quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
sábado, 27 de dezembro de 2008
Viva, viva, é Natal!
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Um ponto de vista sobre a crise
Começa com aquelas crianças famintas da África. Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele. Aquelas com moscas nos olhos. Os slides se sucedem. Êxodos de populações inteiras. Gente faminta. Gente pobre. Gente sem futuro.
Durante décadas, vimos essas imagens. No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto. Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem. São imagens que criam plataformas de governo. Criam ONGs. Criam entidades. Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer. Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo. Resolver, capicce? Extinguir. Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número. Mas digamos que esteja subestimado. Digamos que seja o dobro. Ou o triplo. Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse. Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse.
Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia."
Texto atribuído ao Vice-Presidente de Criação e sócio da Bullet, Muniz Neto, sobre a crise mundial.
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Não sei a que ponto esses números estão corretos. Porém, se for isso, não estaríamos cometendo o maior dos maiores entre todos os pecados? Não seria a atitude mais confrontante da ética global? E por que ninguém divulga isso?
Bem, ou isso não confere com a verdade, ou a realidade é que somos a espécie viva mais repugnante do planeta. Pense sobre isso. E, se por acaso souber de outra realidade, de outros números, por favor traga para o debate!
Seja como for, a máxima que tenho insistido há um bom tempo, a de que "tudo está baixo do poder econômico", infelizmente é mais verdadeira que eu próprio imaginara!
Reflitamos, indignamo-nos, sim, mas e a atitude?
Carlos Roberto Sabbi
A minha Próxima Vida
domingo, 7 de dezembro de 2008
Aprenda a chamar a polícia
Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranquilamente.
Liguei baixinho para a polícia informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: - Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo. Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.
No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse: - Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão.
Eu respondi:- Pensei que tivesse dito que não havia ninguém disponível.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Ilusões do amanhã
'Por que eu vivo procurando um motivo de viver,
Se a vida às vezes parece de mim esquecer?
Procuro em todas, mas todas não são você.
Eu quero apenas viver, se não for para mim, que seja pra você.
Mas às vezes você parece me ignorar, Sem nem ao menos me olhar, Me machucando pra valer.
Atrás dos meus sonhos eu vou correr... Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.
Se a vida dá presente pra cada um, o meu, cadê?
Será que esse mundo tem jeito? Esse mundo cheio de preconceito.
Quando estou só, preso na minha solidão, Juntando pedaços de mim que caíam ao chão, Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou.
Talvez eu seja um tolo, que acredita num sonho.
Na procura de te esquecer, eu fiz brotar a flor.
Para carregar junto ao peito, E crer que esse mundo ainda tem jeito.
E como príncipe sonhador... Sou um tolo que acredita, ainda, no amor.'
PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - APAE) Este poema foi escrito por um aluno da APAE, chamado, pela sociedade, de excepcional. ..
Ele tem 28 anos, com idade mental de 15.
A entrevista com o famoso Reynold Remhn
Segunda pergunta: O profissional do futuro será um individualista?
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Habeas Pinho
Em 1955 em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boêmios fazia serenata numa madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu o violão. Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade e que também apreciava uma boa seresta.
Ele peticionou em Juízo, para que fosse liberado o violão. Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praias no Nordeste.
Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal.
Eis a famosa petição.
HABEAS PINHO
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca :
O instrumento do crime que se arrola
Neste processo de contravenção
Não é faca, revólver nem pistola.
É simplesmente, doutor, um violão.
Um violão, doutor, que na verdade
Não matou nem feriu um cidadão.
Feriu, sim, a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade.
Ao crime ele nunca se mistura.
Inexiste entre eles afinidade.
O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam as mágoas e que povoam a vida
Sufocando suas próprias dores.
O violão é música e é canção,
É sentimento de vida e alegria,
É pureza e néctar que extasia,
É adorno espiritual do coração.
Seu viver, como o nosso, é transitório,
Porém seu destino se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.
Mande soltá-lo pelo Amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno açoite
De suas cordas leves e sonoras.
Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz,
cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Será crime, e afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
perambular na rua um desgraçado
derramando na rua as suas dores?
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento.
Juntando esta petição aos autos nós pedimos e pedimos também DEFERIMENTO.
Ronaldo Cunha Lima, advogado.
O juiz Arthur Moura sem perder o ponto deu a sentença no mesmo tom:
"Para que eu não carregue
Muito remorso no coração,
Determino que seja entregue,
Ao seu dono, o malfadado violão!“
A prisão de cada um
Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados.
*Martha Medeiros (1961) é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e diretora de criação em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia.De volta ao Brasil, começou a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde até hoje mantém coluna no caderno ZH Donna, que circula aos domingos, e outra — às quartas-feiras — no Segundo Caderno. Escreve, também, uma coluna semanal para o sítio Almas Gêmeas e colabora com a revista Época. Seu primeiro livro, Strip-Tease (1985), Editora Brasiliense - São Paulo, foi o primeiro de seus trabalhos publicados. Seguiram-se Meia noite e um quarto (1987), Persona non grata (1991), De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless (1997) e Santiago do Chile (1996). Seu livro de crônicas Trem-Bala (1999), já na 9a. edição, foi adaptado com sucesso para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. A autora é casada e tem duas filhas.
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quinta-feira, 27 de novembro de 2008
O poder pode fazer mal à saúde
O estudo do ex-médico britânico, resenhado na Foreign Affairs, primeiro dá exemplos de como doenças podem interferir na capacidade de tomar decisões. Um caso é o de Anthony Eden, premiê britânico que sofria da vesícula durante a Crise de Suez, em 1956.
Em razão dos medicamentos que tomava, sobretudo Drinamyl, ele tinha febre, insônia e acessos de super confiança, desligando-se do mundo real. Para Owen, Eden, normalmente ponderado, foi convencido por Israel e França a enganar os EUA e a fazer a guerra contra o Egito por causa de seu estado deplorável de saúde.
Outro caso levantado por Owen é o de Kennedy. O episódio desastroso da Baía dos Porcos teria sido resultado direto das doenças do presidente americano – ele sofria de Mal de Addison, uma insuficiência suprarenal crônica, e fortes dores nas costas, problemas para os quais ele não recebeu tratamento adequado durante muito tempo. Mais tarde, com uma nova equipe médica a observá-lo, Kennedy estava em melhores condições para tomar decisões, como na Crise dos Mísseis em Cuba.
Mas Owen fala também do exercício de poder em si como uma doença. Segundo ele, a experiência do comando pode levar a alterações patológicas, narcisismo e comportamento irresponsável.
O líder que sofre da “Síndrome da Arrogância” se convence de que está no poder para grandes feitos e que o mundo espera isso dele, mesmo que signifique atropelar considerações morais e as regras básicas da boa administração. Quanto mais tempo no poder, maior é a doença, casos de Mao, Fidel e Mugabe.
Owen cita também os exemplos de Tony Blair e de George W. Bush, considerados por ele “especialmente narcisistas”. O autor descreve uma reunião de Bush com o negociador palestino Nabil Shaat, em 2002, na qual o presidente americano teria dito: “Estou numa missão divina. Deus me disse: ‘George, vá lá e acabe com a tirania no Iraque’. E eu fui”. Para Owen, o principal remédio contra a “Síndrome da Arrogância” é, antes de mais nada, o fortalecimento das instituições democráticas.
Entrevista com a Dra. Maya Angelou
Passou a infância na Califórnia, Arkansas, e St. Louis, e viveu com a avó paterna, Annie Henderson, na maior parte de sua infância.
Quando tinha 8 anos, foi estuprada pelo namorado da mãe em St. Louis; isto levou a anos de mudez para Maya que finalmente superou com a ajuda de uma vizinha atenciosa, e um grande amor pela literatura.
Aos 16, Maya se tornou a primeira motorista negra de ônibus em São Francisco; em anos posteriores, tornou-se a primeira mulher negra a ser roteirista e diretora em Hollywood.
Nos anos 60s tornou-se amiga de Martin Luther King Jr. e Malcolm X; serviu no SCLC com Dr. King, e trabalhou durante anos para o movimento de direitos civis. Também nos anos 60, trabalhou e viajou pela África, como jornalista e professora, ajudando vários movimentos de independência africanos. Em 1970, publicou o primeiro livro, I Know Why the Caged Bird Sings, com grande sucesso, e foi nomeado para o Pulitzer Prize em poesia no ano seguinte.
Angelou teve uma carreira longa e distinta, é poeta, escritora, ativista de direitos civis, e historiadora, entre outras coisas. Também é atriz, dançarina, e cantora, atuou na peça de Jean Genet, "The Blacks", e o aclamado seriado, "Roots". Angelou provavelmente é conhecida melhor pelos trabalhos autobiográficos, que incluem I Know Why the Caged Bird Sings e All God's Children Need Travelling Shoes.
Em 1993, Angelou leu um de seus poemas chamado "On the Pulse of Morning", na posse de Bill Clinton como presidente; este foi um dos pontos altos de sua carreira, e novamente a trouxe para as vistas do público. Atualmente, é professora de história americana na Wake Forest University, Carolina do Norte, ainda fazendo suas excursões e dando palestras em vários lugares. Em abril deste ano, Dra. Maya Angelou foi entrevistada por Oprah Winfrey na passagem de seu aniversário, mais de 70 anos. Oprah perguntou como ela sente diante da velhice que chega. Resposta: 'animada!'. Comentando as mudanças no corpo, disse que há muitas, a cada dia. Como os seios, que estão competindo um com o outro para ver qual chega primeiro à cintura. A platéia riu de chorar. Uma das grandes vozes do nosso tempo, Maya Angelou é uma mulher simples, direta e cheia de sabedoria. Alguns exemplos: # Aprendi que aconteça o que acontecer, pode até parecer ruim hoje, mas a vida continua e amanhã melhora. # Aprendi que dá para descobrir muita coisa a respeito de uma pessoa observando-se como ela lida com três coisas: dia de chuva, bagagem perdida e luzes de árvore de Natal emboladas. # Aprendi que, independentemente da relação que você tenha com seus pais, vai ter saudade deles quando se forem. # Aprendi que 'ganhar a vida' [making a living] não é o mesmo que 'ter uma vida' [making a life]. # Aprendi que a vida às vezes nos oferece uma segunda oportunidade. # Aprendi que a gente não deve viver tentando agarrar tudo pela vida afora; tem que saber abrir mão de algumas coisas. # Aprendi que quando decido alguma coisa com o coração, em geral vem a ser a decisão correta. # Aprendi que mesmo quando tenho dores, não tenho que ser um fardo para os que me cercam. # Aprendi que todo dia a gente deve estender a mão e tocar alguém. As pessoas adoram um abraço apertado, ou mesmo um simples tapinha nas costas. # Aprendi que ainda tenho muito o que aprender. # Aprendi que as pessoas esquecem o que você diz, esquecem o que você faz, mas não esquecem como você faz com que se sintam. ...
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Os 3 últimos desejos
domingo, 23 de novembro de 2008
A Amazônia internacionalizada?
sábado, 22 de novembro de 2008
Obama vai dar samba
Há anos eu li um livro ímpar na obra de Monteiro Lobato, "O presidente negro", que me fez sonhar. É uma obra futurística, remete o leitor ao dia em que o personagem Jin Roy disputa a Presidência dos EUA com uma mulher, Evelyn Astor, e o conservador Kelog, tal como ocorreu nas prévias para as eleições americanas.
O livro, inicialmente lançado com o título "O choque das raças", me impressionou. Eu o emprestei a alguém que não me devolveu e faz tempo que procuro um outro e não consigo encontrar. Felizmente foi reeditado agora pela Editora Globo, oportuno neste momento histórico em que Obama se prepara para o seu desafio maior, que é se eleger o primeiro presidente negro de um país no qual há pouco mais de 40 anos os negros eram proibidos de morar no mesmo bairro que os brancos, usar o mesmo banheiro público, freqüentar a mesma escola e eram obrigados a ceder o lugar, nos ônibus, a brancos.
Confirmado como candidato do Partido Democrata à Casa Branca, o topo dessa onda Obama pode dar um samba-enredo dos bons. Senador estadual por Illinois, era quase desconhecido no país quando foi convidado para apresentar o programa democrata na convenção nacional do partido e despontou como uma estrela em ascensão. Conquistou uma cadeira no senado americano com 70% dos votos, numa esmagadora vitória.
Orador brilhante e político carismático, é graduado em ciências políticas pela Universidade de Colúmbia e advogado formado em Harvard. Freqüentemente descrito pela direção do partido como "inteligente mas não arrogante, confiante mas aberto a outros pontos de vista, orgulhoso de sua negritude, mas não atado por questões de raça". Isso lhe permitiu trabalhar com republicanos por questões como saúde e educação e o levou a conquistar eleitores sem basear sua campanha na questão da negritude. Para derrotar o casal Clinton, teve uma forte ajuda financeira e superou obstáculos, sendo os principais a cor da pele e o nome islâmico que lembra Saddam e Bin Laden.
Barack Hussein Obama é um jovem de 46 anos, nascido em Onolulu, Havaí, e filho de um negro muçulmano do Quênia com uma americana branca. Agora a briga é com o republicano John McCain. Eu faço parte do rol de brasileiros que têm uma certa aversão aos EUA e, aomesmo tempo, uma admiração invejosa.
O "Leão do Norte" tem mais ou menos a nossa idade, é a maior potência mundial e está sempre à frente, enquanto o Brasil só recentemente saiu da classificação de "país do Terceiro Mundo". Fizeram, antes de nós: a independência, a abolição da escravatura, a república, colocaram negros em pontos-chave da política e implantaram ações afirmativas adotando o sistema de cotas, só agora discutido no Brasil.
Sou de opinião que a Lei de Cotas em universidades deveria ser extinta e criada uma outra mais abrangente, estendida aos três poderes de maneira exemplar, às universidades federais e estaduais, o que levaria a ser norma nas particulares e, naturalmente, aplicada em todos os setores da sociedade. Nas minhas primeiras andanças pelo mundo, o que mais me impressionou foram rostos negros em cartazes luminosos em Nova York e em veículos de propaganda espalhados por aquele país, bem como ver famílias negras em seus próprios carros, alguns de último tipo. Nas lojas e butiques, vi pretos trabalhando e até encontrei um amigo de BH, o negro Josias, gerenciando um supermercado.
Havia muitos pretos nas universidades e em cargos de chefia. Entrei num banco e vi neguinho na cadeira do gerente e nos caixas, o que nunca havia visto nos bancos onde tinha contas. Vi gente como eu nos três poderes e quase não acreditei ao saber que o prefeito da capital, Washington, era um negão. Enquanto por aqui ainda há empresas que não admitem negros.
De volta ao Brasil, procurei me informar sobre Malcon X, Luther King e então entendi a fala do Abdias do Nascimento e outros líderes dos diversos segmentos do nosso Movimento Negro. Aí me engajei na luta deles e no Ano do Centenário da Abolição da Escravatura, graças à influência do guerreiro Milton Gonçalves, coordenei uma mensagem de final de ano na TV Globo onde caras negras preenchiam as telas cantando "Axé, axé, axé para todo mundo axé", passando mensagens. De lá para cá, houve sensíveis avanços, e já não se vêem só caras brancas na nossa publicidade.
Com a eleição de um operário para a Presidência - o que eu considero uma revolução feita com votos - pela primeira vez na República tivemos ministros negros. E ainda temos. A fotografia dos nossos governantes ficou mais bonita e com aparência democrática. A nossa Justiça - que, além de cega, é feia e branca - ganhou um par de olhos cor-de-azeviche e mais abertos para interpretar as leis. Sinal de novos tempos. Bom sinal. Vai dar samba.
MARTINHO DA VILA é compositor.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Por que eu não consigo perdoar?
O pai deu início a uma longa jornada à procura do filho rebelde e colocou um anúncio num jornal de Madri como último recurso.
O nome do filho era Paco, muito comum entre os espanhóis. O anúncio dizia apenas o seguinte: “Querido Paco encontre-me na frente do jornal de Madri amanhã ao meio dia. Está tudo perdoado. Eu amo você”.
No dia seguinte, ao meio-dia, havia mais de 800 Pacos em frente ao escritório do jornal, todos ansiosos por perdão.
As pessoas que acham difícil perdoar não vêem a si mesmas de maneira realista. Elas são muito arrogantes ou extremamente inseguras. Embora guardar ressentimentos dê a algumas pessoas uma sensação de satisfação, a verdade é que os incapazes de perdoar magoam a si mesmos muito mais do que aos outros.
Autoria desconhecida
Com um pé atrás
Luciano Pires
http://www.lucianopires.com.br/
domingo, 16 de novembro de 2008
Parábola da Caverna
Um pensador da ética
As duas éticas ou A ação possível
O tema das duas éticas, ou melhor, o da segunda ética, da que o estadista pratica, tornou-se estes últimos anos um dos tópicos centrais da fala de um presidente brasileiro formado nas ciências sociais. Ele próprio um cientista político2, parte significativa de sua fala consistiu em atacar a ingenuidade daqueles que pensam que o líder político deveria pautar sua ação por regras morais. Não se pode dizer que o seu discurso, nesse campo, seja original: não pretende sê-lo. Ele e seus partidários retomam, basicamente, o que Weber disse. Isso em nada reduz a importância de seu discurso. Ao político, não cabe tanto a originalidade, mas o endosso e a execução. Enquanto no mundo das idéias a novidade, a originalidade contam enormemente, no da ação o que vale mesmo é pô-las em prática. O pensador escreve, o político assina. Os próprios intelectuais têm consciência disso, quando se cansam de apenas especular e procuram um príncipe – um tirano de Siracusa no caso de Platão, um rei da Prússia para Voltaire, uma czarina da Rússia para Diderot – que converta em carne o seu verbo. A essa busca geralmente se segue uma decepção, mas nem por isso deixa, quem filosofa sobre a ação, de procurar aquele que transforme em prática a sua teoria.
Resumindo, a ética de princípios, que pode ser a do indivíduo privado, é a mais próxima de uma ética tradicional. Não se deve, porém, confundi-la com esta última, já que a tradição consiste em seguir acriticamente uma lista de mandamentos, um gabarito do que é certo ou errado – enquanto uma ética de princípios, ou valores, supõe que estes tenham sido meditados, ponderados, refletidos, antes de um sujeito os incorporar e assumir como seus. Mesmo assim, essa ética está perto da tradição na medida em que atribui aos valores uma vigência forte, ou até um caráter absoluto. Não os considera valores apenas porque valem, isto é, porque foram instituídos por um sujeito ao avaliar o mundo e suas circunstâncias. Essa última visão, que, simplificando, seria a introduzida por Nietzsche, soa geralmente fraca, aos olhos de quem defende ou pratica uma ética de princípios. Com efeito, derivar estes últimos dos interesses, vontade, desejos ou mesmo da consciência dos homens reduz-lhes o caráter normativo.
Já a ética da responsabilidade é aquela que se aplica na política – não: melhor dizendo, é aquela que vale sobretudo para quem age politicamente. (Agir politicamente, isto é, levando em conta as relações de poder, pensando na construção do futuro, pode fazer-se também fora da esfera usual da política: posso agir politicamente na minha vida pessoal, por exemplo). Essa ética é muito mal compreendida pelo grande público. O maior erro a seu respeito consiste em entendê-la como uma não-ética. Na política, tudo seria válido, já que validado pelos resultados. Mas não é assim que funciona esse tipo de ética.
Essencialmente, trata-se de uma ética da ação política, mais que da instituição política. Das instituições e da ação, já tratamos, ao desenvolver uma oposição entre Mandeville e Maquiavel. O pensador florentino priorizou a ação. Seu mundo é plástico, em constante mutação. É visto do ângulo do indivíduo criativo (e aqui Burckhardt o captou muito bem, ao vincular a Renascença à figura do condottiere, do guerreiro quase sem princípios que plasma o seu mundo). Já o inglês, autor da Fábula das abelhas, confere menor importância ao agir, e maior ao modo pelo qual este se desvia em instituições.
Não é esse o mesmo modo pelo qual Mandeville abre o mundo moderno. (Assim como se fala, em xadrez, de tal ou qual "abertura", diríamos que existem, nesta partida que é a modernidade, uma abertura Maquiavel e uma abertura Mandeville). O italiano enfatiza ações que procuram produzir determinados fins. Se não os produzem, isso se chama fracasso. César Borgia assim fracassou. Nem por isso, será ele menos digno de nossa admiração – sempre segundo Maquiavel. César Borgia bateu-se e fez o que pôde (ou quase). De todo modo, a medida da ação está na produção direta de seu resultado.
Já Mandeville se interessa por outra coisa. O seu ponto é como ações que visam a um fim, este não político, mas privado, econômico, interesseiro, egoísta3, podem ser canalizadas de modo a produzir indiretamente fins que, do ponto de vista social, sejam positivos. Por isso, seu problema é o da canalização, isto é, o das instituições que desviam o rumo consciente dos atos.
Nesse sentido, Mandeville pretende exatamente o contrário de Maquiavel. Para este último, o importante era preservar o sentido das ações. Bom seria que as ações de César Borgia, orientadas para a conservação de seu poder, dessem certo. Já para Mandeville, o importante é desviar o sentido dos atos. Bom será que o egoísmo e a ganância de cada indivíduo resultem em outra coisa, em livre concorrência, em progresso econômico.
O ponto de vista do indivíduo, e de sua ação, é o óculo ideal de Maquiavel (evidentemente, o do indivíduo chefe, líder, estadista ou pelo menos conquistador). Para Mandeville, porém, é fundamental desfocar esse ponto de vista, seqüestrar, de seus autores, os atos. Por isso, enfim, o resultado dos atos fica, para Maquiavel, aquém deles, raras vezes lhes emulando o alcance político – ao passo que, em Mandeville, o resultado vai além do ato, conferindo-lhe uma dimensão bem maior do que poderiam ter.
Essas diferenças entre os dois grandes mestres do xadrez político obedecem a uma diferença anterior e fundamental. Para Maquiavel, a ação e seu resultado compartilham um sentido político. César Borgia agindo, e o resultado histórico de suas ações, das de seus contemporâneos e ainda da fortuna, são, tudo, política. Já para Mandeville, a ação e seu resultado diferem radicalmente quanto ao sentido. A seu ver, nem a ação individual nem seu fruto histórico são políticos. Ocorre nele um esvaziamento significativo do teor político da vida. (E é a onipresença do político em Maquiavel que permite uma leitura recente, que enfatiza seus vínculos com o humanismo cívico).
Em Mandeville, a ação é radicalmente privada. Não é privada apenas porque se dá no recesso do lar, no íntimo da consciência, no cerne do coração. É-o porque somente busca interesses pessoais, agressivos em relação aos outros. É privada, até, na valoração má e negativa do termo. Evidentemente, o autor não quer com isso afirmar que o homem seja mau. Tomar o privado enquanto mau é um recurso argumentativo muito inteligente, pelo qual Mandeville implica o seguinte: se o que afirmo vale até para o pior, até para o mau em estado puro, valerá muito mais para quem é neutro eticamente ou mesmo bom4. De todo modo, ainda que a ação seja privada e egoísta, seu resultado é social.
Dos dois grandes exemplos de Mandeville, um reza que da ganância de cada um decorre a concorrência capitalista, o outro que da prostituição no porto de Amsterdam se segue o respeito à virtude das matronas e donzelas5. Nos dois casos, não só o móvel da ação individual (busca desenfreada do ganho econômico, desejo sexual do marinheiro, desejo de ganho ou indecência das prostitutas) não é político, mas também o resultado é social e não político. O esvaziamento do político significa, aqui, que a sociedade passa a ser pensada em termos, digamos, próprios, de seu funcionamento, e não mais como fruto de uma ação plasmadora do mundo. A sociedade é despolitizada nas suas causas e nos seus efeitos.
Maquiavel teria dificuldade em aceitar esses termos. Para ele, a construção da casa comum dos homens passava por uma ação que lhe imprimisse uma forma. Era essa ação o que mais lhe importava. Aqui, porém, a construção prescinde dos atores ou das ações – melhor dizendo, não prescinde deles, mas se faz mediante um desvio significativo em face da consciência ou do anseio que os movesse a agir.
Ora, o importante para Mandeville é justamente esse desvio. O decisivo, para ele, é estabelecer claramente tal desvio. "Vícios privados, benefícios públicos" assim significa que o ponto de vista do indivíduo, ou de sua consciência, se torna insuficiente para se entender o funcionamento do social. Além disso, e de forma nada acessória, por essa via o social substitui o político – e um social no qual a economia desempenha papel fundamental.
Dessas duas distintas aberturas, decorrem duas maneiras bastante diferentes de jogar a política. Se abrirmos com Mandeville, estaremos considerando a vida social como barata, e nos contentaremos com o papel de indivíduos procurando seu bem pessoal, e produzindo a vida social como que por acaso. (Evidentemente, toda a genialidade desse jogo está em fazer passar por acaso aquilo que não o é; em construir uma teia de relações que produza o social enquanto almejamos o particular).
Se abrirmos, porém, com Maquiavel, estaremos considerando o social como resultante do político. Reabilitaremos a ação política, seja esta a do estadista, seja a do opositor. O governante e o rebelde compartilham essa ética: veja-se por exemplo o que diz Julien Sorel, numa passagem d’O vermelho e o negro, de Stendhal, em que ele exalta o líder político que talvez tenha sido quem mais, ou melhor, mesclou os papéis de chefe revolucionário e de dirigente no governo:
"- Danton fez bem em roubar? – perguntou-lhe ele bruscamente [isto é, perguntou Julien Sorel a Mathilde de la Mole], e com um ar cada vez mais feroz. – Os revolucionários do Piemonte, da Espanha, deviam comprometer o povo com crimes? Dar a pessoas mesmo sem mérito todos os postos do Exército, todas as cruzes? As pessoas que tivessem essas cruzes não temeriam a volta do rei? Dever-se-ia saquear o tesouro de Turim? Numa palavra, senhorita – disse, aproximando-se dela com um ar terrível –, o homem que quiser expulsar da terra a ignorância e o crime deve passar como a tempestade e espalhar o mal ao acaso?"6
Basta essa passagem – que, observemos sem nos determos, no romance exerce o decisivo papel de consumar o enamoramento de Mathilde por Julien, ao perceber ela que lida com um homem superior, cujos devaneios não se limitam aos da vida privada, mas se alçam a questões das mais relevantes para a época –, basta essa passagem para mostrar que a ética da responsabilidade não é apenas a do governante. É também a do rebelde, seja ele Danton, seja Julien Sorel. É a de todo aquele que vê o social como podendo e/ou devendo ser plasmado por uma ação criadora – e pouco importa se esta é a do indivíduo ou a do grupo. A essa ação que cria o social, cabe chamar de ação política.
É política assim a ação que assume como seu o ponto de vista da criação, que pretende moldar, criar, o social. Há política quando nos fazemos sujeitos de uma realidade, isto é, quando não a tomamos por dada, ou por independente da ação humana, mas a concebemos como resultando dessa ação – e, melhor ainda, nos propomos a agir, moldando o mundo. Para se definir a ação como política, não tem mais valor falar ex parte principi, falar do lugar do príncipe – nem do do revolucionário, que contesta aquele a fim de lhe ocupar a posição. O que importa é, pois, uma atitude criativa, de quem se torna sujeito de sua vida, e não mais o lugar: a postura, e não a posição, eis o que conta. Sai-se de uma idéia de poder delineada a partir de um espaço, de um território, mais ou menos estáticos, e passa-se a uma política que tem mais a ver é com uma atitude, com um enfoque, com o rumo de uma ação.
(...)
NOTAS
1 É óbvio que esses adjetivos não são sinônimos. Mas, para o que nos interessa, estão bastante próximos, sendo sua diferença sobretudo de ênfase: no caráter religioso (e portanto algo altruísta) ou pessoal (e quem sabe egoísta) da boa conduta.
2 O nome de "príncipe dos sociólogos", dado por alguns a Fernando Henrique Cardoso, tem mais a ver com o constante trânsito interno entre as várias ciências sociais, do que com uma denominação precisa de área.
3 O que não significa que a ação política seja necessariamente desinteressada, altruísta.
4 Esse modo de argumentar aparece já no rei Jaime I da Inglaterra, quando mostra como mesmo o mau rei detém um direito divino: se a legitimidade cabe até para o tirano, o monarca que não segue o bem, quanto não valerá para os bons reis? Cf. meu Ao leitor sem medo – Hobbes escrevendo contra o seu tempo, 2a edição, Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999, cap. V, esp. p. 147-49.
5 Mandeville, The Fable of the Bees, respectivamente notas G e H – na edição da Penguin, que é a que utilizamos, p. 118-30.
6 Parte II, cap. 9, p. 287-8 da ed. Abril, 1971, na trad. de De Sousa e Casemiro Fernandes; p. 228 do original francês, na ed. L’intégrale.
Este trecho faz parte do livro A sociedade contra o social (Cia. das Letras, 2000).
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sábado, 15 de novembro de 2008
O bem e o mal e as virtudes e vícios segundo Platão
"Platão - um nerd de matemática confesso - acreditava que a matemática espelhava a estrutura verdadeira da realidade, ou algo assim, e por isso vamos usar um exemplo que agradaria a ele. Suponha que temos alguns círculos desenhados em papel. Alguns deles serão versões melhores de círculos que os outros. Alguns serão mais ovais que circulares, por exemplo. Mas podemos distinguir claramente quais círculos oferecem os melhores exemplos de círculos e quais oferecem os piores. Como podemos ser capazes disso?""
Veja agora como Spinoza amarra as suas idéias:
Sérgio Amadeu da Silveira é sociólogo e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. É professor da pós -graduação da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero.
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