A figura trata-se do Apoteose de Homero – Jean Auguste Dominique Ingres (1897): O poeta a quem creditamos a autoria de “Ilíada” e “Odisséia” aparece como uma importante fonte para o estudo da história grega bem como para a divulgação de sua mitologia.
De fato, ao contrário das grandes religiões monoteístas, os gregos jamais tiveram um livro sagrado. A cosmogonia (teorias e narrativas que explicam a origem do universo) e os mitos desta civilização chegaram até nós por intermédio de textos literários, históricos e filosóficos. Neste sentido, o mito era, dentro desta cultura, uma linguagem usada para fornecer explicações acerca de um passado remoto sobre o qual é impossível estabelecer provas de sua autenticidade. Deste modo, o mito é muitas vezes encontrado na busca pelas origens seja do universo, dos deuses, da existência humana, das mulheres, das guerras ou das instituições políticas.
Mito e História
Uma vez que apontamos a importância do mito para a busca das origens entre os gregos, surge a necessidade de discutir sua relação com a história na maneira como era percebida por eles. Segundo sabemos durante os primeiros tempos da história grega a palavra mythos não se opunha à palavra logos, ambas designavam uma espécie de relato que não era diferenciado por seu conteúdo. Teria sido apenas no apogeu das cidades-estados que uma tentativa de separação teria sido feita.
Vernant nos mostra a preocupação de certos autores gregos do século V em exigir a administração da prova daquilo que seria tratado como verdade, ou no mínimo como confiável. Um grande exemplo desta preocupação está no historiador ateniense Tucídides, autor de “A Guerra do Peloponeso”, veja o seu comentário sobre o que se pensava sobre a Guerra de Tróia:
“(...). a expedição a Tróia haja sido maior do que qualquer das anteriores, apesar de menor que as do presente, (...) sendo natural supor que ele1, como poeta, tenha adornado e amplificado a expedição, é evidente que ela foi comparativamente pequena.”
“Segundo as minhas pesquisas, foram assim os tempos passados, embora seja difícil dar crédito a todos os testemunhos nesta matéria. Os homens, na verdade, aceitam uns dos outros relatos de segunda mão dos eventos passados, negligenciando pô-los à prova (...)”.
TUCÍDIDES. “História da Guerra do Peloponeso”. Brasília: Editora UNB. 2001. p. 7-8,13.
Podemos dizer, com o devido cuidado, que o mito está sendo percebido como algo afastado devendo ser objeto das fantasias dos poetas e dos logógrafos que visam os deleites e a aprovação dos ouvintes em certo momento, um passado remoto que não cabe ao historiador apresentar. A história deveria ser feita com regras e campos delimitados para que seu conteúdo pudesse ser útil para as gerações posteriores.
Fonte: www.portalimpacto.com.br
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