mais a interpretação dos dados”, explicou o brasileiro. Aliás, segundo ele, seria possível identificar o autismo em um exame, usando essa mesma técnica, mas isso hoje seria imensamente caro e complexo, portanto ainda inviável.
A droga para essa possível cura, possivelmente uma pílula, segundo Alysson deve vir em cinco ou dez anos, mas ele adverte: “Não se esqueça que a ciência muitas vezes dá um salto com grandes descobertas. Previ que este meu estudo demoraria uns dez anos e consegui fazê-lo em três anos”, explicou ele, referindo-se à descoberta do japonês Yamanaka de fazer uma célula “voltar no tempo” e reprogramá-la (veja explicação neste link), o que “acelerou” o trabalho do neurocientista.
Outra informação importante revelada por Alysson foi que ainda não se sabe como se comportará o cérebro quando curado do autismo. Tanto a pessoa pode simplesmente “acordar” do estado autista e passar a ter desenvolvimento típico (“normal”), como pode dar um “reset” no cérebro e ter que aprender tudo de novo, do zero, mas aprendendo naturalmente como as crianças neurotípicas (com desenvolvimento “normal”). Pode ser que a pessoa “curada” de autismo passe a ter outros gostos e interesses e até perder algumas habilidades que tinha antes, supõe o pesquisador brasileiro, que ainda tem um longo caminho pela frente no aprimoramento da sua técnica e na busca pela droga mais eficiente, que é o próximo passo das pesquisas. “É um trabalho importante, pois hoje há 1 autista para cada 105 crianças nos EUA”, informa ele.

INTERESSE DA INDÚSTRIA

Por último, ele revelou na entrevista que a indústria farmacêutica já o procurou, mas o laboratório vai seguir de forma independente também, com menos investimento, mas sem muito medo de riscos na busca pela cura definitiva do autismo para todas as idades, que é o desejo do palmeirense Alysson Muotri.
Esses laços evidentes com o país natal, faz o cientista “investir” em ajudar e incluir o Brasil nas pesquisas. Há uma parceria dele com uma equipe da USP (Universidade de São Paulo). A bióloga Karina Griesi Oliveira, passou um ano com os brasileiros na California aprendendo essa nova técnica de reprogramação celular (leia mais neste link da revista Pesquisa, da Fapesp). “Com colaboração da Karina, estamos também trabalhando com alguns pacientes brasileiros”, destacou o paulistano, que também graduou-se na USP.
Muitos dados citados na entrevista, como a estatística de 1 para 105 ainda nem foram publicados, pois, como diz Alysson, estamos lidando aqui com a “nata” da ciência: É a “cutting-edge science”, definiu ele, em inglês. “Esse número foi divulgado na ultima reunião da Sociedade de Neurociências, realizada em novembro de 2010, em San Diego (EUA)”, contou ele, que lidera onze pessoas em sua equipe, que, em alguns momentos, chegou a ter vinte integrantes.
Os detalhes da pesquisa estão na coluna quinzenal "Espiral" de Alysson no portal G1 e a minha entrevista exclusiva completa com o neurocientista brasileiro -- que durou uma hora e dez minutos -- você poderá ler, na íntegra, na próxima edição da Revista Autismo, que sai no primeiro trimestre de 2011 -- valerá a pena aguardar!
Talvez hoje ainda não possamos dizer que o autismo é curável. Mas agora também não se pode mais dar a certeza de que seja incurável.

Paiva Junior é editor-chefe da Revista Autismo (RevistaAutismo.com.br) e entrevistou Alysson Muotri, por telefone, no dia 02.dez.2010.

sábado, 29 de janeiro de 2011

De olho nos extraterrestres

A revista "Philosophical Transactions", publicada pela sociedade científica britânica Royal Society, adverte em sua última edição que os governos do mundo deveriam se preparar para um possível encontro com uma civilização extraterrestre, que poderia ser violenta.

A publicação, que neste mês dedica um número completo ao tema da vida extraterrestre, argumenta que, se o processo de evolução em todo o Universo seguir padrões darwinistas, tal como ocorre na Terra, as formas de vida que entrariam em contato com os seres humanos poderiam "ter tendência à violência e à exploração" dos recursos.

Por esse motivo, os cientistas reivindicam que a ONU (Organização das Nações Unidas) configure um grupo de trabalho dedicado a "assuntos extraterrestres" com a capacidade de delinear um plano a ser seguido em caso de contato alienígena.

"Devemos estar preparados para o pior" no caso do encontro com uma civilização extraterrestre, alerta o professor de paleobiologia evolutiva da Universidade de Cambridge (Reino Unido), Simon Conway Morris, que considera que a vida biológica no Universo deve ter características similares às da Terra.

Morris acredita que, se existem alienígenas inteligentes, "são parecidos conosco". Algo que, "diante da nossa não muito gloriosa história", deveria "nos fazer refletir".

Original na Folha.com http://goo.gl/xm95A

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Cala boca, torcedor!


José Pedro Goulart
De Porto Alegre (RS)

 

Jonas xinga a torcida e é vaiado (foto:Redação Terra )

Atenção leitor, esta não é uma coluna de esportes. Se você por acaso leu a minha última, sobre o Ronaldinho, pode ficar com essa impressão. Mas garanto que só volto ao tema pelas circunstâncias. É que o Jonas, atacante do Grêmio (sim, novamente o Grêmio), deixou o clube como quis e ainda mandou que a torcida calasse a boca na última vez em que jogou pelo time.
Cabe esclarecer quem é o Jonas para um passante desavisado: não, ele não é um Ronaldinho, um Ronaldo, menos ainda um Renato. Por outro lado, sim, ele foi o goleador do último Campeonato Brasileiro, jogando pelo Grêmio, pago pelo Grêmio, recebendo passes de jogadores do Grêmio, festejado, estimulado pela torcida do Grêmio.
Pois o Jonas saiu. E saiu, como dito, arrumando uma briga oportunista com a torcida, com o dedo na boca num gesto de quem exige silêncio: calem-se! E ainda chutou a bola em direção aos pagantes - um ator que joga o sapato na plateia. Depois do jogo, saiu de cena e mergulhou num covarde silêncio.
Eu aqui não quero falar do Jonas, do contrato mal elaborado, mal proposto por quem assinou pelo clube. Eu aceito as condições que lhe dão o direito de fazer o que bem quiser - e ele que faça as contas com a sua consciência.
Eu quero apenas me dirigir ao torcedor de futebol no Brasil. Seja do Flamengo, Corinthians, Fluminense, Palmeiras, Vasco, Santos, São Paulo, Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Atléticos, do Olaria, Bangu, enfim, e do Inter e do Grêmio, claro. Vocês sabem por quem estamos torcendo? Vocês sabem afinal qual é a nossa parte nessa cantoria desafinada?
Somos um número - um bilionésimo número depois da vírgula.
Aquele herança afetiva de quando íamos ao jogo, levados pela mão do nosso pai, avô, tio. Aquela lendária história contada e recontada sobre o goleiro que morreu ao defender um pênalti decisivo, ou sobre o atacante que jogou com o pé quebrado. Tudo isso virou farofa nostálgica com pitadas e de pieguice, polvilhada de um romantismo tolo.
Não bastasse o único apelo da grana para um jogador jogar num clube hoje em dia, com trocas de camisas e beijos em distintivos diferentes a cada ano, a Seleção privilegia os que jogam fora - estimulando ainda mais o êxodo.
Basta. Chega. Que se convoque jogadores daqui e ponto, como forma de garantir algum interesse. "Tupy or not tupy!".
Que se façam jogos em horários humanos, mesmo que interfiram na novela das 8. Que seja devolvido um aspecto perto do original às camisetas, privilegiando as cores, os distintivos: os jogadores de hoje parecem homens-sanduíches, verdadeiros ambulantes de propaganda.
Todos sabemos do mundo corporativo. Da necessidade de ganhos. Mas qual é o fim disso, afinal? Quais os limites? Uma fábula cuja moral é sempre invertida? Cadê os mocinhos, os heróis, os autênticos? Onde se pode achar um pouco de amadorismo no meio dessa indecente busca de resultados? Até quando vamos frequentar um circo onde os palhaços ficam nas arquibancadas?
Pois bem.
Nós que deixamos a filha de sete em casa no domingo, ignoramos o lazer da família, botamos a grana - que muitas vezes faz falta - no clube; que destinamos nossa audiência, nossa paixão e tudo isso com uma fidelidade de cachorro. Nós que enfrentamos estádios sujos, banheiros podres, violência nas ruas. Nós que suportamos o frio, a chuva ou a vergonha de uma derrota, avisamos:
Nunca, sob nenhuma hipótese, aceitaremos que um outro jogador - seja milionário, craque ou perna de pau, nos mande calar a boca.
O resto nós ainda vamos discutir.
Orignal em Terra magazine: http://goo.gl/wcgAS

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Origem extraterrestre

Moléculas fundamentais à vida podem ter origem extraterrestre, diz pesquisa

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO


Cientistas da Nasa (agência espacial americana) descobriram que alguns aminoácidos --elementos essenciais à vida na Terra-- podem ter vindo do espaço, pegando carona em asteroides que se chocaram com a nossa atmosfera.

Os aminoácidos são importantíssimos porque ajudam a compor as proteínas, indispensáveis para a existência de todas as formas de vida no nosso planeta.

Ao estudar os fragmentos de um meteorito (pedaço de asteroide) que caiu no deserto africano em 2008, cientistas da Nasa comandados por Daniel Glavin do Centro Goddard de Voo Espacial, descobriram que os pedaços de rocha vindo do espaço continham aminoácidos do tipo canhoto.

Os aminoácidos podem ser de duas variedades: destros ou canhotos. Elas funcionam como imagens espelhadas. Algo como nossas mãos, uma com o polegar voltado para direita e outra, para a esquerda.

Na Terra, todos os seres vivos têm aminoácidos canhotos, como os do meteorito. Mas isso não quer dizer que a versão destra seja impossível por aqui. Cientistas já conseguiram sintetizá-la em laboratório.

O que eles não sabem ainda é por que os canhotos prevaleceram. Os fragmentos do meteorito podem, então, dar uma importante contribuição para matar essa charada.

Ao analisar essas moléculas, os pesquisadores se surpreenderam: alguns dos aminoácidos simplesmente não existiam na Terra, enquanto outros eram realmente bem difíceis de se encontrar na natureza.

Isso, de acordo com os autores do trabalho, publicado esta semana na revista "Meteoritics and Planetary Science", comprovaria que o meteorito já teria chegado ao planeta com os aminoácidos, tornando impossível a hipótese de "contaminação" no ambiente.

Eles acreditam que o asteroide, batizado de 2008 TC3, é provavelmente uma parte de algum planeta que existiu nos primórdios do Sistema Solar. Mas, como a temperatura nesse planeta devia ser realmente muito alta, os cientistas acham que os aminoácidos não se formaram enquanto o astro ainda estava inteiro.

E o enigmas vão além: ao contrário dos aminoácidos da Terra, que precisam de água para se formar, as "moléculas ET" não tinham o líquido disponível no ambiente do meteorito.

Isso, de acordo com o chefe do trabalho, aumenta as possibilidades da existência de vida usando "ingredientes" até agora considerados impossíveis.

Glavin disse em entrevista ao "Science News" que, na opinião dele, se realmente existir uma forma de produzir aminoácidos sem água, isso então "aumentaria muito a probabilidade da existência de vida em outros lugares do Universo".

Embora esta seja uma grande novidade, vale lembrar que os aminoácidos são apenas uma parte da vida. Para chegar até ela, ainda são necessários muitos outros fatores.

Original em Folha.com http://goo.gl/N7qqK

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Salário digno aos PROFESSORES do Brasil

“Que se dê ao mestre o que ele precisa e merece.”

Apoio integralmente a campanha pela valorização do professor. Na selva competitiva de hoje, nenhum país tem chance de conquistar índices de desenvolvimento econômico, condizentes com uma perene autonomia política, sem universalizar o acesso ao ensino de qualidade, que só se alcança com um sistema educacional em constante evolução. 

De outro modo, se restabelece a escravidão, e em um nível não menos perverso que no passado, porque não haverá um dominador contra o qual se possa lutar. Seremos escravos de nossa própria ignorância. Uma ameaça que não é abstrata, ela está aí, assombrando a nossa realidade de hoje. 

Chegamos ao limite. Ou se faz agora a única revolução democrática possível, em sala de aula, ou perderemos de vista a história, que não caminha, mas corre, numa velocidade cada vez menos recuperável. 

Neste contexto, tanto quanto a formação acadêmica – da aritmética à econometria, da ortografia à filologia -, é indispensável que o mestre esteja apto a ensinar o aluno a se tornar um cidadão, com instrução completa, nela incluído o aprendizado de seus direitos e deveres perante a sociedade. Sem isso, não conseguiremos nos emparelhar com o nível cultural da era cibernética em que vivemos. 

Mas, para escalar os estágios ascendentes desta corrida contra o tempo, exige-se do magistério uma dedicação integral; e quem consegue doar-se dessa maneira se estiver despojado das condições elementares de sobrevivência, a um passo da marginalidade social? Para prover o formador de mentes dos meios materiais e teóricos que lhe propiciem um conhecimento dinâmico, em constante reciclagem, permitindo-lhe repassá-lo às gerações encarregadas de construir uma nova Nação, salário digno é o mínimo, mas o mínimo não é um salário digno, como atualmente. 

Trata-se, aqui, de mobilizar os que não se conformam com a escravatura da mediocridade, e que topam assumir a cota de responsabilidade na construção do momento, sem adiá-lo para quando não for mais possível, começando já, com o reconhecimento público de uma profissão que vê seu conceito de missão deteriorar-se em maldição. 

Que se dê ao mestre o que ele precisa e merece.” (Ricardo Gontijo, Jornalista e Escritor)

*Acredito que as novas tecnologias e redes sociais nos ajudem não só com aproximações antes não efetivadas, mas também na busca da mobilização pacífica e com argumento de direitos perante deveres cumpridos de nossa classe, os professores…


Original em http://goo.gl/7KIcf

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Contra o fechamento do Cine Belas Artes!



O cinema Belas Artes, após quase 68 anos de funcionamento, está prestes a ser fechado. Uma decisão judicial, datada de 30/12/2010, prevê que o imóvel onde está localizado o cinema seja devolvido ao proprietário, Flávio Maluf, razão pela qual o cinema está prevendo fechar as portas no dia 27/01/2011.

Lutemos contra o descaso com a cultura e história paulistana!

Que a nossa união sensibilize o proprietário do imóvel a abrir mão de maiores lucros com a possível abertura de uma loja no local, renovando o contrato de locação que tem com os donos do Belas Artes.

Que, além disso, possamos entrar com requerimento junto aos órgãos competentes (CONDEPHAAT, CONDESP, IPHAN) para tombar o uso do imóvel em questão, assegurando-se que não seja desenvolvida outra atividade no imóvel que não a de cinema. DE PREFERÊNCIA ANTES DO DIA 27/01!

Positions

  1. Tombar o uso do imóvel junto aos órgãos de defesa do patrimônio histórico, obrigando-se que sempre haja lá um cinema
  2. Envolver o maior número de usuários em torno da causa, diagnosticando-se, assim, a posição contrária da opinião pública ao fechamento
  3. Sensibilizar o proprietário do imóvel, Ministério Público e Município de SP diante do interesse público que envolve o Belas Artes
  4. Ajudar a promover passeatas, abaixo-assinados e protestos contra o fechamento do Belas Artes
  5. Abaixo-assinado: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7873

domingo, 23 de janeiro de 2011

Medidas iranianas

<br /><b>Crédito: </b> ARTE PEDRO LOBO
Crédito: ARTE PEDRO LOBO


Estou começando a simpatizar com o Irã. A turma do Ahmadinejad resolveu proibir unha comprida. Fez muito bem. Eu detesto unha comprida, especialmente aquela do dedo minguinho de cobrador de ônibus. Proibiu também piercing na língua e joia nos dentes. Agiu bem. No Brasil, está cada vez mais perigoso beijar. Pode-se engolir uma bolinha de metal. Tenho um amigo que quebrou um dente dessa maneira. Homem de cabelo tingido também não pode. Que alívio. É insuportável ver tanto marmanjo moreno de cabelo louro ou azul espetado. Sobrou até para as tatuagens. Bela medida. É uma grandeza o que tem de gente exibindo enormes tatuagens bregas por aí. Tatuagem de dragão deveria ser proibida no mundo inteiro, como atentado à estética global. Transformar braço em tela de serigrafia também.

Só não gostei da decisão do Irã de censurar os livros do Paulo Coelho. Compreendo que, depois de 6 milhões de exemplares vendidos, fosse necessário tomar alguma medida para evitar que a poluição continuasse a se espalhar. Entendo que o presidente iraniano lamente não ter sido avisado por seu amigo Lula da ruindade das obras. Admito que para um iraniano culto deve ser insuportável ver histórias exuberantes da antiga Pérsia transformadas em mensagens de autoajuda barata. Percebo que para o Irã os livros de Paulo Coelho poderiam converter-se num problema tão sério quanto os dejetos nucleares, que ninguém sabe onde colocar com segurança, restando tentar comprar espaço nalgum lixão do Terceiro Mundo. Vejo que o Irã quer evitar uma metástase. A proliferação de livros de Paulo Coelho deveria ser tratada no mundo todo como questão de segurança nacional, internacional, global, como um vírus sem fronteiras.

Alerto que de nada adianta proibir Paulo Coelho como medida profilática se não proibir também Dan Brown e, especialmente, Harry Potter, o grande formador de leitores de Paulo Coelho e Dan Brown, e toda essa parafernália sobre vampiros, lobisomens e Ronaldinho Gaúcho. Enfim, dito tudo isso, reafirmo minha oposição à censura. Ainda mais que ela só beneficiará o falso mago, que já está se vendo como um Salman Rushdie retardatário ou um Michel Houellebecq sem ironia, um perseguido pelo obscurantismo islâmico. A decisão dos aiatolados produzirá certamente um efeito perverso, nefasto, incontrolável: a disseminação radical de obras de Paulo Coelho como objetos proibidos, o que sempre aguça o desejo e dá legitimidade ao censurado. Paulo Coelho está rindo sozinho. É o melhor marketing do mundo. Gratuito.

Tomara que o Irã tome outras medidas de bom gosto. Por exemplo, proibir, sob pena de prisão imediata, sem direito à fiança nem progressão de regime, o uso por homens de rabo de cavalo. Sei que escapa da alçada iraniana, mas seria interessante proibir jogador de futebol de usar cabelo moicano e correntão de ouro. O Irã poderia ser a última barreira ao mau gosto ocidental. Será, porém, garoto-propaganda do esoterismo brasileiro.

JUREMIR MACHADO DA SILVA > correio@correiodopovo.com.br

sábado, 22 de janeiro de 2011

A síndrome do consenso

O Jornal Nacional teve em 2010 o menor índice de audiência dos últimos dez anos. Explicações ideológicas virão, mas não vou aqui focar no conteúdo político e ideológico do telejornal. Alô patrulheiros, entenderam? Não vou tratar aqui do conteúdo político e ideológico.  Tratarei de questões formais com base no que aprendi como palestrante: faltam erros no JN. Explico.
O JN é um telejornal extremamente bem acabado do ponto de vista estético. Soberbo. Reúne alguns dos melhores e mais experientes jornalistas brasileiros. É visível que cada fração de segundo é controlada. Tempos atrás o editor-chefe e apresentador Willian Bonner foi acusado de chamar os telespectadores do JN de "Hommers Simpsons", em alusão ao personagem do desenho animado que é um sujeito medíocre. Foi um escândalo, Bonner se esmerou em esgrimar as palavras para tentar dizer que não era bem assim, mas sabemos que é assim. E aí está a pista para a queda do JN: a “Síndrome do Consenso”.

A Síndrome do Consenso é uma doença que acomete quem quer audiência cavalar (asinina deveria ser o termo): tem que agradar a gregos e troianos, tem que falar para o índio do Xingú, para a dona Maria de Nazaré das Farinhas e para o executivo da avenida Paulista. Então não pode ser erudito demais. Nem popular demais. Tira o sal, a pimenta... o tempero. Nivela até transformar em algo parecido com leite desnatado: aguado, sem gosto, sem graça. Sorrisos irônicos, expressões de medo, angústia, raiva ou indignação por parte dos apresentadores são proibidos por causa das patrulhas. Comentários pessoais então... 

E assim vemos uma coisa cada vez mais perfeita. E menos humana.

O surgimento em 2010 do Tiago Leifert, o garoto que revolucionou o jeito de apresentar o Globo Esporte, parece que não ensinou nada para a Globo. Muito diferente dos “mauricinhos” certinhos que o precederam, Tiago levou ao ar o espírito de um garotão - divertido, bonachão e irreverente. Imprevisível. Tremendo sucesso. O mesmo sucesso que fez o pessoal do Pânico quando encheu a tela de gente politicamente incorreta. O CQC foi na mesma linha. E se voltarmos no tempo, Chacrinha era assim. Faustão lá no Perdidos na Noite era assim. Quando surgiu, Ratinho era assim. Todos excessivos, escrachados, opiniáticos, não preocupados em ficar na média, sendo amados ou odiados, mas provocando e indignando.

Não acho que seja preciso ir a extremos, mas eu adoraria ver alguém de carne e osso, que faça xixi e cocô, apresentando o JN! Alguém que ri, chora e fica indignado. Alguém que erre! Que transmita a vibração do mundo real. To de saco cheio do bando de robôs lindos e desprovidos de sentimentos.

Pois é... Mas um ser humano com liberdade para verter lágrimas ou demonstrar ironia no comando do telejornal mais importante do Brasil agregaria uma carga de instabilidade e imprevisibilidade impossível de ser aceita pelos patrulheiros de plantão. Dentro e fora da Globo.  

Por isso não vi novidade quando soube que o JN perdeu um em cada quatro espectadores nos últimos dez anos. 

O JN não tolera erros. E quem não erra, humano não é.

Luciano Pires

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Platão

Dogma do círculo


Platão (428 ou 427 a. C. - 347 a. C.) é um dos mais importantes pensadores gregos. O filósofo do século XX Alfred North Whitehead declarou certa vez que toda a filosofia não passava de uma nota de rodapé a ser anexada à obra de Platão.

Platão criou sua Academia em 387 a.C. num olival situado num subúrbio de Atenas, que havia pertencido ao herói Akademus. Na porta de entrada da Academia, o filósofo mandou colocar um aviso, de nítida inspiração pitagórica:
Não entre aqui quem não saiba geometria".

Aristóteles ingressou na Academia de Platão quando tinha 17 anos, e nela as mulheres só eram admitidas se aceitassem vestir-se como homens. 

Platão usava a técnica de buscar o saber pelo debate e pelo questionamento, no estilo dialético de Sócrates. Além de interesse na Filosofia, na qual então se incluía a Matemática, Platão tinha paixão pela Política. Predominavam na Academia o raciocínio e as idéias abstratas, e até os estudos políticos de Platão eram baseados na utopia, não na realidade social.

Não sem razão, a geometria de Platão limitava-se às figuras perfeitas, que podiam ser traçadas com régua e compasso, como o círculo, o quadrado, o triângulo e os poliedros regulares. Desse modo eram ignoradas as formas do mundo real, que era “mecânico” e “ilusório”.

Os corpos celestes só podiam ser esferas (sólidos perfeitos) a descrever círculos (curvas perfeitas), em movimentos de velocidade uniforme. Eis o que se lê no Timeu, um tratado teórico, na forma de diálogo, que contém as concepções de Platão sobre a natureza do mundo físico.:


Deus deu ao mundo uma forma compatível com sua divindade. Ou seja, deu-lhe a forma de uma esfera, porque os seus pontos se encontram a igual distância do centro - a mais bela das formas, pois há mil vezes mais beleza no semelhante do que no diferente... Foi assim que imprimiu ao mundo um movimento circular e constituiu um céu circular, obrigado a arrastar-se num movimento circular, de velocidade uniforme.” 

As idéias cosmológicas de Platão configuram o chamado “dogma do círculo”, que prevaleceu por cerca de vinte séculos, servindo como ponto de partida fundamental para a edificação do sistema de Cláudio Ptolomeu, com sua teoria geocêntrica, e persistiu com Nicolau Copérnico, cujo sistema heliocêntrico preconizava que os planetas descreviam movimentos circulares em torno do Sol.

O "dogma do círculo" resistiu até o século XVII, quando JohannesKepler demonstrou de forma definitiva que os planetas não descrevem círculos, mas órbitas elípticas, das quais o Sol ocupa necessariamente um dos focos.

Platão lecionou até 347 a.C., o ano da sua morte. A Academia, a ele sobrevivendo, funcionou mais nove séculos, até 529, quando o imperador romano Justiniano ordenou seu fechamento, declarando-a uma casa do “saber pagão”. Era o início da Era das Trevas, que iria perdurar por cinco séculos.

Capturado no blog O Homem Horizontal - http://goo.gl/1lLP1

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os manuscritos do mar morto

Google colocará os Manuscritos do Mar Morto online


JERUSALÉM - Os Manuscritos do Mar Morto, um dos mais importantes, misteriosos e protegidos tesouros arqueológicos do mundo, estão próximos de entrar no Google. O gigante da internet e o governo de Israel anunciaram nesta terça-feira um esforço conjunto para dar pela primeira vez a pesquisadores e aos internautas em geral um banco de dados digital com as relíquias.
Fragmento dos manuscritos sendo digitalizado / Crédito: AP PhotoOs manuscritos são uma coleção de documentos de dois mil anos em hebraico, aramaico e grego que revela a vida do povo judaico nos tempos bíblicos e na origem do cristianismo. Há anos especialistas questionam a dificuldade de acesso aos papéis.
Quando as imagens forem publicadas, daqui a alguns meses, qualquer um poderá examinar de graça cópias exatas dos manuscritos originais assim como traduções em inglês do texto. Funcionários do governo dizem que a coleção terá seções mais legíveis graças a novas tecnologias de infravermelho.
- Estamos unindo o passado e o futuro para que todos possamos compartilhá-los - disse Pnina Shor, funcionária da Agência de Antiguidades de Israel.
Os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos no fim dos anos 40 em cavernas no deserto da Judéia e são considerados uma das maiores relíquias encontradas no último século. Após a descoberta inicial, milhares de outros fragmentos foram encontrados em 11 cavernas próximas. Cerca de 30 mil pedaços foram fotografados. Juntos, eles foram mais de 900 manuscritos.
Por décadas, o acesso a 500 manuscritos era limitado a pequenos grupos de pesquisadores com autorização de Israel para montar o quebra-cabeças, traduzir e publicá-los. Isso mudou nos anos 90, quando a maior parte do texto foi publicado em forma de livro. Mas mesmo hoje o acesso é restrito ao Museu de Israel, em Jerusalém, onde os originais são preservados em uma sala escura, com temperatura controlada.
Shor disse que os pesquisadores devem receber permissão para ver os manuscritos do governo, que recebe um pedido por mês. A maioria dos pedidos é aceita, mas como apenas duas pessoas podem entrar na sala por vez, há conflitos de agenda. Os pesquisadores têm direito a três horas com o fragmento pedido, que é visto por trás de um vidro. Com os manuscritos online, o acesso será muito facilitado.
Existem artefatos em caixas, em porões de museus e nos questionamos quanto disso está disponível na internet. A resposta é não muito e não o bastante
Os textos hoje estão disponíveis em um livro de fotografias de 39 volumes, que muitos criticam por ser caro e pesado. Shor explica que a versão online foi feito com câmeras infravermelhas da Nasa, que deixam as imagens mais claras que os textos originais e recupera até mesmo trechos que desbotaram com o tempo. A parceria faz parte da iniciativa do Google de catalogar artefatos históricos online.
- Existem artefatos em caixas, em porões de museus e nos questionamos quanto disso está disponível na internet. A resposta é não muito e não o bastante - afirma Yossi Matias, do Google-Israel.
O Google já trabalho para publicar online livros antigos de universidades europeias e imagens de descobertas arqueológicas no Iraque. Esse projeto é diferente, diz Matias, pois o acesso aos manuscritos pode levar a novas interpretações dos textos muitos discutidos e populares. Segundo Shor, uma exibição de três meses de fragmentos dos manuscritos nos EUA atrai cerca de 250 mil pessoas.
Parte dessa fascinação vem do mistério envolvendo os manuscritos. Ninguém sabe quem copiou esses textos antigos ou como eles chegaram naquelas cavernas. Eles incluem partes da bíblia hebraica e tratados sobre a vida em comunidades e guerras apocalípticas.
As origens dos manuscritos geram muitos debates entre pesquisadores. Alguns acreditam que os essenos, uma seita monástica ligada ao início do cristianismo, teriam escondido os textos durante a revolta judaica em 1 d.C. Outros afirmam que eles foram escritos em Jerusalem e levadas para as cavernas em Qumran por refugiados judeus que fugiam dos romanos.
- No momento em que tudo isso estiver online, não haverá mais a necessidade de expor os manuscritos. Qualquer um em seu escritório ou sofá poderá clicar e estudar qualquer fragmento - diz Shor.
Original no site de O globo: http://goo.gl/Mo7T

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O mestre do pensamento - Edgar Morin

Edgar Morin, mestre do pensamento, às vésperas de seus 90 anos
 
A morte da mãe quando criança, a ocupação nazista, a Resistência. Mas  também as viagens, as mulheres, os estudos que o tornaram famosos. Agora, às vésperas dos 90 anos, o "Diderot do século XX", que previu os danos da globalização, confessa ter "bebido a vida". E pensa nos mais jovens: "Nós nos iludimos com o comunismo e o consumismo. Eles perderam o futuro. Precisam de esperança".

A reportagem é de Anais Ginori, publicada no jornal La Repubblica, 02-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Se eu fosse guiado só pela luz da razão, diria que o mundo vai rumo à catástrofe, que estamos à beira do abismo. Todos os elementos que temos sob os olhos nos prospectam cenários apocalípticos. Mas, na história da humanidade, existe o imprevisto, aquele fato inesperado que muda o curso das coisas. Eis porque, no fundo, sou otimista".

Mesmo quando se trata de olhar para o longo prazo, Edgar Morin não renuncia ao seu famoso "pensamento complexo", que ele teoriza já há 40 anos. Tese, antítese, síntese. A sua marca de fábrica. Unir os opostos, abraçar saberes diversos, como explicou nos seis volumes do Méthode, a obra enciclopédica escrita entre 1967 e 2006, que já lhe valeu o apelido de "Diderot do século XX".

Morin é um pensador poliédrico, culturalmente onívoro. Filósofo, sociólogo, antropólogo, uma bibliografia feita de mais de 50 títulos, ensaios que vão da elaboração do luto aos novos mitos do espetáculo, da ecologia à reforma dowelfare. Em poucos meses, ele irá completar 90 anos. O Le Monde lhe dedicou um número especial. Segundo o Nouvel Observateur, ele é um dos "gigantes do pensamento" do século passado. Diante do computador, no pequeno escritório do seu apartamento da rua Saint-Claude, debaixo das velhas tipografias de Marais, ele trabalha no seu novo livro. Ele será dedicado à esperança. "Sim, gostaria de restituí-la aos jovens que sentem que perderam o futuro. Nós tínhamos a fé no progresso, nos iludimos antes com o comunismo e depois com o consumismo. A democracia ainda parecia a fórmula perfeita de convivência. Agora, esse horizonte foi arrebatado".

Jamais trocaria de lugar com um jovem de 20 anos de hoje, embora caminhe lentamente na casa vazia, ajudando-se com uma bengala. Há dois anos, morreu sua terceira esposa, Edwige Lannegrace, à qual dedicou um livro,Edwige l'inséparable. Com a modelo e atriz canadense Johanne Harelle, que conheceu nos EUA, havia passado os barulhentos anos 60 viajando pelaAmérica Latina. Grande sedutor, conta ter "bebido a vida". Não deixou faltar nada.

Nascido em 1921, na comunidade judaica sefardita do bairro deMenilmontant, correu o risco de morrer durante as fases do parto, junto com a mãe Luna, gravemente doente do coração. "Os médicos lhe haviam aconselhado a não ter filhos. Ela havia escondido a sua patologia até do meu pai Vidal". A mãe sobreviveu por milagre, acudiu o filho único como um pequeno príncipe, mas nove anos depois foi vítima de um infarto. "Aquela morte foi a minha Hiroshima", lembra. Não por acaso, o seu primeiro livro de antropologia, publicado em 1951, intitula-se L'homme et la mort e analisa, dentre outras coisas, o conceito de "resiliência", a capacidade de resistir aos choques.

Resistência

Durante a ocupação nazista, encontrou a sua segunda família. Entrou nas forças de combate da Resistência, na facção liderada por François Mitterrand. Foi assim que Edgar Nahoum, para o registro civil, tornou-seEdgar Morin, nome de batalha que manterá também depois da guerra. Aprendeu a se esconder, a comprar as informações, a antecipar os movimentos da polícia. Um dia, estava chegando a Lyon para um encontro. Teve um pressentimento, decidiu não ir. O amigo que o esperava foi capturado, torturado e morto. 

Na clandestinidade, conheceu Violette Chapellaubeau, primeira mulher e mãe das duas filhas Irène Véronique. No dia da Libertação, entrou emParis a bordo de um automóvel militar, hasteando a bandeira junto com a amiga escritora Marguerite Duras. Logo decidiu partir para Baden-Baden. Em 1946, dois anos antes do filme de Roberto Rossellini, escreveu O Ano Zero da Alemanha, um conta sobre o país em ruínas, uma tentativa de entender como a nação de Goethe e de Beethoven pôde provocar a barbárie do nazismo.

Até os 30 anos, acreditou no Sol do Porvir. "Fui um comunista de guerra, porque deu a prioridade à luta contra o nazismo, ignorando, porém, os defeitos do stalinismo. Mas em tempos de paz, assim que começaram os processos e as "purgas", rasguei a minha carteirinha". 

Em 1951, foi definitivamente expulso da direção do Partido Comunista Francês por ter criticado, em um artigo, o Grande Timoneiro Mao Tse Tung. "O partido era como uma igreja, um ambiente sagrado – lembra –, algo inimaginável para os jovens de hoje".

"Direitista de esquerda"

Morin escreveu naqueles anos Autocritique, memórias de um ex-comunista, gênero destinado a fazer prosélitos não só na França. Hoje, considera-se um droitier gauchiste. "À direita, porque, segundo a tradição revolucionária, quero defender as liberdades, e à esquerda, porque penso que há necessidade de radicalidade". De Karl Marx, ao qual dedicou um pequeno ensaio no ano passado, diz que "foi um formidável profeta da globalização capitalista, mas não viu que o homo faber, o homem produtor, era também o homo economicus, e que o homo sapiens era também o homo demens, a loucura humana que se manifesta em toda a história da humanidade".

Em 2008, Nicolas Sarkozy citou a "política de civilização" teorizada por Morin em um discurso seu. Ele fez saber que não gostou. "Duvido que o presidente conheça os meus trabalhos e o significado real dessa expressão", repete ainda, com um movimento de incômodo. Para Morin, a "política de civilização" consiste no retorno da supremacia da política sobre a economia, do público sobre o privado. "Os partidos de esquerda aceitaram de cima para baixo o liberalismo, sem entender que antes era preciso discutir regras e salvaguardas dos direitos. Com a globalização econômica, tivemos coisas positivas, como a circulação das pessoas e das ideias, mas integramos também os ritmos de trabalho da China".

No seu álbum pessoal, conserva fotos com muitos líderes da esquerda francesa, de Maurice Thorez a Mitterrand, com os quais frequentemente polemizou. Porém, todas as vezes que a gauche está em dificuldade, Edgar Morin é consultado como um oráculo. Todos, também os seus inimigos, lhe reconhecem uma grande capacidade de farejar o esprit du temps, o espírito do tempo, título de um estudo seu de 1962. 

Batizou os anos 60 como a geração yé yé, os jovens dependentes do consumismo. Em 1993, publicou um panfleto sobre a Terra-Pátria, antes que o ambientalismo se tornasse uma moda. Previu o retorno dos nacionalismos e da xenofobia na Europa. "Fiquei chocado ao ver o que a França fez com os ciganos, um povo perseguido há séculos, que foi mandado aos campos de concentração pelos nazistas". Morin não tem medo de se encontrar em posições politicamente incômodas. Inclinou-se para o lado dos palestinos durante a Intifada, foi falar na universidade de Sarajevo debaixo das bombas.

Metamorfose

Enquanto fala, continua consultando os e-mails no computador. "Já sou dependente desta coisa", brinca. Ainda viaja para conferências,principalmente para o Brasil, onde há diversos cursos dedicados ao seu trabalho. Recém recebeu um convite para ir à China. O seu sonho, hoje, seria ver nascer uma nova fase da esquerda. "Não há segredos. As duas palavras que devemos redescobrir são solidariedade e responsabilidade. Em sentido ético, mas também político. A ideia de um único partido de esquerda me parece destinada ao fracasso, porque contém forças que sempre se combateram e que dificilmente podem superar as suas diversidades internas.  Pelo contrários, é preferível uma coalizão que una as esquerdas, sem que ninguém deva renegar sua própria origem, seguindo um processo que eu chamo de metamorfose".

Na natureza, explica, a lagarta se autodestrói para se tornar uma crisálida e depois uma borboleta. Muda, mas permanece o mesmo ser vivo. "É exatamente o contrário do conceito de fazer 'tábula rasa', como diz o slogan da Internacional. Eu penso, ao contrário, que devemos seguir em frente, sempre integrando o nosso passado".

O medo e a nova ideologia. Um sentimento que paralisa as consciências, a doença deste século. Quando estourou a crise, Morin se separou do coro. "É uma extraordinária oportunidade para repensar o nosso estilo de vida, o momento em que se pode finalmente aprender com os próprios erros. Infelizmente, não está acontecendo isso, e ainda estamos dentro do túnel. Lembremos que Adolf Hitler chegou ao poder de modo absolutamente legal, justamente depois de uma longa crise econômica".

Talvez, o imponderável nos salvará. Aquilo que nem acadêmicos como Edgar Morin se arriscam a prever. A pequena Atenas que resiste ao império daPérsia, fazendo nascer a filosofia e a democracia. A URSS que, em 1941, expulsa os nazistas às portas de Moscou e preanuncia o fim da guerra. "Já aconteceu, acontecerá de novo", confia Morin, com o tom de quem ainda tem muito a estudar. Quando se está à beira do abismo, não há tempo para se entediar.
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