quinta-feira, 23 de abril de 2009

O drama católico


O Passado no Presente e o Presente no Passado: O Drama Católico
Apesar de possuir uma história tenebrosa e sangrenta, que sempre acompanhou as ações evangelizadoras da Igreja Católica, é difícil admitir que em pleno séc. XXI a Igreja insiste em lançar mão de práticas de controle e pressão social tão arcaico como a excomunhão.
No passado a Igreja era imponente. À sua ordem abriam-se os céus e o inferno."Anjos" e "demônios" viviam entre os humanos. Ou melhor, os demonizados viviam até que suas cabeças rolassem, ou enquanto não eram incendiados pelas fogueiras, ou por qualquer outra prática que visava fazer "justiça" e "limpeza" terrestre.
A política de evangelização da instituição religiosa "mudou" com o tempo. Com o limiar de um novo período onde a Igreja perdeu seu posto de oficialidade estatal, ela teve de mudar suas práticas mais perversas. Já não dava pra continuar com a prática de pôr fogo naqueles que não compartilhavam da mesma fé e opinião. A linguagem passa a ser outra: garantir seu status quo e manter e/ou atrair fiéis.
Distante do Centro de Roma, a Igreja Católica em todo o mundo vai se popularizando. Na América Latina, ela toma força junto às camadas populares. E aqui, em especial, ela cumpre um papel fundamental no combate contra a cultura coronelista e autoritária dos governos. Basta olharmos a história de nosso país: suas ações se fizeram presente na luta para consolidações das leis brasileiras (refiro-me as leis de garantias de direitos, como a C.F de 1988, ECA de 1990, etc.).
Devemos admitir que no Brasil a Igreja Católica ainda hoje mantém muito prestígio. Seu reconhecimento não se justifica somente pelo papel que desempenhou no passado. Sua força é legitimada pelo simbólico religioso, que no caso brasileiro, são estruturas alicerçadas na visão de mundo e expectativas de vida das camadas populares.
Usando de seu prestígio a Igreja institucionalizada interfere nos mais diversos segmentos da sociedade. Uma prova disso foi o fato de o arcebispo de Olinda e Pernambuco ter excomungado a equipe médica e a mãe da criança que fez aborto no dia 04 de março de 2009, depois de ser estuprada pelo padrasto. A interferência da Igreja repercutiu nacional e internacionalmente. Até o Presidente da República falou em público sobre o assunto. Dá pra imaginar um cenário tão polêmico e de grande repercussão se, por exemplo, a reprovação partisse de um setor religioso minoritário, como o pronunciamento de um líder da religião afro-brasileira, ou de um líder espírita desaprovando a atitude da mãe e as ações da equipe médica?
Qual a mãe que em sã consciência colocaria em risco a vida de sua filha, insistindo em uma gravidez que a levaria a morte. Qual médico que podendo salvar uma vida, não a salvaria por motivo de valores religiosos? Afinal vivemos em um Estado laico e o médico é um profissional que deve obedecer a normas de Estado, não às regras de Igreja A, B ou C. Mas contra os fatos é difícil argumentar: a Igreja exerce forte pressão social e anda descompassada no tempo, não tem conseguido acompanhar o ritmo do homem moderno. Atitude conservadora da excomunhão remete a tempos remotos, ao período Medievo.
No entanto a excomunhão da Igreja não representa mais tudo àquilo que representou no passado. Ao lançar mão de uma ferramenta tão inadequada para o momento, a Igreja pôde constatar que sua atitude recebeu ampla reprovação pela sociedade civil. Pois ao invés de apoiar a mãe e os profissionais da medicina, a igreja reprovou-os com pena da excomunhão, e como se não bastasse, ao se pronunciar sobre a ação criminosa do padrasto, a instituição tomou uma postura pacífica e quase que defensiva: afirmando que na escala de pecados, o pecado do aborto é mais perverso que o do estupro.
Os católicos são predominantes no Brasil, todavia o catolicismo vem perdendo terreno para outros credos religiosos. Um dos possíveis motivos da evasão da instituição seria o fato de a Igreja insistir em adotar valores tão fora do tempo em que vivemos. O comportamento dogmático e frio ao olhar as dores dos que sofrem, só confirma a distância temporal que a própria Igreja se colocou.
Destarte, espera-se que a Igreja encontre um caminho, uma máquina do tempo que realize a façanha de tirá-la do passado e remetê-la no mundo presente. Assim, enquanto esse "milagre" não acontece, tomemos um acento de telespectadores e assistamos ao drama da vida que a Igreja Católica cultivou para si.
Sociólogo Laércio Rodrigues
Original no site:

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