quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O Caráter Ético do Agir Humano


Por Robson Stigar
No entender do pensador brasileiro (Catão) a sociedade contemporânea sofre de uma negação, e o contraponto bem como, a contestação assume tal magnitude que questionam os fundamentos da ética tradicional. Assim, "para que as pessoas e as comunidades humanas se autoposicionem livremente na vida é preciso tornar os educadores capazes de viver com plena consciência da relatividade de todas as normas e caminhos que lhe são propostos e viver em vista de um bem" (CATÃO, 1997: 111). Com isso, objetivo da ética é a realização das pessoas, na comunhão com o transcendente que dá sentido para a vida.
De acordo com Catão o desafio é responder a pergunta que surge na contemporaneidade, ou seja, como podemos construir essa ética?
A grande dificuldade do educador "é de situar numa perspectiva que lhe permite desenvolver um raciocínio propriamente ético bem fundamentado e por sua vez fundante de uma moral autenticamente humana, sem se impor à consciência, violar a liberdade nem frustrar as aspirações dos educandos" (CATÃO, 1997: 111).
Desse modo, a ética não pode ser regulada por uma lei restritiva e na informalidade. A aporia se coloca por causa da contradição entre educadores (transmissão de valores) e educandos (liberdade e direitos). Assim, existe um impasse porque o "educador toma consciência de que é responsável pela transmissão de valores ao mesmo tempo, pela educação da liberdade dos educandos, que questionam tais valores" (CATÃO, 1997: 112). Com isso a única maneira de pensar essa oposição entre objetividade e subjetividade é reconstruir o conceito de ética.
Para reconstruir a ética demandaríamos muito tempo ao caminho que teríamos de percorrer. Por isso, a maneira que encontra o autor é pensar a ética com fundamento em Tomas de Aquino. No entender de Catão "trata-se da maneira da maneira de entender a liberdade e a consciência e do lugar de destaque que se confere a convivência" (CATÃO, 1997: 112).
A preocupação do autor passa ser agora de três níveis, definir o que é liberdade, consciência e convivência. O autor inicia distinguindo três diferentes tipos de liberdade no âmbito da realidade.

1ºa liberdade.

Esta consiste precisamente na autodeterminação do sujeito em face do bem. Escolhas incluindo a possibilidade de escolher mal, também chamada de livre arbítrio. E por último a liberdade da escolha no âmbito físico ou histórico, chamada de liberdade de coação.
O autor distingue esses três tipos para garantir precisão na referencia a liberdade.
Assim, no âmbito jurídico a liberdade repousa sobre o cumprimento ou na transgressão da lei.
No âmbito da política "os liberais defendem a liberdade de escolha como liberdade primeira, ao passo que os socialistas os acusam de pregar uma liberdade abstrata, pois só é realmente livre, liberado, quem tem os meios de fazer o que quer, sem coação de espécie alguma, não só psicológica, mas real, efetiva, econômica" (CATÃO, 1997: 113). Configura-se assim, a opressão do pobre porque não pode fazer o que sonha, por isso sofre do desemprego, falta de moradia, comida e outras necessidades.
Portanto, a ética é "a qualidade do ato verdadeiramente humana, pois o agir só é humano e sujeito a um juízo de ordem ética quando brota do interior do sujeito e é por ele subjetivamente querido" (CATÃO, 1997: 113). Com efeito, liberdade é entendida como autodeterminação, ou seja, a possibilidade de escolha e a separação de condicionamentos.
2º A consciência

A consciência permite pensar a possibilidade de escolha livre e reta acerca do agir no âmbito prático.
Para Catão existe uma distinção entre o conceito expresso no catecismo, "a consciência é um julgamento da razão" (CATECISMO, nº 1778) e o conceito de consciência entendido na Ética que "na realidade não é um julgamento, mas um juízo da razão -jugament de la raison- como está no original francês, por intermédio do qual o ser humano percebe o que é justo e reto" (CATÃO, 1997: 113). Portanto, a consciência não julga, indica. A sua função não é condenar ou aprovar, mas mostrar o que é justo e reto para seguir o bem. Assim, é necessário que haja uma conformidade entre o agir e a indicação da consciência.
Isso significa que a qualidade Ética do ato humano, "longe de se medir diretamente por um preceito, divino, natural, legal ou humano depende da conformidade ou não com a consciência: o ato humano é bom ou mau na medida em que a autodecisão do sujeito se conforma ou não com o que a consciência diz ser justo e reto" (CATÃO, 1997: 114).
3º - A consciência

O autor está preocupado com a possibilidade do critério ético permanecer restrito a subjetividade, implicando na supressão da universalidade ética. Por isso, procura formas de pensar o critério ético de modo objetivo sem descartar a subjetividade.
1º a atenção recíproca: que implica em respeito, serviço e amor ao outro, do próximo, como na linguagem cristã;
2º uma razão antropológica: considerando que a pessoa nasce indeterminada e precisa construir seu percurso durante o decurso da vida.
Assim, a ética na visão cristã não pode estar atrelada a obrigações e sansões, mas fundada basicamente em dois princípios de ação: amara a Deus e ao próximo.
Segundo Catão, educar eticamente não é discutir somente a obrigatoriedade ou torcer o pepino enquanto é maleável, ou seja, podar e direcionar o individuo. No entender deste "educar eticamente é trabalhar para melhorar a qualidade do inter-relacionamento entre as pessoas, e contribuir para uma convivência entre os humanos caracterizada pela justiça e pela solidariedade, pela atenção, respeito e serviço uns aos outros e um dos outros" (CATÃO, 1997: 115). Com efeito, a pedagogia usada na ética procura conferir à ação humana uma base educativa, que garanta o exercício da liberdade na convivência, através do uso adequado da consciência.
Desta maneira, "a tarefa do educador ético é dupla: despertar e sustentar a autodeterminação dos educadores" (CATÃO, 1997: 115) buscando a ação ética em comunhão com os demais e sua realização.
Contudo, surge uma verdadeira contradição no exercício do juízo ético que é a oposição entre consciência e lei. Pois a consciência garante em última instÂncia a liberdade de ação, mas conferir pode supremo a ela seria, da parte do educador, esquecer da necessidade de formação sem perder de vista a razão e a lei (ethos e nomos)[1].
No entender do autor o problema central da formação da consciência é levar o educando ao que é realmente bom. Para tanto precisamos levar em consideração que o agir humano "é radicalmente fruto do espírito com que empreende agir e do sentido que tem tal ação no contexto do inter-relacionamento pessoal em que se vive" (CATÃO, 1997: 118). Isto é, no agir humano o espírito cumpre papel da atuação em busca do bem e do amor.
[1]Ethos e nomos.
Original em:

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