terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Ética e Educação


A medida ou justa meio nos sete sábios
Antes do surgimento da filosofia moral, as convicções morais dos gregos não eram fundadas e justificadas conceitualmente, como os filósofos farão posteriormente. As normas morais eram apenas colhidas e afirmadas intuitivamente. O mapa dessa sabedoria moral, antes do surgimento da filosofia, seja no seu aspecto positivo, seja no seu aspecto negativo, encontramo-lo nos sete sábios gregos, que funcionam como marco do momento em que emerge esse interesse moral.
Por volta do século V, os gregos já falavam da importância da ação que leva em conta uma medida. O homem grego, que valorizou a razão de tal modo que ela passou a ter status de soberania na vida, impôs-lhe também uma ponderação. A seguir serão apresentadas algumas das máximas, de cada um dos sete sábios, que tratam do conceito de medida em suas máximas morais.
Começando por Tales de Mileto (625-545 a.C.), ele foi um dos primeiros pensadores gregos que utilizou a medida como reguladora do comportamento. Em uma de suas afirmações, diz: "não embelezes tua aparência, mas sê belo no que fazes"[1], ou seja, a aparência estética não é mais importante do que a ação justa. Por isso, se a ação for segundo a justa medida será então, uma bela ação.
Assim, agir de modo equilibrado acaba por evitar a intemperança, pois segundo Tales "danosa é a intemperança"[2] porque conduz à desmedida no trato das paixões. Por isso, diz Tales, "usa da medida",[3] pois ela garante o bem estar psíquico do homem. Portanto, o indivíduo realmente comprometido com a ação justa está atento ao uso equilibrado da racionalidade, conduzindo-o a uma vida bela.
Já outro sábio, Bias (século VI a.C.), afirma que ao usarmos da palavra é preciso aguardar uma oportunidade adequada, se se pretende proporcionar algum saber. Portanto, diz Bias, "fala oportunamente"[4] paraque se possa verificar que a intervenção ocorre com o intuito de auxiliar na elaboração de um saber ponderado.
Por tudo isso, a dedicação é fundamental para que se possa atingir uma determinada capacidade de ação, ou seja, agir de modo justo – segundo uma justa medida.
Dessa forma, o uso da medida garante que a ação seja virtuosa.A atitude verdadeiramente moderada utiliza da justa medida para tomar uma decisão, em cada caso, de maneira independente. Portanto, segundo outro dos sete sábios, Pítaco (600 a.C.), "cultiva a piedade, a educação, a sabedoria, a prudência, a vontade, a confiança, a experiência, a habilidade, a amizade, a solicitude, o cuidado da casa, a arte"[5].
Assim, cultivar essas virtudes permite um estreitamento do indivíduo com o uso da justa aplicação das ações. Com isso, diz Bias, com aplicação terás memória; com oportunidade, precaução; com caráter, nobreza da alma; com fadiga, temperança; com temor, piedade; com riqueza, amizade; com discurso, persuasão; com ciência, compostura; com fama, harmonia.[6]
Logo, indica todo esforço para que se atinja um nível de entendimento tal que a reflexão não seja um mero discordar por simples paixões pessoais.
O sábio Cleóbulo, na sua máxima de número 1, diz "ótima é a medida", que pode ser entendida conforme a máxima de número 3, como aquilo que "está bem no corpo e na alma". Todas as nossas ações devem considerar a totalidade do nosso ser, não privilegiandonenhuma das dimensões humanas – corpo ou alma –, em detrimento uma da outra. Por exemplo, para que não aconteça de agirmos em detrimento da alma considerando e buscando atender apenas aos desejos do corpo, ele diz na sua máxima de número 10, ser preciso "dominar o prazer", isso implica evitar a desmedida. Sendo que estas máximas devem nortear a nossa conduta em todas as circunstâncias da vida, conforme diz Cleóbulo na de número 20: "não te ensoberbeças quando as coisas são favoráveis e não te abatas quando há dificuldades". Da mesma forma diz o sábio Periandro na de número 8, "se tens sucesso, sê comedido, se tens insucesso, sê sábio". Em outras palavras, use sempre de equilíbrio, ou seja, de boa medida.
Sólon, outro dos sete sábios, em uma das suas máximas diz, "nada em demasia", deixando clara a relação com medida ou justo meio, com isso ele nos diz para não realizarmos nada em excesso, ou seja, temos de saber agir e usufruir das coisas com moderação e parcimônia. Estendendo a aplicação dessas máximas também às relações humanas, ele diz em sua máxima de número 9: "não faças amizades apressadamente e não interrompas intempestivamente as que fizeste". Em outras palavras, ele nos diz para não termos pressa em estabelecer as nossas relações, nem ao rompê-las quando não nos convierem.
Por fim, o sábio Quílon, em sua máxima de número 1, afirma, "conhece-te a ti mesmo", demonstrando que conhecendo a nós mesmos poderemos controlar melhor nossas paixões, e realizar a máxima de número 15, que diz, "domina o impulso", pois se me conheço, posso dominar meus impulsos e paixões, optando pelo justo meio no momento de deliberar sobre como agir..
Essas sentenças dos sete sábios – e outras que não foram apresentadas por não haver relação direta com o conceito de medida – são consideradas como um mapa, exatamente porque mostram claramente as características e os limites da reflexão moral pré-filosófica. No entanto, segundo Reale7, embora sendo fruto de longa experiência e reflexão, quando consideradas isoladamente, não são sustentadas por um princípio que as justifique. Estão aquém da filosofia moral, uma vez que não surgiram de uma reflexão filosófica acerca do homem, tampouco provam sistematicamente uma tábua de valores tradicionais, nem teoricamente a sua consistência.
[1]GIOVANI, R. História da Filosofia Antiga, Vol. I, p. 184.
[2]Idem, p. 184.
[3]Idem, p.184.
[4]Idem. p.185.
[5]Idem. p. 185.
[6]Idem. p.185.
7Idem. P. 186
Por Robson Stigar no original:

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